quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Acessibilidade, por favor!

Ontem enviamos a última atividade da Unidade Curricular Multimédia e Acessibilidade, com regência da Profa. Dra Ana Margarida, uma jovem esguia e elegante, com olho de cobra para fazer avaliação das nossas propostas de trabalho. Nosso grupo, - apelidado por Fátima Paes de "o gueto das américas", pois é formado por Fátima Kanitar, brasileira do Rio de Janeiro, e Joanne,  anglo-lusitana, que viveu nos estados Unidos até os 12 anos, e eu -  desenvolvemos uma proposta de acessibilidade nos serviços de biblioteca.    Eu, pessoalmente, nunca havia estudado sobre acessibilidade, que para mim remete à educação especial. A coisa é muito mais ampla do que eu imaginava. É certo que o primeiro contato refere-se aos portadores de deficiências físicas, mentais ou sensoriais, mas, o grupo de portadores de necessidades especiais vai além, através do estabelecido pela Declaração de Salamanca (1994). É nesse documento que a educação faz a transição do modelo de integração do PNE à inclusão no sistema escolar em salas de aula regulares. Muito interessante esta disciplina,cujo objetivo maior, ma minha percepção, é sensibilizar para efetivar esse processo (sofrido) de inclusão.
Alguns aspectos das discussões me atingiram em cheio. Impossível não lembrar de Jailma, aquela menina com quem tive o enorme prazer de trabalhar numa sala de 2º ano do nível médio no Colégio Presbiteriano. Bem relacionada, letra linda, aplicada, excelente rendimento. Só achava estranho porque Jailma era muito caladinha, e nunca perguntava nada! Claro, Jailma era portadora de Deficiência Auditiva (DA) profunda, sem verbalização, que acompanhava a aula por meio da leitura labial. Apesar de ter começado o ano letivo em março (eu era mini-contrato, na época), apenas em Maio soube que a menina era PNEE (portadora de necessidades educativas especiais). Quem era o deficiente, ela ou eu, que na minha cegueira em uma sala com 64 alunos, não percebi as necessidades desta aluna tão dedicada?
Do discurso das minhas colegas professoras, entendi que cá em Portugal a situação da inclusão e desenvolvimento do D.A é muito mais grave do que no Brasil, pois, os meninos não são alfabetizados em português, mas, somente em líguagem de sinais! Resultado: saem da educação básica com rudimentos da língua portuguesa, e se ingressam no ensino superior, vão sofrer bastante para se integrar.  Eu pensava que a situação mais difícil era a do Deficiente visual (DV), mas, a conversão do material em formato alternativo (braile ou sonorizado) é bem mais fácil, e os invisuais conseguem navegar com facilidade na internet.   
Nesta UC larguei o receio de pronunciar a palavra DEFICIENTE, pois deficiência não é incompetência, indolência, inferioridade. Ser portador de deficiencia não é ser digno de pena, é uma condição com a qual tem que se conviver e que o mundo ao redor tem que oferecer condições para que o PD consiga desenvolver suas potencialidades com as habilidades que dispõe. Basta lembrar que Beethoven ficou surdo, Frida Khalo era paraplégica e Van Gohg sofria de depressão. Como diria Caetano Veloso, "de perto, ninguém é normal", e o ser humano médio, portador de todas as habilidades é uma história da Carochinha. Além do que nada nessa vida é definitiva, até mesmo as nossas capacidades físicas e mentais. Hoje somos assim. Amanhã, talvez.
Nessas semanas, me dediquei ao assunto com  envolvimento sincero. Quem convive com portadores de deficiências, como nós, sabe o que eu estou falando: a batalha daintegração e inclusão começa na família, que muitas vezes não tem a compreessão da diferença. A cotidiana luta se estende pela aceitação na escola, a compreensão do ritmo particular.  Passei todo o tempo com o pensamento em Antonio, meu querido sobrinho, portador de deficiência auditiva e transtorno do comportamento, um menino alegre, inteligente e simpático. E extremamente carinhoso, o primo amado da minha Luiza. No futuro, será um homem justo, participativo, numa sociedade acolhedora das diferenças, feita por todos nós, basta que nos permitamos aprender o respeito, a tolerância e a solidariedade. 

Saudade de hoje: De Antonio, lógico!

Té manhã!

8 comentários:

  1. e eu?
    tambem sou deficiente!
    Já ouví por aí muitas asneiras, como: nao sabia que aleijado tinha esse direito, ou porque não se aposenta, bota pra dentro que tu consegue. Imagine eu, me aposentar logo agora que vou ser doutora! Tudo faz parte dessa falta de conhecimento e do preconceito que a sociedade tem pelos portadores de deficiencia!
    bjo
    vilma

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  2. Sabemos que, pelo menos aqui, a inclusão ainda está apenas na retórica. Pessoas e Instituições que levantam a bandeira da inclusão se negam vergonhosamente a acolher o cidadão especial comum, mas continuam defendendo a causa! Os progressos de Antonio? Credito-os todos a Ilma. Feliz dele que recebeu mãe e anjo no mesmo pacote!!! Beijos com saudade!

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  3. È, Vilma, tens razão... O seu sucesso deve-se a sua força de vontade e dedicação. E Pablo fala lindamente e diz toda a verdade: na educação básica então, a situação é muito dificil para o PNEE e para o professor, completamente abandonado no seu ofício. Na época em que eu estava na Educação básica, a GERE só tinha uma educadora especialista em EE...Não há como dar conta da demanda, mesmo com toda a dedicação da Profa. Kilma. Quando estudamos tudo isso, dói ainda mais quando nos deparamos com o preconceito, com as condições péssimas de trabalho. Os que tem mãe como Ilma, conseguem progressos que nos faz acreditar que é possível sim ter uma sociedade melhor.
    Beijoooooos!

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  4. fiquei emocionada com a fala de Pablo!realmente ela escreve lindamente!
    bjo

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  5. Fiquei emocionada e feliz com seu texto hoje. Acho que a estrada é longa e cheia de obstáculos, mas a gente vai enfrentando do jeito que é possível. O preconceito existe, está em toda parte, mas Deus dá a força que a gente não tem. Agradeço o adjetivo que Pablo me deu - anjo - que eu estou longe de ser. Um beijo muito grande, com saudades.

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  6. Ilma, qualquer dicionário são poucas palavras para descrever a sua dedicação como mãe... É um exemplo de "boas práticas", como se diz aqui!
    Bjoooo!

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  7. Eu bem sei o q significa portar deficiência, n que eu seja deficiente ou tenha experiência estreita no assunto, mas como vc diz , Anninha, depois de Antonio, ficamos sempre um pouco mais, pelo menos interessadas no assunto. Sim, Ilma é o exemplo de aplicação junto a deficiência de Antonio, e, quando nós todas diziamos que ela tinha que assumir esta deficiência, n era crítica ou menosprezo, era pq precisava que ela aceitasse para poder tratar e fazer o excelente trabalho que ela vem fazendo com o filho.
    Como se sabe eu vivo mais em hospitais que em casa e vejo muito disso, daí dizer que tenho um pouco de vivência com pessoas deficientes e sinceramente sempre detestei rótulos como: "doentinho", "aleijado", entre outros. Pq a separação de normal e deficiente é tão tênue que nem nós, profissionais de saúde tempos a real dimensão disso...E rotular é fácil e é um passo para a segregação, que é bem o que faz a nossa sociedade, porque é mais fácil exilar os diferentes. Agora me veio a mente o filme "Rain Man", onde Dustin Hoffman dá um show de interpretação do autista, exímio em números... Daí eu fico pensando como vc Anninha, quem é mais deficiente? se os deficientes ou eu na minha santa burrice com os números????
    PS.: Este Pablo é o nosso sobrinho - Dr-psicologo? De toda forma parabens pelo manifesto feito adorei sua fala!

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  8. Maninha,excelente comentário! Aprendi trabalhando com os profissionais de saúde no curso de Administração hospitalar o termo HUMANIZAÇÃO. Parece uma palavra mágica, mas, na realidade é o que falta na nossa sociedade, não somente no atendimento de saúde,mas, na justiça, no lazer,e sobretudo na educação.Humanizar é tratar a pessoa como ser humano, acima de sua condição física e social ou carências de cuidados.O ser humano merece respeito, e como tal, deve ser bem tratado. Ás vezes, vejo que falta equidade nesse tratamento também aos profissionais de saúde, que tem péssimas condições de trabalho. É necessário investimentos na formação contínua desses profissionais para que eles consigam enxergar a pessoa além do prontuário,do ser humano além da doença. Assim, poderão assumir a sua função de educadores em saúde para uuma população tão carente, melhorando a condição de todos, portadores de deficiencia ou não.
    Esse Pablo é o mesmo que carregamos no colo. Como vês, tem um grande potencial.
    bjooo!

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