Mostrando postagens com marcador viagem em Portugal. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador viagem em Portugal. Mostrar todas as postagens

domingo, 20 de agosto de 2017

No caminho a caminhar: Lisboa

Luiza e o Elevador de Santa Justa, Lisboa.

Já era hora de pegar o beco e voltar para casa. 10 dias passam muito rápido, principalmente quando se está em lugares tão especiais. Então, depois do velho cafezinho, demos uma voltinha na Rambla, a tempo de ver os artistas que fazem as estátuas vivas chegarem aos seus pontos. Um espetáculo à parte: de um lado, um allien meio vestido de gente,  do outro, uma dama antiga, maquiada, com suas perucas de cachinhos, de leggin e top. Depois de comprar uma coleção de lápis e uma pulseirinha para Luiza, ainda passamos no Mercado Boqueria, antes de ir buscar as malas, no número 41 de Las Ramblas.  Fomos andando pelo meio do calçadão para chegar a Plaza Cataluña e pegar o aerobus para o aeroporto de Barcelona, terminal 1. Ainda deu tempo de ver o bebedouro do Barcelona, comemorativo a algum título do time de futebol mais conhecido do mundo e pisar no mosaico de Juam Miró, que até então não tínhamos visto porque só passávamos pelo outro lado da calçada. No aeroporto, aquela espera de sempre: primeiro para abrir o check in e finalmente, nos livrarmos da bagagem. Antes disso, ainda comemos sanduíches num café bem arrumadinho, enquanto olhávamos o desembarque. Depois, compramos água e chocolate e fomos despachar nossas malas. Estava somente com o identificador, e como havíamos comprado os tickets pela Ibéria, estava certa que deveria ir no guichê essa empresa. Mas, para o nosso voo, a gigante da aviação espanhola havia tercerizado, daí, tivemos que procurar o check-in da Vueling. Luiza desenrolou tudo num inglês bem arrumadinho. Eu fiquei do lado só mostrando os documentos. Ainda esperamos um pedaço bom, pois o nosso voo só sairia pelas 17h. Enquanto isso, olhávamos a vida alheia dos viajantes. 

O processo de embarque desse aeroporto é quase todo automatizado. Vocês só trocará uma palavra com um ser humano se quiser. Passamos nos guichês, imitando os demais, e seguindo a multidão, passamos no raio x das nossas bolsas de mão. Entramos na área de embarque, seguindo por um imenso corredor para encontrar nossas "puertas".  Quando autorizam o embarque, costumo chamar a minha pequena: "vamos pegar o beco", o que não deixa de ser verdade, porque temos que entrar naqueles corredores imensos que desembocam na aeronave. Na nossa frente iam duas figuras, dois caras muito brancos, com mochilas nas costas e uma peculiaridade: um deles estava descalço!

O sujeito descalço (e fedorento) no embarque para Lisboa

Dei uma tapeada e fiz a foto. É a prova de que o povo na Europa não está nem aí para como o sujeito se veste, se calça ou não. Fiquei rezando que nenhum dos dois sentassem ao nosso lado, pois estávamos com assentos separados. Os sujeitos quando se mexiam subia um cheiro nauseabundo de grude, suor e xixi. Ninguém merece uma companhia dessas. Felizmente, eu fui sorteada para a saída de emergência, entre dois executivos que mal se mexiam. E Luiza ficou entre um norte-americano gordo e uma senhorinha. Menos mal.

Chegamos em Lisboa pelas 20h. Como a cidade é temperamental, o tempo já estava diferente. Passamos os últimos dias em altas temperaturas, mas em Lisboa, o céu estava nublado e ventava um bocado. Pegamos o metro e descemos no Rossio. O bom  de chegar em Lisboa é a sensação de familiaridade. Antes de subirmos para nossos alojamentos lisboetas, paramos num restaurante ao lado da Estação Ferroviária do Rossio e batemos dois belos pratos da boa comida portuguesa. Luiza pediu bifanas com batatas fritas e eu, comi hamburgueres. Fomos muito bem atendidas por um jovem engraçado que, ao identificar-nos como brasileiras, sacou do vocabulário uma série de "valeu", "é top". Depois de bem alimentadas, fomos para o hostel. Instalado num casarão setecentista, o nosso quarto ficava no quarto andar, sem elevador! Quase morro para subir os oito lances dos quatro andares de escada de madeira, de degraus bem estreitinhos. Prometendo visitar o cardiologista quando voltasse, chegamos num quarto com uma cama de casal, uma varandinha com portas duplas, um duche apertado para tomar banho, uma pia, e só. O banheiro era coletivo, lá no final do corredor. Essas hospedagens são mais baratas e, apesar de não ter nenhum luxo, são seguras, limpinhas e cabem no nosso exíguo orçamento. Foi tomar banho e cair na cama. Me acordei no noutro dia, com a vida começando no Rossio. 
Restauradores, vista da varandinha do prédio antigo.

No outro dia de manhã, Lisboa continuava sob uma chuva fininha. Luiza disse que era para nos habituarmos ao nosso inverno tropical de Garanhuns. Pretendíamos ir à Belém, mas, acordamos tarde, acabamos andando pela Augusta, até a N.Sa. do Carmo e pegarmos um bonde errado e acabarmos em frente ao Cemitério de Martin Moniz. Depois de muita conferência, pegamos o bonde de volta, e ao avistar a Igreja de Santa Catarina, chamei Luiza para descermos no Chiado, bem atrás da estátua do Poeta. Fizemos uma parada obrigatória na Brasileira, onde tomamos um cafezinho - Luiza fingiu que tomou. Ela odeia café espresso -, e fomos zanzar na Bertrand, uma livraria obrigatória para nós, quando vamos a Lisboa. Adoro, tem tudo que você imaginar e vários idiomas. O problema é sempre o mesmo: com a grana curta, escolher não é nada fácil. Optei por um livro de Eça de Queiroz, um de José Saramago e outro de Agualuza. Luiza escolheu dois para engordar a lista dela, já quilométrica. Depois, fomos almoçar no Armazém Chiado e zanzar mais um pouco na Fnac. Já à noitinha, tomamos o metro - sobre a estação do Chiado, uma nota: aquela sucessão de escadas rolantes entrando chão a dentro me causam uma péssima impressão. Fui conversando bobagens para não registrar que estava sendo enterrada viva. Meu coração só volta ao normal quando chegamos na plataforma da estação. Seguimos para a Gare do Oriente, pois Luiza queria ir ao (shopping) Vasco da Gama, e eu precisava comprar uma mala para trazer as coisas. Compramos mais umas camisas para Tony e pegamos voltando para o Rossio. Para jantar, passamos no Pìngo Doce e compramos meio frango, batatas fritas e uma garrafa de suco de laranja natural: como nos velhos domingos quando morávamos em Aveiro. 
Acima, eu e Luiza no Chiado. Abaixo o quartinho do 5º andar do Guest House.
  Quando chegamos no Hostel, fomos informados que haviam nos mudado de quarto: agora estávamos no quinto andar! mais dois lances de escada, e ficamos instaladas no sótão. Mas, até que o quarto era bonitinho, apesar do banheiro ser completamente partilhado. Perguntei umas vezes a Luiza se ela queria ir ao banheiro, pois se quisesse, eu iria com ela, com medo de que alguma daquelas portas se abrissem e um meliante puxasse minha menina para o quarto. Duas fica mais difícil de atacar. Eu tenho assistido muito episódios de Law and Order SVU. 

No outro dia pela manhã, já não chovia, mas, estava friozinho. Luiza não quis descer para tomar café, fui sozinha a uma padaria que fica na esquina com o Theatro D. Maria I. Depois, fui andando até o Tejo, só para dá tchau. Na volta, comprei um pãozinho e um suco Compal e fui lutar com as coisas para acomodar tudo dentro das malas. A descida dos cinco andares com duas malas me fez duvidar que descendo todo santo ajuda. Cheguei ao rés do chão lavada de suor e com o coração na boca, reconhecendo que preciso urgentemente perder peso e melhorar a minha condição física. Pagamos o Aerobus em frente a fonte do Rossio e chegamos ao Aeroporto pelas 14 horas. Mais alguma espera e já estávamos voltando, no nosso voo de 7 horas sobre o Atlântico, aterrisando em Fortaleza. Daí, pegamos um voo da Gol para o Recife, sob uma chuva que me fez duvidar se realmente iria decolar. Chegamos em Recife pelas 2h da manhã, onde Tony já nos esperava após assistir o Jogo Sport X Atlético de Goiás. O Sport ganhou de 4 x 0 e quando chegamos, Boa Viagem estava às escuras, sem energia por causa da queda de árvores. Dormimos na Pousada Casuarinas, que chamamos carinhosamente de "Pousada dos gatos", pois na rua e na pousada há muitos felinos. 

Foi uma boa viagem. Temos absoluta certeza de que iremos fazer esse caminho mais vezes para descobrir novos aspectos, pois, foi uma breve passagem. Até a próxima!

Fiquem com Deus.

domingo, 12 de outubro de 2014

Correções, conclusões e decisões

Jardim da Cordoaria, Porto.
Durante a semana, gastei todo o meu tempo fazendo correções para a versão final. Isso me tomou um tempo danado, pois na euforia de concluir aquela sessão, nem me lembrei de pedir os exemplares que os professores do juri haviam lido. E pelo jeito, estavam bem riscadinhos. Desta forma, tive que consultar minhas anotações e tentar fazer jus às correções e observações muito bem colocadas. Li e reli a versão provisória, e já estava de saco cheio de tanto rever aquelas mesmas ideias. Na quarta-feira, mandei o pdf para gráfica (que voltou para mais duas correções: paginação e uma outra coisa lá que não me lembro). Foi a oportunidade que tive de ver a cidade, refazer o meu caminho de dois anos e alguns meses. Até então, não havia parado nem para pensar no que fazer em seguida. Cumprindo as formalidades da Universidade, não havia tempo nem para curtir o jat lag. Superei às custas de muita correria. Quando chegava a casa de Francislê, descia para o quarto de hóspedes e me jogava na cama. Só me acordava no outro dia, pela força do despertador para mais um dia de corrida maluca. 

No final da semana, estava quase louca. Quer me matar, me prenda numa rotina de repetições. Juntei três coisas na mochila, e depois de passar na gráfica para pegar os resumos e nos Serviços Acadêmicos para pagara minha dívida e receber meus papeis, me botei para o Porto. Simples, se não fosse comigo. Sempre há de haver uma complicação ou outra no meio do caminho. Saí da gráfica toda serelepe, nem conferi as cópias que recebi. Iria resolver uma pendência, e isso me bastava. Pois, por artes do destino, a gráfica errou no título da tese. Onde era "Comunidades de prática (...)" apareceu impresso "comunidade de prática (...)". O sujeito dos Serviços Acadêmicos olhou para minha cara, com nenhuma paciência e me perguntou: "É comunidade ou comunidades?" Respondi que era plural. "Pois, volte para a gráfica e mande fazer novamente. Isso veio errado." Putz grila. Voltar, mandar fazer novamente, receber esse negócio só na outra semana. E pior, passar o final me mortificando por causa do erro alheio. Tentei argumentar. O sujeito chamou o chefe. Felizmente, era bem mais razoável. Mandou-me falar com a chefe da Biblioteca. Se ela permitisse que a via impressa fosse com esse ERRO (engraçado como eles enfatizam a palavra ERRO), ele autorizaria o recebimento do material e a liberação da documentação. Fui, meio cega, à Biblioteca. Lá, uma senhora me atendeu muito gentilmente. Expliquei a situação. Ela fez-me garantir que a versão em CD estava correta. E estava. Liberou. Ligou para o sujeito dos SA, e lá vou eu novamente à Reitoria. Quando receberam os materiais que eu devia, me entregaram apenas a certidão. O diploma, depende da gráfica, da Reitoria, do Reitor, de Nosso Senhor no Céu. Apelei, dizendo que tinha urgência.  E o funcionário, muito cansado, afirmou que poderia ser emitido em uma semana. Ou duas. Ou um mês. E a urgência que solicitei? Sem urgência, o documento só será entregue em Maio. Conformei-me. E fui-me embora, certa de que a documentação irá render ainda muito trabalho.

Por do sol no Porto.
 Parcialmente resolvido o problema, graças a Deus e a razoabilidade das pessoas, fui. Hospedei-me num hostel, que atendia aos requisitos essenciais aprendidos com o pessoal do "Não conta lá em casa": tinha cama, água, chuveiro, porta, chave. E o mais importante de tudo: uma excelente internet.  O que mais me surpreendeu foi a temperatura. Fazia calor no Porto, em pleno outono, dava para andar de chinelos. Bati ponto nas livrarias, zanzei ladeira acima e abaixo até ficar de canelas doendo. À noite, como todos os gatos são pardos, ficava curtindo as notícias da eleição no Brasil e curiando a vida das pessoas. Apesar do tempo relativamente quente, as noites no hemisfério norte estão mais longas. Amanhece às 7 da manhã, o que faz da insônia uma companheira persistente e insistente. Se durante a semana, mal deitava e já dormia, nestes dias, vi o dia amanhecer pela sacada do sobrado antigo. Me diverti olhando os transeuntes pela sacada, lembrando do livro "O botão de rosa", de Maviael Medeiros. Quem sabe alguém não assustou-se, pensando que eu fosse um fantasma? Aproveitei esses dias de "eu sozinha" para pensar na vida. E cheguei a algumas conclusões. 

Na segunda pela manhã, voltei à Aveiro. Passei na padaria que frequentava para tomar um café. As funcionárias são as mesmas, perguntaram por Luiza. Quiseram saber de nós. Numa das mesas, encontrei a mãe de uma colega de Luiza, que me atualizou sobre os progressos das meninas. Trocamos impressões e saudades sobre nossas filhas. Aproveitei o caminho até a Universidade para rever meu caminho. Há um prédio sendo construído na rua que moramos. O prédio de alto padrão à frente das nossas janelas já foi concluído. No parque, prossegue a reforma. Estão construindo uma espécie de passadeira através da rua, ligando a Baixa de Santo Antonio ao Parque D. Pedro. Vai ficar bom. O problema
Reformas em Aveiro. Era a minha vizinhança.
da reforma é a demora. Quando morávamos lá, a baixa foi interditada para a reforma. São mais ou menos dois anos e sete meses de serviço, que caminha a passos lentos.

Na quarta-feira, despedi-me de meus amigos com os olhos secos. Aveiro desabava do céu numa forte chuva. A cidade que chore por mim. Dayse, de saída para um Encontro em Viseu deixou-me na estação. Meu compromisso era autenticar a certidão (já que deu bronca na emissão do diploma) no Consulado Brasileiro, para legalizar o documento,e, aproveitar para reencontrar a cidade dos meus encantos. Aproveitei meus dias em Lisboa para tomar algumas decisões para o futuro.

Porto e Lisboa. Conclusões e decisões.

Reflexões à Portuguesa!

Até amanhã, fiquem com Deus.





sábado, 6 de julho de 2013

Retorno

Então, nos últimos dias da semana passada, sob um calorão e um sol quase eterno, providenciamos a mudança. Quem já enfrentou mudanças sabe, de experiência própria, que os objetos se multiplicam e quase não temos como encaixotar tantos trastes. Como já vos disse em outro post, essa foi a minha 16ª mudança. Mesmo com tantas idas e vindas, sempre há um estresse. Quando morávamos todas juntas, sempre que havia uma necessidade de mudar de casa, mandávamos mamãe para Recife, e somente quando ela dizia que iria voltar é que avisávamos que havíamos mudado de endereço. Mamãe chateava demais nas mudanças: tinha mania de guardar todos os troços, não queria jogar nada no lixo, nem doar para quem precisasse, mesmo que aquele objeto estivesse encostado há anos. Além disso, tinha o zelo excessivo com as "prantas" (era assim que ela pronunciava 'plantas' e não havia jeito de fazê-la dizer corretamente). O mínimo galho que se quebrasse ou a folha amassada, era um Deus nos acuda. Para evitar esses conflitos, era melhor deportá-la para a casa da Mahria, e fazer o que tinha que ser feito.

Por mais que tenha tentado me adiantar, parte substancial do serviço ficou mesmo para os últimos dias. Primeiro, a maratona para cancelamento dos serviços de água, luz, gás e internet. Os três primeiros, não apresentaram problemas: fui ao balcão da empresa e pedi o cancelamento somente na sexta-feira, pois assim, poderíamos desocupar o T0 apenas no domingo pela manhã, conforme planejamos. No atendimento eletrônico da PT Comunicações me 'receitaram" uma série de burocracias, mas, no atendimento local, as coisas foram mais fáceis.

Passamos o sábado a arrumar as malas. Como já disse, mudança é sempre complicado, pois há a multiplicação dos objetos. Pensem, portanto, no sacrifício que é fazer uma mudança intercontinental. O espaço que tínhamos eram 7 malas com até 30 kg cada.  Como são dois volumes por pessoa, ganhei o direito de mais uma mala por conta de D. Nilza que levava apenas uma. Apesar de termos nos blindado contra o consumo excessivo, evitando acumular muita coisa, tive que me desfazer de muitos objetos. Louças, talheres, toalhas, cobertores, edredons foram doados, bem como a TV, a impressora, uma mesa de trabalho (que os portugueses chamam de 'secretária' e que nós chamamos de 'birô', abrasileiramento de bereau), uma mesa de cozinha com quatro cadeiras, foram todos para o Florinhas do Vouga, organização filantrópica que auxilia a população desfavorecida na região de Aveiro desde 1940. Junto também foram casacos de inverno de Luiza, impossíveis de usar no inverno tropical. Nada disso para nós foi um sacrifício, pois, se conseguimos adquirir estes objetos, com a ajuda dos amigos ou com recursos próprios, repassamos com alegria àqueles que precisam. Não temos qualquer apego a bens materiais, principalmente quando são objetos de uso cotidiano. Também não faz parte da nossa cultura familiar vender objetos que já usamos. Da mesma forma que aceitamos o que nos doam (outro dia, Neide e Paulo mandaram-nos um rack de sala maravilhoso, que está servindo muito bem) com gratidão, doamos de coração aberto. Neste aspecto, os livros são a minha limitação. Prefiro doar as roupas e voltar com "a roupa do corpo", do que doar os livros, que até empresto, mas não dou. Só se for prenda.

Pronto. No domingo pela manhã, tomamos o autocarro para Lisboa. O motorista queria dificultar o nosso embarque, alegando excesso de bagagem. Tony negociou a pesagem das nossas malas, que seria feita na próxima paragem, em Coimbra. Chegando lá, o motorista nem nos deu sinal, e nós não fomos em busca. Quando desembarcamos em Lisboa, veio reclamar porque não fomos pesar e acabou nos dispensando. Só para chatear. Na estação de Sete Rios, felizmente, há aqueles carrinhos de transportar bagagem em aeroportos. Deu para fazer o caminho da plataforma de desembarque para o elevador, e deste até o ponto de táxi com aquela tralha toda, duas bonecas, uma criança e uma idosa. Um jovem do leste europeu nos ajudou a arranjar as bagagens em dois táxis e ficou com as moedinhas que destravam os carrinhos. Ele vive disso, a exemplo de muitos jovens oriundos dos países do leste.

Conseguimos chegar no hotel, no Rossio, o mesmo que havíamos nos hospedado no dia 20.06.   Somente à tarde, eu percebi que naquela tralha, faltava a mochila do meu computador.Fiquei arrasada por dois motivos: 1) o livro novo do Agualusa estava na bolsa. Tony e Luiza haviam me dado como prenda de saída de Portugal na sexta-feira. Havia lido apenas as orelhas e a contracapa. 2) As bonecas Monster High, que Luiza adora, estavam na bolsa. Fiquei surpreendida com a reação da menina, que ao me ver enlouquecida em busca da bolsa, consolou-me: "tem nada não, mãe. O livro, a gente compra outro. E as bonecas, tu compras outras." Felizmente, na segunda-feira, depois que fui ao consulado do Brasil autenticar os documentos de escola de Luiza, liguei para a central de táxi e o gestor lá disse-me que o condutor havia encontrado e deixado na Esquadra de Benfica (Delegacia de polícia). Cheguei com a boa nova e um saco de cerejas no Hotel, e ainda deu tempo de tomarmos um táxi e ir a tal esquadra, pegar a bolsa. Fui atendida pelos agentes Guerra e Susana, que rapidamente me devolveram a tal mochila. Segundo D. Nilza, o achamento da mochila deveu-se a lei do retorno: eu havia doado tanta coisa, que as "forças do bem" atuaram para que encontrássemos nossos pertences.

Daí, a próxima etapa era o aeroporto. Tony foi no primeiro táxi com a mãe e eu fiquei com Luiza e quatro malas. Por um equívoco, fiquei com a "mala monstruosa", a maior de todas, que quase mata o taxista já idoso. Coitado. No aeroporto de Lisboa, o tumulto de sempre. Este é a porta de entrada da Europa e ponto de partida para o mundo inteiro. É engraçado ficar olhando as pessoas de todos os sítios que lá estão de passagem. É um divertido "não-lugar", como classifica a antropologia.  O check in foi tranquilo, apesar de uma pequena burocracia quanto a nossa passagem, minha e de Lulis, pois, foi comprada no Brasil, só de retorno. Coisas da TAP. Segundo Tony Neto: "Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de quem espera pela TAP de Portugal." Bagagens despachadas, tudo fica mais simples. O embarque foi tranquilo, nos beneficiamos pelo fato de acompanharmos uma criança e uma idosa, driblando a fila de 200 e tantas pessoas ansiosas. Há suas vantagens. Após 7h40 sobre o atlântico, chegamos ao Recife. Depois da perseguição às bagagens, pegamos subindo para Garanhuns.

Chegamos às 1h05 da madrugada da terça, sob uma chuvinha fina nas ruas desertas da cidade que dormia.

Feliz por voltar.

Até amanhã, fiquem com Deus.

domingo, 30 de junho de 2013

Última semana

É a nossa última noite aveirense, nesta temporada. Parece-nos mais uma noite recifense, daquelas que transpiramos ao sair do banho. Finalmente, o verão chegou com dias que se prologam pela noite. O sol insiste em ficar no céu até as 21hs, pintando de vermelho e seus matizes a despedida dos pássaros. Também vamos indo. Nos últimos dez dias tivemos a companhia da avó paterna de Luiza, em sua primeira viagem internacional. Penso que deve ter sido divertido para ela conhecer o que há além do oceano. Para mim, além de matar as saudades e estreitar os laços familiares entre gerações, através do convívio entre netinha vovó, foi uma oportunidade de  aprender um pouco acerca do turismo para a terceira idade.



São duas semanas de verão que temos de presente, antes de regressar ao leve inverno dos trópicos. Sob o sol e céu absolutamente azul, Portugal resplandece e fervilha de turistas, vindos de todas as partes do mundo. Depois dos vizinhos espanhois, os sul americanos de língua espanhola e os franceses povoam essas paragens turísticas. Desta vez, Tony preferiu vir por Lisboa. Nos encontramos na quinta feira e fizemos o roteiro turístico mais comum do mundo: Lisboa, Fátima, Porto. Em Lisboa, fizemos o roteiro oficial com uma visita à Sintra. Vi um Palácio da Pena diferente, imerso numa névoa espessa, que lembrava Garanhuns.
Na subida tortuosa em íngreme, muitas árvores derrubadas pelos ventos do dia anterior. Apesar da eterna reforma, o palácio continua lindo.
 
Em Fátima, Tony e D. Nilza participaram da missa do domingo e depois seguimos para o S. João do Porto. Mas, aí eu já estava doente, e apesar de ter a maior curiosidade de participar do animado São João portuense, animado pelos ranchos tradicionais e com muita fumaça das sardinhas assadas nos braseiros em plena rua, não consegui sair do quarto do hotel. Um desarranjo intestinal já havia me proporcionado uma "noite de rainha" em Fátima, e cheguei ao Porto em frangalhos. Devia ser proibido adoecer em viagens. Como disse, fiquei no quarto com Luiza, que estava com preguiça de sair e com pena de mim. Aproveitamos e fizemos um perfil no Facebook para minha sogra, e nos dias subsequentes tratamos de viciá-la na rede social mais famosa do mundo. Penso que já funcionou! 



Passeio no Rio Douro. Lindo!
Quando melhorei, fiz birra para visitar o Café Majestik, que fica na rua de Santa Catarina, um dos mais antigos de Portugal. Havia visto uma reportagem sobre o estabelecimento há uns dias e queria conhecer este café que resiste ao tempo e ao canto da sereia do fast food. O café é belíssimo, com suas paredes espelhadas em art nuveau. Os atendentes de libré parecem saídos de um conto de fadas. Tudo lindo, maravilhoso, menos a conta: o lanchinho nos custos 27 euros. Me consolei utilizando a máxima do amigo Mano do Caetano: "Quando é que eu vou voltar aqui, para tomar um refresco de groselha?" Por esse ângulo, são experiências únicas e valem cada cêntimo.
 

Quando chegamos à Aveiro, eu já estava melhorzinha. Quando acedi ao meu endereço eletrônico, havia um simpático convite da Zé para participarmos do 2º jantar luso brasileiro. O primeiro foi o ano passado, na despedida do Ronaldo Linhares, que voltava a Aracaju. Desta vez, além do final do ano letivo, eu estava de retorno para o Brasil; Francislê de passagem no eixo Brasil - Portugal - Angola e, na última semana havia sido o aniversário da Zé. Portanto, esses foram os motivos que ela arrolou para abrir sua linda casa em Anadia (próximo de Coimbra) e convidar os amigos para o "Leitão Chez Moi". Então, na quarta-feira peguei uma carona (boleia) com o Gerson Mol e sua simpática esposa, a Thais, e fomos bater lá na casa dessa professora que é um encanto de pessoa. Junto conosco também foram Sannya e Cecília. Tony, Luiza e D. Nilza foram com o Francislê e a Dayse. Lá já estavam a Paula e a Isabel. Nos instalamos um lindo gramado ao pé de um sobreiro.  Aos poucos chegaram a Vânia, a Maria João, o José, o Leonel, o Antonio Pedro. Estava lá a linda Patrícia Sá, a Profa. Maria João, irmã da Zé, e que foi nossa professora em um dos créditos do Doc. Conheci os sobrinhos e um dos filhos da Zé. O surfista, não pode vir. Estava também a Taty, uma ucraniana que fala um  espanhol arrastado, que o Gerson acompanhava com muita graça.
A maravilhosa mesa do 2º grandioso jantar luso brasileiro na casa da Zé

 
Uma turma ímpar num sítio muito especial. A casa da Zé merece um post. É a cara dela, com lindos objetos de arte e lembranças de sua (muitas) viagens. Foi um momento muito bom, muito divertido. Rimos à larga com as histórias do Gerson e do Antonio Pedro, sempre muito bem humorados. A comida, apesar de ser apenas um detalhe com tão agradável companhia, estava deliciosa. O bácoro estava tenro e muito bem assadinho. Adorei tudo. Estou levando deste amigos, um grupo seletíssimo do qual é um privilégio participar, divertidas lembranças e grandes aprendizagens, uma bagagem que não me pesa e só me enriquece. Com este companheiros aprendi que quem é não precisa se achar. A simplicidade desse grupo de pessoas tão instruídas, de tanto sucesso profissional, só comprova a minha teoria de que é possível continuar a ser gente, independente da quantidade de diplomas e publicações.

Entre a quarta feira até  o presente momento, andei a providenciar a mudança. Apesar da minha proteção anti-consumo, vocês não imaginam o que é fazer uma mudança intercontinental, cujo peso é limitado. Mas, isso fica para um outro post, pois nos momentos finais desta temporada só quero sonhos bem felizes, pois amanhã começa a via crucis da viagem.

Nos vemos no outro lado.

Até amanhã, fiquem com Deus.

sábado, 23 de março de 2013

Digam-lhe que fui ali: Évora

Basílica de Évora
Então, as férias de páscoa estão em curso. São 15 dias de pausa para análise do rendimento dos meninos e para que eles descansem um pouco antes de arrancar para o final do ano letivo. Nestes dias, Portugal anda absolutamente bipolar. Dias que começam com sol, e no meio do caminho, arrepende-se e tome chuva. A nossa vantagem é que cá a previsão de tempo é ciência exata, nunca falha. Assim, é possível se preparar para as indecisões dos tipos de tempo. Apesar de já ser primavera, as temperaturas estão baixas este ano. Mas, o momento mais difícil já passou e agora faltam apenas 89 dias para Tony chegar. O que são 89 dias para quem já esperou três meses? Já estamos no último período desta temporada. Ao mesmo tempo que o tempo a correr me trás uma alegria imensa, pois aproxima-se a hora de fechar o T0 e mudar de mala e cuia para o nordeste do Brasil, me causa uma ansiedade pois o tempo urge e o serviço é muito. Ainda falta tanto para ter uma primeira versão da tese concluída... Contudo, ainda assim, é preciso mediar, pois decidi que não vou enlouquecer com isso. Farei o possível para construir, da melhor maneira. Mas se não der jeito, paciência. Levo esse trombolho para concluir no Brasil, embora as condições de cá sejam infinitamente mais favoráveis. Enquanto isso, vamos trabalhando. Um pouco a cada dia é sempre um pouco mais perto de terminar.
 
Praça do Giraldo
Pois, por isso mesmo, na primeira semana das férias de páscoa, arrumamos nossas coisas em uma mochila e nos botamos para o Alentejo. Já havia planejado uma visita à Évora, mas cometi um erro no roteiro. Acabamos não indo à cidade onde nasceu Florbela Espanca. Depois de uma pesquisa mais detalhada para evitar erros no percurso, decidi que iríamos de autocarro. Saímos de Aveiro às 8hs, com um enlace em Lisboa. Para quem já andou de Jotude, os autocarros portugueses são um luxo: novos, limpos, bem equipados. As rodovias portuguesas são aquilo tudo que vemos na TV. Bem sinalizadas, limpas, pavimentação perfeita. Tudo bom, tudo maravilhoso, se não fosse a determinação de que os autocarros só podem trafegar a 80km/h. Para viajar de ônibus é preciso ter muuuita paciência. A uma certa altura, me lembrei com um sorriso de "seu" Baiano. Andei com esse lendário motorista da Jotude quando trabalhava em Alagoas. Já no final da carreira, "seu" Baiano fazia a linha Arapiraca-Recife. Naturalmente, passava na Palmeira (Palmeira dos Índios, Alagoas), fazia uma paragem em Bom Conselho e me deixava em Garanhuns. Seu Baiano tinha o perfil adequado para trabalhar nos autocarros portugueses. Pense num motorista descansado. Com a repetição das viagens, o passageiro fica conhecido. Um dia, sentei-me na poltrona 2, que ficava bem ao lado do condutor. Neste dia, seu Baiano estava especialmente descansado, veloz como um caracol de jardim. Dei uma cochilada e quando me acordei já estávamos próximos a Terezinha. Eu disse: "Oxe, e já passou Bom Conselho? eu nem vi..." Seu Baiano virou a cabeça para mim, espantado: "hein? Vixe, professora, que eu me esqueci de entrar em Bom Conselho." E caimos na risada. Uma figura, esse motorista, que Deus o tenha. 
 
Zona comercial de Évora
Voltando a nossa história: com a leseira peculiar aos motoristas dos autocarros portugueses, chegamos à Lisboa às 11hs. Com tantas voltas dentro de Lisboa para chegar a estação de Sete Rios, Luiza ficou enjoada. Mas segurou-se bem. Após um lanche rápido no snack da rodoviária, entre turistas perdidos e pombos esganiçados, tomamos o autocarro para Évora às 12h35. Para pegar o caminho, atravessamos o Tejo pela Ponte 25 de Abril (é minha!). Depois que passa de Setubal, a paisagem é tal qual o percurso de Garanhuns à Bom Conselho, em épocas de boas chuvas. Começa a mudar de cara próximo a Arraiolos (a região do famoso tapete), cuja paisagem é marcada pelo cultivo de oliveiras. Os campos abaixo das arvorizinhas espantadas, com diz Luiza, estavam cobertos de florinhas amarelas e azuis. Cenário de cinema. Atenta ao caminho, conheci uma charneca em flor, como no poema da Florbela.  Chegamos à Évora às 13h35.
 
Parque infantil
Após fazermos o check in na Pensão Policarpo, fomos em busca de um lugar para comer. O moço da pensão nos deu um pequeno mapa. Neste percebemos que estávamos na cidade muralhada. Entramos no "Cantinho da Beatriz", motivadas pela teoria de Mano do Caetano: se há gente esperando é porque o serviço é melhor. Pedimos um bitoque de  vitela com ovos. Estava até bom, apesar do ovo estar mal passado. Alimentadas, fomos andar pela cidade toda branquinha e amarela. Raras são as casas que tem os detalhes em cinzento ou em azul. É tudo tão lindo e bem cuidado que parece cenário de novela. Descemos a rua até o Hospital e dobramos na primeira viela à esquerda. Luiza ia com o mapa à mão e tagarelava o tempo todo sobre o caminho mais adequado a seguir para chegar ao Parque de Évora. É um espaço muito bem aproveitado ao pé da muralha, com um playground bem legal. Havia muitas crianças a brincar por conta das férias de Páscoa. No centro do parque há um palácio manuelino muito bonito, embora não esteja aberto a visitação. Depois, fomos a famosa Capela de Ossos.
 
Capela de Ossos
 
 
 
A Capela de Ossos é uma construção franciscana do século XVII. Após pagarmos o meu ingresso de 2 euros, mais 1 euro para poder tirar fotografias (Luiza não paga!), entramos no santuário. Este foi idealizado como um espaço de reflexão acerca da rapidez com que a vida passa, e como o orgulho humano é um sentimento inutil. Logo à entrada tem uma bela frase no pórtico de granito: "Nós ossos que aqui estamos, esperamos pelos vossos." Não consegui reprimir um risinho, lembrando de Pablo, meu sobrinho. Esses frades eram uns trolls!
 

    
Luiza ia fotografando tudo, pois o 1 euro foi por ela custeado. Quando saímos, passamos na Igreja de São Francisco. Nesta tivemos a oportunidade de acompanhar um ensaio da Orquestra e Coro da Universidade de Évora. Estavam a passar as peças para o Concerto de Páscoa que ocorrerá dia 26 de março. Enquanto Luiza anotava suas observações em uma folha solta do meu caderno, eu acompanhava o trabalho. O maestro parava  constantemente em um trecho e fechava com a cara dos jovens dos violinos. Depois, reclamou muito com as vozes masculinas do coro. Onde ele via erros horríveis, eu só ouvia beleza. É a felicidade da ignorância. É bom não saber de tudo. Como era segunda feira, o mercado estava fechado, subimos pela rua 1º de Maio e chegamos a praça do Giraldo. Luiza estava cansadíssima, e sentou-se nas escadas do Banco de Portugal. Ficamos lá um tempo, olhando a praça e as pessoas. Muitos turistas zanzavam pelas arcadas comerciais do outro lado da rua. Como já eram quase 19hs, era hora de procurar um jantar e voltar para a pensão. Luiza pediu uma tosta mista e eu preferi uma bifana. Estava bom, mas Luiza não gostou da manteiga da tosta. Resultado: comeu a metade da minha bifana (sanduiche de bife de suíno).
 
 
Quarto da Pensão Policarpo
 
Voltamos a Pensão, doidas por nossas caminhas. Na verdade, antes de chegar nos perdemos duas vezes. As vielas são muito iguais. Em vez de ir à direita, desci para a esquerda, demos a volta e retornamos para a mesma rua onde estávamos, entre risadas. Nos instalamos num quarto de teto alto e arredondado e piso de madeira. Na hora do banho, depois da briga com o polibam, um tipo de chuveiro espanhol, que tem mais torneiras e botões que uma nave espacial, brincamos no enorme chuveirão, dispensando as toucas de plástico que não davam conta dos nossos cabelos. Como no quarto não havia televisão, falamos com Tony pelo Skype (viajamos sempre com o magalhães de Luiza e a pen da Sapo. Assim, com internet móvel e um computador de criança, temos acesso á itnernet em qualquer lugar) e fomos dormir por volta das 22h30. O dia tinha sido puxado, mas muito produtivo. E no outro dia, Évora nos mostraria uma outra face: a chuva!
 
Até amanhã, fiquem com Deus. 
 
PS: Para quem não conhece, segue o poema da Florbela Espanca, "Charneca em Flor". Penso que vi pelo caminho o mesmo cenário que ela vivenciou durante seu tempo alentejano.
 
Charneca em flor


Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor
 
 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Digam-lhe que fui ali: Guimarães

Então, na última etapa das andanças do natal, chegamos em Guimarães. Já mais habituada a pronúncia do Minho, compreendi que as discussões não são brigas, mas a forma de conversar peculiar dos minhotos de mais idade. O Comboio partiu de Braga às 11h35. Faríamos uma paragem em Lousada, e seguiríamos à Guimarães.  Esta estação é um ermo incrível. Não se via vivalma nas redondezas. O frio era grande e a chuva fininha nos perseguia. Para completar, houve perturbação na linha, e, aconteceu o que não tínhamos ainda vivenciado: o trem atrasou 25 minutos. E não tínhamos nenhum pacote de bolachas na bagagem. Com o estômago roncando, chegamos à Guimarães às 13h45min. Foi fácil encontrar o pequeno hotel em que nos hospedamos e o ponto de referência foi infalível: éramos vizinhos da grande árvore de Natal de Guimarães. Luiza ficou muito contente com o quarto, pois havia uma divisão entre o lugar dela e o nosso. Deixamos as coisas e fomos em busca de um lugar para comer. Como não fiz nenhuma pesquisa exploratória, fomos em busca pelo faro. A cidade tinha um clima muito parecido com a primeira sexta-feira do Festival de Inverno de Garanhuns: muita gente chegando, muitos jovens, apresentações culturais em cada esquina. Só depois soubemos que que no outro dia seria o encerramento do ano de Guimarães como Capital Européia da Cultura. Por isso, aquele ruge-ruge nosso conhecido em 22 anos de FIG.
 
Saímos caminhando pela cidade de Martinha, colega do doutoramento, uma linda mocinha e talentosa artista plástica, que vive envolvida com conferências do TEDx, vendo as pessoas sob uma chuvinha fininha. A única mais orientada era Luiza, pois há pouco mais de um mês havia visitado a cidade numa viagem de estudos da escola. No Largo do Toural, entramos num restaurante, mas ninguém deu conta de nós. Curiosamente, nas paredes haviam bandeirinhas do Náutico, Santa Cruz e Sport. Infelizmente, não nos atenderam, e nós saímos do mesmo jeito que entramos. Continuamos a andar, nos prometendo entrar na primeira aberta de porta de bar. Na Alameda de S.  Dâmaso, entramos no Vira Bar, um lugar bem bonito, mas muito escuro. Havia umas pessoas esquisitas, fumando muito e com um visual pra lá de estranho. Um jovem muito simpático veio nos atender e nos convidou a ocupar uma mesa na linda sala de refeições que havia no piso superior. Neste, lindos balcãos floridos, revelavam a praça lá embaixo entre as franjas da cortina rendada. Tocava um jazz onipresente, e apenas havia uma mesa ocupada com três sujeitos e duas moças, uma loura com cara de alemã, e outra vestida de negro, com cabelos cortados à navalha e furos imensos nas meias grossas que cobriam as pernas extremamente finas. Todos falavam em inglês, e no que deu para entender, eram pessoas do Staff do evento. Gente super esquisita. Pelo menos, aqui não éramos a atração. Fomos extremamente bem atendidos e a comida conceitual era ótima. Pedi um peixe com molho de camarão e vieiras (as vieiras foram discretamente postas de lado. Bichos mais feios!). Luiza e Tony comeram um arroz com ervas finas e bifes de vitela. Estava muito bom e não foi caro.

Fomos ver o Castelo de Guimarães, do Século IX. É uma belíssima construção em pedra, que nos conduz a um excelente exercício de imaginação. Chovia fininho, fomos com nossas sombrinhas. Como Luiza já conhecia, ia nos contando o que aprendera na viagem de estudos. Impressionante como essas visitas funcionam bem. A menina ia reproduzindo (com sotaque português e tudo) as informações que as guias e as professoras haviam dado. Logicamente, eu paguei um mico. Subi numa muralha para apreciar a vista, e quem disse que consegui descer os escorregadios degraus de pedra, molhados e cheios de um limo esverdeado? Fiquei lá como uma parva e Tony teve que voltar para me salvar. Apenas me deu a mão, e eu desci com minhas próprias pernas cambaleantes. Era só medo, em segundo, vi meu corpo estendido no chão e uma equipe do INEM me rebocando para o IML.  Na descida da ladeirinha, Luiza começou a se queixar de uma dor na perda esquerda. Como eu já havia travado na descida da muralha, não quis me queixar, mas a minha perna esquerda também doia, como que fez muita ginástica. Tony também reconheceu que a sua perna direita também doia. Devia ser algo da subida do terreno íngreme sob aquele frio de 8 graus.


O Paço dos Duques é um palácio belíssimo. Muito conservado, apesar de ter sido há bem pouco tempo a residência do Presidente da República. Hoje é um museu com mobília e objetos pessoais e de arte dos antigos nobres que lá residiram. Luiza dava pequenas corridinhas  à plaquinha que identificava o local e nos contava a história que aprendera com as professoras. Ela havia me falado muito de uma pequena caminha que havia no aposento do Rei. Segundo ela, a cama era bem pequena (dava para mim com dificuldades) porque na época acreditava-se que quem dormia deitado, morria. Então, dormiam naquelas caminhas minúsculas para ficar meio reclinado. Nestes castelos, passei o tempo a me lembrar de Ilda. Tenho certeza que voltaremos juntas a este lugar.

Voltamos ao Hotel para descansar um pouco. Luiza estava entusiasmadíssima com a privacidade recém conquistada pelo layout do quarto, e nós também. À noite, saímos para ver a cidade. A decoração de natal era restrita, mas de bom gosto. Fomos ao shopping, pois meus matutos queriam pizza. Optei por mais uma sopa de pedra. A servida em Guimarães é simplesmente deliciosa. Na volta, ainda ficamos esperando o ensaio geral do espetáculo de encerramento do evento. Mas, demorou muito e o frio era intenso. Acabamos indo embora sem ver o cavalinho andar pelo Largo.






No outro dia, saímos para a cidade em efervecência. Guimarães estava tal qual Garanhuns no primeiro sábado do FIG. Muita gente bonita, muita arte, muitos eventos. Visitamos a Igreja de São Francisco que é simplesmente maravilhosa, riquíssima, cheia de ouros (que nós sabemos muito bem de onde vieram) e azulejos. Era tudo de um azul e dourado intenso. Fomos até o Largo da República do Brasil, onde há uma linda Igreja gótica e lindos jardins.


Do outro lado da praça, já na esquina da subida da muralha há o Museu de Alberto Sampaio. Em Guimarães é um museu a cada esquina, é preciso escolher um para visitar. Além de uma belíssima coleção de pintura, ourivesaria litúrgica e cerâmica,  nos chamou atenção a exposição das roupas de Nossa Senhora. Um verdadeiro luxo fashion da Mãe de Jesus. As roupas datavam deste o Século XVI, todas bordadas pelas princesinhas ao longo dos reinados. Uma ideia fantástica, uma exposição de muito bom gosto e muito conhecimento. Passei o tempo inteiro a me lembrar de Priscila Lopes. Ela iria gostar disso aqui.
 
 


O tempo passa muito depressa, tínhamos que fazer o chek out no Hotel, pois a cidade estava lotada. Se pudesse, teria ficado um pouco mais. Contudo, já estavamos viajando há uma semana. Era preciso voltar a vida real e encarar o retorno de Tony ao Brasil e o meu atrasado e enrascado serviço de investigação. Por ansiedade, não passei bem a noite, estava com um humor horrível na manhã seguinte. Fui uma péssima companhia de viagem: ao entrar no comboio, comecei a dormir em Nespereira e só me acordei em Trofa. Depois, já na linha do Vouga, voltei a dormir em General Torres e acordei em Estarreja. Enquanto eu dormia e me acordava, Tony distraía Luiza, fazendo truques de mágica para a pequena e encantando um velhote ingênuo que estava sentado na outra fileira.

Foi um excelente passeio, uma boa temporada. Agora, vamos trabalhar porque junho já chega e eu preciso entregar ao menos a primeira versão da tese ao meu compreensivo e exigente orientador.


Até a próxima viagem. Fiquem com Deus.         

sábado, 19 de janeiro de 2013

Digam-lhe que fui ali: Braga

Na última etapa da nossa andança de natal, visitamos Braga e Guimarães. À Braga foi um retorno, pois quando meu cunhado Petronildo veio fazer parte do seu doutoramento na Universidade do Minho, eu e Luiza tivemos oportunidade de visitar essa linda cidade, capital do Minho. Logo à partida, percebemos que há entre Braga e Guimarães uma rivalidade. As duas cidades competem para ver que é a mais acolhedora, a mais intensa, a mais histórica, a mais bonita. Para mim, as duas são lindas.
Foto de Natal, em Braga.
Arco da Porta Nova ou Porta de Santa Cruz. É a entrada da cidade muralhada.
  
Chegamos à Braga quase às 13 horas, após pegar um comboio de Barcelos à Nine, e desta à Braga. Já na cidade, arranjamos um táxi, pois a bagagem estava pesada. Além disso, Luiza estava com fome. E não queira saber a valentia dum Ferreira com fome. Apesar de ser relativamente próximo, até a porta de santa cruz é um pouco íngreme nestas condições. Ficaríamos no Hotel Comercial, no Braga Shopping. Achei estranho quando o condutor começou a fazer ligações para saber com os colegas como chegava lá. Pensei: Deve ser o oco do mundo, como aquele hotel que ficamos em Ponta Negra, Natal. Apesar de bonzinho e arrumadinho, este ficava no final de Ponta Negra. Caminho esclarecido, o taxista subiu pela calçada, buzinando para afastar os transeuntes. Diante do meu pasmo, explicou-me que aquela manobra sobre o passeio era permitida para taxistas na Avenida Central. Deixou-nos à frente de um prédio com uma galeria abaixo. Subimos de elevador ao quarto andar para descobrir que estavamos no Hotel comercial errado. Este é um Hostel. O que fica no Braga Shopping é do outro lado da avenida central. Nos desculpamos e atravessamos a praça, já aquela hora bastante movimentada, pois na sexta-feira seria o encerramento do ano Europeu da Juventude, sediado em Braga. 

Luiza se divertiu com as moedinhas na parede

No hotel certo, deram-nos um quarto antiquíssimo no terceiro andar. E saímos para almoçar, a esta altura, Luiza já estava com uma cara de pouquíssimos amigos. Depois de muito procurar, paramos para pesquisar o cardápio de uma birosca. Um senhor muito simpático nos convidou a entrar, falando muito bem de seus pratos. Ficamos. E foi a melhor refeição da viagem, a vitela assada do Flor do Vouga é maravilhosa. Neste estabelecimento há um costume engraçado: os visitantes colocam moedinhas nos ressaltos das pedras da parede. Há moedas de todos os lugares do mundo e de várias épocas. E elas ficam lá, soltas. E ninguém leva! Deixamos uma moeda de 5 centavos brasileira que andava pela minha carteira para contribuir com a inusitada decoração. Após o almoço, fizemos um passeio até a Porta de Santa Cruz, visitamos a feirinha de produtos locais (caríssima), acompanhamos uma apresentação de um grupo de músicos e seus instrumentos esquisitos, que executavam - lindamente! - músicas com ares medievais. Às 17hs, retornamos ao hotel, cansadíssimos.
Músicos de rua em Braga
 
Luzes de natal

À noite fomos ver a decoração de natal da cidade, que estava belíssima. Enquanto passeávamos sob as luzes coloridas, inúmeros grupos  artísticos se apresentavam em diversos cantos da cidade. Braga efervecendo de cultura a cada esquina, misteriosamente sem chuva, mas envolta numa espessa névoa dos pequenos fogareiros onde assam as maravilhosas castanhas. Na hora do jantar, Luiza queria pizza. E fomos procurar, apesar de eu ter planejado levar Tony na Frigideiras do Cantinho, aquele restaurante que fomos com Petronildo, cujo piso é de vidro e mostra as muralhas romanas descobertas na escavação numa das reformas do prédio, acabamos no Braga Parque. Depois de tanto procurar por pizza, Luiza e Tony acabaram no Brasa Rio para comer feijão. Eu não aguento esses meus matutos! Eu preferi uma sopa de pedra, tipicamente portuguesa. É uma sopa de feijões vermelhos, com muita couve e repolho (diz-se couve lombarda), e enchidos de porco. Muito gostosa. Para completar o passeio, havia uma promoção de "Casa da Barbie". Luiza entrou e ficou lá a pintar e brincar com todo tipo de boneca, enquanto eu vigiava, e Tony esperava pacientemente sentado na pracinha. Voltamos ao Hotel e ai deu-se o problema. No quarto antiquíssimo não havia água quente. Liguei já contrariada para a recepção, e o jovem me aconselhou abrir a torneira e deixar a água correr até esquentar. A água correu, mas fria. Liguei novamente, e o sujeito veio ao quarto ver o que estava acontecendo. Defeito nas tubulações. A solução foi trocar de quarto.
Lulu e Tony na praça da República, Braga

Numa das muitas portas de Braga
 
No outro dia, mesmo sob a chuva, fomos em busca de umas lembrancinhas. Nosso comboio para Guimarães sairia às 11h32, havia pouco tempo para a última voltinha na cidade. Um problema que tivemos em Braga foi o tumulto da festa. A maior parte dos monumentos estavam com um palco ou uma arena para shows bem na frente, não nos restando bons ângulos para fotografias. Passamos na feirinha e compramos a pulseira com o nome para Mahria, que estávamos procurando desde a visita à Viseu. Por coincidência, a jovem que vendia era a mesma! No check-out, mais um problema: fui pagar com o Master, mas a jovem disse que a máquina não havia sido iniciada, e somente o gerente tinha o código. "Bonito, né?" Exclamei, nordestinamente. E se não tivéssemos dinheiro para pagar? A solução foi descer ao térreo e procurar um caixa eletrônico no shopping, para arranjar dinheiro em dinheiro. É muita falta de profissionalismo. Não é pelo fato de ter que pagar em espécie, mas é pelo desaforo. E eu, como não cabe desaforo na minha mala, voltei com os 40 euros e uma cara horrível. Efetuamos o pagamento e fomos embora do hotelzinho zebrado. A solução é dar uma suspensão eterna. Ou seja, nunca mais voltaremos lá, naquele hotel. A falta de preparo no turismo é imperdoável, pois deixa uma impressão péssima a quem visita. 

No caminho para a estação, lembrei-me do cocó do cão. Seria ainda resquícios do azar da pisada?! Às 11h35, estávamos a caminho de Guimarães.

E esse será o último capítulo da nossa andança pelo Minho.

   

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Digam-lhe que fui ali: Barcelos

Então, já amanhã recomeçam as aulas de Luiza. Eu fiz todo o esforço do mundo para concluir a primeira versão do referencial teórico da tese durante 2012. E não é que consegui?! Hoje, pela manhã, liguei ao orientador para levar-lhe o material impresso e encadernado. Preferi fazer assim pois amplia o olho de caçador de formiga na floresta que ele tem para encontrar as falhas. Portanto, após gravar as interações na Comunidade de Práticas dos Professores da AESGA no Facebook, plataforma utilizada nesta investigação, parei um pouquinho para jogar uma conversa fora com vocês, retomando as andanças pelo Minho, que empreendemos no último (e tão recente!) dezembro.
Sabe daqueles dias que não era para sair de casa? era eu no dia 19.12! Após o checkout na pensão, fomos à Estação de São Bento para tomarmos o trem para Barcelos, a cidade do lendário galo, que é o símbolo maior de Portugal. Barcelos entrou na lista por conta desse bendito galo. Eu encasquetei em fazer "o roteiro do galo": O Galo de Barcelos, O galo do entrudo, na Guarda e o Galo da madrugada, no Recife. O primeiro, já foi. O segundo, será no mês de fevereiro, quando iremos subir a Serra da Estrela para acompanhar a procissão, o julgamento e a morte do galo do entrudo. Se tudo correr bem, iremos lá. E em 2014, no sábado de carnaval, tem o maior galo do mundo. Já tenho enfrentado oposições, mas, darei um jeito de convencer meu maridinho a ir junto. Ainda há tempo para isso.  


Pois bem, retomando: no curto caminho entre a Pensão e a estação, deu-se a desgraça: pisei em cocó de cão. E foi uma pisada daquelas, dignas de virar fóssil. Estava com as minhas botas "croc-croc" (chamo-as assim porque ela faz esse som quando piso com o pé esquerdo. Quase joguei-a fora ainda na primeira semana de uso, mas, depois da primeira chuva, percebi que ela é uma bota quase perfeita. Depois, faço um post "fashion" sobre sapatos), e o cocó entrou nas ranhuras do solado da bota para caminhada em montanhas. E ficou aquela inhaca. Quando entramos no trem, com destino a Valencia (ESP), fui a casa de banho do comboio antiquíssimo para lavar o sapato, pois, por mais que eu fizesse, nada dava jeito. Isso, aguentando a galhofa de Luiza. Problema resolvido, ficamos olhando o caminho novo para nós. Lá para as tantas, Luiza cochilou. Quando dei por mim, já era a nossa paragem. Sai puxando a menina sonolenta e duas mochilas, trem a fora, para não perder a estação. Nestes trens antigos não há aquele luminoso que informa as estações, assim, quando chegou a nossa, nem sabíamos que era aquela!
Chegamos no Residencial Arantes por volta das 13h30. Um casarão antigo, com belíssimos azulejos na fachada. Ao rés do chão, uma padaria, um restaurante e a entrada da pensão. Tudo Arantes. Subimos a escadaria atapetada de vermelho fofo, e na pequena recepção, não havia ninguém. Na sala ao lado, um cheiro de almoço e um som de pratos nos alcançou. Espreitei pela porta entreaberta e havia uma família sentada a mesa e uma senhora circulando com uma grande panela à mão servindo os pratos de duas moças e um senhor muito arrumado, mas de uma aparência secular. Chamei-lhe a atenção e a senhora veio nos receber. E, com D. Júlia tive o primeiro contato com a pronúncia do Minho: um português rápido e baixo, cuja silabação se perde na rapidez que as palavras são pronunciadas. Além disso, os minhotos falam quase sem abrir a boca. Com certo custo, a mulher nos atendeu bem, perguntou-nos se vinhamos conhecer a feira que acontecia no dia posterior. Eu nem sabia da feira, vinha mesmo para conhecer o galo! Copiou o meu documento em uma máquina ultramoderna e nos conduziu ao nosso quarto, que ficava bem ao lado da mesa, onde a família tomava a refeição. Tony murmurou um "boa tarde" e ninguém respondeu. Nem levantaram o olhar ao nos ver passar. Estranho. Deixamos nossas coisas e saímos em busca de comida.

Depois de muito andar pela rua principal, achamos apenas pastelarias. Entramos numa viela e encontramos dois restaurantes. Optamos pelo Solar Real, um casarão antigo com mais uma escada de pedra. Lá dentro, o ambiente pouco modificado apresentava salas de reifeições. Entramos numa com um lustre imenso pendendo sobre uma diversificada mesa de sobremesas. Tony pediu costela de cabrito e eu dividi uns bifes com Luiza. Mas, lembram-se da uruca que me perseguia desde o cocó de cão? Pois! O arroz era "al dente", que Luiza odeia, o meu bife estava mal passado, que eu odeio, e o cabrito de Tony tinha um creme de alho, que ele odeia. Uma pela outra, o almoço foi péssimo. E o atendimento, pior ainda. O homem era muito chato, e ainda pagamos 1 euro por dois pedaços ridículos de pão.
Igreja da Ordem de Sta Cruz
Luiza e as frutas
Fomos andar pela cidade, que é muito bonitinha, parece uma casinha de bonecas. Luiza colocou na ideia que queria um gelado (sorvete). Entramos na primeira pastelaria, bastante movimentada. Quando a menina abriu o frigorífico para escolher um gelado, a RAPARIGA (no sentido pernambucano!) deu um grito tão grande na menina, dizendo que não podia abrir, que a pobre assustou-se num pulo. Tony calmamente respondeu-lhe: "se não pode abrir, também não pode comprar", e saímos escandalizados com a brutalidade da atendente. Apreciando os casarões com ricas fachadas em azulejos 3D, encontramos um café deserto. Entramos. A senhora foi muito simpática e nos atendeu muito bem. Enquanto bebericávamos nosso café, a senhorinha tentava ligar a tevelisão com o controlo do aquecedor. Quem percebeu a luta da senhora com o controlo errado foi Tony. Daí a pouco, ela chamou uma moça. A moça mostrou que o controle estava errado. E ficou lutando com o controle certo. Não conseguiu. Foi à porta e chamou um homem. O sujeito veio com ares de grande entendido das  tecnologias, e não coneguiu ligar. Pagamos a conta e saímos segurando o riso. Na volta, entramos na Igreja da Ordem de Santa Cruz, um templo muito bonito, curiosamente arredondado. No final da tarde, passamos em uma frutaria e compramos água, maçãs, peras e cerejas. Estavam maravilhosas, mas caríssimas: 8,99 o quilo. Também, são importadas do Chile. Nesta época não há cerejas por aqui.
Arvore de natal em Barcelos
Fomos descansar na pensão e à noite saímos para fazer umas fotos da iluminação de natal, sob uma chuva daquelas, o que abreviou o passeio. Percebi uma grande movimentação no pátio à frente da pensão: estavam começando a arruma a feira. Pensei com meus botões: a noite será longa. Numa ocasião, tive que dormir em uma pensão em Canhotinho, e a feira do município era bem na frente da casa. Eu não preguei o olho com a bagunça, o vai-e-vem, a gritaria... Ninguém merece ser vizinho de feira. Pois, nao ouvi nada, só a chuva a bater na janela do nosso quarto no casarao.
No outro dia, pela manhã, descemos a pastelaria para o pequeno almoço. Estava lotada e a cidade em grande movimentação. Tony e Luiza pediram bolinhos de bacalhau, rissóis e um pão com alguma coisa. Eu pedi um sumo de laranja e uma tosta mista (misto). E quem disse que a tosta veio? Tomei o sumo, e mesmo Tony querendo que eu pedisse outra coisa, fui pagar a conta. Então, a mocinha que nos atendia, engoliu o meu troco. E eu fiquei esperando, e o povo a bater em mim por conta do intenso movimento da manhã de feira... e eu inchando de raiva. Dei uns três gritos na moça, num instante me apareceram com o meu troco. O maior problema da incompetencia do atendimento em serviços é que sobra para a cidade inteira. E olhe que essa já era a terceira experiência negativa em 24hs!
Fomos ver a feira. Realmente imensa, colorida, diversificada. Pareceu-nos maior que a feira de Espinho, sendo que menos organizada. Aqui os artigos são misturados, e os feirantes não são muito amigos dos descontos. Avistamos um fumaceiro lá na frente: eram castanhas! Compramos 2 euros, veio 20 castanhas. Em todo lugar no país, são 12! Além disso, a mulher era muito animada e simpática. Fomos cavoucar nas bancas que vendiam as lembrancinhas. A moça nos atendeu maravilhosamente, foi muito simpática, e ainda fez desconto num galo minúsculo por quem Luiza caiu de amores. Os feirantes salvaram a impressão que trouxemos de Barcelos.



Barcelos em dia de feira!
Saímos a correr com nossas malas, depois de pagar em espécie a hospedagem. D. Júlia não aceitava cartões. Tínhamos que chegar na estação e pegar o comboio para Nine às 11 e pouquinho. De lá, para Braga, a nossa próxima parada.
Depois, há mais história.
Até amanhã, fiquem com Deus,