segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Tempestades

As variações do tempo são impressionantes às nossas parcas experiências climáticas nordestinas. Quinta-feira vinha comemorando que o sol era nosso amigo há 3 ou 4 dias. Deu até para ficar somente com um suéter, dispensando os casacões acolchoados de plumanta! Já estava até planejando tomar sorvete, mas, ao verificar a previsão do tempo, que por aqui raramente erra, já anunciava-se o retorno da chuva, e, com ela a minha sensação de frio, inrrompendo nos ossos, escorrendo pelas pernas. Não acreditei muito quando saimos pela manhã e um solzinho iluminava o caminho. Estranho, mas as gaivotas não apareceram no intinerário, nas beiradas da Praça de Blair. Mau terminou o almoço, a trégua foi só até eu entrar no prédio de Comunicação, onde assistíamos aulas de Arquitecturas Cognitivas, e desabou o aguaceiro. Ainda peguei um resto de chuva na saída, correndo de atrasada para ir buscar Luiza na escola, já para mais de 17hh30min. Assim, após quase três meses de Portugal, levei o primeiro banho de chuva em Aveiro.
De lá para cá, é só chuva e vento. Para mim, já representa uma tempestade, como a que tenho enfrentado nas relações interpessoais. Passei maus pedaços na formação do grupo de trabalho dessa unidade. Reconheço meus erros: não sei jogar evidências na cara das pessoas, nem muito menos exclui-las por suas dificuldades de controlar as emoções e a vaidade. Como boa brasileira, acabo tentando dar um jeitinho e acomodar tudo, e o que de fato acontece, é que posso até resolver os problemas dos outros, mas acabo criando problemas para mim!  Toda a peleja resultou em troca de farpas, até que o Prof. Luiz Pedro interviu e acabou conduzindo-nos hábilmente a um bom porto. Para mim, ficou a experiência de ter vivenciado o maior constrangimento da minha vida acadêmica. Mas, é assim mesmo, vim aqui para aprender, e estou aprendendo como lidar com pessoas. Tenho quase certeza que essa é a minha última encarnação, pois, depois de tudo isso, acredito que esse é o caminho para o Nirvana!
Nesses dias turbulentos e de muito vento em Aveiro, tenho me lembrado muito desse poema de Cecília Meireles, não pelos acontecimentos, apesar de servir direitinho como resposta,  mas por ter sonhado com meu querido Breno Fittipaldi por duas noites seguidas. Inesquecível, mesmo após tantos anos, vê-lo calar a assistência com a força destes versos:

Gargalhada (Cecília Meireles)
Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:


Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!


Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...


O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.


Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...


Escuta bem:


Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!


Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.

À Breno, uma saudade e um agradecimento.

Té manhã!







6 comentários:

  1. Boa sorte pra vc!
    As vezes temos que parar e repensar nossas atitudes. È pra poder viver!
    Ontem numa reunião na pós graduação, lembravamos da epoca das disciplinas, eu sempre dava minhas opiniões a cerca dos conteúdos discutidos. Acho que como professoras que somos , sempre gostamos de intervir quando alguem expõe uma ideia e muitas vezes podemos não ser bem compreendido. Acham que estamos querendo aparecer!
    Saudades de Breno tambem! Ele trabalha aqui pertinho de casa no SESC, mas muito raramente o vejo.
    Bjo pra vc!

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  2. Eu me lembro de Breno declamando esse poema, emoção pura destilada pelo ´[otimo ator que ele é. A vida é assim, cheia de altos e baixos, mas como diz a sabedoria popular "depois da tempestade vem a bonança", é infalível. Pode acontecer a maior borrasca, o maior vendaval, mas sempre o Sol aparecerá, com uma luz ainda mais bonita do que antes da tormenta. Beijos e Deus te abençôe.

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  3. Amén, Ilma. As coisas estão se "ajeitando". Não é fácil lidar com pessoas. Vilma, isso me lembra, com muita graça, de Joana Rita, uma menina que estudou comigo na FDG, que dedicou a monografia dela assim: "aos meus bichos, companheiros na construção desse trabalho". Ela tem bois, vacas e cavalos, e segundo ela, são mais acessíveis que os companheiros de sala! Hehehehe! Faz parte. Aliás, o que não falta aqui é vento e chuva. Ontem, pensei que o mundo estava se acabando, da ventania danada que deu!

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  4. Nido disse que esses dias em Braga caiu "granito" ops, graniso! A bolsa no programa eramus dele foi renovada por mais dois meses e por isso ele só voltará ao Brasil no final de abril.
    bjocas
    vilma

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  5. Amiga e irmã, houve quase um barraco internacional por aí, foi? Mas tem nada nada, quando vc terminar este doutorado tem, depois de uns dois anos quando já terá esquecido as penas, o pós-doc, que eu espero ter a oportunidade de vê-la comentar. Quanto ao Nirvana, bem isso n é para o nosso bico. Se existir, é mto selecionado, talvez só entre com credenciais fortes, o resto, como diz o poeta: "sai na urina"!

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  6. Mas o Nirvana é para todos! Bastam os pré-requisitos: fé, amor e caridade. Beijos.

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