Modas & Modos

Modos de Homem & Modas de Mulher é o título de um livro de Gilberto Freyre que Ilma comprou e eu li inúmeras vezes pois contém uma série de observações interessantes e engraçadas desse grande pensador da sociedade pernambucana e brasileira. Mesmo com os preconceitos saltando das entrelinhas, Gilberto Freyre tem uma contribuição significativa na compreensão e visibilidade da cultura pernambuca, ainda que façamos a leitura de sua obra com reservas, é preciso reconhecer o seu valor.

Não sou a pessoa certa para falar de moda, a competência nesse mundo é da Glória Khalil, e  mais próxima à nós, de Priscilia Lopes, cada dia mais linda. O pouco que entendo de moda é dos anos idos atendendo as madames na Aquarela, loja de grife de Garanhuns (PE), que hoje não mais existe. Obviamente que não sou inocente como a personagem de Anne Hathaway em "O diabo veste Prada", e a maravilhosa aula de mercado da moda dada pela terrível e inesquecível personagem de Meryl Streep. Mas, o que me agrada é entrar na roupa e não me sentir aprisionada ou encolhida. Não há nada pior do que um decote escorregando, mostrando mais do que as pessoas gostariam de ver. Em última análise, esses tropeços são invasões da privacidade alheia. 

Mudou a estação e a nova coleção está nas vitrines. Saltos altíssimos (apesar de achar lindo, jamais usarei pois não sei andar sobre palitos) de cores fortes (azul, vermelho) contrastando com o tom pastel de todas as peças de vestuário: imperam os rosinhas, begezinhos, azusinhos, amarelinhos, coresinhas  bem desmaiadas e esmaecidas que não combinam com a cor das pessoas do lugar. Tem produção que desaparece no quase monocromático pele-roupa, apesar do esforço de construir um visual moderno e chic.

As botas de cano alto, muito usadas no inverno, ainda estão nos pés e pernas das moças e das não tão moças. Fica até bonito com saias acima do joelho e meias grossas, apesar de ser primavera, ainda sobe um ventinho e desabam aguaceiros inesperados, geralmente na hora da saída da escola ou trabalho! Apesar disso, ainda prefiro os meus tênis, que suportam minhas caminhadas. Os casacos estão mais leves, ajudam a manter a elegância do inverno. Quando abre um solzinho, eles pulam para os braços e revelam sobreposições de roupas, nem sempre bem sucedidas.  

Um aspecto interessante das portuguesas: elas usam o cabelão solto, mesmo com todo esse vento. Por isso, nem sempre são tão bem penteadas, cabelo fino tem a tendência de ficar desgrenhado. Em algumas dá certo, fica meio vamp, como Mariana Martinho, a colega da turma que é a cara de Sarah Jéssica Parker (ainda não disse a ela, mas, pronto, agora disse!). Já em outras, fico pensando como elas irão conseguir desfazer os nós do cabelo!  Para não entrar nesse time, as liguinhas são minhas melhores companheiras, embora me lembre sempre de Jaqueline Ferreira Costa a me dizer, com aquele sotaque (ótimo!) recifense: "Ô, Anna Cecília, você parece uma empregada doméstica com esse cabelo amarrado!" e toda vez que eu cruzava os batentes da loja, soltava a juba acaju claro daquela época. 

Uma nota sobre as maquiagens , que aqui se diz "maquilhagem": os olhos são muito bem pintados e a boca é "nude" (kkkkkk!). Ando fora de moda com os meus batons vermelhos tipo Carmem Miranda. Desisti de usar os mais fortes na tentativa de ficar (mais) parecida com as raparigas de cá, mas, desisti de desistir no outro dia depois de constatar que o mundo trata melhor quem usa batom. Portanto, como diria minha mãe: "cada um com o seu cada qual".  O importante é sentir-se bem, sem se agredir nem invadir o espaço gravitacional dos outros com as produções tipo "Rainha do deserto", que, definitivamente, não fazem a minha linha.

Fiquem com Deus, lindas do jeito que são.