sexta-feira, 22 de abril de 2011

Rodopios e desafios

Lidar com ultrajovens não é nada fácil, até porque eles se revoltam porque nós, mãe velhas, temos o poder da clarividência e adivinhamos porquê eles estão com raiva. Enquanto Luiza está entufada lá na cozinha, cutucando no telemóvel no último volume só para me chatear, eu fico por aqui tentanto não corresponder, pois aí, a briga é certa e hoje, não estou com vontade de brigar. Até porque, preciso reconhecer, estou doente. Desde que cheguei em novembro passado, essa é a primeira vez que fico doente mesmo. A faringite me pegou, e essa é aúnica doença que me leva à nocaute. Enquanto eu vou curtindo a minha rouquidão e os embrulhos de estômago, evito o conflito com a pequena o que é capaz de consumir as minhas últimas reservas de energia. Prefiro não desperdiçar.

As férias de páscoa estão chegando ao final, graças aos Céus. Este feriadão é o sonho de consumo de todo aluno brasileiro: no meio do ano letivo, uma folga de duas semanas mais um feriado na segunda feira para arrematar. Como vivemos uma mudança de temperatura, típica dessa época do ano, segundo Dayse, onde a tempatura despencou de 25°C para 15°C, os efeitos são terríveis, e ainda tenho que arranjar atividades para a ultrajovem não acabar com a casa.

Na terça, almoçamos com Petronildo, Dayse e Francis. O cunhado voltará ao Brasil no próximo dia 28, término do seu período em terras portuguesas. Regressa muito feliz com a experiência. Nós tinhamos pensado em ir visitar a família em julho, mas, o custo das passagens e a burocracia para atravessar a ultrajovem me fizeram desistir. É mais fácil e mais barato que Tony atravesse e passe conosco um tempinho. Assim, de quebra, ele me ajuda a lidar com a ferinha indomável nos momentos críticos de finalizar o projeto. Aliás, isso é uma coisa que está me tirando a tranquilidade. Se os meus queridos alunos da Faculdade de Direito de Garanhuns me vissem falando nisso (pronto, está dito!) eles não acreditariam. A verdade é que estou com medo de escrever. Fico lendo teses e teses, artigos e mais artigos, para não enfrentar o cursor solitário na página da tela em branco. Francislê ficou dando risada quando, ao final da apresentação da calendarização das atividades do curso pelo novo coordenador do doutoramento (curiosamente, o único professor português que nos trata por "vocês", sem que o  "c" fique com som de "x"!), corri ao seu pé, para implorar um feedback. Na maior calma (e com o infalível ar de riso) ele diz: "tenha calma, vai dar tempo, você vai conseguir fazer." Na outra semana, ele me diz: "Ó, vou ler o teu projeto!" e eu penso: "Leia não, pelamordedeus!" Crise existencial pura e simples. Acho que vou escrever aqui e ir colando lá, pois esse espaço é mais amistoso! Chega uma hora que é necessário enfrentar os medos e escrever a primeira linha. Faz parte.

E como faz parte enfrentar os medos. No tal almoço de depedida de petronildo, acabei passando à tarde e parte da noite, ouvindo-os discutir um artigo. As discussões dos amigos-doutores parece uma briga de foice! Á mesa, envoltos na discussão sobre o polêmico paladar de Francislê, que dizia que a galinha cozida feita por Petronildo tinha gosto de peixe, Dayse nos fala da "feira de março". Eu já havia visto uns cartazes na cidade, mas, não dei muita atenção, pois anunciam uns shows, num horário impróprio para que anda arrastando uma criança pequena. Mas, no meio do caminho tinha um parque de diversões, e,  Luiza, com os olhões brilhando, escuta a descrição da feira, e no final apela: "tu vais me levar, né, mãe?" Como negar, quando essa criatura tem me acompanhado à museus e Igrejas? E lá vou eu a um parque de diversões.

Não me divirto em parque de diversões porque tenho horror a coisas que rodam. Tenho labirintite, um tímpano perfurado e rodar não me trás absolutamente nenhum prazer. No primeiro brinquedo que ela foi sozinha, tentei manter a compostura, mas só não infartei porque não tinha infarto pronto. A cadeirinha do brinquedo era como uma xícara (chávena), não tinha cinto de segurança e a criança ficava solta, tinha que ter um adulto corajoso para segurar. No meio da estrutura, tinha uma barra de ferro com uma base parecendo um prato. Mexendo naquilo, a chávena rodava em torno do seu próprio eixo. Além disso, é uma estrutura em espiral ascendente. Felizmente, a coisa foi rápida. Ela saiu aos pulos de excitação, e eu, com as pernas tremendo do terror de imagina-la a despencar da xícara cor-de-rosa. Fomos ao carrinho de bater. Foi até bom, só não gostei das batidas frontais. Deste, fomos ao Dragão. Pensei que não haveria problema, pois era um brinquedo parecido com uma lagarta que tem nas festas lá em Garanhuns. Embarquei no carrinho da mini montanha russa, e, deu-se o desastre. A coisa voa, literalmente! Sai do brinquedo andando de lado como um caranguejo. O último estágio da tortura foi um carrossel, mas, ela foi só e eu tive o cuidado de ver como a coisa rodava antes de colocá-la montada num cavalo rosa e lilás.

esperando a vez no carrossel


Na horrível chávena

Na moto
Sai do parquinho tonta e contabilizando o investimento: cada brinquedinho desse custa 2 euros. Engraçado é que aceita cartão de crédito e débito. Tive o cuidado de negociar com ela, antes de sairmos, que só gastaríamos o que planejamos. Na saída, passamos na feirinha, que vende de panelas à bijouterias e camisetas de rock para comprar um cachorrinho de pelúcia que late, abana o rabinho e acende os olhos verdes. A gasguita Lady Caramelo é a nova moradora da toca. Compramos numa barraquinha repleta de traquitanas de um indiano, depois de muito negociar o preço, paguei (a contragosto!) 4 euros pelo mimo. Mas, levamos a mais simples, pois tinha umas cachorras fashion com chapéu e lacinhos que não deu jeito de baixar o preço: 5 euros e fim. Na saída, Luiza comprou um churro  com recheio de chocolate, gigante em relação ao nosso. Apesar de ficar tentada, não comi a "fartura", indicada por Dayse, pois o meu estômago ainda dava voltas do miserável do Dragão.  Fartura é uma espécie de churro, sendo que a massa é mais fina e aerada e sem recheio. Só vende uma dúzia ou meia dúzia em uma sacolinha branca com estampa vermelha. Bonitinho, mas, caro: 3 euros. Não comprei. Saimos caminhando estratégicamente, para acalmar o meu estômago que ainda se contraia, apesar dos pingos de chuva e o ventinho gelado. Daí porque a faringite.

A vida é assim: é necessário arriscar-se e ceder.  Uma vez enfrentado, o medo é bem menor do que esperar acontecer. Acho até que não foi tão ruim assim. Agora que ela já está mais calma, já posso ir arranjar o jantar.

Saudade de hoje: De Tony! O serviço de levar a criança no parque é dele. Fui somente pela emergência.

Té manhã, fiquem com Deus. 
          

     
  

6 comentários:

  1. Ahhh... os parquinhos! Eles são o terror de todos nós. Quem já não foi por pura obrigação? A alegria dos nossos amados é sempre a nossa desgraça! Mas chega um tempo em que a saudade de levar o guri pro parquinho de diversão bate e a gente finalmente fica lembrando como esses terríveis momentos eram na verdade maravilhosos (tiranto as tonturas e enjôos)! O medo é coisa de adulto. As crianças não vislumbram desgraças imaginárias porque em suas cabecinhas o porvir é colorido e feliz. Nós é que pintamos nossos dias com as cores cinzas da melancolia e do medo. Continuar ousando como ousam as crianças nos faria bem. É essa insensatez que impulsiona a vida!

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  2. Ainda bem que você não tinha chupado siriguelas, né Anninha? O dragão ia ficar todo vomitado, como uma certa roda gigante de Garanhuns... Eu já levei dúzias de crianças pro parquinho, mas essa xícara daí é mesmo perigosa! Não tem nem aquela barra de ferro que prende a barriga das crianças! Mas sempre vale a pena levar os pequeninos, pois a carinha de alegria não tem preço, como bem diz a nossa sempre sábia e poética Amorah Jones. Beijos pra vocês.

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  3. Eu estou terminado o meu projeto de monografia e também estou morrendo de medo de escrever, quanto mais eu leio menos me sinto preparado pra finalizar o projeto, pra piorar o meu primeiro computador (notebook) parou de funcionar durante o uso, após duas semanas tentando entrar em contato com a assistência técnica vou ficar sem ele por mais uns 10 dias, estou todo atrasado...
    abraço e boa sorte a gente chega la!!!

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  4. Aqui em casa, essa tarefa de levar as crianças ao parque de diversão sempre foi minha. Mesmo odiando os rodopios das maquinas giratórias! Nido tb tem labirintite e só de ver um carrousel embrulha o estômago. Eu tenho pavor de altura.
    Considero escrever a parte mais complicada de um trabalho científico. è aí que devemos nos fazer entender e essa tarefa nem sempre é fácil. Estou nessa etapa e tenho penado muito por isso. O que tem me ajudado muito é que meu foco de pesquisa é muito explorado e aí temos muitas referencias para trabalhar. Mas a discussão é a parte mais complicada que precisamos juntar toda esse literatura para poder interpretar nossos próprios resultados.
    Nao tenha medo de escrever... qdo fica ruim agente mesmo percebe e nem chega a mandar pro orientador.

    Um beijo pra vc

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  5. Na vida existem coisas boas e coisas ruins... Quando os filhos são pequenos,existem sempre as renúncias e as dedicações,as necessidades de enfrentar situações pouco agradáveis para nós... Mas, quem tem experiência com os filhos crescidos já me diz que sentimos saudades até mesmo destas provações, que tanto nos enervou no passado. E cada fase com o seu encanto, cada momento com seus desafios. Estou começando a rabiscar minhas tarefas,acho mesmo o que precisava era de umpé de ouvido emprestado para desocupar o espaço cerebral. Sai o receio,entra a criatividade. Ademais, isso de escrever acadêmicamente é como ter menino: inevitável! Iremos todos parir. Você também, Danilo!
    beijossss!

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  6. Bem sei muito bem o que é isso...estou me referindo a escrever o projeto, morrendo de medo da caneta maldita do orientador, que muitas vezes desorienta... Lembra quando eu chegava na tua casa descabelada pois não conseguia escrever nem uma linha? É mas tudo é questão de experiência, é sair e dá uma volta, nem que seja no parquinho de diverssões (porque todas nós não suportamos este local?)para depois voltar a "prancha de desenho".
    Quanto ao parque , Candido é que levava as minhas então crianças, eu não suporto coisas rodando e girando me dá embrulho no estômago só de pensar! E logo depois eles ficaram maiorzinhos e iam sozinhos pois o parque era bem perto de casa, lembra? Não posso dizer que tenho saudades , como disse a Amora, porque simplesmente nunca os levei ao parque, ou circo(outro recinto que não aguento!)Daí, me valho de outras recordações para sentir saudades.
    Bem, tenham um "bom parto" e que o rebento seja consistente! Bjo e ciao!

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