quinta-feira, 26 de maio de 2011

6 meses

Hoje completa 6 meses que estou aqui. Nestes meses, aprendi muito. A experiência de viver em outro país é muito interessante. Aprendemos a ser mais cautelosos e mais observadores, tudo isso em nome da necessidade de aprender a viver em um sistema diferente. Em Portugal, como em qualquer outro lugar do mundo tem coisas boas e coisas não tão boas. É certo que aqui vive-se uma crise sem precedentes, mas nem de longe aproxima-se do aperto que  já enfrentamos no Brasil. Talvez por ser um "irmão" mais velho, Portugal tem uma infra-estrutura excelente em educação, saúde e transportes, se comparamos com os nossos serviços brasileiros. Diferenças e semelhanças povoam a trajetória de quem atravessa o Atlântico. Nesses dias, estive pensando em forma de lista as aprendizagens,  não aprendizagens e quase aprendizagens destes 180 dias, em média. Categorizei nestes três grupos (isso aí já é cacoete de pesquisador!) para tentar estruturar esse pequena retrospectiva:

Aprendi...

1) que a laranja portuguesa é a melhor do mundo. Docinha, nunca comprei uma que estivesse o meno defeito. Isso chama atenção para o produto que consumimos no Brasil, que são as sobras da exportação.
2) Que é possível atravessar a rua na faixa e chegar ao outro lado inteiro. Os motoristas páram na faixa sem necessidade de semáforo, o que, segundo Tony é uma senhora economia.
3) Que não adianta estudar apenas duas horinhas para fazer um doutoramento. Hoje, fico a estudar, em média, nove horas por dia na tentativa de superar minhas falhas de formação e acompanhar o ritmo da Universidade. O nível de excelência da instituição não é um acaso, nem o fato de estar no raking das 150 melhores universidade do mundo uma mera coincidência. Rala-se muito e nada é fácil.
4) Que eu preciso aprender inglês, como diria Caetano Veloso em "Baby". Isso é o óbvio ululante, mas, quando gastamos o dobro de tempo para ler um PDF de 13 páginas, a situação se agrava.
5) Que gostar da disciplina não significa  obter uma boa nota.  
6) Que o barato, às vezes, sai caro. Um exemplo é aquele forro de cama que comprei num dia e doei no outro porque o miserável era tricolor. Não dá para dormir e ter bons sonhos em uma cama que parece que é do Bacalhau.
7) Que bunda é palavra feia, e que essa parte da anatomia humana aqui se chama rabo. Com isso, ainda não me acostumei porque para mim quem tem rabo é macaco.
8) Que quando se despedem dizem "continuação"é do bom dia desejado no encontro.
9) Que a ausência física de Tony causa um abismo em minha vida.

Ainda não aprendi...    

1) A tomar água na boca da garrafa de 1,5 litro, ainda que ela seja só minha.
2) A comer ovos quase crus.
3) A chamar moça de rapariga, coisa impossível para uma quase sertaneja.
4) A olhar para o céu e adivinhar as horas, principalmente à tarde.
5) A acompanhar o sotaque dos mais idosos, quase sempre muito rápido.
6) A confiar que posso abrir a bolsa para utilizar o caixa eletrônico no meio da rua, sem qualquer proteção. 

Estou quase me acostumando...

1) Com o espanhol como idioma predominante nas ruas de Aveiro aos domingos.
2) Com o azedume de alguns atendentes de padaria e motoristas de ônibus.
3) Com os "ss" com som de "x".
4) Com a falta de insistência dos vendedores.
5) A aguardar pacientemente a vez de ser atendida nas filas das farmácias.
6) A não interromper quando um colega fala.
7) Que a água quente da torneira é pelando.
8) Que rosa é flor comum e nasce até na calçada.

São coisas pequenas, mas que de qualquer forma é uma gradual mudança de programa, e que vamos nos adaptando da melhor maneira possível, fazendo jus ao ditado: "vivendo e aprendendo".

Té manhã, fiquem com Deus.

4 comentários:

  1. Ser aprendiz é olhar pra traz e ver o quanto consegiu ao mesmo tempo que ao olhar pra frente perceber o quanto falta pra caminhar! Saudades!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. A gente tem sempre algo à aprender, mesmo quando acha que sabe o bastante. Bjo, ciao!

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  4. E nesses 6 meses conheci mais Anna, do que nos 4 anos que trabalhamos lado a lado. ahahah.
    Boa sorte por ai Anna e espero q vc queira e volte para Garanhuns qnd terminar.
    abraço

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