terça-feira, 10 de maio de 2011

Leituras e leituras

O hábito da leitura me acompanha desde os tempos longínquos da cartilha Caminho Suave, com a qual fui alfabetizada na Escola Adventista. Depois da lição do "bebé" não sei por que artes comecei a entender aqueles caracteres até então sem sentido. De lá para cá (e lá se vão tantos anos!) tenho lido tudo que me cai as mãos, coisas boas, coisas ruins e coisas necessárias.

Outro dia estava lendo um artigo da Profa. Isabel Alarcão, em um livrinho que misteriosamente pulou nos meus pés numa livraria do Shopping Recife, enquanto procurava livros de Direito Constitucional pra Tony. Além de baratinho, já conhecia a autora, acabei comprando. Nesse livrinho sobre formação de professores, ela aplica o termo "livros de lazer". Gostei, pois, finalmente consegui uma categoria que se adequasse a estes livros que são necessários, mas que não utilizamos na nossa produção. São livros para a vida, servem para desanuviar as ideias e aumentar nosso repertório de conhecimento do mundo, tão necessário quanto o conhecimento técnico e didático.      

Aproveitando a oportuna temporada portuguesa, fiz comigo mesma um pacto de investir em literatura local. Além de apreender a linguagem e ampliar o meu universo vocabular, acabo entendendo as permanências e evoluções desse povo tão parecido e ao mesmo tempo, tão diferente de nós. É certo que o que me chamou atenção para essa necessidade foi a minha estreita experiência literária lusitana, quando o Prof. Luis Pedro citou em um Post em uma conversa técnica de sua disciplina o autor Mário de Sá Carneiro. Esse, eu confesso a minha ignorância, só conhecia de nome, citado por Florbela Espanca. Lá fui eu à livraria revirar as estantes de obras clássicas populares e encontrei "As confissões de Lúcio". Já deu para entender porque a citação ao autor na fala desesperada de Fátima Paes em relação a um trabalho que construíamos coletivamente: "Se houver amanhã...".

Consumido o livro, ficou o espaço vazio do livro de lazer. Preciso ter um ao meu alcance nem que seja para ler uma página por dia. Como estou em uma avalanche de leitura técnica em três idiomas (inglês, espanhol e português, sem querer lembrar do desastre francês que me atormenta), é uma questão de manter o mínimo de sanidade mental. No outro mês, quando o suado caraminguá atravessou o oceano e atracou na minha conta bancária, vamos à livraria e à estante de obras clássicas em formato popular. Saí com um exemplar de texto integral de Os Maias, de Eça de Queiroz. Sempre quis ler esse livro, depois da linda minissérie feita pela Rede Globo há uns anos atrás. Lendo a minha dose diária, encontrei isso na página 145, atribuída ao banqueiro Cohen, durante um jantar de ricos no palácio de João da Ega: 

"Os empréstimos em Portugal constituiam hoje uma das fontes de receita tão seguras, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta: 'cobrar imposto' e 'fazer o empréstimo'. E assim havia de continuar."     

A bancarrota portuguesa já era assunto no século XVIII! Parece até que foi extraído do noticiário da SIC de ontem à noite, de tão atual. Pelo jeito, segue-se a tradição. O autor, que já andou por esses caminhos que trafego, tinha uma apuradíssima visão da sociedade da época, seus luxos e sua devassidão.  Deve ter sido muito criticado no seu tempo. Hoje é um clássico.  
Vou cuidar em ler as minhas coisas necessárias, pois a fila continua crescendo enquanto estou aqui a escrever-lhe estas linhas, sem nenhuma intenção literária.

Té manhã, fiquem com Deus. 

3 comentários:

  1. O que mata o cidadão é a tal leitura obrigatória! Ninguém merece ler um bagulho sem ter a mínima vontade!

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  2. Mas é necessario ler essa lória que muitas vezes é bastante seca e sem diversão.
    Como os meus dias são ocupados desde as 6:00 da manha , quando preparo o Rafael pra ir a escola até as 22:30 quando finalmente chego da faculdade, faz um bom tewmpo que não leio essa literatura para desopilar...
    Tenho cerca de 250 artigos em lingua inglesa numa fila que só faz crescer com a leitura.
    Gosto muito de passar minhas horas de ócio vendo uma besteira na TV. Alí procuro não pensar nos desafios da vida e deixar apenas o tempo passar!

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  3. Hehehe, mais uma vez, concordo com você! para mim, o inferno é a repetição e a obrigatoriedade.
    Vilma havia postado um comentário, sobre a sua atribuladíssima rotina de mãe-esposa-funcionária-doutoranda. Eu não sei como ela consegue fazer tanta coisa ao mesmo tempo. Eu estou com dedicação exclusiva ao doutoramento, só tenho algumas limitações, principalmente em relação à programas (de lazer ou de formação) noturnos. Á noite, é em casa e no ciber espaço!
    Tivemos um tempo fora do ar para reparos técnicos, mas, agora tudo já voltou ao normal.
    Beijos á todos.

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