terça-feira, 17 de maio de 2011

A obra

Aqui, bem na frente da minha janela, tem uma obra. Estão construindo um prédio de 5 andares. Bem bonito o desenho que há no tapume que  protege a área de trabalho. Pelo jeito, será um edifício residencial com uma galeria comercial ao rés do chão, como se diz "térreo" por aqui. Se tem uma coisa que eu tenho adorado é gastar uns minutinhos ao pé da janela para espiar os trabalhos. Acaba por ser, essa equipa de trabalho o nosso vizinho mais presente.

Após ter acertado com o proprietário e ter posse das chaves é que me dei conta que seria vizinha de uma obra. O entusiasmo de encontrar um lugar perto encontrar um lugarzinho perto e dentro das minhas possibilidades financeiras me cegou para esse "porém". Mas, não é que acabei fazendo um bom negócio? A obra dita o ritmo da nossa rotina. Ás 7.00 os operários chegam na obra. Como a entrada é do outro lado da rua, não percebo por conversas. Só quando as primeiras máquinas são ligadas, e muda a sinfonia dos cucos do parque, sei que está na hora de arranjar o pequeno almoço e lutar para tirar Luiza da cama.

Das máquinas a que mais gosto de ver trabalhar é a retroescavadora. O operador é muito habilidoso, acerta direitinho a areia arrancada do terreno na caçamba do camião, assentando quase com carinho. Depois sai da máquina, vai ao camião e cobre a carga com uma lona para não cair no meio do caminho, evitando acidentes. Apesar de todos os operários utilizarem o EPP (equipamento de proteção individual), percebe-se que pela roupa que vai por baixo e pelos apetrechos de trabalho a hierarquia da obra. A piãozada usa capacete, colete e botas de  borracha. O soldador, que é muito boy, não usa o colete e tem um cinto cheio de materiais de trabalho, olhando por trás, parece uma saia de metal, usa também umas luvas, cujo materialnão dá para perceber pela distância da minha janela. Mas, deve ser algo bemm resistente,pois o serviço desse é montar umas  estruturas metálicas onde será despejado o concreto. O encarregado usa colete e capacete, mas, está sempre de sapatos. Os engenheiros, conhecemos de longe: capacete branco, camisa de manga comprida de listras ou xadrês miúdo, com as mangas dobradas até os cotovelos, calças jeans (calça de ganga) e sapatos limpos para quem anda no meio daquela poeira.  O encarregado, na hora da chuva, tem o direito de proteger-se com um guarda-chuvas enquanto o resto fica na chuva mesmo. O operador da escavadeira também goza de alguns privilégios, embora tenha que vir à obra nos sábados à tarde para fazer acertos na máquina.

As coisas andam rápido na obra. Onde era apenas uma estrutura, rapidamente ergue-se uma parede. Os planejamentos existem para ser executados, não há tempo para filosofar sobre o concreto. O prédio só cresce e torna-se realizade se o trabalho miúdo for feito. Tudo muito prático. É olhando pela janela que entendo o pragmatismo de Giane: sem tempo para muitos detalhes, é necessário fazer a coisa acontecer.  Os problemas devem ser resolvidos e ultrapassados, sem construções hipotéticas sobre o que poderia ter sido, mas que não foi. São lições cotidianas espiadas pela janela.

Saudade de hoje: De minha companheira Giane Lira, coordenadora do curso de Engenharia Civil da AESGA, mestre em me colocar em embrulhadas, e por uma delas é que estou aqui.

Té manhã, fiquem com Deus.   

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