quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Saúde!

Olhando pela janela, percebo que as árvores já não estão mais tão verdes e que as folhas não são mais tão abundantes. No passeio, folhas castanhas são empurradas pelo vento do último dia de Agosto. Hoje foi um dia daqueles de chove-e-pára. Talvez para nos lembrar de que o outono de aproxima, e que o verão está nos seus últimos momentos. Como já disse anteriormente, se fosse um verão eterno, Portugal seria o melhor lugar do mundo para se viver, exceto pela água-gelo da praia. Tudo fica muito lindo no verão, o céu azul sem  nuvens à vista parece que foi pintado à lápis. Mas, o tempo passa e as estações também, e aqui, tento me acostumar com a nitidez que elas se vestem, com um sorriso ao lembrar de como era distorcido o que nos ensinavam nas primeiras aulas de ciências na década de 1980. As estações do ano, em plena região tropical, quase no semi-árido eram primavera, verão, outono e inverno. E, eu ficava olhando para o pé de seriguela, achando que ele era doido pois as folhas não caiam como as árvores do livro.

Quando cheguei em Portugal em novembro passado, era quase inverno. A maioria dos estudantes chegam aqui nesta estação do ano. Se vierem dos trópicos, o clima é o primeiro "pede para sair". O frio, o dia que só clareia às 7h da manhã, a chuva intermitente são as boas vindas para quem deixou o Recife às 21hs sob 36 graus. Estava certa que iria entrar em um resfriado eterno e que não sobreviveria ao vento inclemente de Aveiro. Tenho um medo quase que irracional de doenças, mesmo que sejam as mais simples.

Ontem, conversando com "Seu" Brito, pai de Dayse, refletia sobre esses primeiros dias sob o inverno europeu. Ele e Dona Lourdes, já aposentados,  tem o projeto de mudar-se para Portugal. A barreira é o frio. Há tantos anos no Recife, sentem muito frio em Gravatá, imaginem aqui! Porém, cá temos algumas vantagens: Portugal é o lugar mais quentinho da Europa. Aveiro é cidade litorânia, não há nevascas. O clima é seco. Tudo isso nos ajudou a melhorar a nossa saúde. Só tive dois resfriados e uma virose nestes nove meses. Luiza tem eczema e em Garanhuns eu vivia às voltas com as ulcerações que atacavam nas dobras dos joelhos e cotovelos da menina, além de uma renite que só melhorava no verão. Tudo isso sumiu em Aveiro. A única vez que fomos ao serviço de saúde foi na virose, pois ela estava toda pintadinha de vermelho, com dor de barriga e febre. Isso foi em maio, já faz tempo.

Todo brasileiro, quando legalmente em Portugal e que recolha contribuição para o INSS, tem direito a assistência médica no serviço público de saúde através do convêncio internacional PB4. O atendimento pode ser feito em ambulatório, com marcação prévia nos centros de saúde ou na emergência do Hospital. Neste, quando chegamos, fazemos um cadastro e recebemos uma targeta auto-colante para identificar o doente e o acompanhante. Depois, encaminhados à triagem uma enfermeira de jaleco rosa e blusa de manga comprida por baixo, lembrando aqueles personagens de Grey's Anathomy, atende o doente, pesa, verifica a altura, verifica a temperatura e cadastra os dados pessoais em um computador. Coloca uma pulseira colorida na criança com a etiqueta auto-colante, e nos manda aguardar na sala ao lado, normalmente cheia de crianças. As pulseiras coloridas são classificadas pelo grau de complexidade do sintoma: verde escura, pode esperar. Verde claro, tem febre. Amarelo, passa na frente. Vermelho, o caso é grave e deve ser atendido prontamente. O serviço de som chama o doente pelo nome e número e lá na outra sala há dois consultórios com médicos para atender a criança. Mais na frente, portas de vai-e-vem escondem um acesso ao internamento infantil. Tudo muito limpo e arrumado. Mas, extremamente demorado. No dia que fui com Luiza toda pintadinha, acabei desistindo do atendimento, pois ela recebeu a pulserinha verde escuro (graças à Deus) e ficamos esperando uma eternidade. Quando ela começou a se queixar de fome, diagnostiquei que ela tinha uma virose e fomos embora almoçar. E o pior é que acertei em cheio: três dias depois, eu estava com os mesmos sintomas. Quando Tony chegou, contaminou-se comigo e ficou dois dias de cama, coitado. Além do jat lag, a virose. 

Graças à Deus somos mais saudáveis aqui. Talvez pela dificuldade de obter medicamentos, pois o sistema é bruto com a venda de antibióticos. Venda livre, só de remédio besta como aspirina, purgante e antialérgico. Além disso, é tudo muito caro, é prejuizo ser hipocondríaco. Na minha rápida passagem pelo serviço de saúde não vi ninguém agonizando em macas, nem funcionários batendo boca nos corredores ou fumando nos cantos de parede, nem filas intermináveis de utentes esperando pacientemente o ultimato do médico. O atendimento de cá pode não ser o melhor do mundo, mas é organizado. Não precisamos ainda, nem queremos precisar, pois hospital não é um local que eu goste de visitar. Admiro muito aqueles que levam a vida num ambiente tão carregado de sofrimento.

Saudades de hoje: De Izabel e Ivanya Janaína, exemplos típicos das competentes profissionais da saúde do Brasil, correndo do plantão no hospital para a Faculdade para avançar na profissão.    

Té manhã, fiquem com Deus.


   

7 comentários:

  1. Vc ta enganada qto aos preços dos remedios. Como vc sabe Nido tem algumas doenças cronicas e por isso toma remedio de uso contínuo. Aí ele comprava o medicamento dele por quase o quase 1/3 do preço que paga aqui(aí 60comp custam 25euros) aqui esse mesmo medicamento(30 comprimido custam R$102,00). Ele até trouxe uns frasquinhos extra pra não gastar a toa nosso pouco dinheirinho.
    Aí Nido tb melhorou de saúde!
    Saúde pra vcs

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  2. Vocês melhoraram da alergia porque aí é frio, mas é seco, não é? Aqui tem essa umidade que mofa tudo, ai já viu... Levei Antonio ao Dr. Jurandir a semana passada por causa de rinite, que ele estava dormindo quase sentado, mas agora já está melhor. E o Dr. Jurandir me fez um elogio tão bom! Ele disse: "Estou impressionado com o desenvolvimento neurológico dele (Antonio). A senhora pode não perceber, mas quem passa muito tempo sem vê-lo, como eu, percebe um avanço muito grande. Parabéns, a senhora está fazendo um trabalho muito bem feito." E o Dr. Jurandir sabe o que fala, saí do consultório muito contente. Todo dia eu penso em vocês duas ai, tão longe! Se eu pudesse eu iria vê-las aí. Beijos e saudades.

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  3. Novos ares sempre fazem bem, talvez por estarmos tão ocupados com as novidades do cotidiano, que esquecemos das velhas manias e nos tornamos até mais saudaveis! Concordo contigo sobre a importancia do bom trabalhador da área de saúde.São imprescindíveis! e os bons já merecem um lugarzinho mais confortável no céu!

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  4. É verdade, Vilma, até porque eu só comprei remédio besta mesmo, como descongestionante nasal. Esse eu achei caro, pois é água do mar e custa 17 euros. Na verdade, sou meio canguinha porque o dinheiro é pouco e é preciso fazer ginástica para dar para tudo. Me lembro, Ilma, que mamãe dizia que Antonio melhoraria quando crescesse. E com o seu trabalho, ele deve estar progredindo mesmo. VOcê é uma mãe exemplar: dedicada, paciente e divertida. Agora, precisa cuidar um pouco mais de si para dar conta dele. Cuidar de pessoas não é nada fácil, independente do tipo de doença, e esses bons trabalhadores da saúde, são seres humanos especiais.
    Saudades imensas de vocês!
    Beijos!

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  5. realmente, agua do mar por 17euros é um absurdo. Mas acho q colocam o preço alto nesses remédios bobos, pra o povo nao se automedicar!

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  6. Melhor comprar soro fisiológico para este fim, economizando no preço.
    Nós q fizemos a escolha pela saúde, realmente somos mitas vezes negligenciados pelos superiores que acham que só quem tem valor é o médico. Sinto muito isso no meu dia a dia, mas afinal, faço minha parte, gosto do que faço e faço bem, sem a mínima modéstia.
    Aí, Anninha, imagino que tudo seja melhor pq a educação é outra coisa... ainda n se deu conta no BR que o inicio de tudo é a educação, e para os políticos de todos os partidos o que interessa é que se n tenha educação para n atinar nas falcatruas deles, e quando chega as eleições dão uma de bonzinhos para conseguir o voto dos incautos sem educação, que os acham "bonzinhos", sem saber que é dever fazer o que fazem e n pq são generosos. Enquanto houver gente como aqueles pobres coitados de Caetés , que se vendem pelos 5 reais que o prefeito distribui quando visita a cidade, este país, tão maravilhoso, que é o nosso n vai sair da lama. Por isso é como eu digo, aproveitem cada momento aí , Europa é realmente outro mundo, aprendam, divirtam-se e voltem para nos ensinar, como é ter cidadania. Beijos com saudades! Ciao!

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  7. Acho que nossa terra Brasil, é o melhor lugar de se viver, sem guerras, sem terrremotos, isso aquí é uma maravilha!!!Bjo grande pra vc.

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