quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Tempo da delicadeza

Ontem foi o aniversário de Tony Neto. Eu e Luiza fizemos  (compramos, na verdade!) um bolo e velinhas para que ele soprasse do outro lado do oceano. Aniversários são importantes na vida de todo mundo, embora os homens nos acusem de termos fixação por datas que frequentemente eles não conseguem lembrar. Para nós é mais fácil, pois tudo nos acontece em datas exatas ou próximas a outros aniversários, dando uma forcinha a nossa mente com excesso de informação. Por exemplo: Nos conhecemos no dia do aniversário da ex-namorada de Tony (ironia do destino!). Começamos a namorar (oficialmente) no dia do meu aniversário. Fomos morar juntos no dia do aniversário de Tony e Luiza nasceu no dia do aniversário de Joana D'Arc. Vim para Portugal um dia depois do aniversário de 7 anos de Luiza, pois no dia que marquei a passagem, o aeroporto entrou em greve. Tem aniversariante que é interessante: se alguém lembra e faz festa, fica todo errado. Se ninguém dá a mínima, o fulano fica arrasado. Nós, com o exagero natural do antropofagismo brasileiro, fizemos um aniversário online para Tony Neto, e foi muito engraçado! reduziu a distância destes 6.250 quilômetros (até o Porto!). No próximo, estaremos presentes fisicamente.

Mas, falar de aniversário (aqui se diz "os teus anos" ou "festa de anos") acabamos falando em idade. Outro dia, estava olhando a vida alheia no Facebook e me deparei com uma frase de Mayda, bem próximo da sua data natalícia, mais ou menos assim: "Oh! 29 anos, já estou com quase 30, que horror!" Dei risada com isso. Os amigos mais próximos concordaram com o terror aos 30, quando se diz que "cruza o Cabo da Boa Esperança"! A uma certa altura, entra a mãe da miúda (minha irmã) e diz: "Dê graças à Deus".  A sabedoria somente é alcançada com a idade. As miúdas não deveriam ficar tão apreensivas. Quando entramos nos trinta, damos para nos esquecer da dureza dos dígitos, principalmente para as mulheres, para quem o tempo é bem mais cruel do que com os homens. O relógio biológico clama pelo projeto família, será tão imprescindível passar adiante o DNA? Os relacionamentos passam a ser mais complexos, a profissionalização ainda exige titulação. Com tanta coisa, surgem os primeiros cabelos brancos (nada que uma boa tintura não resolva) e os quilos a mais se tornam cada vez mais difíceis de deixar de nos acompanhar.

Costuma-se dizer que completar 40 anos é cruzar o Cabo das Tormentas. Mas, a cada dia, deixo de acreditar nisso. Porém, idade boa mesmo é após os 60, o que o brasileiro chama de "boa idade" e que eu prefiro denominar como "Tempo da Delicadeza". 

Serviço de Chá da década de 1930, da Casa de Chá de Aveiro
 Tenho uma vontade imensa de completar 60 anos. Nessa idade é quando nos damos conta de que o tempo passou e que continua a passar, e que não temos tempo a perder com miudezas. A certeza que nos trouxe os "enta"(quarenta, cinquenta, sessenta, e por aí vai, se tivermos sorte!), que de acordo coma minha querida Kátia "dos Enta só sai se conseguir completar 100", nos dá a perspectiva de quem já construiu algo, que avalia a primeira e a segunda parte da vida, e parte com confiança para a terceira.

Nestes dias de Europa tenho aprendido muito sobre a velhice e perdi o pudor de usar essa palavra tão escondida no nosso vocabulário na sociedade que cultua a juventude eterna. Não existe equívoco maior pois o tempo é democrático: passa igual para todo mundo.   É inevitável não me lembrar com risadas da revolta do meu sogro "Seu" Oswaldo quando um dia à mesa do pequeno almoço eu cai na besteira de dizer que ele estava na "boa idade". Ele tascou logo de lá da cabeceira da mesa, num humor mordaz: "Boa idade é essa sua, nessa minha só sirvo para o caixão. Quer trocar?" Mas, apesar das dores, doenças e cansaço, a responsabilidade é com o carinho aos netos e não com os espinhos da educação aos filhos. Já pode olhar para a família e curtir cada um do jeito que é, sem se culpar pelos pequenos defeitos que cada um tem. E como viajam! Os grupos de idosos são inúmeros nessa cidade que parece que foi construída já acessível ao idoso. Ficar 30 minutos no aeroporto do Porto é testemunhar um vai-e-vem de casais idosos do mundo inteiro, com mochilas e guias turísticos à mão, animadíssimos, incansáveis!  
Idosas num final de tarde à beira da Ria
Em Aveiro, essa é a cena mais comum no final das tardes ensolaradas: as senhorinhas saem para os cafés, leem o jornal, conversam, passam na padaria, e antes de escurecer, rumam para seus sobrados azulejados, muito bem cuidados. Favorecidas pela cidade plana, é muito comum dividir o ambiente de praça de alimentação (zona de restauração) dos shoppings (foruns) no horário do almoço com grupos de senhoras e suas tigelas de sopa. Na fila do supermercado, conheci um médico aposentado (reformado) que trabalhou em Macau (China). Muito elegante no seu terno e chapéu de panamá, levava três coisinhas numa sacola, sentindo-se util em ajudar nas comprinhas de fim de tarde. A qualidade de vida de cá proporciona um descanso que ainda temos que trabalhar muito no Brasil para que os nossos idosos tenham uma vida digna, sem o estresse de ter que sustentar filhos e netos com uma aposentadoria miserável.

Envelhecer com dignidade é uma arte. Não que devamos nos abandonar aos intemperismos dos anos vividos, mas, almejar manter-se com um corpinho de 20 aos 60 é impossível. Me enojam esses idosos que arriscam a vida no fio da navalha do Viagra. Existem outros prazeres possíveis na idade avançada. Manter-se eternamente jovem é possível quando se cultiva o espírito crítico e criativo na mais tenra idade.
E, quando eu completar 70 anos, faço uma festa e vocês estão todos convidados.

Saudade de hoje: de minha querida amiga Genésia, que sabe viver muito bem os seus dias.

Té manhã, fiquem com Deus!

5 comentários:

  1. Realmente Anninha, a sabedoria só adquirimos com a idade. Cada idade tem seu encanto. Devemos aproveitar cada fase de nossas vivas, para mas tarde não ficarmos com a sensação de que a vida passou por nós e não a usufruímos.
    Agradeço sempre a deus por ele me abençoar com a vida e familia que tenho e por aqui pretendo ficar por um bom tempo mais.
    bjos
    saudades!

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  2. Saber envelhecer é uma arte mesmo. sem mágoas, sem melancolia exagerada. O dia seguinte é sempre uma dádiva, uma benção que devemos aproveitar com sabedoria e felicidade!

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  3. Eu estava dizendo hoje que n pretendo nunca gastar dinheiro indo com meus próprios pés para uma mesa d e cirurgia, ou seja para por silicone, fazer lipo ou sei lá mais o q. Já fiz 5 cirurgias, 3 para nascimentos, uma para correção de litíase biliar e outra de extirpamento de ovário, portanto, nada por apelo estético. Sou da opinião que as pessoas têm que aprender a envelhecer, da melhor forma possível, ter uma vida saudável, n se permitir contribuir com o abreviamento da própria vida com usos nocivos, e viver, viver até onde Deus permitir, aproveitando as coisas boas da vida, esquecendo as mágoas que só sofrimento trazem, apenas viver, como se fosse o ultimo dia, cada dia, e agradecer a Deus (como eu disse a Mayda), por cada dia que nos é permitido acordar e depois mais uma vez ir dormir, e passar por mais uma ou umas provações. Sim aninha , quero muito poder fazer 60, depois 70, ou quem sabe ter a benção de chegar aos 80, da melhor forma possível e então antes de virar história (ou estória, n sei) ,viver tudo que tenha direito, conhecer sempre, aprender sempre mais e esta consciência, só o tempo e a idade nos traz, como vc tão bem falou. Saudades., Beijos para vc e Lu. Ciao!

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  4. É isso Maninha, falou lindamente!
    vamos viver a vida.
    Mas uma lipo eu farei quando me sobrar algum dinheiro.

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  5. Oi, meninas! Recebi vários cumprimentos pelo post, vocês são sempre muito generosas.Na verdade, já vinha pensando neste tema há tempos, e, surgiu a oportunidade. Todos os dias aprendemos algo, ainda que não percebamos, é mais importante somar essas experiências cotidianas para aprender a viver melhor todos os dias de nossas vidas do que fazer malabarismos para esconder quantas primaveras (invernos, verões e outonos também!) já atravessamos. Mil beijos!

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