quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Comidinhas 2

Certamente uma das maiores dificuldades que sentimos quando estamos morando para além da nossa terra de origem é a adaptação a alimentação. Apesar da culinária portuguesa não ser estranha, o nosso paladar culturalmente adestrado sofre com a ausência de alimentos que para nós são básicos. O que dizer de um feijão sem charque, das pamonhas de junho, do queijo de coalho frito no café da manhã? Algumas coisas dá para encontrar: o caso do cuscuz foi resolvido fom uma massa de milho à venda em loja de produtos naturais. Mas, Fazer cuscuz no pano não é nada fácil:  o bendito ficava duro, quase intragável. Quando Tony veio em maio, trouxe-nos uma cuscuzeira, para nós uma das mais perfeitas criações tecnológicas. Não é exatamente o pão de milho fofinho, mas, dá para aplacar a saudade. Outro dia, após mais uma sessão tortura de conversas culinárias, Francislê,  conseguiu fazer tapiocas com polvilho azedo e côco ralado de saquinho, a partir de uma receita capturada no YouTube por Dayse. Segundo ela, ficou deliciosa. Descontando o amor que os une e a saudade da tapioca de Olinda, acredito nas habilidades do Orientador, pois ele é um químico cheio de truques. 
Juliana, em suas andanças pelo mundo com Astrogildo, declarou que o único lugar que comeu bem mesmo na Europa foi em Portugal, nomeadamente nas pequenas biroscas obscuras que servem um bacalhau tradicional impecável. Realmente, o que comer é bom. Mas, isso quando estamos passeando. Para morar, a coisa é diferente, pois no cotidiano não temos todo o orçamento disponível de turistas. Para quem é mileurista, como nós, a alimentação é mais do que uma operação cambial a ser debitada no cartão de crédito. É necessário adaptar-se ao cardápio local. Ao pequeno almoço estou tentando (heróica e bravamente) me acostumar com os cereais matinais, daqueles que caixa que vendem no supermercado. Quem sabe daqui há uns dias eu não esteja acostumada e até gostando das "alpistes" que comem ao café da manhã? No almoço, se for comer na rua, prepare-se para a porção gigante de batata, que pode vir ao murro, frita ou cozida-quase-crua. Após a sopa, que para mim ainda é comida de jantar (e esse é o segredo da magreza das portuguesas, pois tomam uma sopinha antes do prato principal, assim, come-se menos da comida pesada), a batata com a salada de alface é constante nos pratos, acompanhadas por vitela, pescada, novilho, frango ou porco. Esse último é mais comum, pois tem o preço mais acessível. Uma comidinha diferente que comemos e gostei muito foi a alheira.
   
Contam que essa espécie de linguiça foi criada pelos cristãos novos. Os judeus que por necessidades de sobrevivência, abandonaram sua religião, mas não os seus costumes e crenças, criaram um enchido com carnes de aves ou de coelho para dar a entender a população local que consumiam os populares chouriços de carne de porco, e que estavam bem integrados ao cristianismo. Os judeus sempre foram inteligentes na arte se sobreviver. Comemos num bar vizinho daqui de casa, um prato parecido com este da foto, eu só pedi que o ovo bem passado, porque ovo cru para mim não dá condição.  Luiza que não agradou-se muito, preferiu comer carne com o pai.

Os sucos (aqui diz-se sumos, e eu sempre misturo os dizeres) naturais fazem uma falta imensa. Nem de longe esses sumos de caixinha ocupam o lugar de um bom suco de maracujá, bem docinho. E nisso reside mais uma dificuldade: o sumo natural feito na hora é forte demais e sem quase sem açúcar. Nós, que viemos da civilização do açúcar estranhamos essa falta de doce. Até agora, apenas uma marca espanhola não exige correção. Desde o começo da primavera há muitas frutas. A cereja, para mim, foi um caso de amor à primeira vista. E o doce de cereja então, é impossível! Luiza caiu de amores pelos pêssegos, que segundo ela, são deliciosos e fofinhos. Encontra-se facilmente melancia, morangos, kiwi (aqui diz-se kiví), melões e meloas (tem masculino e feminino!). As bananas equatorianas, como já disse não são propriamente as melhores, mas dá para o gasto. Os mamões e as goiabas são pela hora da morte de tão caros, nem por saudades. As maçãs são comuns e as peras são as vedetes da prateleira, principalmente a variedade Rocha, tipicamente portuguesa. Uma perinha pequenina, que ninguém dá nada por ela, mas que é doce e suculenta. Dá para fazer uma salada até jeitosa!É uma boa opção para levar ao pic-nic no parque nas tardes de sol, mesmo em outubro, que como diz Monica Aresta, está disfarçado de agosto.

Saudades de hoje: Pamonha, a que Ilda faz. Pode ser da padaria de Rildo, com queijo coalho. Não há melhor!
Bom apetite para a vida!

Té manhã, fiquem com Deus.

2 comentários:

  1. Eita Anna,

    to achando que quando Tony for o pedido para ele vai ser: Deixa tua roupa e na mala trás só comida. KKKKKKKKKK
    Lembro que não me acostumei com essa história do almoço dai, que era batata e um tipo de carne, sem carboidrato algum.
    Os portugueses, na Gastronomia, são famosos no bacalhau e os doces, acho que com as sobremesas vocês não estão sofrendo, não é?
    abraços

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  2. Sabes q adoro comidinhas e novidades é comigo mesm,. Adoro quando teu post é sobre isso, fico querendo reproduzir o cardápio sem demora.E poxa vida nossa culinária é um paraíso de tudo que é coisa gostosa e criativa, mas experimentar é a tônica e eu gosto mto disso. Estou querendo fazer mto dessas experiências na minha viagem ao Velho Mundo, proximamente, vamos ver se é mesmo boa a comida dos italianos, já que o que comemos por aqui tem mta influência americana e mesmo nossa.
    Peço que sempre que for possível vc coloque algo neste tema nas suas andanças pela terra de Camões, eu vou adorar mto. PS.: Achei visualmente bonito, e equilibrado o prato que vc fotografou e já estou pensando em fazê-lo, só me falta os brócolis, meio difíceis de encontrar por aqui.
    Saudades, beijo grande. Ciao!

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