segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Leituras e reflexões: Pais brilhantes, professores fascinantes

Os dias voltaram ao normal. Luiza já entrou no ritmo da rotina escolar, já dorme mais cedo e já dá trabalho para se levantar da quarta-feira em diante. Nestes dias, a professora mandou que os pequenos fizessem uma maquete (aqui se diz maqueta) de uma cidade utilizando material reciclado. Passamos o feriado da República (05.10) e o último final de semana cobrindo caixas de papelão, pintando, colando. Ficou até bonitinha, principalmente quando Luiza teve a ideia de pegar o jardim da Smurfete (em Portugal, a personagem é Smurfina) e colocar como praça diante do Hospital. É uma representação pueril do Recife, com praia e mar de papel ocre e azul, com coqueiros de palitos pequenos. No final, ela ainda teve a ideia de colocar as conchas que catamos em Espinho para dar um ar mais náutico. Apesar de maldizer a minha falta de talento para as artes, deu para gasto e hoje ela levou a maqueta, satisfeita com o resultado. 

Na verdade, eu estava aqui pronta para falar do livro do Augusto Cury e acabei contando a história da maqueta. Não sou exatamente uma assídua leitora de auto-ajuda, mas entendo que a crítica só pode ser feita depois do conhecimento.  Caso contrário é preconceito (conceito anterior ao conhecimento, fala sem saber ou pelo "ouvi dizer"). Por algumas vezes vi esse livro na mesa de Genésia, pois o mundo de investigação dela é a relação entre a escola e a família. Do autor, vi outros títulos nas citações do Facebook de Valmir, principalmente do Vendedor de Sonhos. Eu brincava com ele, perguntando se ele era padeiro, para vender sonhos. Mais nada, o meu contato com esse fenômeno editorial brasileiro restingia-se a essa completa superficialidade. Quando Tony veio em maio, me trouxe esse presentinho enviado por Izabel. O livro entrou na fila e ficou aguardando o momento de ser, finalmente, lido.

Trata-se de uma obra bastante interessante. Augusto Cury é psiquiatra, investigador da psicologia, com foco na memória, seus desdobramentos e efeitos. O livro trás uma série de conselhos intercalados com boas histórias para exemplificar e esclarecer as ideias. Explica como os pais podem melhorar a criação dos filhos, em que devem investir para ter como retorno um filho feliz, seguro e capaz. Explana sobre os aspectos que faz do professor uma figura inesquecível. A parte 3 me chamou atenção pois o autor aborda os "Sete pecados capitais dos educadores", são aqueles errinhos à toa que acabam pondo a relação professor/aluno a perder. Todos os itens expostos são importantes, mas, me tocou o primeiro erro, que o autor aponta como "Corrigir publicamente". Como diz o ditado "errar é humano". E mais que isso, errar faz parte do aprender. É preciso permitir o erro, que uma vez detectado, o estudante refaça o percusso, analisando quais opções foram feitas para concretizar o erro. Dessa forma, fica mais lógico entender o que é certo. Existem maneiras adequadas de corrigir o erro, auxiliando na busca pelo resultado mais adequado. O problema é o modo como essa correção é feita. Uma exposição pública e humilhante do sujeito que errou, definitivamente, não é construtivo. Este equívoco pedagógico não é restrito à educação básica. Até mesmo no grupo do Doutoramento do qual faço parte me deparei com uma correção cruel da tentativa de acertar. Mas, essa situação me provou que professores são seres humanos, e como tal, são passíveis ao erro, mesmo os de melhor currículo.

Quando a correção deixa o mundo pedagógico, onde é uma obrigação,  e cai no cotidiano, a situação tende a ser pior. Quando criança, uma das nossas irmãs tinha o terrível hábito de corrigir as pessoas, independente de quem fosse e onde estivesse. A pessoa falava algo incorreto e ela logo tascava: "não é assim, não. É tal." O emissor do erro ficava arrasado e nós, mortas de vergonha. Tem gente que cresce com esse defeito e corrige publicamente o marido, o filho, a namorada, a esposa. Até à mãe são capazes de corrigir e expô-las à um vexame desnecessário. Os especialistas dizem que é falta de empatia, ou seja, daquela capacidade que temos de nos colocar no lugar do outro. Eu digo que é falta de caridade, pois, ninguém deve ser exposto por algo negativo, principalmente quando tem tantas qualidades que superam aquele pequeno deslize. Até porque errar, todo mundo erra. Nem que seja ounvindo música brega ou na combinação do cinto com o sapato!

Aceitemos o erro não contumaz como uma prova de humanidade.

Aprendi muito com o livro, Izabel.
Obrigada.

Té manhã, fiquem com Deus.     

     

8 comentários:

  1. Ana, querida, li o livro e não gostei. Na verdade, em alguns trechos quando Cury – que nunca enfrentou uma sala de aula – versa sobre a relação professor-aluno, me revoltei. Em educação ele é apenas – e tão somente – um teórico. A prática do cotidiano da sala de aula, durantes os 15 anos em que venho lecionando, desmonta com facilidade essas fórmulas mirabolantes concebidas num gabinete. Ele diz que se o aluno fica o tempo todo com vontade de ir para casa o professor não é fascinante. Ora, muitas coisas na escola pública não são fascinantes, são até aterrorizante. Fora da escola também, os alunos trazem zilhões de problemas para a sala de aula e os professores – que não são psicólogos – acabam não sabendo como lidar. Ele não tem autoridade alguma para falar de erros de professores porque, repito, é apenas um teórico.

    Beijos!

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  2. Wow, Vil, a ideia era ilustrar a situação, para refletirmos juntos a respeito do erro... Espero que não tenhas ficado triste com minhas palavras.
    É, Ed, tens toda razão quando apontas que a educação está cheia de teóricos. O mais competente especialista para analisar as práticas educativas é, sem sobra de dúvidas, o professor que labuta em sala de aula. A leitura do Cury me fez repensar dois aspectos: 1) é preciso vencer os preconceitos, e na literatura tem muitos. É preciso ler de tudo, pois em toda leitura resta sempre algo de positivo. 2) A escola - e nela os professores como eu e você - valoriza muito o acerto e não percebem a oportunidade da aprendizagem através do erro. Tratar com respeito o autor do erro é, na minha visão, uma prática fascinante.
    Muito bom ter sua companhia!

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  3. Ei, que mal há no que foi dito? Eu acho isso bobagem,nada demais que se seja corrigido quando necessário, se assim n o fosse de que valeria o estudo? se erramos nada mais adequado que alguém para nos orientar? Tá bom que tem gente que faz disso uma arma para machucar o outro, mas isso n é a humanidade toda... eu mesma agradeço quando sou corrigida, e já corrigi mta gente, que espero tenha assimilado algo da ação, pq n me passa pela cabeça tirar vantagem disso. N gosto de livro de auto ajuda pq na verdade não tem nenhum valor literário, como diria meu amigo Nivaldo, mas, vez em quando tem algo que se aproveite sim (difícil, mas tem), e o que vale mesmo é ler pela diversão e ensinamentos, e viagens, e prazer que nos dá.
    Saudade.Bjo imenso. Ciao!

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  4. É por essas ideias sobre "valor literário" que eu gaitei quando vi Paulo Coelho na lista do Nobel de Literatura! É preciso ler nem que seja para ter elementos para uma crítica fundamentada!
    Beijoooooo!

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  5. Mas isso é um absurdo, para n dizer burrice pq o tal Coelho nada tem de escritor, para mim ele é uma fraude. Perdoe-me se vc gosta, mas, eu tentei, Deus sabe que eu tentei ler Brida e o-d-i-e-i, n consegui ir além da 2 página, até pq n gosto de exoterismo,acho que essa estória de misticismo deve ficar lá na idade média. E daí a nomear tal "escritor" para Nobel chega a ser ridículo, e os outros, com mto mais cacife? Tem coisas que tem coisas nesse mundo!

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  6. Pois foram os entendidos do tal "valor literário" que incluiram o nome do rapaz na lista. É da mesma linha dos célebres da ABL que consideram que José Sarney tem uma obra com maior "valor literário" do que a obra Mário Quintana. Então, eu me pergunto: o que é valor literário e quais são os critérios para atribuir ou não valor a uma obra? É por essas e muitas outras que esses rótulos não me apetecem. Como diria Chico Science, quando foi reprovado para o Conservatório de Música Pernambucana: "Cadê as notas que estavam aqui? não preciso delas, basta deixar tudo soando bem aos ouvidos."

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  7. De fato, tudo por escrito e pensado nas mãos de renomados e respeitados nomes parece transcrever um horizonte sublime, porém muito distante da realidade. Admiro Augusto Cury e já li muitos de seus livros e ainda estou lendo outros. A realidade é bem distante até do ideal que se estuda nos livros de faculdade, dos programas, dos currículos, da filosofia da escola e blá, blá, blá... deve-se assumir que estando em uma sala de aula o professor lida com adversidades, cada aluno é um mundo. O professor não é um psicólogo, como foi bem dito por um colega aqui, além de lidar com uma turma lotada tem também os problemas extra-classe, a vida pessoal do professor. E tudo depende também do contexto que a escola esta inserida, tudo varia de região para região. Os problemas são particulares e complexos. Contudo, a ideia não esta totalmente aniquilada, antes é preciso tocar os pés no chão para a realidade e assumi-la tal como é. Ser professor depende de um pouco de cumplicidade e humildade, mas também precisa de um pouco de crítica e pulso firme.

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