quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Digam-lhe que fui ali: Sintra

No nosso segundo dia de viagem, fomos a Sintra, uma cidade linda, cheia de Palácios e Castelos, tudo muito bem preservado, dão a impressão neles ainda habitam Reis, Rainhas e Princesas. Apesar de ter tentado arranjar uma hospedagem para pernoitar nessa linda cidade, os preços praticados pela rede hoteleira são impossíveis. Assim, ficamos em Lisboa, já que a distância entre as duas cidade é de apenas 35 km. Logo de manhã, tomamos o comboio na linda Estação Rossio. Tony e Luiza foram brincando com joguinhos de palavras e músicas, e rapidamente chegamos. O sol lindo que fazia naquela manhã lançava luz em todos osrecantos da velha cidade, que parece uma casa de bonecas. Antes de viajar, havia mostrado a Luiza alguns lugares para que ela soubesse como era o sítio que iríamos visitar. Ela estava entusiasmada em visitar um "castelo com tudo dentro", para ela saber onde era que a princesinha morava e como era seu quarto.

Ao fundo, Palácio Nacional

Andamos pelas ruas cheias de curvas, árvores centenárias e casarões muito bem cuidados. Ao chegar nas imediações da Câmara Municipal (equivalente a Prefeitura) tive a capacidade de errar o caminho e seguir por uma rua secundária. Mas, me digam: como é que se erra o caminho numa cidade que é patrimônio da humanidade, com sinalização impecável? Sei que a minha zezisse (coisa de totó,em bom português) nos levou a subir uma ladeira íngreme e emergimos no patio do Palácio Nacional, simbolo da cidade.
Desculpas pedida e desculpas aceitas, passamos neste palácio, e fomos para o largo do Correio espera o auto-carro para visitarmos os Palácios. São três roteiros distintos: Palácio dos Mouros e da Pena, Palácio de Monserrat e Palácio e Quinta da Regaleira. Dá para fazer os três em um dia, mas, dois fatores nos impeliu a escolher apenas um: i) Ficaríamos com excesso de informação, principalmente Luiza. ii) O custo com o transporte serra acima é salgado, e os ingressos de entrada nos sítios são salgadíssimos. Este foi o fator preponderante. Também, para manter esse patrimônio são necessários recursos, e o turista tem que pagar mesmo. Escolhemos o Palácio da Pena, pois, como já havia visitado com minha querida amiga Genésia em 2005, sabia que "tinha as coisas dentro" atendendo às expectativas da pequena. O ônibus chegou lotado por jovens japoneses, apenas Luiza encontrou um lugarzinho para sentar. A subida da serra é radical: as curvas fechadíssimas na estreita estrada ladeada por penhascos cobertos por uma floresta temperada belíssima. Certamente, os condutores desse caminho são muito bem preparados. 
Floresta da região de Sintra

Primeiro é a paragem do Castelo dos Mouros, muito bonito, mas bem parecido com o Castelo de S. Jorge. Não fomos. Seguimos para o Palácio da Pena. Na entrada há uns quiosques onde vendem os bilhetes, podem adquirir com o trenzinho que conduz até o pórtico do Palácio. Como a ladeira era grande, compramos com o bendito trenzinho. As três  entradas, mais os bilhetes de ida e volta no trem, custou 30 Euros. Logo na entrada, há uma lojinha de souvenirs (caríssimos! Nunca compro nada nessas lojinhas, pois na cidade tem tudo muito parecido por preços mais acessíveis), casas de banho e o Jardim da Rainha. Muito lindo. O trenzinho sobe uma ladeirinha bem puxada, dá uma voltinha e nos deixa na porta do  palácio. A primeira impressão é que a construção magestosa carece de uma demão de tinta, mas, é só entrar para despertar o encantamento. A paisagem é lindíssima. Lisboa, vista da Pena parece Garanhuns vista do Cristo do Magano.


Lisboa, vista do Palácio da Pena
Área externa do Palácio da Pena
No interior do Palácio não são permitidas fotos. Os móveis, os objetos pessoais, os ambientes são arrumados de acordo com o gosto da época, onde o colecionismo de pequenos objetos de adorno era muito comum. Luiza gostou do quarto da Rainha, mas ficou doida para entrar na casa de banho do Rei.  Estranhou porque havia um divã de púrpura no banheiro, adorou os bidês e as pias. Tudo lindo. Das salas, gostei mais da sala indiana, que é muito fresca e os móveis são muito trabalhados em treliças de fina madeira. Tony impressionou-se com a sala chinesa e seus grandes vasos de porcelana. É, esse povo já foi podre de rico e morava muito bem. Quando estávamos à saída, na escadaria que dava acesso ao pátio havia um grande espelho. Tony parou diante da nossa imagem e disse com tom de guia turístico: "E esse é o quadro do Rei Antonio I, Rainha Cecília II e somente os olhos da Princesa Toconina." Caímos na gargalhada, pois todo brasileiro tem uma pontinha de nostalgia da nobreza que nunca teve.    

Descemos para a cidade no auto-carro por um caminho bem menos tortuoso, e fomos andar nas ruazinhas charmosas e procurar um lugar para almoçar. Nestas cidades, sempre tem uns meninos que ficam abordando os transeuntes, oferecendo seus cardápios, de vários preços. Assim, vale a pena andar um bocadinho para encontrar um restaurante bom com precinho camarada. Almoçamos num restaurante simpático, com excelente atendimento. O couvert com azeitonas, queijo de cabra curado com tomates secos, azeite e vinagre balsâmico estava melhor do que os pratos principais. Pedimos uma sopa para mim, um lombo de porco à Sintra para mim e Luiza e Tony optou por uma picanha brasileira. Picanha chinesa, diga-se de passagem. Estava bom, até a hora de pagar a conta. O preço foi bom, coisa de 20 euros. O problema é que o estabelecimento não recebia Multibanco. E eu não tinha mais um puto centavo em dinheiro vivo. Tive que deixar Tony e Ana Luiza empenhados e ir em busca de um caixa eletrônico lá na rua da Periquita. Fiquei decepcionada com isso. Como é que numa cidade dessa não recebe cartão de débito? E nem avisa ao cidadão antes de entrar o que é pior. Conta resolvida, fomos andar pelas ruazinhas simpáticas. Subimos a rua da Periquita, que é uma casa de doces muito conhecida pois vende as famosas queijadas de Sintra, citadas por Eça de Queiroz em Os Maias. 

Rua da Periquita. Não é o nome da rua, mas fiquei chamando assim.
Fizemos o caminho da Volta do Duche, onde há uma exposição de esculturas de mármore, muito bonitas. Na saída, ainda passamos na Queijadas da Sapa, só para dizer que não comemos o doce oficial da cidade, compramos duas. Só dei uma mordida em uma, que dividi com Luiza. É bem mais fina e dura que a queijada brasileira. E muito doce. 

Chegamos em Lisboa por volta das 17hs. Ainda deu tempo de ir ao Chiado, pedir a benção à Fernando Pessoa e tomar um café na Brasileira. 
Eu, Luiza e Fernando Pessoa
Fizemos o caminho de volta para o Rossio à pé, pois eu queria ver o que tinha no caminho. Passamos por muitas lojas que vendem bacalhau e enchidos de toda espécie, bolsas, sapatos e souvenirs. Uma misturada, parecia aquele trecho que fica entre a ponte e a Estação Central do Metro do Recife. Sob os protestos de Luiza que já reclamava que tinha os dedos dos pés dormentes, e apareceu dor até nos cabelos durante o percurso, chegamos ao Rossio. Jantamos numa birosca onde fritavam frangos na vitrine (montra), repleta de imigrantes, próximo da pensão. Foi aí que tive a minha pior experiência culinária em Portugal: pedi uma canja, e essa foi a pior canja que não tomei da minha vida. No caldo ralo e amarelo, boiavam pedaços de frango que foram fritos! a massa estava desmanchada de tão cozida. Horrível, só imigrante morto de fome sem nenhum dinheiro come aquilo. Coloquei do lado e cobri com um guardanapo estampado com uma árvore vermelha e os dizeres "felizes  festas". Pedimos mais um prato de frango assado, batatas fritas e arroz, tipicamente português. É por uma dessas que o visitante faz mau juizo da comida nacional. Definitivamente, não reflete a qualidade da comida portuguesa. E o atendente ainda ficou com raiva de mim porque eu disse que a canja era lavagem para porco. Não menti.

E no outro dia, fomos à Fátima. No próximo capítulo, eu conto.

Até amanhã, fiquem com Deus.

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