quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ônibus

Amanhã, 02 de fevereiro, dia de Iemanjá, será um dia de greve dos transportes públicos em Portugal. Como em todo lugar, reinará o caos nas cidades maiores, pois boa parte dos trabalhadores dependem do transporte urbano, seja através de comboios, metros, autocarros, leves, bondes ou barcas. Nas cidades maiores ou para quem mora em uma cidade e trabalha em outra, a pé não dá para chegar. Se possui automóvel, deve ser solidário e dar uma boléia (carona) ao colega carente. Mesmo com a obrigatoriedade da manutenção de uma quota mínima de serviços, não é nada fácil. De um lado o povo reclama do reajuste das tarifas; do outro, os trabalhadores reividicam melhorias nos salários e repudiam os despedimentos (demissões). É a crise!

Apesar de solidária ao sofrimento alheio, dessa vez, a paralisação não afeta em nada o nosso quotidiano, pois, não utilizamos os transportes urbanos. Aveiro é uma cidade pequena e o nosso caminho diário é curto. Moramos perto da escola de Luiza e perto da Universidade. O percurso mais longo que fazemos custa 20 minutos de caminhada normal. Dá para andar a pé, com tranquilidade. Mas, a nossa vida nem sempre foi assim. Em Garanhuns, vivemos numa área afastada, quase fora da cidade e o ônibus (autocarro), se não faz parte da nossa rotina, é a alternativa quando estamos sem carro. 

Já falei em carros no post "baby, you can drive my car" (http://digaasnovas.blogspot.com/2011/11/baby-you-can-drive-my-car.html ), registrando como os carros podem se tornar bons companheiros de batalha. Contudo, é preciso reconhecer: quem mora distante ou em cidades grandes, no ônibus vive-se uma existência. Em comum com os demais passageiros (utentes) temos apenas a direção, pois o destino final, depende da sua paragem. Nesse agregado constituído num espaço comum reduzido, o contato pessoal pode ser de minutos ou de horas, a depender da duração do percurso definido em um intinerário quase fixo, salvo complicadas adaptações de roteiro para desviar de obras inacabadas, ruas intransitáveis ou alguma festa de rua. No ônibus, podemos encontrar a mesma pessoa todo dia e não conhecê-la, até porque "todos são passageiros (aquele que comprou passe ou bilhete), menos o cobrador (trocador, que recebe ou confere os bilhetes) e o motorista (condutor)". Afetados pela invisibilidade social, mal da sociedade contemporânea que afeta citadinos apressados, conforme brilhantemente descrito por Fernando Braga da Costa no seu livro "Homens Invisíveis", dificilmente reconhecemos o condutor quando ele não está ao volante do veículo. Mesmo que seja aquele que conduza com competência, espere pacientemente o idoso e a grávida a subir ou descer do carro, ou que seja até bonitinho. Nós simplesmente não vemos, cegos pela rotina do "não tenho tempo".

Acontece cada uma em ônibus... Como daquela vez que o ônibus estava tão cheio, que a porta fechou e prendeu as costas da camisa de Petronildo e ele teve que ficar grudado na porta até o ponto final.  Coitado! Ou quando no ônibus lotado em Maceió, em pleno verão, a senhorinha entrou com o bebê e sentou-se no banco atrás da nossa amiga. Ficou brincando com o bebê aos saltinhos e o danado achou de golfar o leitinho recém-tomado no cabelo comprido da prima de Eliane Faustino, que estava no banco da frente. Mas, pior foi comigo: Sabem aqueles pregadores que aproveita o intinerário dos ônibus para falar aos infiéis sobre palavra de Deus? Pois, eu tenho dias de azares épicos. Num destes, estava num ônibus da linha Barro-Macaxeira, no final da tarde, uma canícula terrível tal o calor recifense neste dia, o tal evangelizador assinatura com a minha cara, e começou a falar mal das mulheres: "Essas mulheres safadas, adúlteras, são emissárias de satanás..." e a cada vez que ele falava na mulher portadora de todos os males, virava-se e apontava para mim, enquanto eu me encolhia no canto do banco, morta de vergonha. Uns passageiros riam-se às gargalhadas, outros diziam: "Ah, deixa a moça!" Só não desci porque só tinha um passe, mais fui rezando até o ponto final para que ele tomasse outro rumo ou me deixasse em paz. Ninguém merece.

Para sobreviver a rotina do ônibus ou em qualquer outro transporte coletivo é essencial o exercício do respeito. Não há nada pior do que ao fim de um dia de trabalho ter que suportar um sujeito ouvindo música de baixa categoria sem fones (auscutadores). Ou aturar um bando de estudantes em algazarra, contando aos berros histórias idiotas. É preciso lembrar que o direito de um termina quando começa o direito do outro, todos temos os nossos compromissos e preocupações, a viagem no ônibus não deve ser mais um momento de tortura nessa vida atribulada. No quesito bom comportamento, portugueses alcançam nota máxima e nós acabamos ficando quietinhos também, pois, repercute mal ficar zoando em um ambiente quando todos são tão discretos.  Ações simples como oferecer o lugar a quem tem direito, ajudar a segurar cadernos, livros e sacolas de quem está em pé, levantar-se e dirigir-se a porta antecipadamente para não atrasar a saída facilita a vida de quem depende desse transporte para trabalhar, estudar, ir à Igreja. Quem sabe um bom comportamento não lhe renda até um inesperado pedido de oração de um anônimo agradecido?

Tem alguma história vivida em transporte público? Conte-nos! Vamos adorar saber.
O autocarro no desenho encontrei em http://ramos.blogs.sapo.pt . Bonitinho, né?

Té amanhã,
fiquem com Deus.
     
    
   

7 comentários:

  1. Adorei o post Anninha! Dia desses fui à Recife, e esse negócio de ouvir música feia nos onibus e metros é terrível. Aqui em Garanhuns tem um bocado também, mas como o valor da passagem aumentou, eu faço meus percursos a pé uehuehueheu

    Bjs.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mari! Pois é... a passagem de ônibus em Garanhuns é um assalto à mão desarmada! Os percursos são muito curtos, em comparação com os intinerários do Recife. Não compensa pagar, e ainda é mais saudável ir caminhando. E esperar o ônibus do Mundaú (Manda, como chamamos carinhosamente), ninguém merece, é pagar para pagar penitência! Beijos e saudades enormes de tu, menina linda!

      Excluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Eu quem o diga!! Moro no mundaú ja faz anos, raramente usei aquele Ônibus, além da demora não tenho coragem de pagar $2,00 na passagem, todos os dias saio uma hora antes(meu percurso a pé são de 50 minutos) pra chegar até a faculdade no horário certo. A noite, em épocas de muita chuva consigo uma carona com os companheiros de faculdade e tudo certo. Morei uns 5 anos no Recife e vivia louca estressada pois dependia totalmente de Ônibus para trabalhar.Foi lá que conheci uma tal de operação tartaruga para que o transporte não parasse totalmente eles andavam numa velocidade de 20 quilômetros por hora,imagina o caos!! Nas viagens vi de tudo: assalto, brigas de casais, namoros calientes, pessoas que dormiam o tempo todo, ouviam músicas e EU que sempre tinha um livro pra ler ou minha agenda pra desabafar...Graças a Deus em Garanhuns posso optar por andar a pé,amo minhas caminhadas...Bjs profe, saudades de você que bom que existem redes socias kkkk

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Finalmente descobrimos o segredo da beleza da Alcione! A carona solidária é uma boa alternativa. Se você ficar olhando a rua um bocadinho, vai perceber que os automóveis que passam frequentemente só tem dois ocupantes. Custa nada dá uma carona para aquela pessoa que você vê todo dia esperando o busão? Faz uma boa ação e de quebra, ainda pode fazer um amigo. Beijos, lindinha!

      Excluir
  4. Anninha... super nostálgico teu post... Lembrei de quando eu dependia do velho Barro-Maca... Aquele aroma de "sovaco" às 6 da manhã, pra mim era inaceitável! A gente toma banho de manhã, né? kkkkk... Essa semana foi de protestos na rua, pelo aumento - mais uma vz- das passagens de ôibus aqui em REC... Deu uma saudade da época de "revolucionária" da UPE... kkkk... Fiquei da janela, olhando e torcendo que fossem compreendidos pela sociedade... Não pela "anarquia", como dizem... mas por lutarem por seus direitos! Aos 30 não dá pra ir pras ruas gritar né? "Nossa indignação é uma mosca sem asas, não ultrapassa as janelas de nossas casas..." já diz o pessoal do Skank... Um bj grande!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. "Aroma de sovaco" é ótimo! Poxa, custa nada investir R$2,00 em um desodorante para usar após o banho matinal,caso ele exista? Ônibus em REC é um mal necessário: ou isso, ou mais um veículonas ruas, aumentando ainda mais o trânsito e os engarrafamentos. Sei não o que vai ser dessa (linda) cidade. Se investissem mais na qualidade do transporte público, diminuiria a poluição e o tempo perdido no trânisto. Acredita que em GUS há engarrafamentos nas adjacências da Sto. Antonio nos sábados pela manhã? É quase impossível arranjar um lugar para estacionar. Tá puxado!
      Com o tempo, mudam as maneiras de lutar, Mayda. Mas, o engajamento, persiste, Graças à Deus! Beijão! Saudades de tu!

      Excluir