quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Carestia


Enquanto Luiza corre atrás de Juju pela casa em busca de resgatar um sapato, meia, lápis ou brinquedo que a cadela fujona surrupiou do quarto, vou cuidando nas minhas coisas. Hoje tivemos a segunda das três sessões de formação com os professores da AESGA. Desta vez, a formação foi orientada pelo Francislê, que, de férias, veio com Dayse em visita às famílias, num roteiro de Recife-Garanhuns-Petrolândia. A parada do sertão pernambucano é para visitar a granja do Anselmo, padrasto de Francislê. Anselmo é a pessoa mais simples, mais viajada e uma das mais interessantes que conheço. Tem sempre histórias ótimas para contar, sempre com um sorrisão sertanejo. Minha querida Genésia casou-se muito bem, a vida dar essas compensações a quem não deixa de acreditar que tudo pode ser um pouco melhor.  Pois, mesmo de férias, arranjamos uma horinha para Francislê orientar a formação com nossos colegas, explorando o Questionamento como Estratégia de Ensino e de Aprendizagem. Apesar de ser um grupo bem pequeno, era bastante animado e interessado e tudo correu muito bem. Fiquei com a boa impressão de que estamos contribuindo na discussão das estratégias de ensino e de aprendizagem, oportunizando um espaço de reflexão e ajuda mútua entre os docentes da AESGA. As discussões e partilhas de ideias seguirão no Facebook, a plataforma escolhida para a interação da comunidade de práticas. Continuo muito feliz com os meus companheiros de trabalho, e extremamente agradecida a Deus, pois só Ele poderia ter me providenciado um Orientador tão especial: dedicado, simples, acessível. Opção divina funciona sempre. E muito há para fazer daqui para frente.

A doença já não me aflige mais. Tudo está sob controle, apesar de ter ainda uma tonelada de exames para fazer, e com estes virão as respostas que esperamos para contornar esses percalços. Só percebemos a falta da saúde quando já não a temos. É na ausência da saúde que tornam significativas as coisas insignificantes, e tudo o mais que era importante, passa a ser secundário. Portanto, melhor cuidar para não perder, ou ao menos manter o equilíbrio e ir conduzindo as situações da melhor maneira possível. Na quarta feira ao acordar, tive o mesmo sentimento do comentarista de futebol da Rádio Jornal: quando velhos, estamos tão acostumados a sentir dores de todos os tipos, e o dia em que acordamos e não sentimos dor, desconfiamos que estamos mortos. Até com a dor renitente nos acostumamos, e quando ela nos falta, nos causa espanto.

Apenas um aperto me assalta quando olho o calendário. A notícia ruim para nós é que não conseguimos trocar nossas passagens, pois as taxas de remarcação para reservas com tarifa fixa (eram as mais baratas) é um absurdo. Ainda tentamos remarcar nosso voo para depois da eleição, assim, participaria do processo eleitoral, com o agravante que Tony é candidato a vereador. Mas, não havia margem de manobra. Resultado: embarcaremos no dia 15 de setembro mesmo, um dia após a terceira formação, quando receberemos a Profa. Maria José Loureiro, a queridíssima Zé. Enquanto isso, como Lulu Santos, “vamos viver tudo que há para viver”.

Por falar em preços, estamos escandalizados com os preços praticados no Brasil. Parece até que o povo brasileiro enriqueceu da noite para o dia. Francislê e Dayse já haviam comentado conosco essa descalabro dos preços brasileiros quando estiveram por aqui em maio desse ano. Confirmei o fato com minhas próprias moedas, ainda mais em Garanhuns, cujo consumidor frequentemente faz questão de manter uma pose que não corresponde ao lastro financeiro que possui. Roupas, calçados e acessórios estão muito mais caros no Brasil. Restauração está do mesmo preço que em Portugal. Produtos de higiene pessoal e cosméticos estão pela hora da morte no Brasil. Daqui a mais uns dias, o povo estará tomando banho com sabão bruto se não quiser se endividar com esses itens, que são essenciais para manter uma qualidade de vida na média, principalmente para a ala feminina, essencialmente para quem tem mais que 30. Abaixo disso, qualquer batonzinho fica maravilhoso. Após a virada do Cabo da Boa Esperança, a coisa complica e já aparecem estampados na cara os testemunhos do tempo. Como ninguém é obrigado a testemunhar a degradação do relevo alheio, é preciso evitar ou disfarçar os intemperismo. Dentre os serviços mais caros, a hospedagem no Brasil é um verdadeiro absurdo. É muito mais acessível hospedar-se em Portugal (e no resto da Europa também) do que no Brasil. E, sendo em Garanhuns no Festival de Inverno, é um assalto à mão desarmada. Os hoteleiros pensam que aumentar absurdamente as tarifas é um bom negócio. Pelo contrário, acaba por espantar o turista, que acaba desistindo de visitar a cidade, neste evento ou em outras oportunidades.

Contudo, o mais caro no Brasil é a moradia. Parece-nos que Garanhuns assumiu a sua vocação de cidade universitária, com três instituições de ensino superior em funcionamento e uma em processo de autorização. Desta forma, acorrem para cá professores e estudantes de todo o Brasil. Se já tínhamos uma espécie de bolha imobiliária devido ao monopólio do setor, hoje há uma hipervalorização das moradias e terrenos, independente de onde sejam localizados. Para ter uma ideia, há uma casa por trás da nossa, novinha, três quartos, toda na cerâmica, segura, bonitinha. Está alugada por 450 Reais. O imóvel em si até vale a mensalidade, mas a rua... No nosso bairro não há pavimentação, não há saneamento, localiza-se a mais de 3 km do centro da cidade (o fim do mundo, para nossos padrões), fatores que desvalorizam o imóvel. O terreno vizinho a minha casa está à venda por 70 mil reais. Caríssimo! Conversava sobre essas impressões com Claudinha e Rosana, as meninas da Coordenação de Direito. Rosana nos disse que um terreno vizinho a casa dela (área nobre de Garanhuns) está à venda por 500 mil Reais. Em meio a risadas, fizemos o cálculo: se o terreno vale 500, a casa da nossa amiga vale no mínimo um milhão! Nem sabíamos que trabalhávamos com uma milionária!

Quando se perde a noção do valor das coisas é sinal de que os valores essenciais já foram perdidos há tempos. Minha mãe dizia que houve uma época que era tudo tão caro que a farinha era vendida em litro e que a carestia era um sinal dos tempos. O fim do mundo já foi anunciado através de taxas e tarifas. Nessa época, o povo vivia a matar cachorro à grito. Hoje, ainda não gritam. Pelo menos, estão calados até a bolha estourar.

Até amanhã, fiquem com Deus

3 comentários:

  1. Sabe Aninha, eu já venho comentando há muito tempo os absurdos dos nossos preços e, particularmente, em Garanhuns. Acredito, às vezes, que me encontro noutro país, com um nível de renda elevado. A renda média mensal de Garanhuns é algo em torno de R$ 780,00. Agora a pergunta, onde diabos o povo arruma tanto dinheiro?

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  2. Pois é, Cândido! Só pode ser às custas dos tios Master e Visa, além de uma bela coleção de carnês na bolsa. Estamos deslumbrados com essa fase de melhoria econômica, o que põe em risco o equilíbrio financeiro conseguido a muito custo. Falta juízo no mercado!

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