sábado, 10 de novembro de 2012

Quem tem medo de Sônia Bridi?

Estava olhando as conversas do povo na fofoqueira eletrônica e através dessa tribuna popular é muito fácil interar-se das condições do tempo. Outro dia, o Ronaldo César, estudante finalista de Direito na AESGA e um dos blogueiros mais conceituados do interior de Pernambuco fez uma interessante enquete via Facebook: diga como está o tempo onde você se encontra agora. Choveram respostas dos quatro cantos de Pernambuco, Paraíba e Alagoas, e algumas pitadas de exterior. Geraldo contribuiu com as condições de temperatura de Buenos Aires, e eu partilhei os 12 graus vivenciados em Aveiro. Aqui, o tempo já começa a arrefecer, as temperaturas caíram um bocado, temos alguma chuva, como aquelas tempestades repentinas do Recife em que o céu parece que se abre e desaba sobre nossas cabeças em pingos grossos, para logo depois abrir um sol num céu azul sem nuvens. A vantagem aqui é que não há calor, já estamos com os nossos casacões pesados e nossos óculos escuros fashion. Neste tempo não há feio que não fique bonito. O inverno é bem mais elegante que o verão.
 
Enquanto nos adaptamos a estas temperaturas mais suaves - Aveiro fica na região das Beiras, no litoral e Portugal é o lugar mais quentinho da Europa. Portanto, para nós, pior seria se mais para dentro do velho continente fosse. Já perdi as ilusões acerca disso e só me convidem no verão. No inverno é daqui pro sul e olhe lá! - nos trópicos começa a esquentar a chapa para o verão. E esse ano, ao que me parece, através dos depoimentos dos internautas, a coisa parece que anda meio descontrolada. Apesar de ouvir na minha memória o Prof. Jasiel repetindo "Clima é a sucessão habitual dos tipos de tempo", estamos vivendo uma mudança climática. Não deveríamos estranhar esta evidências, pois o planeta sempre funcionou em ciclos e as imensas ossadas dos dinoussauros estão, testemunhas mudas da história. A nossa vida é regida por ciclos, ninguém é criança para a vida toda, embora alguns insistam e manter inconvenientes comportamentos adolescentes. Mas isso já é matéria para a ala psi e eu não ouso me aventurar nestas searas psicológicas. Limito-me apenas a constatá-las. Pois, como dizia, a grita dos internautas foi do calor absoluto (34, 36 graus em Garanhuns a esta época é um absurdo) a uma onda de ventos  fortes, que derrubam os varões das cortinas e arancou 5 telhas do telhado da minha casa de lá. Até então, o telhado santificado feito pelo Irmão tinha escapado incólume as grandes chuvas de vento que muitas vezes infiltrou na casa dos bacanas, enquanto o nosso telhadinho quase pré-colombiano de tão bem feito, escapava às intempéries. Penso que a nossa moratória em Cristo para desastres naturais acabou-se. O jeito foi pedir a "Seu" João para repor as benditas telhas. Lá, no nordeste do Brasil, estamos vivenciando um ciclo prolongado de secas. Prever-se que no período de 2012 a 2014, as chuvas serão esparsas e mal distribuidas. Aprofunda-se assim o abismo da miseria, pois, apesar da seca ser um evento climático comum na nossa região (estamos encravados no semi-árido, só com um clima mais ameno por contada altitude), ainda não tivemos a capacidade técnica de desenvolver soluções criativas para o enfrentamento as secas. Seria isso um problema climático, que resvala no "foi Deus que quis", ou pura incompetencia humana?
 
No mesmo período em que acompanhava estas discussões facebookianas, vi uma conversa de Adgar e Dayse, dois ex-alunos da FDG (penso que ambos figuram na lista dos meus melhores). Ela, trabalha na AESGA, e ele, afastou-se agora a pouco, penso que está na SDS. A conversa foi assim: 
  

Mayara Sena Gueiros nem me fala.. me da uma angústia, um medo.. mudo logo de canal!! =/
Adgar Rodrigues Sônia Bridi gosta de assustar.
Marianna Godoy Gosto não também!! :(
 
Engraçado é que, enquanto a maior parte dos internautas que são meus amigos falavam dos rigores do tempo na nossa região, esses jovens assistiam temerosos um programa de TV, e eu concluia a leitura do capítulo 8, do Diário do clima, da Sônia Bridi. Esse capítulo aborda as polêmicas inicitivas italianas para conter o avanço do Mar Adriático sobre Veneza, um patrimonio mundial dos apaixonados.  Ora, se a ocupação litoranea já sofre com o avanço do mar - para cosntatar isso basta ir no Janga, em Paulista, ou em Barra Grande, em Alagoas, cujas mansões de veraneio à beira mar estão com a água à porta ou já de casa a dentro - imaginem numa cidade uma cidade que vive literalmente dentro d'agua. O projeto Moses, me impressionou pela descrição perfeita da jornalista. Depois da leitura fui procurar no YouTube a reportagem exibida pelo Fantástico. E é realmente uma obra magnífica da engenharia. As barreiras para enfrentar a Acqua alta são impressionantes, o que é afirmado pelo seu idealizador, de maneira simples e pragmática, típica dos engenheiros: "Havendo vontade política e dinheiro, a engenharia resolve os seus desafios." (p.79). Numa alusão ao filme "Quem tem medo de Virginia Woof" (1966), que relata as verdades escabrosas partilhadas entre dois casais embriagados, fiquem pensando: "Quem tem medo de Sonia Bridi?" Pelo jeito, a jornalista da Vênus Platinada mete medo ao divulgar as previsões dos estudiosos do clima ao redor do mundo.
 
Contudo, obviamente o modo de vida que construímos também contribui para a aceleração dos efeitos negativos das mudanças no clima. Produzimos muito, consumimos de uma maneira exagerada. Para vocês terem uma ideia, era isso ai que estava na minha caixa postal após quase 3 meses no Brasil.
 
O que me interessava era apenas a pilha da frente de contas a pagar. O resto atrás é publicidade, ou seja, papel que vai para o lixo. Por mais que se recicle, há um dispêndio de energia e água para produzir esse material, que não me interessa de modo algum. Há quem vá em busca das ofertas e por uma economia de cêntimos queime combustível fóssil em seus carrões, num exercício de economia burra.
O que me consta é que a questão da mudança climática tem três dimensões: 1) O ciclo natural de mudança que invariávelmente irá ocorrer. 2) A vontade política e a aplicação dos recursos em vistas de conseguir um equilíbrio mínimo neste cenário mutante. 3) O modo de vida predatório que criamos. Será que é preciso consumir tanto, possuir tanto para ser feliz? É certo que continuar do jeito que está, nessa ritmo acelerado de destruição o futuro será mais quente, o mar mais alto, a poluição mais densa. Talvez não para nós, mas para nossos netos ou bisnetos. Dessa realidade não há como fugir. E não há como mudar o canal! 
 
Até amanhã, fiquem com Deus.
 
 

6 comentários:

  1. Aninha você não existe... adorei o texto, como sempre você arrasa! Fico feliz por ter me citado, mas que dá muito medo dá sim hehehehe. Mesmo em outro continente fica ligadinhas no besteirol da gente por aqui... kkkkk. Obrigada pelo elogio "penso que ambos figuram na lista dos meus melhores", agora tow me sentindo! Você sabe do quanto te admiro neh... bjaum!!!

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    1. Como disse ao Adgar, estou sempre conferindo como vocês estão e torcendo para que tudo corra bem. Beijos!

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  2. A lucidez de Anna Cecília é espantosa. Ela tem aquela característica nata dos sensatos de conseguir observar algo, analisar, e oferecer uma opinião para a coletividade, a partir das próprias situações que vive, como neste caso além-mar. E suas opiniões são feito aquelas de fim de conversa, quando alguém registra a opinião de outro: "Pronto, tá aí, disse tudo!". Estes textos portugueses poderiam virar um livro em terras ex-coloniais! Bjão, Aninha! E obrigado pela referência, só discordo de ser tudo isso aí, e elogio de amiga é sempre suspeito!!

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    1. Wow, Ronaldo, obrigada pelos elogios. Você é sempre muito generoso ao linkar o Diga as novas no Blog do Ronaldo Cesar, partilhando esses textos com os seus leitores. Obrigada pela companhia!

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  3. Existe teorias de que essa estória de mudanças climáticas é balela! A água do mundo não vai acabar! tem o ciclo da água né!

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    1. O mal maior do aquecimento global é o excesso para mais ou para menos: muita água onde já tem água, nenhuma água onde já há pouca água. É um problema muito sério.

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