quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Digam-lhe que fui ali: Barcelos

Então, já amanhã recomeçam as aulas de Luiza. Eu fiz todo o esforço do mundo para concluir a primeira versão do referencial teórico da tese durante 2012. E não é que consegui?! Hoje, pela manhã, liguei ao orientador para levar-lhe o material impresso e encadernado. Preferi fazer assim pois amplia o olho de caçador de formiga na floresta que ele tem para encontrar as falhas. Portanto, após gravar as interações na Comunidade de Práticas dos Professores da AESGA no Facebook, plataforma utilizada nesta investigação, parei um pouquinho para jogar uma conversa fora com vocês, retomando as andanças pelo Minho, que empreendemos no último (e tão recente!) dezembro.
Sabe daqueles dias que não era para sair de casa? era eu no dia 19.12! Após o checkout na pensão, fomos à Estação de São Bento para tomarmos o trem para Barcelos, a cidade do lendário galo, que é o símbolo maior de Portugal. Barcelos entrou na lista por conta desse bendito galo. Eu encasquetei em fazer "o roteiro do galo": O Galo de Barcelos, O galo do entrudo, na Guarda e o Galo da madrugada, no Recife. O primeiro, já foi. O segundo, será no mês de fevereiro, quando iremos subir a Serra da Estrela para acompanhar a procissão, o julgamento e a morte do galo do entrudo. Se tudo correr bem, iremos lá. E em 2014, no sábado de carnaval, tem o maior galo do mundo. Já tenho enfrentado oposições, mas, darei um jeito de convencer meu maridinho a ir junto. Ainda há tempo para isso.  


Pois bem, retomando: no curto caminho entre a Pensão e a estação, deu-se a desgraça: pisei em cocó de cão. E foi uma pisada daquelas, dignas de virar fóssil. Estava com as minhas botas "croc-croc" (chamo-as assim porque ela faz esse som quando piso com o pé esquerdo. Quase joguei-a fora ainda na primeira semana de uso, mas, depois da primeira chuva, percebi que ela é uma bota quase perfeita. Depois, faço um post "fashion" sobre sapatos), e o cocó entrou nas ranhuras do solado da bota para caminhada em montanhas. E ficou aquela inhaca. Quando entramos no trem, com destino a Valencia (ESP), fui a casa de banho do comboio antiquíssimo para lavar o sapato, pois, por mais que eu fizesse, nada dava jeito. Isso, aguentando a galhofa de Luiza. Problema resolvido, ficamos olhando o caminho novo para nós. Lá para as tantas, Luiza cochilou. Quando dei por mim, já era a nossa paragem. Sai puxando a menina sonolenta e duas mochilas, trem a fora, para não perder a estação. Nestes trens antigos não há aquele luminoso que informa as estações, assim, quando chegou a nossa, nem sabíamos que era aquela!
Chegamos no Residencial Arantes por volta das 13h30. Um casarão antigo, com belíssimos azulejos na fachada. Ao rés do chão, uma padaria, um restaurante e a entrada da pensão. Tudo Arantes. Subimos a escadaria atapetada de vermelho fofo, e na pequena recepção, não havia ninguém. Na sala ao lado, um cheiro de almoço e um som de pratos nos alcançou. Espreitei pela porta entreaberta e havia uma família sentada a mesa e uma senhora circulando com uma grande panela à mão servindo os pratos de duas moças e um senhor muito arrumado, mas de uma aparência secular. Chamei-lhe a atenção e a senhora veio nos receber. E, com D. Júlia tive o primeiro contato com a pronúncia do Minho: um português rápido e baixo, cuja silabação se perde na rapidez que as palavras são pronunciadas. Além disso, os minhotos falam quase sem abrir a boca. Com certo custo, a mulher nos atendeu bem, perguntou-nos se vinhamos conhecer a feira que acontecia no dia posterior. Eu nem sabia da feira, vinha mesmo para conhecer o galo! Copiou o meu documento em uma máquina ultramoderna e nos conduziu ao nosso quarto, que ficava bem ao lado da mesa, onde a família tomava a refeição. Tony murmurou um "boa tarde" e ninguém respondeu. Nem levantaram o olhar ao nos ver passar. Estranho. Deixamos nossas coisas e saímos em busca de comida.

Depois de muito andar pela rua principal, achamos apenas pastelarias. Entramos numa viela e encontramos dois restaurantes. Optamos pelo Solar Real, um casarão antigo com mais uma escada de pedra. Lá dentro, o ambiente pouco modificado apresentava salas de reifeições. Entramos numa com um lustre imenso pendendo sobre uma diversificada mesa de sobremesas. Tony pediu costela de cabrito e eu dividi uns bifes com Luiza. Mas, lembram-se da uruca que me perseguia desde o cocó de cão? Pois! O arroz era "al dente", que Luiza odeia, o meu bife estava mal passado, que eu odeio, e o cabrito de Tony tinha um creme de alho, que ele odeia. Uma pela outra, o almoço foi péssimo. E o atendimento, pior ainda. O homem era muito chato, e ainda pagamos 1 euro por dois pedaços ridículos de pão.
Igreja da Ordem de Sta Cruz
Luiza e as frutas
Fomos andar pela cidade, que é muito bonitinha, parece uma casinha de bonecas. Luiza colocou na ideia que queria um gelado (sorvete). Entramos na primeira pastelaria, bastante movimentada. Quando a menina abriu o frigorífico para escolher um gelado, a RAPARIGA (no sentido pernambucano!) deu um grito tão grande na menina, dizendo que não podia abrir, que a pobre assustou-se num pulo. Tony calmamente respondeu-lhe: "se não pode abrir, também não pode comprar", e saímos escandalizados com a brutalidade da atendente. Apreciando os casarões com ricas fachadas em azulejos 3D, encontramos um café deserto. Entramos. A senhora foi muito simpática e nos atendeu muito bem. Enquanto bebericávamos nosso café, a senhorinha tentava ligar a tevelisão com o controlo do aquecedor. Quem percebeu a luta da senhora com o controlo errado foi Tony. Daí a pouco, ela chamou uma moça. A moça mostrou que o controle estava errado. E ficou lutando com o controle certo. Não conseguiu. Foi à porta e chamou um homem. O sujeito veio com ares de grande entendido das  tecnologias, e não coneguiu ligar. Pagamos a conta e saímos segurando o riso. Na volta, entramos na Igreja da Ordem de Santa Cruz, um templo muito bonito, curiosamente arredondado. No final da tarde, passamos em uma frutaria e compramos água, maçãs, peras e cerejas. Estavam maravilhosas, mas caríssimas: 8,99 o quilo. Também, são importadas do Chile. Nesta época não há cerejas por aqui.
Arvore de natal em Barcelos
Fomos descansar na pensão e à noite saímos para fazer umas fotos da iluminação de natal, sob uma chuva daquelas, o que abreviou o passeio. Percebi uma grande movimentação no pátio à frente da pensão: estavam começando a arruma a feira. Pensei com meus botões: a noite será longa. Numa ocasião, tive que dormir em uma pensão em Canhotinho, e a feira do município era bem na frente da casa. Eu não preguei o olho com a bagunça, o vai-e-vem, a gritaria... Ninguém merece ser vizinho de feira. Pois, nao ouvi nada, só a chuva a bater na janela do nosso quarto no casarao.
No outro dia, pela manhã, descemos a pastelaria para o pequeno almoço. Estava lotada e a cidade em grande movimentação. Tony e Luiza pediram bolinhos de bacalhau, rissóis e um pão com alguma coisa. Eu pedi um sumo de laranja e uma tosta mista (misto). E quem disse que a tosta veio? Tomei o sumo, e mesmo Tony querendo que eu pedisse outra coisa, fui pagar a conta. Então, a mocinha que nos atendia, engoliu o meu troco. E eu fiquei esperando, e o povo a bater em mim por conta do intenso movimento da manhã de feira... e eu inchando de raiva. Dei uns três gritos na moça, num instante me apareceram com o meu troco. O maior problema da incompetencia do atendimento em serviços é que sobra para a cidade inteira. E olhe que essa já era a terceira experiência negativa em 24hs!
Fomos ver a feira. Realmente imensa, colorida, diversificada. Pareceu-nos maior que a feira de Espinho, sendo que menos organizada. Aqui os artigos são misturados, e os feirantes não são muito amigos dos descontos. Avistamos um fumaceiro lá na frente: eram castanhas! Compramos 2 euros, veio 20 castanhas. Em todo lugar no país, são 12! Além disso, a mulher era muito animada e simpática. Fomos cavoucar nas bancas que vendiam as lembrancinhas. A moça nos atendeu maravilhosamente, foi muito simpática, e ainda fez desconto num galo minúsculo por quem Luiza caiu de amores. Os feirantes salvaram a impressão que trouxemos de Barcelos.



Barcelos em dia de feira!
Saímos a correr com nossas malas, depois de pagar em espécie a hospedagem. D. Júlia não aceitava cartões. Tínhamos que chegar na estação e pegar o comboio para Nine às 11 e pouquinho. De lá, para Braga, a nossa próxima parada.
Depois, há mais história.
Até amanhã, fiquem com Deus, 
  

2 comentários:

  1. Fiquei impressionada com o atendimento ruim dos comerciantes, acaba com a beleza da cidade! Mas que os galinhos de Luíza são lindos, lá isso são! Beijos e saudades de vocês!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não é? Sobra para todos! Se não fossem os feirantes e a dona da pensão, acreditaria que em Barcelos o turista é tratado à pontapés! É preciso muito investimento em atendimento para melhorar o serviço!

      Excluir