sábado, 2 de fevereiro de 2013

Digam-lhe que fui ali: Guimarães

Então, na última etapa das andanças do natal, chegamos em Guimarães. Já mais habituada a pronúncia do Minho, compreendi que as discussões não são brigas, mas a forma de conversar peculiar dos minhotos de mais idade. O Comboio partiu de Braga às 11h35. Faríamos uma paragem em Lousada, e seguiríamos à Guimarães.  Esta estação é um ermo incrível. Não se via vivalma nas redondezas. O frio era grande e a chuva fininha nos perseguia. Para completar, houve perturbação na linha, e, aconteceu o que não tínhamos ainda vivenciado: o trem atrasou 25 minutos. E não tínhamos nenhum pacote de bolachas na bagagem. Com o estômago roncando, chegamos à Guimarães às 13h45min. Foi fácil encontrar o pequeno hotel em que nos hospedamos e o ponto de referência foi infalível: éramos vizinhos da grande árvore de Natal de Guimarães. Luiza ficou muito contente com o quarto, pois havia uma divisão entre o lugar dela e o nosso. Deixamos as coisas e fomos em busca de um lugar para comer. Como não fiz nenhuma pesquisa exploratória, fomos em busca pelo faro. A cidade tinha um clima muito parecido com a primeira sexta-feira do Festival de Inverno de Garanhuns: muita gente chegando, muitos jovens, apresentações culturais em cada esquina. Só depois soubemos que que no outro dia seria o encerramento do ano de Guimarães como Capital Européia da Cultura. Por isso, aquele ruge-ruge nosso conhecido em 22 anos de FIG.
 
Saímos caminhando pela cidade de Martinha, colega do doutoramento, uma linda mocinha e talentosa artista plástica, que vive envolvida com conferências do TEDx, vendo as pessoas sob uma chuvinha fininha. A única mais orientada era Luiza, pois há pouco mais de um mês havia visitado a cidade numa viagem de estudos da escola. No Largo do Toural, entramos num restaurante, mas ninguém deu conta de nós. Curiosamente, nas paredes haviam bandeirinhas do Náutico, Santa Cruz e Sport. Infelizmente, não nos atenderam, e nós saímos do mesmo jeito que entramos. Continuamos a andar, nos prometendo entrar na primeira aberta de porta de bar. Na Alameda de S.  Dâmaso, entramos no Vira Bar, um lugar bem bonito, mas muito escuro. Havia umas pessoas esquisitas, fumando muito e com um visual pra lá de estranho. Um jovem muito simpático veio nos atender e nos convidou a ocupar uma mesa na linda sala de refeições que havia no piso superior. Neste, lindos balcãos floridos, revelavam a praça lá embaixo entre as franjas da cortina rendada. Tocava um jazz onipresente, e apenas havia uma mesa ocupada com três sujeitos e duas moças, uma loura com cara de alemã, e outra vestida de negro, com cabelos cortados à navalha e furos imensos nas meias grossas que cobriam as pernas extremamente finas. Todos falavam em inglês, e no que deu para entender, eram pessoas do Staff do evento. Gente super esquisita. Pelo menos, aqui não éramos a atração. Fomos extremamente bem atendidos e a comida conceitual era ótima. Pedi um peixe com molho de camarão e vieiras (as vieiras foram discretamente postas de lado. Bichos mais feios!). Luiza e Tony comeram um arroz com ervas finas e bifes de vitela. Estava muito bom e não foi caro.

Fomos ver o Castelo de Guimarães, do Século IX. É uma belíssima construção em pedra, que nos conduz a um excelente exercício de imaginação. Chovia fininho, fomos com nossas sombrinhas. Como Luiza já conhecia, ia nos contando o que aprendera na viagem de estudos. Impressionante como essas visitas funcionam bem. A menina ia reproduzindo (com sotaque português e tudo) as informações que as guias e as professoras haviam dado. Logicamente, eu paguei um mico. Subi numa muralha para apreciar a vista, e quem disse que consegui descer os escorregadios degraus de pedra, molhados e cheios de um limo esverdeado? Fiquei lá como uma parva e Tony teve que voltar para me salvar. Apenas me deu a mão, e eu desci com minhas próprias pernas cambaleantes. Era só medo, em segundo, vi meu corpo estendido no chão e uma equipe do INEM me rebocando para o IML.  Na descida da ladeirinha, Luiza começou a se queixar de uma dor na perda esquerda. Como eu já havia travado na descida da muralha, não quis me queixar, mas a minha perna esquerda também doia, como que fez muita ginástica. Tony também reconheceu que a sua perna direita também doia. Devia ser algo da subida do terreno íngreme sob aquele frio de 8 graus.


O Paço dos Duques é um palácio belíssimo. Muito conservado, apesar de ter sido há bem pouco tempo a residência do Presidente da República. Hoje é um museu com mobília e objetos pessoais e de arte dos antigos nobres que lá residiram. Luiza dava pequenas corridinhas  à plaquinha que identificava o local e nos contava a história que aprendera com as professoras. Ela havia me falado muito de uma pequena caminha que havia no aposento do Rei. Segundo ela, a cama era bem pequena (dava para mim com dificuldades) porque na época acreditava-se que quem dormia deitado, morria. Então, dormiam naquelas caminhas minúsculas para ficar meio reclinado. Nestes castelos, passei o tempo a me lembrar de Ilda. Tenho certeza que voltaremos juntas a este lugar.

Voltamos ao Hotel para descansar um pouco. Luiza estava entusiasmadíssima com a privacidade recém conquistada pelo layout do quarto, e nós também. À noite, saímos para ver a cidade. A decoração de natal era restrita, mas de bom gosto. Fomos ao shopping, pois meus matutos queriam pizza. Optei por mais uma sopa de pedra. A servida em Guimarães é simplesmente deliciosa. Na volta, ainda ficamos esperando o ensaio geral do espetáculo de encerramento do evento. Mas, demorou muito e o frio era intenso. Acabamos indo embora sem ver o cavalinho andar pelo Largo.






No outro dia, saímos para a cidade em efervecência. Guimarães estava tal qual Garanhuns no primeiro sábado do FIG. Muita gente bonita, muita arte, muitos eventos. Visitamos a Igreja de São Francisco que é simplesmente maravilhosa, riquíssima, cheia de ouros (que nós sabemos muito bem de onde vieram) e azulejos. Era tudo de um azul e dourado intenso. Fomos até o Largo da República do Brasil, onde há uma linda Igreja gótica e lindos jardins.


Do outro lado da praça, já na esquina da subida da muralha há o Museu de Alberto Sampaio. Em Guimarães é um museu a cada esquina, é preciso escolher um para visitar. Além de uma belíssima coleção de pintura, ourivesaria litúrgica e cerâmica,  nos chamou atenção a exposição das roupas de Nossa Senhora. Um verdadeiro luxo fashion da Mãe de Jesus. As roupas datavam deste o Século XVI, todas bordadas pelas princesinhas ao longo dos reinados. Uma ideia fantástica, uma exposição de muito bom gosto e muito conhecimento. Passei o tempo inteiro a me lembrar de Priscila Lopes. Ela iria gostar disso aqui.
 
 


O tempo passa muito depressa, tínhamos que fazer o chek out no Hotel, pois a cidade estava lotada. Se pudesse, teria ficado um pouco mais. Contudo, já estavamos viajando há uma semana. Era preciso voltar a vida real e encarar o retorno de Tony ao Brasil e o meu atrasado e enrascado serviço de investigação. Por ansiedade, não passei bem a noite, estava com um humor horrível na manhã seguinte. Fui uma péssima companhia de viagem: ao entrar no comboio, comecei a dormir em Nespereira e só me acordei em Trofa. Depois, já na linha do Vouga, voltei a dormir em General Torres e acordei em Estarreja. Enquanto eu dormia e me acordava, Tony distraía Luiza, fazendo truques de mágica para a pequena e encantando um velhote ingênuo que estava sentado na outra fileira.

Foi um excelente passeio, uma boa temporada. Agora, vamos trabalhar porque junho já chega e eu preciso entregar ao menos a primeira versão da tese ao meu compreensivo e exigente orientador.


Até a próxima viagem. Fiquem com Deus.         

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