sábado, 25 de maio de 2013

Pet


Juju, em julho de 2012
Na minha contagens de dias, falta pouco para encerrar esse muito. E tenho ainda muito trabalho pela frente, mas, nada me impede de cavaquear um pouco com aqueles que dedicam uns quinze minutos por semana para saber das novas. É tudo isso que me move, pois, como dizia a amiga Maria Manuel: "toda sexta-feira, ao final da tarde, eu desisto de tudo. Mas, o sábado vem para dormir mais um bocadinho, para um café (descafeínado, que comprei por engano) sem correrias, uma horinha para vista d'olhos na vida alheia, enquanto Luiza assiste seus desenhos acumulados cuidadosamente gravados na box durante a semana. E tudo isso me faz retomar mais uma vez e desistir de desistir. Já diria o poeta maior (desculpa, Camões!): "Navegar e é preciso" e com uma pequena correção: Viver também é preciso. As manhãs de céu azul profundo também ajudam. Como bons gentios tropicais, somos solares e andamos cheios dessa primavera bipolar. Na rua dos pestinhas, as roseiras desabrocharam todas de uma vez. A rua com cheiro de jardim por todos os lados me provoca uma prece todas as vezes que passo por lá para ir ao Minipreço: rezo secretamente (agora não mais!) que a crise econômica não façam crescer os muros portugueses. Nossas casas brasileiras, por mais bonitas que sejam, têm sempre um ar de prisão, sucumbidas entre altos muros. Gostaria de ter um murinho baixo e roseiras, mas a conjuntura social brasileira não permite. O primeiro projeto da nossa casa era quase europeu, mas, aos poucos foi se transformando numa coisa híbrida e inacabada. Tem nada não, ando sonhando em voltar e colcoar metade dela abaixo. E se o vizinho que tanto nos alertou que "aquilo não ia dar certo" quiser criticar, que fale. Todos tem direito a um "eu não disse?!", e eu, como disse Mahria, faço igual a propaganda no YouTube: Ignoro em 5 segundos!  Se essas conversas me incomodassem, eu não teria saído na calçada de casa, muito menos ainda para o outro lado do oceano. Navegar é preciso, nem que seja pelas ruas poeirentas da Cohab II.
 
Além dos lindos jardins floridos desta época, os murinhos baixos nos proporcionam alguns grandes micos. Não é raro um cão imenso pular nas duas patas dianteiras e nos fazer pular de susto, aos gritinhos. Aos poucos, e depois de muitos sustos, vamos nos acostumando com os donos destes sítios, e até fazemos amizade. Após dois anos e meio, os três pestinhas (três caezinhos pequenos que moram numa casa verde na esquina da Rua de Araújo e Silva, por nós apelidade de "rua da matemática", porque eu fazia este caminho para levar Luiza à Escola da Glória, tomando a tabuada) já não nos assitem e são até amigáveis. Nunca mais vimos o Pepe, que mora numa casa quase em frente da morada dos pestinhas. Como ele era um cão idoso, penso que morreu. Os cães do percurso acabam se tornando amigos muito animados.
 
Quando fomos em junho do ano passado, Tony arranjou um cão para Luiza. Na verdade, ele sempre quis ter um cão Basset, o popular "cão da Cofap" no Brasil. Depois de muito prometer e falhar, certa tarde de julho ele chegou com uma casinha de cão debaixo do braço. Dentro, havia um bichinho muito medroso, tremendo-se toda, logo procurou o aconchego de colo de Luiza. Passamos dias chamando a coitada de Juca, até que a vizinha da frente esclareceu que o cão era fêmea. Passou a ser Juju. Depois da (terrível) fase de adaptação, para aprender a fazer xixi e cocó no lugar certo, educamos-na a dormir na malinha na área de serviço. Juju se acostumou com a casa e conosco e desenvolveu hábitos encantadores. Quanto Tony abria a porta pela manhã, ela corria e ia diretinho me acordar, apoiando-se nas patas dianteiras e colocando o fucinho comprido na cama. Se eu não abrisse os olhos, ela latia forte, abanando a cauda em forma de bom dia. Depois, ia  chamar Luiza. Se aporta do quarto estivesse aberta, ela entrava. Se não, ficava lá sentada até abrirmos um bocadinho, só o suficiente para passar o corpinho delgado. O sonho de consumo de Juju é um tapete em forma de joaninha, que Mytsi deu a Luiza quando ela era bebé. E tem os brinquedos herdados da dona. Engraçado vê-la "cavalgando sua centopeia" como diz Luiza, enquanto a cadela carrega a centopeia de tecido, que ganhamos numa viagem à Paulo Afonso (BA). Ainda tentamos traze-la para cá, mas as tarifas e as exigências da emigração não tem graça. Ainda mais, era uma condenação deixa-la viver em um T0, já habituada a uma casa razoavelmente grande para os nossos atuais padrões. Ficou com Tony, que disciplinou a cachorra de forma que ela só come ração e vive lá fora. Ás vezes ele gasta uns minutos para acompanhar as peripécias da Juju caçadora de pardais. Ela brinca com tudo: garrafas pet, lagartos de muro e os pardais desaforados. Ela late tanto para os pardais que chora de latir, tentando pega-los. E os terríveis pássaros urbanos não estão nem ai para ela. No final da nossa rua há uma creche, e à hora da saída dos miúdos é uma festa. A aresta que fica ente o portão e o muro é o ponto de observação do cão, que ladra sem parar, enquanto os meninos provocam-lhe a fúria de pequeno canino. Andou aprontando também. Um dia, estávamos a conversar pelo Skype, e ela muito caladinha dentro de casa, mastigou uma gravata e comeu dois botões de um terno de meu marido. Depois de dar-lhe umas lapadas com um chinelo 41, teve que levar o terno para a companheira Luiza, uma colega de trabalho, trocar os botões mastigados pelo cão. Devo essa fineza a Luiza, da cozinha da Prefeitura, pela assessoria de alfaiataria.
 
Cão é uma festa. Quem nunca teve um, não sabe a alegria que eles nos recebe quando voltamos para casa. Contudo, como todo animal de estimação dá trabalho, dá despesa. Não é à toa que o mercado Pet vem crescendo ano após ano. O Brasil é o segundo mercado mundial desse tipo de serviço, perdendo apenas para os EUA. Essa semana mesmo, fui buscar a bateria de Petronildo na Worten, e voltei com uma trela, uma coleira de peito e uma bolinha com guizos, mimos para a nossa neguinha. É certo que há muito exagero, coisa de gente doida mesmo. Ofurô para cachorro é um pouco demais. Não gosto de cachorro na minha cama, nem sobre as cadeiras. Não aprecio bicho vestido de roupas. Eles, coitados devem se sentir ridículos. É certo que os bichos precisam mais que água, comida e lugar para dormir, mas nada de excessos. Bicho é bicho e gente é gente. O que eles precisam é de cuidados, de companhia e de carinho. Quem não tem paciência, não deve se aventurar a criar animal, pois é um ser vivo que tem suas necessidades. A literatura está repleta destes amigos que se tornaram personagens inesquecíveis. Quem não se lembra da Cachorra Baleia, de Vidas Secas? E da Cachorra Oferecida, de Tocaia Grande? Há também os best seller, como Marley, o pior cão do mundo. Todos temos na nossa história de vida, a participação desses animais, um muito queridos, outros terríveis. Os cães são amigos fiéis, animados e presentes. Fazem parte da família e ficamos muito triste quando nos deixam e vão para o céu dos cachorros, vizinho do céu dos gatos, separados apenas por um muro baixo.
 
Até amanhã, fiquem com Deus.
 
 

7 comentários:

  1. Interessante essa reflexão sobre bichos, inclusive adorei as desculpas ao Camões em detrimento do outro escritor, Fernando Pessoa , se n me falha a memória.Eu me acostumei a gostar de gatos por causa de Candido e Mytsi. Não sei onde entro na tua história, talvez na passagem de não gostar de ver os bichinhos vestidos, talvez...Porém vi uma certa necessidade em países frios que visitei, ao ver os cachorros e bichanos protegidos com roupinhas... mas, ainda assim, achei um tanto ridículo. N sabia que Tony era encantador, ou pelo menos adestrador de cães interessante! Existem estudos que comprovam que ter um animal de estimação torna as pessoas mais tolerantes e que os mesmos ajudam na recuperação de pacientes hospitalizados, tanto é que o Albert Sabin liberou animais de estimação em visitas a determinados tipos de pacientes lá internados. E sim, bichinhos devem fazer parte da família, na medida do possível, serem bem tratados, com boas doses de comidinha e água e carinho e sim espero que tenha em algum lugar na eternidade. Um lugarzinho prá eles, como vc diz, separados por um muro baixo!

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  2. P.S.: Localizei-me no texto, é que quando abri o post a primeira vez, não abriu todo e eu n vi a parte do "You Tube", e é isso aí mesmo Anninha, tem gente, que 5 seg é muito! kkkk

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    1. É. Concordo contigo que por estas bandas, ainda vá lá um cachorro de roupa. Mas, no nordeste do Brasil? Coitado, passa ridículo! kkkk! Outro dia, Luiza queria que eu comprasse um abrigo para Juju, que custava 25 euros. Ninguém é doido não! hehehe! Beijos, saudades!

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  3. Lindo texto... Eu queria ter um cachorro, mas o povo daqui de casa é contra, só gostam de gatos. O primeiro cachorro que eu me lembro na vida foi Fidel, o cachorro de D. Emília, madrinha de Izabel. Era um cachorro enorme e manso, que os moleques haviam cegado um dos olhos com uma pedrada. Mas, é isso, nem todo mundo respeita os animais, e esses com certeza não vão para o céu. Beijos e saudades. :)

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    1. Hehehe, Fidel é um excelente nome para um cão. Tenho muita raiva quando vejo desses videos que denunciam violência contra os animais. O Último que vi foi de um coitado de um Poodle agredido por uma louca e o seu filhinho monstro. Se não tem paciência, não cria o bicho. Ninguém é obrigado a ter animal em casa, né? Beijinhos!

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  4. Eu me lembro de Tufão, cãozinho nervoso, que desconhecia a gente. Morria de medo, mas era muito bonito e querido por todos.

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    1. Tufão?! Ótimo! gosto de bichos com nomes autênticos. Esse deveria ser um danado para ter um nome desses! Beijos!

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