domingo, 3 de novembro de 2013

Depressões e outros bichos

Conforme havia me prometido, tão logo voltássemos a residir nesta cidade, voltaria a mexer na casa. Seguindo a "boa" tradição da administração pública brasileira estamos em reforma numa obra inacabada. Melhor explicando: no próximo dia 20.11 completará 6 anos que moramos na casa própria. Construi-la foi uma batalha, e termina-la um projeto sempre adiado. Mal comparando, como dizem os munícipes de Caetés, é como a Sagrada Família de Gaudi: obra eternamente em construção. Estamos dando un trato na infraestrutura, para modificar a entrada morada, que por uma falha de projeto, ficou na rua errada. Se não há infraestrutura na rua principal, imaginem numa rua secundária?! Vai nos custar mais algum dinheiro e muitos neurônios, mas, enfim, vai ficar bom.  Desta forma, precisamos concentrar investimentos e encarar o desafio da construção, e quem passou por isso sabe: o acabamento não é nomeado assim à toa. É um acabamento financeiro-emocional que testa limites até dos mais fortes. Sabendo disso, nos preparamos para aturar os lampejos artísticos do pedreiro e sua equipe, que, apesar de trabalhar muito bem e ser muito econômico, só trabalha de terça à sexta, até às 17hs. Segunda feira é dia de curar a pândega do final de semana. Além disso, não foge à regra da categoria: compramos o material hoje e daqui a dois dias já falta alguma coisa. Já nos acostumamos a isso, e para coisas pequenas, somos clientes dos pequenos empreendedores do bairro. E todo final de semana, temos que nos virar para pagar a fortuna que eles nos cobram.
Por isso, a nossa rotina é um vai-e-vem de pedreiros e ajudantes, um mundo de poeirinha dentro de casa. Faz parte da obra. Luiza perdeu a área externa e o jeito é aturá-la com sua trupe dentro de casa. Juju é a mais sentida. Além de perder a área externa e ficar emparedada na varanda o dia inteiro, só tinha licença para andar dentro de casa nos intervalos de almoço. Daí, a cachorra foi entristecendo (dê-me licença de dizer 'cachorra', acho mais simpático que 'cadela') e ficando nervosa. Até que um dia, a reforma chegou na área de serviço, onde ela estava instalada desde que chegou nesta casa. Numa só manhã, Juju perdeu seus domínios, e ainda viu o pedreiro pegar a sua malinha (uma mala estragada no aeroporto que virou cama de cachorro) e jogar desajeitadamente na garagem. A cachorra deprimiu-se que não queria mais sair da mala. Ficava lá de guarda, e quando alguém chegava perto, ela atacava como um cão feroz. Chorava durante a noite, se escondia debaixo do sofá do quarto quando entrava na casa. Uma cara triste de fazer dó. Nem quando abríamos o portão e ficava de porteira aberta,  a cachorra não se animava para sair. Só não deixou de comer: a pretinha come que só um javali. Ainda pensamos em levá-la ao veterinário, crentes que ela estava doente. Mas, numa conversa com colegas de trabalho, me explicaram que a Juju estava mesmo era com banzo, uma espécie  de depressão animal. Mudanças bruscas na rotina causam estas oscilações emocionais nos bichos, e cachorro, particularmente é muito sensível a estas mudanças. Com a paciência de um Beagle, fizemos carinho, demos comidas especiais, coloquei-a no colo, explicando-lhe o necessário desapego às coisas materiais. Não funcionou. Lutando com a vontade de dá-lhe umas lapadas, mostrei-lhe a 42 (chinelo!) de Tony, a quem ela deve obediência só em olhar. Resultou parcialmente. Na última quinta-feira, por acaso, encontramos na aula de natação de Luiza com Charlyton, um amigo de Faculdade de Tony. Este moço cria cães e entende muito da psicologia dos bichos. Ele nos aconselhou a "botar moral" na cachorra e mostrar a ela que quem manda somos nós. Até mesmo a malinha nos pertence. Se não ficar com  ajeitado, ela num instante se orienta. Mudamos de tática e a danadinha já estar a correr dentro de casa e respondendo aos latidos dos cães da vizinhança. Ainda à pouco Tony abriu o portão e ela ganhou a rua, como nos velhos tempos. Ainda bem. Eu não tenho lá muita paciência com cão deprimido. Sei que a depressão é o mal do século, doencinha silenciosa que vai minando a resistência do sujeito, de forma que fica ele contra ele mesmo. O jeito é reagir e não deixar a melancolia se instalar, pois de tristeza também se morre.
Até amanhã, fiquem com Deus.  

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