domingo, 16 de novembro de 2014

Digam-lhe que fui por ai: Juazeiro (BA) & Petrolina (PE)

Hoje, em pleno domingo, acordei-me às sete e pouquinho. Também, o tempo está tão quente que não tem condições técnicas de permanecer na cama. Além disso, estamos em obras e há muito para se arranjar para mais uma semana de "baticum" nesta casa. Mas, isso é uma outra história. Chorarei as pitangas domésticas-econômicas em uma outra oportunidade. Até porque quente mesmo estava quando chegamos a semana passada em Petrolina, sertão pernambucano,

Antes mesmo da confirmação da defesa da tese, fizemos a inscrição no III Fórum das CPAs de Pernambuco, que este ano foi sediado pela UNIVASF. Nas edições anteriores, quem sediou foi a UFRPE/Recife. Só estive na penúltima e saí corrida, na metade dos trabalhos, com uma crise de alergia por causa do ar condicionado e o choque de temperatura. Desta vez, mais aclimatada, não tive problemas. Mas, o calor do semiárido é mesmo impressionante. Mesmo assim, para mim, era uma oportunidade de reencontrar o sertão pernambucano depois de quase oito anos.

Iria pela AESGA a equipe técnica da CPA: Izabel, Virgínia, Ricardo e Rosa Antunes. Mas, a equipe acabou tendo que fazer outras opções. Izabel, foi para o ENANGRAD em Belo Horizonte, Virgínia não pode ir por razões pessoais. No final, eu fui agregada ao grupo como assessoria, e formei o trio com Ricardo e Rosa. Reservas feitas, passagens de volta compradas, o carro da IES nos levaria na travessia do sertão. Fomos com Neudson, que presta serviços para Autarquia, cujo carro é bem mais confortável que as nossas nada suaves Doblôs institucionais.

Nossa rota de ida,  marcada de azul

Pegamos a rota de Salgueiro (PE), pois, apesar de ser uma hora a mais que o percurso pela BR 423, o caminho é melhor. Esta área é meio complicada, uma vez que atravessa o território conhecido como 'polígono da maconha'. Neste pedaço de Pernambuco há operações constantes para repressão ao plantio da erva maldita, que por sinal, segundo dizem, alcança níveis inigualáveis de qualidade e produtividade. Além disso, as lonjuras são imensas. Tudo é distante e há poucos pontos de apoio. Se ocorrer algo com o veículo, fica no meio da caatinga, ao Deus dará, sem sinal de telefone móvel.

Saímos de Garanhuns por volta das seis horas, pois precisávamos esperar a empregada de Rosa chegar. A viagem foi tranquila, sete horas e lá vai de conversas, risadas e sonecas. Paramos em Arcoverde para o café da manhã num posto, que por sinal, tem um excelente serviço. Nem todo aeroporto tem os banheiros do Posto Cruzeiro. E o buffet livre do café da manhã é ótimo, vale mesmo os 17,80. O resto do caminho foi corrido, com apenas uma parada nas proximidades de Ouricuri. Na altura de Santa Maria da Boa Vista, Rosa começou a reclamar de fome. Com muito jeito, Neudson convenceu-a que deveríamos nos aguentar até Petrolina. Abrimos os sacos de lanches que os colegas trouxeram, e daí, eram apenas mais alguns quilômetros, entremeados com dois "pare-e-siga", pois havia trecho de reforma na estrada.

Chegamos a Petrolina por volta das 14 horas. Fomos direto ao Bodódromo para almoçarmos, aproveitando desde o primeiro momento a culinária típica da região. Escolhemos o restaurante Curaçá, pois havia mais gente. Seguindo a máxima de Mano do Caetano, quando houver três restaurantes abertos, dois quase vazios e um cheio, vá para o cheio. Certamente, a comida é melhor. Sob um calor de 40 graus, nos instalamos numa mesa próxima a grande porta escancarada e pedimos dois meios almoços: meio baião com churrasco de cordeiro e meia carne do sol. Acertamos em cheio! A comida era deliciosa!
Restaurante Curaçá, no Bodódromo, em Petrolina

Baião de dois, macaxeira frita e churrasco de cordeiro. Tudo de bom!

Já devidamente alimentados, atravessamos a ponte e chegamos em Juazeiro (BA), pois optamos ficar num local mais próximo do evento. A UNIVASF é um multicampi, com sede em Petrolina, e campus em Juazeiro, Senhor do Bonfim e Paulo Afonso, na Bahia, e São Raimundo Nonato, no Piauí. Apesar do encontro ser das IES de Pernambuco, todas as atividades se desenvolveram no complexo multieventos da Universidade, instalada em Juazeiro. Após descansarmos um pouco, fomos a abertura do evento, e participamos de uma palestra excelente com a Profa. Stela Meneghel (MEC/INEP), que trouxe-nos notas técnicas publicadas pelo INEP no dia anterior. Já estava animada com a possibilidade de aprender coisas novas, pois, a avaliação institucional é um campo muito novo para mim. Aliás, nunca trabalhei com avaliação, pois tenho minhas reservas a esta área do conhecimento educacional. Sempre tive a impressão que é muita teoria bonita para práticas tão destoantes. 

Passei uma noite mais ou menos, pois o hotel que ficamos não era um ouro 18, apesar de ser limpo, seguro e ter um bom atendimento, com um bom café da manhã. Além disso, aprendi com os carinhas do "Não conta lá em casa", que o importante é ter cama, porta, e sobretudo, uma rede internet wireless razoável. Na manhã seguinte, após quase detonar a porção de um melão bem cortadinho e tão doce como mel, fomos, como bons estudantes, ao evento. Arranjamos um taxista indicado pelo hotel, que nos acompanhou durante todo o período que ficamos em Juazeiro. 

Nós, no evento.

Pela manhã, destaco a participação da Gestora da FAFIRE, Ir. Maria da Graça Soares, que fez uma palestra magnífica, seguida por uma discussão de alto nível. Virgínia sempre nos falou muito bem da professora, que ministra aulas na pós graduação de Gestão de Negócios da AESGA, mas, foi a primeira oportunidade que tive de ouvi-la. E foi muito proveitoso. Aprendi, através de sua prática, que a avaliação pode ser uma excelente ferramenta de gestão para as IES. Basta que o gestor permita que a avaliação seja feita e que os resultados, sejam eles quais forem, não sejam escondidos a título de insubordinação. É por medo de encarar a realidade que se perde a oportunidade de fazer ajustes necessários à gestão da escola. 

Pronto. estudamos durante o dia inteiro e ao cair da noite, fomos passear na orla do Rio São Francisco. Depois de uma pequena caminhada, escolhemos um dos muitos barzinhos. Ricardo e Rosa partilharam cervejas. Eu pedi um suco de abacaxi. Conversamos muito e demos muitas risadas, com as histórias de Rosa. Dentre estas, ela contou-nos que no início da década de 1970, veio ministrar um curso em Petrolina e, que houve uma festa num barco. E ela passou a noite inteira a dançar com um Padre holandês, que era bem esperto para ser padre. No passeio, encontramos esta carcaça. Ricardo, espirituoso como sempre, disse: "Professora, é capaz deste aí ser o barco onde a senhora dançou com o padre." A foto noturna não ficou boa, mas, no outro dia eu fugi do evento para fazer as fotografias, e então, eis o Titanic da Profa. Rosa:

O "Titanic" de Rosa Antunes, na margem bahiana do Rio São Francisco

E fugi mesmo. Garanto que se vocês acompanhassem a discussão da última manhã, uma sexta-feira de céu absolutamente limpo, vocês fariam o mesmo. Vou me abster de comentar, mas, quando é preciso fazer uma deliberação, e que na plenária há muitas estrelas, ou melhor, uma constelação de professores altamente gabaritados, onde um quer ser mais sabido que o outro, minha paciência esgota-se rapidamente. Já havia passado por isso no encontro do CONAES em Salvador, e ganhei muito mais indo ver o Pelourinho. Como Rosa estava muito interessada na discussão (ela adora um street fighter acadêmico. Eu acho um saco.), avisei a Ricardo que ia fazer umas fotos da cidade e que me ligasse na hora do almoço. Rosa só deu pela minha falta na hora do intervalo. Aproveitei para ver o povo, pois o ambiente acadêmico é muito seletivo, muito mais os das novas universidades, em que pouquíssimos são nativos do lugar. 





Para fazer as fotos, tive que comprar um chinelo, pois meus sapatos pretos e fechados estavam matando. E comprei uma roupa, pois a calça que eu estava parecia um forno microondas. Para não cozinhar na manhã sertaneja, mudei o figurino em lojas de confecção barata. Depois, sentei-me à sombra de um flamboyant à beira rio para esperar os colegas e olhar o povo.  O vendedor (o picolezeiro!) parecia um serial killer escondido debaixo de um chapéu de palha enorme com abas caídas sobre o rosto. Com poucas palavras e sem olhar para minha cara, atendeu-me, pegou meu dinheiro e foi embora. Felizmente,  o picolé parafuso de abacaxi é uma delícia. Depois, aproximou-se um gato para aparar-se do sol, e me fez companhia, enquanto espera os colegas para o almoço.

Por conta do conflito gerado pelas deliberações, a etapa da tarde foi cancelada. Contudo, não é possível almoçar e ir passear sob o causticante sol das 14 horas. Só é possível aventurar-se pelas ruas após as 16 horas. Assim, fomos para o hotel, descansamos. Pelas 17 horas chamei Rosa para ir ao shopping de Petrolina. Com o nosso taxista, atravessamos a ponte, e nos abrigamos no centro de compras. Se você não quiser encontrar alguém conhecido em Petrolina, não vá ao River Shopping. Ricardo encontrou um casal amigo, de quem foi padrinho de casamento! Enquanto eles atualizavam as conversas, levei Rosa para a Marisa para umas comprinhas. Ela ficou toda animada, e para melhorar o seu humor, que não estava nada fácil desde a manhã, levei-a para tomar sorvete. Na verdade, ela vinha falando em sorvete desde a primeira noite, só na última noite é que acabei cedendo. Encontrei também Graça e Larissa, cunhada e sobrinha de Tony. Esta última está fazendo Medicina na UNIVASF e tentando se adaptar aos calores do sertão com a ajuda temporária da mãe, que tirou férias para acompanhar a filhota.

Na madrugada seguinte, levantamos acampamento e pegamos o voo de volta. Fiquei feliz em reencontrar Petrolina & Juazeiro tão diferentes e tão bem desenvolvidas. Petrolina, em comparação com a muvuca baiana de Juazeiro parece uma frau alemã, de tão organizada. Mas, as duas têm seus encantos. Alavancadas pela fruticultura irrigada, as cidades gêmeas, filhas do Rio São Francisco estão muito bem, obrigada. Retornaremos em breve, com certeza.

Alvorada em Petrolina.
    

Perto ou longe, é muito bom ir, ver, sentir e voltar.

Até a próxima viagem, fiquem com Deus.


3 comentários:

  1. Respostas
    1. O sertão irrigado é um encanto, Ilma. Parece um milagre todas aquelas frutas maravilhosas brotando do solo pedregoso e poeirento. Como dizem os Italianos: quado se tem dinheiro e vontade política, a engenharia resolve.

      Excluir
  2. Aì eu conheço um pouco, a cidade onde morei de 2009 até 2012... E estou voltando em dezembro, quem sabe da próxima vez a gente toma um sorvete na orla!!

    ResponderExcluir