domingo, 18 de junho de 2017

Let's talk about sex

"Não é a vida como está e sim as coisas como são."
(Meninos e Meninas, Legião Urbana, 1989)

Ontem foi sábado de prova. Desde os trabalhos da Unidade Curricular de Luis Pedro, no Doutoramento, que eu não me sentia tão perdida numa avaliação. Primeiro, um texto cascudo sobre um sujeito que decidiu mudar de vida, e viver sem pagar taxas ou impostos, seguido por quatro (ou cinco?) questões abertas. Depois, um listening daqueles que parece que o povo está falando dentro de uma gaveta. Eu já sou meio surda, e as criaturas falam para dentro com um ovo na boca. Deixa quieto.  Um lote de gramática, e por fim, uma produção de texto. Sei não. Não estou reclamando, sei que o nível é outro nível, mas, foi assim, bem "putz grila" (e acabei de entregar a minha idade com essa gíria "nova em folha"!). Ainda bem que existe avaliação final, a esperança dos desesperados, além do que eu já passei da idade de perder o sono com insucessos escolares. Vamos em frente.

Pronto, então, enquanto esperava a prova oral, cujas perguntas eu só me lembro da resposta na calçada, depois de dizer tchau a seu Irvison, fiquei ouvindo a conversa sem fim dos adolescentes. Caóticos como todos fomos nesta fase, eles falam de tudo atabalhoadamente, e é necessário prestar bem atenção para encontrar o fio da meada nas múltiplas intervenções. Eram dois garotos e três meninas. Um dos guris não estava nem aí para o papo, cutucava no celular, passeando dos jogos ao whats. A uma certa altura, deu um suspiro, abriu a bolsa e sacou um livro sobre o Thor. Às vezes concordava com um sorriso, ou dava a sua opinião, sempre em discordância com os demais. Entre as meninas, uma bailarina do cabelo comprido, elegante como uma garça, mesmo de óculos de grau. Uma gordinha que morou em São Paulo, e mesmo tendo saído de lá há 7 anos, ainda tem um sotaque estranho, cheio de erres dobrados. A outra, uma jovem, nem feia nem bonita, normal. E o outro cara, um sujeito daquele tipo popular,  cabelão liso escondendo na testa uma constelação de espinhas. O mais interessante foi o rumo da prosa: começaram falando da prova, alguém disse que errou as horas, e outros acertaram os particípios. Depois falaram (mal) dos professores da escola regular, onde finalizam o ensino fundamental, principalmente da pobre da professora de inglês, que, segundo eles, pronuncia as palavras com um grotesco sotaque nordestino. A comparação na boca dos adolescentes é sempre cruel. Depois, começaram a falar dos colegas. Daí, a gordinha sacou essa afirmação: " Ô minha gente, fulaninho é bissexual." A bailarina concordou, e o baixinho levantou os olhos do livro sobre o rei do trovão. A outra justificou que o tal sujeito era, na verdade, gay. O outro carinha, levantou evidências que o tal fulaninho aceitava tudo. Segundo eles, o sujeito lá é "flex" (em alusão ao automóvel). Me deu uma vontade danada de ir lá e perguntar para eles o que significava ser "bi", conforme eles afirmavam. Mas, fiquei quieta no meu canto, como deve se comportar uma grandma. 

Deixei a conversa pela metade porque o prof. Jefferson nos chamou para a avaliação. No caminho de volta, fiquei pensando de como as coisas andam "modernas". Quando eu era adolescente, as conversas não tomavam esse rumo, pelo menos publicamente. Até porque, estávamos eu e o coleguinha Luiz Arthur, que tem apenas 11 anos, além da tia da lanchonete. E o pessoalzinho lá danado a opinar acerca da orientação sexual dos colegas da escola. Na minha época, o pessoal lá da rua, no Magano, chamavam "gay" de "invertido" ou "macho-e-fêmea". Somente depois da AIDS, já no final da década de 1980, é que as práticas sexuais começaram a ser mais "esclarecidas". É claro que eu, como sou a mais nova de 7 irmãs, acabava pescando algumas informações, mas nada que fizesse de mim uma "menina prodígio". Os meninos hoje em dia têm muita informação, e nenhum pai e mãe se iluda pensando que consegue controlar o que o seu anjinho ver na internet. O melhor mesmo é chegar junto, e às de vez em quando, puxar a conversa numa dimensão educativa. Garanto que os jovens ficam mais constrangidos do que nós, pois, apesar de já termos superado a contenda com a televisão (o vilão da minha época), ainda permanece aquela representação de que os pais são assexuados e que nasceram com 40 anos. Precisamos também tentar perceber que o mundo mudou, e não se espantar com a (suposta) flexibilidade da pós modernidade. Afinal, Renato Russo já dizia: 

"Acho que gosto de São Paulo,
 gosto de São João. 
Gosto de São Francisco e São Sebastião. 
E eu gosto de meninos e meninas". 

Ou fazer como diria minha mãe: "talvez seja uma homenagem para os amiguinhos e amiguinhas dele." Minha mãe era pós moderna mesmo tendo nascido em 1929!

Fiquem com Deus.

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