domingo, 6 de agosto de 2017

No caminho a caminhar: Madrid

Então, depois das 14 horas Francislê e Fábio nos deixou na estação de trens de Salamanca, que a mim, mais parecia um shopping, toda moderninha no vidro verde. Compramos nossos tickets e um lanche, e foi o tempo de encontrar a plataforma e embarcar num trem cm as poltronas mais duras de toda Europa. Apesar do transporte ser muito moderno, me senti nos velhos trens de Garanhuns, se realmente os bancos do Centro cultural forem os assentos que o pessoal viajava.  Pelo caminho, enquanto Luza cochilava com os fones nos ouvidos, eu olhava a paisagem passar à 120 km/h. Na parada de Segóvia-Guiomar, entrou um casal de caras já meio chegados na idade, e sentaram-se nas poltronas ao nosso lado. Essa estação é engraçada porque parte do percurso é feito num túnel. Parece que estamos no metro. Pelas 16 horas, o serviço de informação do trem avisou que chegávamos a Estação de Chamartin, em Madrid.

Pois ai eu fiz uma bobagem, mesmo por falta de informação ou melhor, falta de pesquisa de minha parte (um absurdo! Que espécie de pesquisadora sou eu, se não atentei para um detalhe tão básico?) Descemos em Chamartin, e deveríamos pegar um trem complementar para Puerta Atocha, uma estação que fica bem no meio da cidade. Eu, fui-me embora pegar um táxi. Essa besteirinha me custou 32 Euros. Mas, teve suas vantagens. Chegamos na fila dos táxis, e um senhorzinho acenou-nos. Rapidamente, abriu a mala do carro e acomodou nossas bagagens (os taxistas europeus adoram passageiros com malas porque elas - as malas - pagam tarifa extra). Mostrei o endereço: Gran Via, 42. O sujeito, no apressado espanhol madrilenho, logo perguntou se éramos dominicanas (?), e ficou mais animado quando dissemos que éramos brasileiras. Para o meu total espanto, disse-nos que não se vê muitas brasileiras em Madrid. Fiquei espantada, porque no noticiário, o que mais aparece são as moças brasileiras que vão fazer a vida nas calles madrilenhas. O homem passou o caminho inteiro tentando conversar conosco. Luiza afundou-se no banco de trás ao meu lado e pôs os fones, daí eu que tive que me virar com o tagarela. Perguntou-nos se era a primeira vez em Madrid. Expliquei que sim e, mas que vinhamos de Salamanca, uma cidade muito linda. Aos meus rasgados elogios, o sujeito reagiu:

- Salamanca? Aquilo lá é apenas uma muralha com duas pedras a mais! Cidade para se conhecer é Madrid!   


E derramou-se de elogios pela sua cidade, apresentando-nos os prédios que apareciam no percurso. E eu que achava que os baianos eram bairristas. Isso, até conhecer um típico cidadão de meia idade de Madrid. Pois bem. A conversa continuou, o sujeito me perguntando o que iriamos fazer na cidade. Emendou dizendo que a noite era muito agitada, e que nós gostaríamos de "levar uns copos". hein? cutuquei Luiza com o cotovelo, que a esta altura já havia se interessado na conversa em espanhol-inglês-português. Ela interferiu:
- Levar uns copos deve ser ir para a noite, mainha.
Ah, tá. Expliquei que não, que o nosso objetivo era ver os museus. Ele indicou-nos uma mão de museus. Falei que iríamos ao Prado na manhã seguinte. 
Então, ele informou-nos que o trecho onde iriamos ficar era muito agitado, que funcionava pelas 24 horas. E eu, achando que estava arrasando no espanhol, tasquei:
- Ah, é muito animado.
E, para minha completa surpresa, o homem respondeu sério, olhando-me pelo retrovisor:
- No, animais no hay!
Retruquei, explicando-me, enquanto Luiza segurava o riso: "não, the place is funny!" Ele não entendeu. Então, emendei: "The people are happy!", com isso ele concordou: "Sí. Las personas são mui contentas." God! Contente resolveria todo o meu impasse idiomático. 

Enquanto isso, o taxímetro zunia. Quando paramos na Gran Via, do lado oposto do número 42, quase que eu pedia para o homem dá uma rezinha para diminuir a minha conta. No prédio, após o terceiro andar, há um ou dois hostels a cada piso. Fizemos a reserva pelo Booking.com, depois de ler muitos relatos de viajem, mas por causa da localização. Ao fazer o check-in, fui pagar com o cartão de crédito, e mais uma vez, não funcionou. Paguei com dinheiro mesmo, pois o jovem já estava me olhando como se eu tivesse cara de estelionatária. Deixamos as malas no quarto vizinho ao 6 não tinha número na porta), de um corredor claro com cheiro de pastilha de melancia. O banheiro partilhado, ficava bem em frente a nossa porta e era bem limpinho. Menos mau. Fomos andar pela Gran Via, nos acostumando com a cidade grande. Muita gente, e para nosso espanto, toda a gente era bonita! Os casais idosos, bonitos. Os homens, lindos. As mulheres, maravilhosas. Os cães, fofos. Os gays, divinos. Aliás, é digno de nota que apenas em Madri foi que identificamos os gays espanhóis, pois em Salamanca parece que a galera não dá muita bandeira. Em Madrid, até quem é feio, é bonito. Entramos numa rua, não me lembro o nome, mas que parecia um shopping a céu aberto: todas as lojas chiques estavam marcando presença. Muita gente andando, comendo, passeando. Muitos músicos de rua. Fiquei encantada. Mas, já eram mais de 9 da noite, e tínhamos que arranjar um mercado para comprar água e umas besteiras para passar a noite. 

No outro dia, pela manhã, após resolver a embrulhada do cartão por um telefone público que faz ligações internacionais à moedas, que Tony descobriu que eu não havia informado a administradora de crédito que iria para o exterior, e por isso o bendito não funcionava, tomamos uma cafezinho na Pans e compramos nossos tickets no Red Tourism Bus. Uma senhorinha nos atendeu muito bem, oferecendo opções de idioma: "Spanish, English or French?" Luiza tomou a frente, e negociaram os tickets. Ela pagou 16 e eu 24 euros. O desconto dela é porque ela tem menos que 16 anos. Ótimo! Esse ônibus é ótimo para quem tem pouco tempo na cidade, faz três roteiros, começando a rodar pelas 10 da manhã até as 10 da noite, e você pode descer em quantas paradas quiser. Pegamos o Ônibus na Gran Via e nossa primeira parada foi no Museu do Prado. 
Cãozinho cantor na parada do Museu do Prado

Eu, na estátua de Cervantes, na frente do Museu do Prado
Havia planejado essa visita milimetricamente. Queria que Luiza visse as obras dos espanhóis Velasquez, Goya e El Greco, e do italiano Rafael. Comprei os tickets pela internet, pois além de ser mais barato, é mais prático e não corre o risco de ser barrado na porta, como fomos no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, porque não tínhamos tomado essa providência. Logo na parada do ônibus, nos deparamos com duas maravilhas: O imenso prédio de mármore rosa e um músico de rua acompanhado por um cãozinho, que em um determinado trecho da música, executada no saxofone, ele uivava, cantando! Coisa mais linda do mundo. Todos aplaudiram o animal, demos algumas moedas e um carinho nas orelhas do cão e fomos ao museu. 

No museu não é possível fazer fotografias. Fizemos a visita livre, nos perdendo e nos encontrando entre as salas do acervo gigantesco. Dos autores, só não vimos o El Greco. Demos muitas risadas enquanto olhavamos "la maja nua", de Velasquez. Não é por nada não, a dona é até bonita, mas, ao lado colocaram a mesma pintura, com a mulherzinha vestida. Então, na primeira tela, Luiza leu na plaquinha miúda: "la maja nua." Em seguida, sem ler, eu já decretei: "Essa deve ser la maja vestida, né?" E não é que era? E os asiáticos ficaram nos olhando, sem entender porque nós dávamos tantas risadas. A parte que mais gostamos foram as esculturas gregas e italianas em mármore, cada uma mais linda que as outras. Enquanto apreciávamos, Luiza ia me explicando sobre os deuses gregos, que ela tanto gosta, graças as leituras do Percy Jackson. 
Jardim Botânico de Madrid

Saímos do Museu pelas 14h30, sob um sol de derreter. Como já havíamos comido uns sanduíches na lanchonete do Museu (chique e caro: 26 Euros por dois bocadillos de jamon ibérico e dois zumos de naranja. Mas utilizei a máxima de Mano do Caetano: "quando é que vou voltar aqui?" Felizmente, o cartão funcionou), passamos para o Jardim Botânico de Madrid, que fica bem ao ladinho do Museu do Prado. Não estava no programa, mas Luiza insistiu em visitar. Neste há muitas espécies de árvores e plantas diversas, Só não tinha muitas flores, porque as estações do ano não brincam em serviço na Europa: Quer ver flores? venha na primavera. Lá no final, no pavilhão, havia uma exposição sobre duas visitas de Elliot Erwit a Cuba. Como não pagava, entramos. Gostei muito. Esperei o monitor se distrair lá dentro e fiz uma foto da foto que mais gostei:
O Mulherio Cubano e Fidel, foto de Erwit.
Ao sairmos ainda acompanhamos uma sessão de fotos de um casal de noivos e fomos procurar água. Entramos em um bar, mas era na hora do almoço, e ninguém quis nos atender. Andamos mais um pouquinho, entramos noutra rua, desviamos de um grupo de moradores de rua, e achamos um Carrefour Express. Ótimo. Compramos água e fomos pegar nosso ônibus, pois o calorzinho de 41 graus exigia uma parada. Voltamos ao hotel e, depois de um banho e uma olhada na internet, pegamos o transporte para a Plaza Mayor e o Palácio das Cibeles. Infelizmente, as fotos ficaram horrendas, não sei o que deu. Depois de zanzar por lá, pegamos de volta o transporte para a Gran Via, pois Luiza precisava de umas camisetas e a Primark estava na sua "segunda rebaja". Primark é um varejo irlandês que tomou conta da Europa nestes últimos anos. São lojas imensas, que vendem tudo de confecção. Na loja de Madrid, são cinco andares circulares de roupas e acessórios: três de coisas para mulheres, um para homem e um para crianças. Compramos algumas camisetas e fomos atrás de comida. Jantamos bobagens na Hamburgueza Five Guys, depois de enfrentar fila na porta. Mas, como era na mesma calçada do nosso Hostel, não havia problemas. 
Fotos: Ana Freitas (é o nome artístico da guria!)

No outro dia, depois de um cafezinho, fomos comprar pequenas lembrancinhas nos quiosques que pontilham a Gran Via. Ainda passamos rapidamente na estação do metro, mas, decidimos que era melhor tomar um táxi até a Estação Atocha. De lá, daríamos um jeito de chegar a Barcelona, nossa próxima e última parada em Espanha.  

Até o próximo capítulo, fiquem com Deus.
    


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