domingo, 5 de novembro de 2017

Ricardo Brennand e a máquina do tempo

Esculturas na área externa do Instituto Ricardo Brennad, Recife (PE).

Adoro esse tempo, que nem é quente, nem é frio. Nestas manhãs, o sol tem nascido mais cedo e parece-me que há um ninho de passarinhos no beiral do telhado do nosso quarto. Tenho acordado cedo com o chilreio dos filhotinhos chamando a mamãe que foi fazer uma caminhada (ou voada?) matinal. Gradativamente, o sol se firma e o céu permanece azul, até umas sete e pouquinho, quando fica tudo nublado, parecendo que vai chover. Mas, o vento leva as nuvens, e pelas nove, o tempo já resplandece e o vento constante balança os galhos das árvores, fazendo as folhas dançarem. Tempo bom dá vontade de ir para o lado de fora, mas, o trabalho exige a permanência numa pequena saleta num prédio em reforma eterna. Portanto, todo tempo livre é bem vindo para ver o mundo, nem que seja da janela do meu quarto.

Quando é para ficar em casa, sempre aproveito um tempinho para ver um filme. E há filmes que vejo mil vezes, nem que seja aos pedaços. Outro dia, estava zapeando na TV e parei num canal em que ia começar "De volta para o futuro". Adoro esse filme, pois, além de ter uma história divertida e inteligente, incita imaginar como seria se pudéssemos voltar no tempo. Em meio as confusões de Marty, interferindo no curso da história pela sua chegada inesperada nos anos 1950, fiquei pensando em a que tempo ajustaria a minha máquina do tempo. A minha curiosidade me levaria aos idos de 1600, 1624, nesta terra mesmo, só para conferir o impacto da "invasão" holandesa em Pernambuco. Já imaginou, numa manhã como essa, o sol à pino e nenhuma nuvem no céu, desembarcando homens brancos, falando uma língua incompreensível, com suas vestes escuras? Deve ter sido mesmo um acontecimento.

Então, no último feriado, como Tony já estava cansado de permanecer na cidade, arranjamos umas coisas em uma malinha (uma não, duas: Luiza já conquistou o direito de ter uma mala só para ela),  providenciamos um quarto na "pousada dos gatos" - Pousada Casuarinas, que fica numa transversal logo no começo da Domingos Ferreira. É um lugar lindo, de atendimento impecável. Chamamos pousada dos gatos porque a rua é cheia de gatos. Já contamos até sete felinos, nas mais diversas condições, dormitando na calçada da pousada. As proprietárias colocam água e comida, e os bichanos sempre procuram uma sombra para espreguiçar. Então, fomos ao Recife com o objetivo de visitar o Instituto Ricardo Brennand. Já havia pesquisado os horários de visitação a este que foi eleito o melhor museu da América Latina. Não conhece-lo é até um crime, quando se mora a 220 km da Capital. Infelizmente, não consegui localizar no site da instituição a compra de ingressos antecipados, como já aprendi nas viagens ao exterior. Além de mais barato, o ingresso antecipado evita fila e garante o programa, devidamente pago no cartão de crédito. Então, pelas 14 horas chegamos à Várzea, guiados pela sinalização turística, que apresenta excelentes condições. A entrada já é uma pequena amostra dos castelos tropicais: uma estrada pavimentada e ladeada por palmeiras imperiais. Na portaria, havia grupos esperando a autorização para entrada. Prevenidas, Luiza foi com Tony para a fila da entrada e eu para a compra dos tickets.  Paguei 75,00 em dinheiro, cuja fila era menor, perdendo o benefício de meias-entradas, pois  Luiza perdeu o documento de estudante e eu não levei nenhum comprovante que sou professora. 
Luiza fotografando umas visitantes na entrada da exposição de Franz Post e o Brasil holandês


    Visitamos primeiro a Pinacoteca, com obras de diversos artistas. Esta em exposição uma seleção de pinturas lindas sobre o espaço natural. Gostei muito de uma série de igrejas retratadas por uma artista que não lembro o nome (sorry!). Depois, fomos ao Castelo São João ver a exposição de Franz Post e de documentos, mobiliário e arte do período holandês. A curadoria é perfeita. Ninguém fica perdido sem saber do que se tratam as peças. 
Tony observando o mobiliário do período holandês.

  
Exposição das bonequinhas e os tipos femininos do pernambuco colonial


Como já conhecíamos o acervo - eu já havia trazido estudantes do curso de Administração em Turismo da FAGA, e Luiza veio com a escola dela, dávamos pequenos spoilers a Tony sobre a  visita, destacando aspectos que já havíamos discutido relativas as experiências anteriores. Ainda assim, todas as vezes que entramos na sala das armas, não consigo deixar de me impressionar com a riqueza do acervo: armaduras, facas, punhais, espadas, canivetes, relógios e mais uma série de objetos garimpados mundo a fora durante uma vida! É nessa parte da visita que desejo reajustar minha máquina do tempo e acompanhar como começou essa coleção de arte tão diversa e maravilhosa. O Ricardo Brennand, sem dúvida, deve ser um homem fascinante. As coisas que esse senhor sabe, a história dos principais artefatos, o período histórico de cada um. Felizmente, ele também é muito generoso pois não guardou só para si tanta riqueza. Nos corredores do museu, encontramos vários turistas do Brasil inteiro e alguns poucos estrangeiros (a despeito do imenso potencial, o turismo no Brasil é fraquinho que só chá de chuchu), e muitos grupos de escolares e terceira idade. O Instituto Ricardo Brennand é um patrimônio de valor imensurável, acessível a quem desejar aprender um pouco mais.

Armadura do cãozinho, a peça do acervo mais comentada  por nós

 
Saímos do Instituto pelas 17h, quase fechando as portas, com mais um pernambucano encantado com a nossa história, e orgulhosos por podermos indicar um espaço cultural que não deve absolutamente nada aos grandes museus do mundo. 

Fiquem com Deus. 

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