domingo, 17 de novembro de 2019

Música?

Se tem uma coisa que não pode faltar é  música. A  boa música   anima, acalma, alegra. É cientificamente comprovado por alguém que desconheço que a música auxilia no crescimento das plantas, acalma os bebês e domina até as feras mais perigosas. Algumas músicas quando tocam no carro, faz o condutor pesar o pé no acelerador. Todo cuidado é pouco nessa hora. Mas a música é essencial como a gasolina. Nos impulsiona, ao mesmo tempo que evita dar atenção a buzina apressada no sinal que abriu há apenas três segundos. 
Essa semana, no caminho para o trabalho, ligamos o rádio porque as músicas do pendrive estão muito cansadas. Mas, cá no agreste, ouvir rádio é mesmo uma provação. A qualidade (ou a falta dela) é tão constante que dói no ouvido. E não é só uma questão de pobreza harmônica, as letras são muito sofridas. E eu, que tenho a mania de refletir sobre o que me apresentam, presto atenção na mensagem e questiono as motivações do emissor. 

Se tiver a pachorra de prestar atenção no conteúdo do que toca no rádio, irá perceber que as músicas que fazem sucesso hoje são 80% contando história de traição. A tão conhecida música de corno tem um nicho de mercado garantido, principalmente após a ascenção da Marília Mendonça, patronesse das traídas e traidoras. Na ocasiã, a música, interpretada pela Márcia Fellipe, dizia:
"É, com ela você posta foto
É,  com ela você sai para jantar
Em plena terca-feira
(...)
Eu não vou me comparar 
Mas já me comparando 
Cê  sabe que eu sou melhor
Eu sou mais eu indo e voltando
Fica a dica,
Do jeito que cê tá,  tá vacilando".

Então, fiquei pensando na ousadia da criatura. Se o seu status é de "a outra" do sujeito em questão estar reclamando de quê, minha filha?  Quando a criatura entra numa bocada dessas, deve saber mais ou menos o que o futuro lhe reserva. Requerimento negado. Próximo. 
Sábado,  fomos comer uma feijoada num barzinho na Avenida Caruaru. Simples, gostoso e barato. A mocinha simpática do atendimento estava lutando com a TV para conectar o bluetooth. Quando conseguiu, era um show do Wesley Safadão. A 'música' era "na cama que eu paguei", com participação do Zé Neto e Cristiano, que dizia assim:

" Eu tinha um lar, eu tinha uma casa
Agora eu tô morando num motel de rodoviária 
Assistindo novela numa TV 14 polegadas
Imagem chuviscada, Bombril na antena
Quem me vê dá até pena
E ela tá lá 

Na cama que eu paguei
Fazendo o amor que a gente nunca fez
Na cama que eu paguei 
Fazendo todo dia
O que comigo era uma vez por mês ".

Percebam que a indignação do gajo é  primeiro com a cama que ele pagou. É muita decadência. Dizem os especialistas do comportamento humano que as pessoas se identificam com as histórias e por isso, elas acabam fazendo sucesso. Concordo em parte, mas ainda acredito que a grande maioria dos consumidores desse produto são motivados pela nenhuma profundidade das letras: É raso, fácil, não precisa nenhum esforço intelectual para acompanhar, nenhum raciocínio para entender. 
Ah,   eu Tony e Luiza discutíamos a música enquanto comíamos a feijoada. Rimos tanto com a nossa  interpretação do texto da música, que a mocinha veio de lá e desligou. Nos três não fizemos sucesso. E pensar que os jovens sao as maiores vitimas da mudica ruim... faz pena. 
Felizmente, ainda existe esperança.  Essa semana estava corrigindo uma monografia e a autora,  uma jovenzinha de 22, 23 anos, me questionava como apresentar as plantas da obra em estudo. Aconselhei colocar num CD, já que impressas ficaria muito volumoso. Contudo, avisei: "faça, mas eu não vou nem olhar. Seu orientador e sua banca que vejam". Por mim, ela poderia colocar música de Zezé de Camargo e Luciano. Ela corrigiu-me printamente: "Se for música minha, será Bethoveen, professora". Fiquei pasma. Uma menina com cara de empoderada do funk,  com ouvido treinado para música clássica! O mundo tem jeito, apesar de eu ter quase certeza que Aracely é a reencarnação de Leonardo da Vinci.

4 comentários:

  1. Na sexta-feira, dia 15, como sempre levantei e fiz o café da manhã ouvindo rádio, eles estavam com um repertório surpreendente... porque era cedo. Quando deu dez horas, pronto! Começou aquele festival de pobreza literária. Claro, não sou nenhum Nobel de Literatura mas, sinceramente, não dá não, viu? É muita besteira junta com umas vozes tremidas ou choradas. Mas afinal, gosto não se discute, lamenta-se à parte para não revoltar o implicado. Prefiro o Beethoven da jovenzinha.

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  2. Restam alguns bons artistas. Escute o Silva e a Flaira Ferro. Você vai gostar.

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