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sábado, 6 de julho de 2013

Retorno

Então, nos últimos dias da semana passada, sob um calorão e um sol quase eterno, providenciamos a mudança. Quem já enfrentou mudanças sabe, de experiência própria, que os objetos se multiplicam e quase não temos como encaixotar tantos trastes. Como já vos disse em outro post, essa foi a minha 16ª mudança. Mesmo com tantas idas e vindas, sempre há um estresse. Quando morávamos todas juntas, sempre que havia uma necessidade de mudar de casa, mandávamos mamãe para Recife, e somente quando ela dizia que iria voltar é que avisávamos que havíamos mudado de endereço. Mamãe chateava demais nas mudanças: tinha mania de guardar todos os troços, não queria jogar nada no lixo, nem doar para quem precisasse, mesmo que aquele objeto estivesse encostado há anos. Além disso, tinha o zelo excessivo com as "prantas" (era assim que ela pronunciava 'plantas' e não havia jeito de fazê-la dizer corretamente). O mínimo galho que se quebrasse ou a folha amassada, era um Deus nos acuda. Para evitar esses conflitos, era melhor deportá-la para a casa da Mahria, e fazer o que tinha que ser feito.

Por mais que tenha tentado me adiantar, parte substancial do serviço ficou mesmo para os últimos dias. Primeiro, a maratona para cancelamento dos serviços de água, luz, gás e internet. Os três primeiros, não apresentaram problemas: fui ao balcão da empresa e pedi o cancelamento somente na sexta-feira, pois assim, poderíamos desocupar o T0 apenas no domingo pela manhã, conforme planejamos. No atendimento eletrônico da PT Comunicações me 'receitaram" uma série de burocracias, mas, no atendimento local, as coisas foram mais fáceis.

Passamos o sábado a arrumar as malas. Como já disse, mudança é sempre complicado, pois há a multiplicação dos objetos. Pensem, portanto, no sacrifício que é fazer uma mudança intercontinental. O espaço que tínhamos eram 7 malas com até 30 kg cada.  Como são dois volumes por pessoa, ganhei o direito de mais uma mala por conta de D. Nilza que levava apenas uma. Apesar de termos nos blindado contra o consumo excessivo, evitando acumular muita coisa, tive que me desfazer de muitos objetos. Louças, talheres, toalhas, cobertores, edredons foram doados, bem como a TV, a impressora, uma mesa de trabalho (que os portugueses chamam de 'secretária' e que nós chamamos de 'birô', abrasileiramento de bereau), uma mesa de cozinha com quatro cadeiras, foram todos para o Florinhas do Vouga, organização filantrópica que auxilia a população desfavorecida na região de Aveiro desde 1940. Junto também foram casacos de inverno de Luiza, impossíveis de usar no inverno tropical. Nada disso para nós foi um sacrifício, pois, se conseguimos adquirir estes objetos, com a ajuda dos amigos ou com recursos próprios, repassamos com alegria àqueles que precisam. Não temos qualquer apego a bens materiais, principalmente quando são objetos de uso cotidiano. Também não faz parte da nossa cultura familiar vender objetos que já usamos. Da mesma forma que aceitamos o que nos doam (outro dia, Neide e Paulo mandaram-nos um rack de sala maravilhoso, que está servindo muito bem) com gratidão, doamos de coração aberto. Neste aspecto, os livros são a minha limitação. Prefiro doar as roupas e voltar com "a roupa do corpo", do que doar os livros, que até empresto, mas não dou. Só se for prenda.

Pronto. No domingo pela manhã, tomamos o autocarro para Lisboa. O motorista queria dificultar o nosso embarque, alegando excesso de bagagem. Tony negociou a pesagem das nossas malas, que seria feita na próxima paragem, em Coimbra. Chegando lá, o motorista nem nos deu sinal, e nós não fomos em busca. Quando desembarcamos em Lisboa, veio reclamar porque não fomos pesar e acabou nos dispensando. Só para chatear. Na estação de Sete Rios, felizmente, há aqueles carrinhos de transportar bagagem em aeroportos. Deu para fazer o caminho da plataforma de desembarque para o elevador, e deste até o ponto de táxi com aquela tralha toda, duas bonecas, uma criança e uma idosa. Um jovem do leste europeu nos ajudou a arranjar as bagagens em dois táxis e ficou com as moedinhas que destravam os carrinhos. Ele vive disso, a exemplo de muitos jovens oriundos dos países do leste.

Conseguimos chegar no hotel, no Rossio, o mesmo que havíamos nos hospedado no dia 20.06.   Somente à tarde, eu percebi que naquela tralha, faltava a mochila do meu computador.Fiquei arrasada por dois motivos: 1) o livro novo do Agualusa estava na bolsa. Tony e Luiza haviam me dado como prenda de saída de Portugal na sexta-feira. Havia lido apenas as orelhas e a contracapa. 2) As bonecas Monster High, que Luiza adora, estavam na bolsa. Fiquei surpreendida com a reação da menina, que ao me ver enlouquecida em busca da bolsa, consolou-me: "tem nada não, mãe. O livro, a gente compra outro. E as bonecas, tu compras outras." Felizmente, na segunda-feira, depois que fui ao consulado do Brasil autenticar os documentos de escola de Luiza, liguei para a central de táxi e o gestor lá disse-me que o condutor havia encontrado e deixado na Esquadra de Benfica (Delegacia de polícia). Cheguei com a boa nova e um saco de cerejas no Hotel, e ainda deu tempo de tomarmos um táxi e ir a tal esquadra, pegar a bolsa. Fui atendida pelos agentes Guerra e Susana, que rapidamente me devolveram a tal mochila. Segundo D. Nilza, o achamento da mochila deveu-se a lei do retorno: eu havia doado tanta coisa, que as "forças do bem" atuaram para que encontrássemos nossos pertences.

Daí, a próxima etapa era o aeroporto. Tony foi no primeiro táxi com a mãe e eu fiquei com Luiza e quatro malas. Por um equívoco, fiquei com a "mala monstruosa", a maior de todas, que quase mata o taxista já idoso. Coitado. No aeroporto de Lisboa, o tumulto de sempre. Este é a porta de entrada da Europa e ponto de partida para o mundo inteiro. É engraçado ficar olhando as pessoas de todos os sítios que lá estão de passagem. É um divertido "não-lugar", como classifica a antropologia.  O check in foi tranquilo, apesar de uma pequena burocracia quanto a nossa passagem, minha e de Lulis, pois, foi comprada no Brasil, só de retorno. Coisas da TAP. Segundo Tony Neto: "Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de quem espera pela TAP de Portugal." Bagagens despachadas, tudo fica mais simples. O embarque foi tranquilo, nos beneficiamos pelo fato de acompanharmos uma criança e uma idosa, driblando a fila de 200 e tantas pessoas ansiosas. Há suas vantagens. Após 7h40 sobre o atlântico, chegamos ao Recife. Depois da perseguição às bagagens, pegamos subindo para Garanhuns.

Chegamos às 1h05 da madrugada da terça, sob uma chuvinha fina nas ruas desertas da cidade que dormia.

Feliz por voltar.

Até amanhã, fiquem com Deus.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Regresso


Então, na última quarta-feira, regressamos. Fizemos alguns acertos para deixar tudo organizado para quando voltarmos em setembro. Graças à santa tecnologia não precisamos alugar ninguém para fazer nossos pagamentos, deixando tudo pendurado no débito eletrônico da CGD. Assim, quando retornarmos as contas estarão sob controle. Assim, na quarta pela manhã, Francislê e Dayse passaram lá na casota para nos ajudar com as malas e deixar-nos no Porto. Fomos cedo, pois não queria atrapalhar o dia de trabalho dos meus queridos amigos, e esperar por esperar, poderíamos fazê-lo no Aeroporto. Luiza sofreu um pouco, pois, por ansiedade teve insônia na noite anterior. Contudo, criança dá um jeito a tudo e acabou dormindo no meu colo no saguão do Aeroporto. Um lanchinho e uma revistinha da turma da Mônica ajudaram a passar o tempo mais rápido. Na hora do embarque fomos ao ritual do monitoramento eletrônico. Felizmente, as portas não cantaram, acusando-nos de portadoras de objetos perigosos. Andamos desconfiadas dessas portas, pois no sábado anterior, ainda em Aveiro, comprei um cinto na Lefies, e a funcionária não teve o cuidado de desmagnetizar o alarme e quando íamos saindo da Zara, a miserável da porta apitou. Pagamos o maior mico, tive que abrir a bolsa para descobrirmos que o alarme magnetizou um código de barras que havia na minha carteira! Felizmente, a funcionária da Zara foi muito delicada, apesar do grande constrangimento. Depois disso, Luiza atravessa as portas eletrônicas toda dura e sem olhar para os lados, como se a coisa fosse acontecer novamente. Bom, no aeroporto como é de praxe, deixamos nossos pertences nas caixinhas e no outro lado, a monitora nos apressava, impaciente.  Como era muita coisa e Luiza nessas horas nunca ajuda, fiquei catando os objetos, atirando tudo aleatoriamente na mochila de Luiza. Já na área embarque percebi que estava sem meu relógio. A probabilidade de haver esquecido nas badejas de monitoramento eram enormes. Fiquei triste, pois o reloginho foi minha primeira prenda de dia das mães. Velho e arranhado, só tem valor para mim. Mas, já era hora de embarcar, não dava mais tempo de ir procurar.

O voo de Porto-Lisboa leva apenas 40 minutos e é feito numa aviãozinho pequenino, 2x1 (dois assentos de um lado e um do outro). Quando procurávamos os nossos lugares, Luiza começou a puxar pela minha manga, com sua insistência característica: “Mãe, mãe! Olha, Pedro Abrunhosa está ali.” Disse-lhe que me deixasse encontrar o lugar e que sentasse de uma vez, enquanto a menina se torcia toda no assento para olhar para trás. Quando entramos no autocarro que nos levaria para o terminal de desembarque, Luiza se vira para trás, coloca o dedo quase no nariz do homem e tasca: “Mãe, ó! É o Pedro Abrunhosa!” Fiquei morta de vergonha e sai toda errada. Era mesmo o artista, famoso cantor português e jurado do programa Ídolos. Aeroporto tem dessas coisas e minha filha poderia ser mais discreta.

Daí foi uma corrida para chegar ao Portão 42 e comprovar a documentação na Imigração. O aeroporto de Lisboa é imenso e a paragem do autocarro poderia ser mais perto. Eram 15h31 quando desembarcamos no terminal e começamos a maratona de documentação numa fila interminável e multiétnica. Felizmente, o agente da imigração fez-nos poucas perguntas, conferiu os documentos e interessou-se mais pelo fato de Luiza estar estudando em Portugal. Perguntou-lhe qual o ano que concluíra, se gostava da escola, qual a disciplina que mais gostava, se tinha amigos. Carimbou nossos passaportes e nos mandou embora. Sair de Portugal é inifinitamente mais fácil do que entrar! Começamos a esperar num mar de brazucas vindos de todas as partes da Europa, predominando mulheres arrastando dois ou três filhos de várias idades. O embarque atrasou uma hora, um nadinha em relação ao mesmo voo do dia anterior que atrasou nada mais, nada menos que 10 horas, chegando ao Recife às 6 da manhã do outro dia.

Apesar de ser uma aberração administrativa, pois trata-se de uma empresa pública, a TAP oferece um serviço  bastante decente. Uma particularidade deste voo de tripulação masculina era a minoria absoluta de estrangeiros. Havia um ou outro perdido em meio a uma maioria de brasileiros em visita ou em retorno definitivo, em fuga da crise europeia. A travessia ocorreu sem maiores problemas, poucas turbulências na altura da Linha do Equador. Luiza brincou, escreveu, assistiu, desenhou. Apenas após Cabo Verde é que a menina decidiu dormir, mas não antes de eu fechar a cara para ela e mandar-lhe dormir de uma vez. Todos dormiam ou tentavam dormir, e a menina conversando? Tenha santa paciência.

Chegamos ao Recife às 21h05. E saibam: o Brasil está mudando, não é mais uma terra de ninguém. Há bem pouco tempo gato e cachorro entravam aqui com todos os direitos, tapete vermelho e banda de música. A Receita Federal está apertando, principalmente na comprovação das compras. Na noite anterior uma operação padrão da PF revistou TODAS as malas dos passageiros que vinham de Nova Iorque, com direito a cães farejadores e tudo. Foi um circo daqueles. Eu, já aprendi a passar nessas situações: passaporte meu e da criança, autorização de viagem da criança, cartões de residência em Portugal, declaração de vínculo da Universidade de Aveiro. Se me perguntam se tenho algum objeto de valor ou compras, digo logo: “Somos estudantes.” Os agentes da imigração mandam-nos logo ir passando, pois não vão perder tempo em revistar bagagem de estudante pobre aventurando na Europa, reservam sua criticidade para bagagem de turistas, é bem mais divertido provocar-lhes a confusão.

Nos Guararapes recebemos a canícula recifense, mesmo tendo passado das 22hs. Tony nos esperava, acompanhado com Tony Lucas e Moniquinha, casal amigo que nos acolheu por esta noite.  Estávamos com saudades desse burburinho quente e colorido que é o Recife, felizes por voltar.

Até amanhã, fiquem com Deus.