Entre Brasil e Portugal, há algumas diferenças no calendário de datas comemorativas, mas também há muitas semelhanças. Estamos em plena época das festas de santo. Em todas as cidades há alguma movimentação com festejos religiosos e populares. Em Aveiro, bem cá na minha vizinhança, a Paróquia da Glória promove as festas que começaram à semana passada. Agora, só há movimentações aos sábados a partir das 15hs. Há uma iluminação festiva no parque, música, tasquinhas típicas com as tradicionais comidas do ciclo junino português: febras, sardinhas, tremoços. Arroz doce de sobremesa. É engraçado como os frequentadores da festinha carregam ordeiramente sesus tabuleiros tipos praça de alimentação de centros comerciais e ocupam solidariamente as longas mesas cuidadosamente forradas de toalhas brancas com bordados. Enquanto no nordeste do Brasil espocam os fogos nas festas juninas e lotam-se os salões de forró, cá temos as marchas juninas, muito bem cuidadas, muito bem trabalhadas pela comunidade, que faz questão de manter as tradições.
Como não há pamonhas, vamos às sardinhas ainda hoje, comemorar a finalização do ciclo letivo de Ana Luiza em Portugal. Ela muito melhorou sob às ordens da Profa. Puri. Chegou em 2011 com uma letra horrível e com grandes dificuldades em matemática. A jornada em tempo integral ajudou bastante, a letra já é mais bonita, tornou-se um excelente leitora e reduziu a aversão aos números. Mas, o engraçado foi um comentário que a professora fez ao entregar as notas do Estudo do Meio (Geografia + História): "Ana Luiza sabe mais de Portugal que os portugueses". A menina pontuou 98% na disciplina, o melhor rendimento da turma. Além da aptidão natural que ela tem para essa área, as viagens ajudaram bastante, pois, muito do que se ensinava na escola, planejavamos e, quando dava, iamos lá visitar. Assim, fica bem divertido e hoje ela tem um coeficiente de conhecimento da História e da Geografia considerável. Quando voltar, vai ter que aprender a nossa história tropical e a geografia do Brasil. Outro dia, eles liam um texto sobre a expansão colonial portuguesa e, lá no meio, citava Pernambuco. Cátia enganchou-se na leitura e não conseguia pronunciar o nome do nosso estado. Luiza logo corrigiu: é Pernambuco! A Mariana questionou: "O que é isso? é uma árvore?" Luiza explicou que era o nome do lugar onde ela morava e para onde ia voltar ao final desse ano letivo. Os meninos crivaram-na de perguntas e ao tocar para o recreio, Luiza era uma espécie de celebridade no 4º ano A.
Nas datas comemorativas há algumas diferenças no calendário: o dia da mãe é no primeiro domingo de maio, o dia do pai, é em março. O dia dos namorados é o Valentine's Day, no 14 de fevereiro. Essse bordado que temos na fotografia é um lenço dos namorados, típico da região do Minho. É um bordado popular muito colorido, que mistura frases e figuras do campo. Quando a Zé esteve em Garanhuns, trouxe-me uns panos de cozinha com estes bordados típicos. Se observarem direitinho, verão que há alguns erros de ortografia nas frases, pois essa é a maneira que popularmente se escreve, exatamente da maneira que se fala. Do mesmo jeito que registramos na música e na poesia, ou mesmo através do Bode Gaiato o modo peculiar que falamos, os bordados são muito conhecidos por aqui. Somente depois de dois anos é que percebi que essa grafia corresponde à verbalização. Um final de tarde, quando saíamos da escola, Luiza disse: "Mãe, por que é que os portugueses trocam o 'v' pelo 'b'? Nunca havia percebido. Ela insistiu, dizendo que a professora dizia 'binte', 'bírgula'. Achei que Lulu estava ficando doida até o dia em que estávamos a almoçar um velho e bom churrasco à brasileira (com arroz, feijão preto e couve!), na praça da alimentação do Fórum, e um senhor veio em minha direção e disse-me: "Ó menina, não comas! Isso é 'baca'!" baca? o que danado é baca? fiquei com o garfo parado no ar com um pedaço de carne espetado, sem entender. O sujeito repetiu: "Não comas. É baca!" e foi embora. Atônitas, ficamos nos olhando, até que Luiza rompeu o silêncio e disse: "eu não lhe falei que eles trocam o 'v' pelo 'b'?" caímos na risada e terminamos nosso churrasco de 'baca' que neste dia, estava particularmente saboroso. Somente à noite, ao revisar as notícias é que soube que há um surto de 'baca louca' no norte. Felizmente, os bois eslovenos que andam pelos nossos pratos ainda têm algum juizo.
Para reconhecer um brasileiro à mesa é muito fácil. Por mais indefinida que seja a nossa aparência étinca e que possamos, uma vez caladinhos, passar por portugueses, espanhóis ou italianos, pegou no talher para comer, entrega a origem. Brasileiros usam o garfo na mão direita, e os europeus, na mão esquerda e não soltam a faca, que é fixa na mão direita até o final da refeição. Não havia percebido esse pormenor até um dia em que Genésia e Anselmo vieram com a tia e nos convidaram para uma galinha com cuscuz na casa do Francislê. Então, ao pôr a mesa, Dayse nos avisou que era à brasileira, com o garfo no lado direito. Somente ai é que começamos a observar melhor as maneiras à mesa, e comprovar essa peculiaridade hemisférica. Luiza já tentou utilizar os talheres à europeia, mas, a comida fica mais pelo caminho que no destino final. É bonito o jeito que comem. Só acho feio como muitos miúdos se comportam. Parecem pequenos gremlins na refeição. E se forem espanhois é um tanto pior, pois falam muito enquanto comem. Faz falta uma irmã chata como Ilma e Ilda a dizerem "Deixa de pitchaco!" É como diz o ditado, costume da casa vai à praça.
Até amanhã, fiquem com Deus.
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