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domingo, 7 de maio de 2017

Resistência

Apesar da última segunda-feira ter sido feriado (dia 1º de maio), a semaninha foi puxada. Temos vivido uma sequencia de feriados em começos/finais de semana que já estamos ficando mal acostumados. O grande problema é para quem tem aulas nestes dias: a folga antecede o aborrecimento de ter que parlamentar com os alunos para repor as aulas. Afinal, vocês sabem: a carga horária é do aluno e o professor, se for a um congresso, adoecer ou tiver qualquer contratempo que não possa comparecer, vai ter que se virar para repor, a não ser em casos de licença médica ou que mande um substituto. Isso, os professores honestos e conscientes de suas obrigações, porque tem uns, nomeadamente uns coleguinhas do ensino superior, que se fossem compensar tudo o que devem, emendariam um ano letivo ao outro. Mas, deixa quieto. Como diria minha primeira gerente e amiga Guiomar: "Faça o seu". Então, vamos cuidar. 

Como disse, esses dias foram "crowded". Em meio às muitas atividades rotineiras, vivenciamos a culminância do IV ERECAD (Encontro Regional dos Cursos de Administração), realizado pelo Conselho Regional de Administração, Associação dos Administradores de Pernambuco e  FAGA. Quem trabalha com evento científico sabe que começamos a trabalhar muito antes da ocorrência do evento. Desde Janeiro que trabalhamos na comissão científica, e, tenho senso crítico suficiente para perceber que precisamos de ainda mais antecedência. E vamos combinar: trabalhar com gente, nem sempre é fácil. Apesar de todos os percalços, estamos conseguindo publicar o primeiro volume do Coletânea de Administração. É uma pequena contribuição ao progresso desta importante ciência social aplicada, e, um tributo à nossa instituição que resiste há 40 anos, formando profissionais no interior de Pernambuco. Felizmente, tudo correu bem. resta-nos avaliar criteriosamente os erros para melhorar a proposta do anos de 2018.

Terminada a minha contribuição no evento, quando cheguei em casa na tarde do sábado, fui olhar criticamente para o meu espaço doméstico, afinal, não sou administradora, mas como já vivo há 17 anos entre eles, acabo pegando os cacoetes. Constatei que havia louça na pia desde a noite da quinta-feira (a casa só não estava um caos completo porque Ana veio limpar e passar a roupa na quinta durante o dia), as roupas que usei durante a semana estavam amontoadas no clubinho (um quarto que não é ocupado, Luiza chama-o assim desde pequenina) e do quarto de Luiza, nem queiram saber. Os cachorros estão sem banho desde a semana passada (vou já lava-los, estou esperando esquentar um bocadinho o tempo para eles não morrerem de hipotermia), as plantas (que sobrevivem bravamente) estão secas. Além disso, faltei ao plantão pedagógico do curso de inglês, pois viajamos. Fui essa semana, para saber que me ferrei numa das provas e vou ter que estudar o dobro para recuperar, além de aguentar a chacota de Luiza, que teve que fazer um simulado de segunda chamada (lá se foram mais 50 Reais. As escolas particulares são extremamente capitalista) e ter que convencê-la com todos os argumentos do mundo a investir no reforço de Matemática, matéria em que ela está pior do que eu no Inglês. Filho adolescente é um capítulo à parte.

Para dá conta de (quase) tudo é preciso ter resistência. É preciso criar estratégias parta dosar as atividades e cuidar nas coisas, sem drama. Ler um livro, assistir um filme são partes da rotina que não podem ser abandonadas em prol da sanidade mental. Mesmo que leia uma pagininha por noite, ou assista o filme em três parcelas, é um investimento em saúde física e mental. E talvez até uma fomento a resistência nossa de cada dia. 

Finalmente, assistimos o filme "Aquarius". Outro dia, estava zanzando no Facebook e o colega Ed Cavalcante partilhou uma mensagem com o horário do filme que iria passar na TV Brasil. Fechei a internet e liguei a TV, já estava no trecho em que Clara (Sônia Braga, linda de morrer!) vai ao clube das Pás com as amigas. Fiquei olhando, ao mesmo tempo que chamei Luiza para providenciar a gravação na próxima vez que passasse. Como Tony estava doido para ver o filme, e a fita é bem longa (2h30min), assistimos em três parcelas. A história é tão boa, a realização é tão competente, que entre um capítulo e outro, discutíamos as cenas à caminho da escola. O filme narra a resistência de Clara na defesa de suas convicções. Não sei se aguentaria um terço do que ela suportou, e fico muito feliz em saber que o filme é baseado numa história real e que o Ed. Atlântico (no filme é Aquarius) resistiu à especulação imobiliária e continua lá na Praia de Boa Viagem. Tornou-se até um ponto turístico depois do filme!

Devagar e sempre, vamos resistindo, cada uma enfrentando -  e vencendo -  os desafios do cotidiano. Sexta-feira, Suianne (a nossa jovem e nova presidente da AESGA) chegou correndo para uma reunião e se desculpando pois na hora de sair o bebê fez cocô, e lá vai voltar para limpar a criança e deixar na creche para poder ir ao trabalho. Hoje, a Patrícia Almeida estava muito satisfeita porque conseguiu dormir 5 horas seguidas devido a uma trégua de suas "mini-criaturas". Não sei como é que Jennifer consegue manobrar aqueles três meninos e a escola de educação fundamental, promovendo incríveis visitas técnicas com os estudantes, o que me mata de saudades dos meus tempos da Geografia. Não há dúvidas que as mães são mesmo o melhor exemplo - e inspiração - de resistência.  

Vamos resistindo, conduzindo e produzindo, construindo a consciência de que, antes de criticar uma mulher, mãe e profissional, aprendamos a perguntar se ela precisa de alguma ajuda. Estou certa que apenas a empatia já  alimentará nelas a capacidade de seguir em frente. 

Fiquem com Deus. 


  

domingo, 19 de janeiro de 2014

Balanço das férias


Pronto. Num instante passaram-se 30 dias. Parece que foi ontem que eu andava às voltas com o serviço de promoter de confraternização de final de ano, junto com meus camaradas Zé Carlos, Ornilo e Paulo Falcão. Somando ao grupo Elpidinho e Adriano Sena, formamos a mais improvável equipe de promoção de eventos e festividades. Mas, não é que vem dando certo? Nem "bloguei" a confra, pois, foi o meu último serviço oficial do ano letivo, e confesso, estava cheia daquilo tudo. As filigranas relacionais da IES consomem a beleza de qualquer um. A pausa é necessária para reorganizar o sistema, nem que seja utilizando a sofisticadíssima  técnica da NASA: desliga e liga de novo. No começo, já sei que vai funcionar tudo no tranco, mas, depois, acha-se um ritmo. Nossa vida é uma eterna adaptação.

Este ano, passamos as férias de verão por aqui mesmo. Mesmo com os adicionais de final de ano, não sobrou grana para flanar muito por aí. Em dezembro, demos um pulo à Porto de Galinhas (PE), que é, por dez anos consecutivos uma das dez mais belas praias do Brasil. Neste mês, passamos um finalzinho de semana em Maceió. E só. Os outros dias, estivemos às voltas com reformas e acertos na casa. Como todos vocês já sabem, a nossa casa ainda permanece em construção. Nunca terminamos por fora, e por dentro, precisa de outra casa. Nossa vida sempre foi meio improvisada e agora, chegou a hora de investir um pouco mais de qualidade no cotidiano. Quando estávamos em Aveiro, eu prometia a Luiza que iria mudá-la de quarto assim que chegássemos. Contudo, somente no verão pudemos fazer a mudança. Agora, ela habita no quarto grande. Para promover a mudança, precisou de uma boa dose de "joga fora no lixo", pois muita coisa que entulhava o quarto era simplesmente dispensável. Nestes dias, me tornei incondicionalmente adepta à filosofia "xô bagaceira". Depois, fui com a jovensita escolher as cores do quarto. Ela optou por um azul clarinho e uma parede azul ararinha. Dias depois, seu Paulo veio e fez a pintura. Agora, faltam as cortinas (que já estão atrasadas), o sofá, o montador de móveis, o rapaz da porta e o eletricista para a luminária. Vai ficar bom, mas o investimento foi considerável para nossos rendimentos, resultando nas férias caseiras.

Num verão à 30°C, abrimos as portas e as janelas para o ventinho circular. Felizmente, cá na periferia não tem faltado água ou energia. A primeira, se faltou, não percebemos, pois a cisterna de 9 mil litros nos garante. E não sofremos apagões como no Rio de Janeiro. Enquanto Luiza brincava com suas amiguinhas, eu via filmes no DVD ou pedaços deles na TV por assinatura. Na TV aberta é impossível ver qualquer coisa, exceto as novelas e o noticiário local, para não ficar fora do mundo. Às vezes, Tony deixava-se ver alguma coisa, mas a minha companhia fiel sempre foi a Juju. Nomeadamente quando tinha pipoca doce. 

"Eba! Vou pegar!"

"Ops, alguém tá olhando e vai brigar comigo!"

"Delícia de pipoquinha!"

 A sequencia acima não me deixam mentir! Então, para aproveitar o tempo, assistimos um bocado de filmes. Quem se deu bem foi Cisneiros, nosso fornecedor. Está certo que as cópias não são propriamente legalizadas, e por isso, o custo é bem baixinho, compensado mais que ir ao cinema. Os filmes genéricos são vendidos livremente no meio da rua e até os magistrados compram. É um crime institucionalizado e eu não vou me fazer de santa. Quem nunca comprou um "piratão" no Brasil que atire a primeira pedra. Princippalmente se você tem criança pequena e quem vai pagar quase 30 reais num DVD da Galinha Pintadinha? Vai genérico mesmo. 

Justificativas apresentadas, mea culpa feita, vi ótimos filmes, fita regulares e filmes que não consegui finalizar, de tão chato que era. Não sou propriamente uma cinéfila, nem entendo nada de cinema de arte. Minha compreensão de cinema fica na linha do "assisti e gostei". Se a sinopse me agradar, eu vejo, embora frequentemente tenha testado os limites da minha paciência. Na minha singela opinião de telespectadora o pernambucano "O som ao redor" é um exemplo de uma excelente ideia que esbarra na falta de recursos. O nome do filme é "o som ao redor" e o som do filme é muito ruim. Há cenas que não conseguimos entender o texto, por causa do eco das locações. Lamentável. Para mim o filme é bom pois eu passei dias me lembrando das cenas. Um pouco longo, poderia ter uns 40 minutos a menos, mas vale o ingresso. Na categoria dos impossíveis de terminar estão: i) "O homem da máfia", com Brad Pitt. Nem a beleza do ator salvou a fita, até porque a produção conseguiu "enfeiar" o moço. ii) "A Viagem", com Tom Hanks e um excelente elenco também é muito ruinzinho. Utiliza o recursos de vai e vem na história e não diz nada com nada. iii) Mato sem cachorro. Chaaaaato! Nesta fita brasileira, a ideia é muito boa: um jovem casal que se separa, restando a pendenga de quem fica com um cachorro lindo, esperto e portador de catalepsia canina. Pensei em assistir com Luiza, mas o texto não permite. É tanta "p#*ra", tanto "c*%4lho" que se torna não recomendável. Aproveitei esses dias para inserir minha pequena no mundo dos serial killers. Com ela, assistimos "Sangue no gelo" e "Os suspeitos". Ambos muito bons. Na linha de ficção científica vimos "Elisium", só por causa de Wagner Moura, e "Gravidade". A Sandra Bullock está impecável nessa fita. Aliás, convenhamos: ninguém faz esses filmes melhor do que os norte americanos. É tanta mentira e tão bem contada que acaba se tornando verdade. Passei mal e senti falta de ar inúmeras vezes num estilo de filme que não é propriamente meu preferido. Na categoria dos filmes muito bons destaco: i) "Os intocáveis". demorei muito para coloca-lo na bandeja do DVD pois achava que era um filme de mafioso.Na verdade, trata da relação de um cuidador senegalês de um tetraplégico francês. O ator que faz o senegalês é fantástico. Há uma cena do filme, quando o senegalês vai "pedir" ao vizinho que não estacione no seu portão de saída que é o meu sonho de consumo. É muito bom, divertido e tocante.  ii) "A negociação", com o lindinho Richard Geere também é muito bom. Mostra o lado pérfido do mundo dos negócios. Ele estar muito bem no filme, fazendo par com a linda Susan Sarandon. Só fiquei pensando que nunca vi o ator fazendo um pobre. Ele tem cara de rico de nascença. iii) "A hora mais escura" é um bom filme. Tá certo que eu dormi, mas foi só um bocadinho. Trata da operação norte americana para matar o Bin Laden. Na linha infato-juvenil, vimos "Frozen", no cinema. Bontinho, mas eu dormi umas três cenas e acordei com a cantoria das princesas. "Crô" é um filme bem idiota, Ivete Sangalo péssima como atriz, mas o personagem do Marcelo Serrado é muito bom, divertido. Vimos também "Universidade dos Monstros", que não é melhor que "Monstros S.A.". Senti falta da Buu.   

Assim passamos esses dias de sol à sombra, bem aproveitados à sua maneira, e que vão deixar alguma saudade. Quando era criança, odiava quando a professora pedia que escrevesse a redação "minhas férias". Quem não fez nada de especial, nem foi à parte alguma, fica completamente sem assunto. Naquela época, me danava a escrever as histórias mais mirabolantes. Da terceira  para a quarta série já era um clássico fazer a leitura da minha produção, pois, as minhas viagens à lua e o meu encontro com personagens históricos faziam sucesso. Mas, já faz tempo que deixei de escrever ficção.

Até amanhã, fiquem com Deus.  
    
 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Aposentadoria

Estou com um grave problema: não consigo escolher bem as palavras para começar os textos. Talvez por isso os atrasos nos posts. Como tentativa de me organizar, voltarei a escrever estas mal traçadas linhas aos domingos pela manhã. Decisão tomada, a partir do meu último dia de folga das férias de verão de 2014, retomarei a rotina, determinada a ser mais disciplinada, largando de vez a procrastinação. Até já comecei a ler os artigos dos meus queridíssimos orientandos, a corrigir a tese (depois eu conto da terrível impressão de caos que causam as correções do senhor doutor meu orientador em parceria com a sua Thinker Bell acadêmica, que somente confirma que as baixinhas são implacáveis!), a providenciar as coisas de começo de ano, reservadas ao período de férias. Houve um tempo em que férias significava descanso. Hoje, tenho amplas dúvidas. Penso que descanso mesmo só na aposentadoria. Talvez  tudo mude até eu chegar lá.

Confesso que há bem pouco tempo quando a conversa rodava e recaia sobre a aposentadoria, eu declarava enfática: "não vou me aposentar nunca. Vou morrer numa sala de aula e assombrar uma escola." O tempo cuidou em me ensinar o equívoco do meu  plano imaturo. Nada é para sempre, e graças a Deus, como diria Marcelo Camelo "todo carnaval tem seu fim", e um dia chega a hora de pendurar as chuteiras. E passar para outra fase da vida, que pode sim ser muito produtiva, contrariando o comentário infeliz do então presidente Fernando Henrique Cardoso que classificava como vagabundos os trabalhadores que se aposentavam aos 50 anos. Com essa brincadeira, a idade mínima para aposentar-se no Brasil mudou e o critério principal deixou de ser tempo de serviço, que poderia ser comprovado com declarações, e o tempo de trabalho passou a ser contado pelo tempo de contribuição. Engraçado é que boa parte das reformas nas regras da aposentadoria, geralmente desfavoráveis ao trabalhador, foram capitaneadas pelo então presidente FHC que aposentou-se aos 37 anos. É o clássico "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço". E as regras seguem mudando durante o tempo regulamentar, assustando os trabalhadores que estão mais próximos do apito final enquanto partícipes na população economicamente ativa. Vi no noticiário que até na França os ferroviários entraram em greve, motivados pelo aumento da idade limite para a reforma, passando de 60 para 65 anos.O Estado entende que um homem é perfeitamente capaz de conduzir um trem aos 65, já que a expectativa de vida naquele país já passa dos 70 anos.  Já para os motoristas de caminhões, a licença para conduzir e exercer a profissão é válida até os 60 anos. Como o trabalhador pode completar o tempo mínimo de 65 anos, se não pode obter a licença para exercer sua profissão? Coisas estranhas produzidas por legislações pouco amadurecidas. O imediatismo de sanear o rombo das previdências originam esses monstrinhos trabalhistas.
    
Muitas pessoas temem a aposentadoria. Alguns, temem a desconstrução da identidade, uma vez que esta é construída através do trabalho. Outros, sofrem a perda de vantagens que não são incorporadas aos salários, que no momento da aposentadoria pode reduzir o rendimento em até 60%. Os oficiais de justiça são um exemplo desta situação. Neste cargo, ninguém se aposenta pois, caso o faça, irá perder mais da metade do salário. E como cumprir os compromissos com uma redução tão drástica? Por isso, continuam se arrastando vida a fora, até quando chegar o dia de fazer os mandados de Nosso Senhor. Há algumas profissões e condições sociais que mereciam condições especiais de aposentadoria. Professores da educação básica mereciam ter melhores condições para aposentadoria, pois,quando chegam à ela, já estão tão doentes e cansados que a  aposentadoria é sinônimo de imensas contas na farmácia. Pais, e principalmente mães de crianças especiais, portadoras de algum transtorno mental deveriam ter uma redução no tempo de trabalho, pois a vida desse pessoal não é nada fácil.  

Passei a ter um olhar positivo a aposentadoria quando Cândido e Neide aposentaram-se e não tornaram-se sócios de cadeiras de balanço. Ainda perdura no imaginário a representação do aposentado velho, com um gato no colo. Hoje, o new retired é uma pessoa produtiva, longe da classificação como inativo. O amigo Cícero Dimas fez suas contas e percebeu que solicitar a aposentadoria proporcional era muito mais adequado do que permanecer se matando numa sala de aula da educação básica no norte do Brasil. Encontrei-o semana passada, visitando a família, todo serelepe na sua nova condição de aposentado.  Existe vida inteligente e produtiva após a aposentadoria, conforme o exemplo da minha querida Genésia Neri. Na nossa instituição enfrentamos alguns problemas administrativos para aposentadoria, e, os colegas temiam sair somente na "expulsória", que ocorre quando o servidor público completa 70 anos de idade.  Genésia foi um divisor de águas. Depois dela vieram outros servidores administrativos,como Toinha que assinou os papeis nesta semana, e partilhou sua gratidão à Deus através do Facebook. Partilhamos a felicidade dela como nossa. Hoje, pela manhã, tive o prazer de encontra "seu" Manuel e "seu" Bira. Este último recém-aposentado, muito bem disposto, com um largo sorriso em sua cara indígena. Após cumprimentos, "seu" Bira me perguntou: "Sabia que eu mudei de nome? Agora eu sou o Jaque!" Entre risadas, esperei a explicação: "É que, como estou aposentado, todo mundo chega pra mim e diz: 'já que tu estás aposentado, vai lá na cidade e paga isso para mim', ou 'Já que tu estás em casa, faz isso pra mim'. Seu Bira é ótimo. Família é uma trabalhadeira que nunca termina. Mas à medida correta, é uma ocupação boa. Passou da conta é exploração. Cada um cuide de sua vida, que o aposentado também tem muito o que fazer, nem que seja para pegar um autocarro de graça para tomar um café e jogar conversa fora, enquanto os jovens trabalhadores apressados jogam-lhes olhares esperançosos de "um dia eu chego lá".

Até amanhã, fiquem com Deus.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Sonhos


Outro dia, Luiza nos perguntou qual seria o nosso maior sonho. Nem me lembro qual a resposta dei, nem qual foi o desdobramento da conversa. Mas, na semana passada, no último dia de aulas, quando as crianças foram dispensadas às 10 horas, Luiza chegou para me fazer companhia no departamento até as 12 e pouquinho trazendo-me um sonho. O delicioso bolinho recheado de goiabada chegou numa caixinha de plástico, coberto com açúcar confeiteiro. Reprimi o comentário de que o mimo era uma "bomba calórica". Preferi agradecer a gentileza e não me fiz de rogada: comi o pãozinho macio, lambendo o açúcar nos dedos, pensando que sonho mesmo era comer tudo isso sem engordar um grama. Não se pode ter tudo, e eu já passei da idade de sonhar com irrealidades. Meus sonhos são outros.

Sonhar é bom e necessário. São os sonhos os trilhos das nossas ações, pois quando enquanto sonhamos projetamos, planejamos e, aos poucos e na medida do possível,  executamos. Outro dia, sonhava com o mesmo calor que me abrasa hoje. Muitas vezes, são os sonhos antigos que se realizam e não nos damos conta. Há alguns dias, demos uma carona (em Portugal diz-se "boleia") a um vizinho. Lá pelo meio da conversa ele decretou: "eu realizo todos os sonhos de fulana (a esposa dele). Tudo que ela quer, eu dou". Na hora, reprimi o riso e olhei de soslaio para Tony, que conduzia o automóvel, também com ar de riso. O vizinho enumerou sonhos pequenos, que não ocupavam um bater de pestanas.  Fiquei a pensar qual a diferença entre vontade, capricho e sonho.
Vontades e desejos têm definições psicológicas diferentes. Não me arrisco a esta seara, pois sempre acabo tropeçando nas minhas palavras. Um amigo me explicou numa mesa de café que desejo é o que queres, mas que não consegues nomear. Já a vontade é alguma  coisa que se quer mais concretamente. A partir deste conceito, tenho dúvidas se fazer as vontades do outro é realizar seus sonhos. Sonho é mais adiante. Numa comparação culinária, a vontade é um trivial pão com manteiga, pois o que eu quero hoje, posso deixar de querer amanhã.

Quando eu era pequena, minha mãe sempre dizia: "menino não tem querer". Ou seja, naquela época, a vontade da criança era secundária. Os tempos eram muito difíceis e as vontades eram tolhidas pela falta de dinheiro. Hoje, numa economia mais segura, com melhores condições e acesso aos meios de consumo, os meninos tornam-se tiranos da vontade. E crescem adultos cheios de caprichos. Absolutamente diverso do sonho, o capricho é aquela vontade incondicional movida pelo orgulho pessoal. O fulano quer que "seja feita a sua vontade assim na terra, como no céu" (thanks, God!) simplesmente por estar acostumado a ter suas demandas atendidas. E nem precisa ser um jovenzinho. Tem muita gente já bem firmada nos "enta" (cinquenta, sessenta ou setenta) que pensa - e age - como um menininho de onze. Contudo, maturidade não é para todos, e como dizia minha querida e eterna professora Eliane Vilar: "tem gente que apodrece antes de amadurecer." Faz parte. Para não trombar com uma ou várias pessoa desse tipo só indo viver em Jesusalém (thanks, Mia Couto!), um não lugar no meio de uma coutada, localizado na crença que o mundo se acabou. 

Confesso o receio de escrever este texto, após uma semana tão tumultuada. Quem sabe os envolvidos no cenário e na ação sejam meus leitores? e caso não sejam, como não passar fel adiante, fermentados em dissabores? Como "para o louco, falar é sempre pouco" (Couto, 2009, p. 195), acabei por  escrever e tive as palavras devolvidas. Compreendi então, que não é porque você mudou que o mundo vai mudar. As pessoas só mudam quando querem, e neste meio caminho estão as conveniências, as conivências e as subserviências.  Mais humano do que isso só o orgulho e a traição.

Se Luiza me tivesse feito a pergunta hoje a resposta seria o ensinamento do mestre Paulo Freire: "Cuida para que o momento de tua fala seja o momento da tua prática." Hoje a minha  meta é coerência entre a minha prática e o meu discurso.  Eu não posso criticar o corrupto se, quando me é conveniente,  me corrompo. Mesmo num mundo em que o errado é o certo e o certo, um imbecil, mais que um sonho, é uma filosofia de vida. E minha busca diária de hoje em sempre!

Até amanhã, fiquem com Deus.    
 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Ocupação

Me atrasei, perdoem-me. Andei ocupada estes dias, numa semaninha animal. A quilometragem de casa para a escola deve ter dado para ir a São Paulo. Dobrei turnos, numa HBC (horas bunda/cadeira) absoluta. Tanto em casa, quanto na escola, ralei mais que estivador depois de greve. É da vida. Felizmente, mesmo o trabalho ruim não é dos piores. Só não aprecio quando percebo que estou rodando numa gaiola como um hamster. Já diria Dante: "O inferno é a repetição". Pois, concordo. Isso, eu odeio. Que fique para a mulher de "Cotidiano" de Chico Buarque as rotinas repetitivas. Fico meio Charlie Chaplin nessa cena de "Tempos Modernos". Uma cena divertidíssima, mas que nos provoca refletir acerca da automatização da nossa vida. Se estava procurando rotina, achei. Mas, a repetição é um fardo. Preciso inovar, nem que seja no caminho que percorro ou no meio de transporte que apanho. 

Então, a semana começou hard. Iniciamos um acerto no muro de casa, pois já haviam bichos malocados nas frestas. Uma noite destas estava na escola e recebi uma mensagem de Luiza: "mãe, eu vi um escorpião. Na hora fiquei com medo, as pernas tremeram e eu fiquei tonta. É um bicho muito perigoso." Liguei rapidamente para ela para saber do bicho. "Onde ele estava?", perguntei-lhe. "Ele ia pro meu quarto! E a Marcela matou!" Quando chegamos em casa, inquiri sobre inseto, que na minha imaginação e no alarido de Luiza era mesmo o escorpião rei, aquele do filme de aventuras. Felizmente, o bicho era pequeno, e Marcela, que é bem entendida desses animais, disse que ele não era do venenoso. De qualquer forma, não aprecio este tipo de companhia, de forma que diagnosticamos que o problema era o bendito do muro inacabado. Daí, contratamos "seu" João, e a casa estar em obras. Juju tem sofrido horrores pois tem que ficar presa numa varandinha tamanho de nada. Faz parte, é assim mesmo. O ruim é quando nos distraímos e  ela percebe o portão aberto e ganha a rua. Outro dia, ficamos eu, Luiza e Mari perseguindo a cadela pelas ladeiras sem pavimentação, levando todo tipo de drible. A bichinha é rápida! Hilário mesmo foi hoje pela manhã, Tony todo paramentado de advogado e perseguindo um cão basset salsicha. Felizmente, ela decidiu voltar para casa sozinha, no primeiro chamado. 
Obra em casa é um transtorno. Mesmo que o benefício seja maior, vivi deixando para depois, empurrando com a barriga. Mas, agora tornou-se inevitável. E precisei conciliar os pedreiros ouvindo o "arrocha" durante todo o dia, com os compromissos assumidos e prazos exíguos. A declaração de liberação da minha tese chegou, de forma que tive que correr para fazer uns ajustes (não os últimos, infelizmente), imprimir e enviar pelos correios. De sexta para cá, tenho trabalhado nisso. Somente hoje à tarde pude enviar o pacote completo pelo Correio, rezando para que não entre em exigência e que os "homis" dos Serviços Acadêmicos da Universidade de Aveiro recebam aquilo lá e deem destino a mais esta etapa da minha vida. Se não for pedir demais, tenho aborrecido um pouco ao Nosso Senhor para que interceda e que as provas públicas sejam marcadas em janeiro/2014. Daqui até lá as coisas estarão mais assentadas em seus cantos, e do calor, estarei pronta para o frio que não mais me assusta. 

Até amanhã, fiquem com Deus.

sábado, 18 de maio de 2013

Respeitinho!


E então, apesar de já estarmos na metade de maio, parece-me que o inverno veio passar a primavera em Portugal. Anda a nevar na Guarda, em Trás-os-Montes e no Minho. Cá nas Beiras, estamos em alerta amarelo: as ressacas atingem a costa portuguesa e o Atlântico norte esborra-se sobre as praias, que a esta altura já deveriam ser domínio dos banhistas. Os espanhois ja chegaram. Diferente do ano passado, devem ter guardado um dinheirinho para uns passeios pela Península Ibérica. Ou  o dinherinho só deve ter dado para bater pernas por estas calçadas mais próximas. Na Espanha, a coisa anda muito feia. Cá, vamos levando para o último mês de residência. E tenho percebido que me acostumei com muita coisa. Como diria a patroa das Empreguetes, da novela Cheias de Charme, essa "vivência de Europa" redimensiona o nosso olhar sobre a vida. É por isso que quando vejo professores e acadêmicos enfrentando os processos seletivos do Ciencias sem Fronteiras, dou graças a Deus. Quanto mais pessoas tiverem essa experiência que estamos concluindo, maior a percepção crítica diante da conjuntura social. Concordo com o companheiro Sidclay, professor pernambucano que cursa Doutoramento no Canadá quando ele diz que há muita coisa simples que pode ser feita e que melhora a vida coletiva exponencialmente. Outro dia, Mayda compartilhou um vídeo da entrada dos utentes no metro de Camaragibe (Pernambuco). Sabe a corrida dos touros de Pamplona? Pronto. Troquem os bovinos pela gente destrambelhada da RMR e tens ai o resultado. Não há motivos para tanta correria, pois o trem demora-se um pouco para arrancar da estação. É só má educação mesmo. Da mesma maneira portam-se nas ruas, nas escolas. Falta muito em educação, sobretudo em educação doméstica. Desculpa, por favor, com licença e obrigada, como diz na musiquinha da Xuxa, não mata ninguém. E acostuma-se com isso, é só necessário um pouco de exercício. O respeito pelo outro e por si próprio é uma virtude (cada vez mais escassa), mas que pode se tornar num hábito.

Então, a falar em respeito, indignei-me hoje pela manhã ao aceder ao Facebook e ler comentários preconceituosos de  meus conterrâneos em uma fotografia da equipa de enfermagem do SAMU de Garanhuns. A foto é essa ai:
Essas jovens são enfermeiras do SAMU, recem inaugurado em Garanhuns. Em Portugal, seria o INEM. Há muito tempo que a cidade carecia desse tipo de atendimento de emergência, que recaia sobre o Corpo de Bombeiros, que no Brasil, é uma guarnição militar. Contudo, apesar de toda boa vontade que os moços dos Bombeiros tinham em atender as emergências médicas, não é essa a sua atribuição. O SAMU é uma brigada especializada em primeiros socorros, cuja infraestrutura inicial é financiada pelo Governo Federal e mantida pelo poder municipal. Como já disse, o trabalho da equipa que funciona durante 24 horas é atender urgências de saúde, contanto com profissionais especializados para isso, situação que oferecem uma sobrevida considerável a vítima de um sinistro qualquer. Um serviço essencial e um trabalho necessário, de profissionais altamente qualificados. O SAMU não é para qualquer um.
 
Pois, essa fotografia foi alvo de comentários altamente preconceituosos. Uns fulanos referiram-se a beleza das jovens, outros duvidavam de sua competência justamente por esse fator. Como é possível ser tão leviano ao destilar o lixo interno na rede, quando o serviço da equipa ainda nem começou? Entre esses e outros preconceitos, as Dras. Enfas. certamente farão um excelente trabalho. Até porque, já somos 65% da força de trabalho do Brasil. Conseguimos este feito, pois temos mais tempo de estudo, haja vista que 75% dos estudantes de nível superior são mulheres. Somos professoras com alta qualificação, médicas, juizas, promotoras, delegadas, enfermeiras, cantoras, engenheiras, pesquisadoras,  atrizes, empresárias, arquitetas, advogadas, contadoras, motoristas, pintoras, gestoras, e até, pastoras. E somos mães com o firme propósito de criar homens e mulheres para uma sociedade que tenha mais respeito pela pessoa.
 
Quem é de Garanhuns deve lembrar, antes de abrir a boca para falar mais asneiras, de profissionais como Eliane Vilar, Josevalda Cavalcanti, Débora Bandeira, D. Rosa,  Luzinete Laporte, Carla Fabíola, Marinalva Almeida, Neide Ferreira, Selma Melo, Cláudia Motorista, e as que já se foram a exemplo de Ana Nery, Sylvia Galvão, D. Jura e Ivonita Guerra, como mais um milhão de anônimas que trabalham honestamente,  todos os dias no Brasil, e de centenas que dedicam-se a  construir essa cidade. Não é preciso ser nascida em Garanhuns para ser uma mulher de Simoa Gomes (mais uma mulher!), e, como tal exigimos mais respeito. Ou como diriam os portugueses: respeitinho, ó pá!
 
Té manhã, fiquem com Deus.