Pronto. Voltei. Na verdade, dei apenas um tempo, e neste ínterim, arranjei algumas coisas que estavam meio bagunçadas na minha vida. O cotidiano precisa ser tramado de modo a ser possível fazer tudo o que tem para se viver. Apesar de evitar muitos formalismos, acabei por ter que redirecionar alguns esforços para assumir outras responsabilidades. Não sou a primeira (e nem serei a última) dona de casa do mundo a ficar sem o auxílio precioso de uma empregada doméstica. Mas, a conjuntura brasileira mudou e, eu com ela. Se já havia assumido a cozinha, pois a nossa colaboradora não cozinhava tão bem, agora, me responsabilizo por tudo o mais: roupa, limpeza, planta, cachorro e tudo o mais que aparecer. Dessa forma, é preciso mesmo organizar melhor o tempo e não ficar neurótica. Há dias que simplesmente fecho a porta e deixo tudo lá. As coisas não vão sair correndo atrás de nós. É preciso não se deixar dominar pelo mundo doméstico. Aqui, quem manda sou eu.
E nessa redistribuição do tempo, arranjei espaço para ler todos os dias, como fazia nos tempos portugueses de dedicação exclusiva aos estudos. Com uma pequena diferença: agora, quem escolhe a leitura sou eu. Outro dia, estava concluindo uma turma de Pós Graduação em Gestão Pública na AESGA, quando Marconds, um jovem estudante muito dedicado, disse: "Professora, graças a Deus estamos terminando. Já não aguento mais ler o que me mandam." Pois, eu estava nesta mesma linha há muito tempo. O que eu queria, ficava em segundo plano, e o resultado é que eu passava meses para ler um único livro. Agora, leio todos as noites. Como consegui? reengenharia pura! A escola me colocou para aulas no contraturno, das 17h15 às 18h45. Só fico até as 20h30 apenas uma noite. Daí, foi só reduzir a TV. Depois de arranjar o almoço do dia seguinte, um bom banho e uma sessão de leitura. É certo que, como ontem, acabei cochilando na segunda página com a desculpa que era só um minutinho, e acordei-me hoje às 5 da manhã com os passarinhos pulando do muro para a janela. Às vezes, quem manda é o sono.
E também, reordenei minha relação com o trabalho. Em muitos casos, aprendi a dizer não. E hoje, já o digo até à chefe, com a maior naturalidade. Não é por maldade ou rebeldia, como muitos pensam. É que, se formos apanhando todos os serviços que aparecem e não tivermos foco, começamos muito e não terminamos nada. E, na verdade, eu tenho medo de morrer e ficar nos corredores da escola assombrando as novas gerações de servidores. Portanto, é como no exército: "Tarefa dada, tarefa cumprida", apesar de eu não ter o mínimo de vocação para tarefeira. Em outra dimensão, deixei de trazer serviço para casa. Não corrijo mais nada no recesso do meu lar. Nem apele: trabalho oito horas por dia (às vezes mais, às vezes menos), de segunda à sexta e eventualmente aos sábados, com bandeira dois, como os taxistas. Um dinheirinho extra até que é bom, e continua a ser importante, mas, definitivamente, certas despesas, principalmente as motivadas pelo consumismo, já não mandam mais em mim.
Há ainda muito para ser redimensionado. Ainda falta me libertar do sedentarismo, do excesso de sal e de açúcar. Falta reduzir a fatura do cartão de crédito e me libertar do cheque especial. Ainda careço de me organizar internamente para cuidar melhor de mim. Mas, já consigo fazer um bom bacalhau, como o que borbulha no forno, enchendo a cozinha de um cheirinho maravilhoso. E só me falta um pouco mais de habilidade para desenformar o pudim de leite no meio do prato. Um passo de cada vez, um a cada dia e acabamos por chegar lá com serenidade.
Até o próximo sábado, cujas manhãs estão parcialmente reservadas para nossa conversa, mais uma lição da reengenharia do tempo.
Fiquem com Deus.
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