Quando chegam as festas juninas, já sabemos que falta um pulo para o natal. Vocês verão que, em poucos dias, começarão a aparecer no comércio as árvores de natal e os famigerados pisca-pisca cantores. Já diria Cazuza, "O tempo não pára", e os lojistas precisam faturar. Um aspecto que para mim é novo no São João são as felicitações de "feliz São João". Estou com essa idade e ninguém nunca havia me desejado feliz são joão. Não me espantarei se logo mais não inventem os presentes juninos, que certamente irão além dos traques de massa e peidos de velha.
Até que este ano, os festejos foram calmos na nossa periferia. Não sei se por reflexo da crise ou das pragas de aedes aegipty. A primeira, justifica-se por si só. A falta de dinheiro e a carestia do supermercado e da feira impedem qualquer "arraiá" superproduzido. No máximo, se investe numa fogueirinha, uma mão de milho e uma camisa xadrez, e já deu. A segunda razão é que, com a crescente praga dos mosquitos transmissores de dengue, chikungunya e zika, o pessoal da periferia deixou de guardar troços velhos no fundo do quintal para evitar o acumulo de água das chuvas eventuais, e assim, reduzir a proliferação dos mosquitos. Aliás, é digno de registro a matéria-prima das fogueiras das pontas de rua (sem preconceito, pois é moramos): constam de pedaços de madeira vindos não sei de onde, restos de reformas antigas, móveis velhos. Na nossa área, vimos até uma casinha de cão desmontada compondo as oferendas de fogo ao santo! É divertido passar devagarzinho, e tentar identificar os restos mortais que serão incinerados em via pública logo mais à noitinha. O efeito perverso é a fumaça. Quando as madeiras se misturam com restos de borracha, então, parece uma manifestação dos sem-terra. É preciso também ter cuidado, pois muitos munícipes fazem as fogueiras na via pública, o que dificulta o tráfego dos automóveis. Se as ruas já são estreitas, a situação se agrava. De qualquer forma, é uma festa importante para a nossa região e portanto, em nome da tradição, concessões hão de ser feitas, exceto em relação às bombas. Que graça tem de colocar fogo em algo somente para ouvir o estampido? Tenho pena dos cães, gatos, bebês e idosos que se assustam com as explosões.
Contudo, vivenciamos uma crise seletiva. Algumas Prefeituras investem verdadeiras fortunas na contratação de artistas que pouco (ou nada) têm a ver com a identidade das festas juninas. Torna-se uma verdadeira disputa de quem consegue trazer o artista mais famoso, quando na verdade um bom pé-de-serra faz uma festa muito melhor, mais tradicional e autêntica. Em alguns casos, ainda se investe mais do que se pode, e em poucos meses, falta dinheiro para custear serviços essenciais como educação e saúde. Devemos ficar todos atentos, pois, lá para outubro (após as eleições municipais, claro) talvez a crise mostre a sua carranca através do desequilíbrio das contas públicas. A polêmica do cachê do Safadão em Caruaru é uma excelente oportunidade de repensar a ética na gestão do dinheiro público. Não é porque o jovem cantor teve um surto de caridade, doando o cachê de mais de meio milhão, que a conta bate. O superfaturamento da atração é um sinal óbvio de que as prioridades estão invertidas. Mesmo se justificando que o investimento saiu dos bolsos dos patrocinadores, que profissional recebe meio milhão por duas horas de trabalho? Será que vale mesmo tudo isso, ou apenas alimentamos a indústria da mediocridade? E desde quando, caridade se faz através de anúncio público, no pátio do forró? Como diria a companheira Jennyfer Soares: "99% marketing e 1¢ deduzir no imposto de renda". Passa credulidade e falta senso crítico.
É para pensar na cama, aquecido com sua bela manta, enrolado até as orelhas, enquanto a chuva canta no seu telhado a música natural, 100% doada por Deus.
Fiquem com Deus.
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