Pronto. Então, quase sem querer o ano já
corre solto para sua metade. Tenho a impressão de que o tempo acelerou-se
ultimamente. Talvez seja efeito da idade, pois quando éramos crianças pequenas
lá no Magano, custava muito chegar o mês de junho. Do Natal ao São João, era
uma eternidade, hoje em dia, o tempo passa num piscar de folhinhas. Para
Domenico De Masi, isso tudo é efeito colateral da tecnologia. Segundo o autor
da teoria do ócio criativo (adoro essa teoria. Pena que não pegou.), a criação
de soluções tecnológicas servem para "desafogar" o já afogado tempo
do ser humano contemporâneo-pós-moderno. Contudo, como a contradição faz parte
da nossa essência, em vez de aproveitar a folga para cultivar a vida,
arranjamos mais compromissos e mais trabalho, mais preocupações, menos saúde,
menos felicidade. Num mundo em que se considera dispor de tempo livre uma
desonra, impera a burrice movida a tecnologia.
É importante salientar que a tecnologia
não é boa, nem é má. Esses adjetivos competem ao uso que se faz dela. Com a
comunicação em tempo real, temos uma imensa distorção de valores, divulgadas
exaustivamente através de práticas que beiram ao absurdo. Ultimamente, das
coisas que eu odeio, a ostentação vem em primeiríssimo lugar, pois essa prática
resulta da associação de pequenos-grandes males da humanidade: a vaidade, o
orgulho e a arrogância. Além disso, é a prova cabal de uma imaturidade
generalizada. Criança birrenta é que tem que exibir o que possui, com aquela
cantilena do "eu tenho, você não teeeem!" Será mesmo que para ser
feliz é necessário tanta publicidade e propaganda?
Na graduação, tínhamos uma professora que
trocava o conteúdo da aula pela exaltação às qualidades do marido. Quando
estávamos muito cansados, perguntávamos pelo consorte, daí, adeus conteúdo.
Dimas até que tentou nos convencer a denuncia-la à coordenação do curso, mas a
turma do "deixa disso" acabou ganhando. Entre uma tragada e outra no
seu indefectível cigarro. Na década de 1990 ainda não era proibido fumar nos
prédios escolares, dependíamos do bom senso do fumante para não tragarmos
passivamente. Aprendemos que bom senso e fumante são praticamente impossíveis
de congregar. Pois bem, tempos depois de termos pago a penitência de
estudar com uma louca dessas, soubemos que o tal casamento perfeito havia
terminado, e que o consorte foi procurar a sorte com uma ex-aluna da nossa
professora. Moral da história: que divulga demais o produto acaba atraindo a
concorrência.
Naquela época, não existiam as redes
sociais para dar vasão à ostentação, então, os coitados dos alunos eram as
plateias preferenciais. Hoje em dia, o povo perdeu a noção e tudo é motivo de
exibição na rede. Sei que daqui, muitos vão lá conferir no meu Facebook se o
texto não é um faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Compartilho
também. Acompanho o crescimento da primeira sobrinha-neta do lado da minha
família, vejo pelo feed as novidades dos amigos, tenho notícias dos
companheiros portugueses. Quando tenho um sonho rui com alguém, no outro dia consulto a "fofoqueira
online" para conferir se vai tudo bem. Gosto de fazer um clipping com
imagens de momentos da vida, mas, procuro não perder o bom senso. Me digam
quem, além das fofoqueira de plantão, irá ter a pachorra de ver um álbum de 150
fotos de uma viagem, por melhor que ela tenha sido? Três ou quatro fotografias
são suficientes para registrar e partilhar a felicidade de quem foi. Não
há nada que deponha mais a favor da mediocridade do que a repetição exaustiva
de fotos "com copos na mão". Na passagem do dia dos namorados no
Brasil (o 16 de Fevereiro do resto do mundo), vale a pena exercitar o senso
crítico e avaliar se acrescenta alguma coisa a autoimagem partilhar aquela foto
do beijo, que, por mais romântico que seja, quando feita sem técnica, lembra a
cruza de um tamanduá com um rinoceronte. É fundamental ter construir o senso de
ridículo, pois, mesmo a amor sendo lindo, certos retratos sem jeito seriam
prudentemente rasgados no tempo da fotografia analógica. Hoje em dia, sem
qualquer prejuízo, é só acionar o delete. E fim de papo.
Até logo mais,
Fiquem com Deus
Anna, nem lembrava dessa parada de denunciar a professora.Tens memória de elefante!Um abraço.
ResponderExcluirE ostentar na internet ainda pode chamar atenção dos ladrões, que hoje também estão usando a rede para facilitar o seu trabalho. Beijos. :)
ResponderExcluirOstentar, principalmente o "amor" pode dar confusão! Um determinado jornal da cidade publicou em sua coluna social foto de um casal apaixonadíssimo, aos beijos! A foto era de dezembro e saiu na edição de janeiro. Quase foi processado! O casal tinha se separado e ambos já estavam com outros "amores" e apaixonadíssimos!
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