quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Vizinhos

Se tem uma coisa na vida que é inevitável são os vizinhos. Me lembra muito as aulas de Eliane, que com um sorriso, explicava sociologicamente aos alunos exaustos de trabalhar o dia interio no comércio a formação de agregados. Começava meio assim-assim, mas ela nos envolvia com suas histórias, acabávamos nos interessando, e as aulas eram sempre muito divertidas. Bons tempos, hoje já não subo mais na mesa para fazer discursos.
Já tivemos cada tipo de vizinho... Na minha infância lá no Magano, tivemos uma vizinha catimbozeira. Uma bela manhã acordamos com estranhos mugidos junto ao muro. Acho que o trabalho era meio pesado, pois a oferenda seria aquele pobre garrote, apertado entre o tanque e o pé de goiaba branca. Fomos torturadoras de um velho rabugento que se queixava da bagunça das moças na casa de parede conjugada. Ele dizia: "ai, meu Deus, que eu vou virar um tetéu", enquanto Ilma pedalava furiosamente a máquina de costura instalada na pequena sala.
Anos depois fomos nós os torturados. Eu e Tony éramos vizinhos de uma Igreja que, com todo respeito, tirava a paciência de qualquer cristão: somente com duas pessoas na Igreja, os obreiros achavam pouco e ligavam o microfone no último. A oração, uma latomia que só repetia "ó mo deus, ó mo deus..."  isso, três vezes ao dia. Neste mesmo prédio, convivemos como D.Tonha, que ra fiscal do condomínio. E aquele vizinho de Vilma? Com Carolzinha ainda bebê, o recém-casal foi morar vizinho do Pagode Veneno, em algum lugar em Casa Amarela. Pense numa animação nos finais de semana!
Mas,  também tem vizinho que se torna parte da nossa família. Considero Dona Mima e Dona Nalva como minhas tias. Me criei entrando na cozinha de uma e de outra para mordiscar torresmos às escondidas e comer raspa de bolo embaixo da mesa. D. Júlia foi minha melhor amiga de infância, eu com 6 anos e ela com 80. Adorava aquelas maozinhas enrugadas e trêmulas alimentando os preás.
Na minha casa brasileira, Lena e Nice são minhas companheiras do final de tarde morno dos verões pernambucanos, enquanto as crianças brincam soltas no meio da rua lá da minha periferia. Irmã Lia eventualmente vem da rua de cima, e, a conversa só termina à boquinha da noite quando entramos para cuidar do café.  Fala-se de coisas da vida, complicações com os filhos, da carestia, das demoradas marcações de consultas no posto de saúde, das eternas reformas nas nossas casas, de quem morreu, de quem casou, de quem separou. 
As jovens costumam reclamar dos vizinhos, queixam-se da invasão de privacidade pelas cortinas que se mexem quando chegam alta madrugada. Mas, os vizinhos podem ser raros, como os meus co-habitantes do número 52 da Rua Direita de Aradas. No início, passei cerca de 15 dias sem encontrar vivalma nas escadarias de mármore desgastado. Depois que fui saber que uma professora e um gato habitam o primeiro andar, e  dos meninos estudantes de engenharia que dividem conosco as despesas de internet e gás. São três rapazes que dormem tarde, gargalham e tocam violão, aquele tipo que Iasmim e Mariana (e talvez Izabel!) iriam gostar de conhecer. Não perturbam, pois, basta fechar a porta do guarda-roupa embutido do nosso quarto, que o som fica para trás. Talvez seja uma passagem para Nárnia! Não sei muito bem se nos apreciam como vizinhas, pois não perdi o gosto pela gaitada e Luiza às vezes treina velocismo dentro de casa, além de nós duas sofrermos da síndrome da mão furada, com crises frequentes  pela manhã. Pelo menos não usamos saltos altos para não acordar o povo todo ao som  do toc-toc no piso de madeira.

Saudade de hoje: Minhas vizinhas da Cohab II.

Té manhã.    
Prédio onde moramos em Aveiro

10 comentários:

  1. Realmente o veneno foi um terror na minha vida!
    De vez em quando ainda passo na frente, mas nem sei se ainda funciona. Acho que sim!
    Mil bjos pra vc. Saudades!

    ResponderExcluir
  2. A propósito, as vizinhas mandam lembranças e não há uma só vez que Ellen me veja pra não perguntar quando Luíza chega. Explico que vai demorar um pouco, mas, sabe como criança é né?
    Beijos.

    ResponderExcluir
  3. É, Anninha, já foram tantos vizinhos, alguns muito bons, outros nem tanto! Também, o que a gente já se mudou por esse mundo, já perdi a conta de quantas casas já morei. Gosto de conversar com as vizinhas que varrem a calçada de manhã, com Seu Jurandi, que está sempre de bom humor e raramente veste uma camisa(foi ele que Tony socorreu outro dia e ele sempre agradece por isso). Antonio sempre pergunta por vocês, ele não sabe o quanto demoram dois anos. Beijos pra vocês duas. Saudades!

    ResponderExcluir
  4. Pois é, vizinhos são mesmo assim e tbém n deixemos de lembrar que também somos vizinhos, e é bom passarmos despercebidas. Para mim este é o bom vizinho, que muitas vezes ninguém conhece ou se conhece é de "alô" e "ciao" nas escadas do prédio, na verdade n gosto de muito chamego e papo na casa de um e de outro, acho que por causa da nossa criação: "Cada um tem sua casa n é para está na casa dos outros!", além do mais muita intimidade gera fofoca, e fofoca dá em briga, portanto melhor manter distância, servir quando preciso, participar de vez em quando , se envolver, "de vez em nunca". Posso parecer anti-social, mas , de tdo jeito, melhor n extrapolar os limites. Beijo prá ti e Lu. Saudades! Ciao!

    ResponderExcluir
  5. Gosto de vizinhos... não sendo tipo "Jabulane" tá tudo certo!

    ResponderExcluir
  6. Ai, não sou muito atenta com a vizinhança, devia ser, às vezes acontece cada uma de dar uma história e tanto. Mas existem vizinhos legais como D. Luzinete, a nossa fada madinha fornecedora de coca-cola de todos os dias, se não fosse ela eu teria de ir ao super todos os dias!

    ResponderExcluir
  7. Os vizinhos daqui são silenciosos. E aqui tá cada vez frio.

    ResponderExcluir
  8. Vizinhos de casa, de sala, de rua e mesmo de continente, com um pequeno oceano separando... Que seriamos sem os vizinhos? Lembrando que não nos falamos antes de sua viagem, sequer para desejar boa ida e breve vinda, agora, em atraso, é claro, o faço! Torço para que sua estadia lusitana seja muito proveitosa e que o retorno as vizinhanças saudosas ocorra o mais brevemente possível.
    Não poderia deixar de comentar como a leitura do teu blog tem sido prazerosa. Me reporto a muitos lugares mnemônicos muito, mas muito legais mesmo.
    Assim, obrigada por isso, e até breve.

    ResponderExcluir
  9. Menina, como é? mnemônico???? é de comer?? kkkkk! Ô Bel, obrigada pela ajuda constante... Os dias que ficasse lá em casa nos deu uma enorme tranquilidade. Beijos!

    ResponderExcluir
  10. Ilzaaa: Já fui vizinha de Jabulane também! Ela passou meses planejando comprar uma geladeira,e discutia com a vizinha às 6 da manhã. Pode? aquele prédio parecia a vila do Chaves.
    Ilda:Tô precisando de uma vizinha dessas, pois, se quiser atender a uma "urgência",tenho mesmo que ir ao super. O agravante é ter que vestir várias camadas de roupa para atravessar 3 ruas. E nesse frio????
    Maninha: Mas, você já teve bons vizinhos... D.Hilda e Filemon são excelentes lembranças. O melhor é esforçar um pouquinho para não ser mau vizinho, nisso condordo com você.
    Ilma: "Já morei em tanta casa que nem me lembro mais..." É uma música linda.
    Tony: Transmita minhas saudades aos meus (nossos) vizinhos da rua 10 mil buracos. Já passaram a máquina?
    Bjooooooos a todos!!!!!

    ResponderExcluir