sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Aprendendo outras coisas

Além da chuva, do frio e das intempéries em geral de Aveiro, que vocês já estão cansados de saber, temos oportunidades ótimas para aprender. Aqui, aprende-se de tudo, encontramos cultura do mundo inteiro. Aveiro é uma pequena Babel, cidade que se desenvolveu voltada para o mar, de vez em quando até dar para sentir  o cheirinho de maresia. Atravessando Santiago, bairro situado entre a zona que moramos e a Universidade, é curioso ouvir retalhos soltos de  conversas em línguas ligeiramente conhecidas ou totalmente desconhecidas. Além disso, a Universidade atrai estudantes e pesquisadores dos quatro cantos do mundo. Assim, para aprender só é preciso atravessar a rua e prestar atenção nas pessoas. No último domingo, eu e Luiza acompanhamos uma briga de casal... em chinês! A mulher gritava com o sujeito, que lutava com ela para que se decidisse onde iriam almoçar.Por mais que eu recomendasse discrição, Luiza fixou o olhar aturdido e ficou encarando a mulher, enquanto levantávamos hipóteses para os motivos do conflito. 
Algumas oportunidades são ótimas - e de graça! -, basta ficar ligado nos inúmeros cartazes que estampam a cidade anunciando todo tipo de evento. Nestes dias, fomos a dois.
Semana passada, vi um cartaz e perguntei a Luiza se ela gostaria de ir a um concerto no Museu de Aveiro, que fica ao lado da escola dela. Começaria às 17hs, um pouco após a saída da escola. Ela topou na hora. Mais tarde quando fui buscá-la, nem me lembrava do tal concerto. Ela me cobrou: "Ei, e o concerto?" Fomos. Eu tinha apenas as chaves e 5 euros no bolso. Nem o telemóvel estava para fazer fotos. O Concerto era de Sítar e Tablas, dois instrumentos fundamentais da música indiana. Ao entrarmos na sala, um auditório pequeno, que não acomodava mais que 80 pessoas, ela perguntou: "Tem piano?" Tive que explicar que era uma música diferente. Os artistas  eram dois camaradas canadenses. A apresentação em inglês foi traduzida por um rapaz que conduziu o exercício de relaxamento para ouvirmos a música. Com o auditório completemente apinhado de jovens músicos da UA, senhoras do cabelo lilás e senhores com chapéus e bengalas, Luiza arranjou um lugarzinho para sentar bem na frente do palco. Assistiu todo o concerto sentada no chão ao pé de um senhor distinto que acompanhava a música com a cabeça. Depois, falando com o pai por skype, fez o exercício de relaxamento com ele. Dificil era relaxar com aquela voz gasguita, a vontade maior era de dar risada!
Ontem fomos a uma exposição de arte da Turquia, lá em Educação, na UA. Encontramos entre os presentes Dayse e sua estagiária, a Helena, e Sannya, do LCD. Chegamos no final da exposição do palestrante a um grupo de jovens descabelados e de calças rasgadas sentados em colchonetes no chão. Depois, teve a apresentação de um artista turco chamado Ibrahim. A pintura que ele faz  é Ebru. Trata-se de uma pintura típica da Turquia, feita na água! Essa água fica e uma vasilha retangular de metal, onde misturam estratos de ervas e clara de ovo. Nessa mistura, o artista espalhava a tinta e desenhava com um pincel de talo de roseira e crina cavalo. Depois de feito o desenho, ele colocava uma folha sobre a água e puxava pelas pontas e... daquela poça surgiam imagens lindas de flores e arabescos de cores maravilhosas impressas no papel. Parecia mágica!
Acho que dá para ver  lá no final uma pintura azul... as estampas são lindas! O curioso é que  o artista não levantava nem os olhos para comunicar-se com a plateia. Uma mocinha explicava o processo da pintura. Só incomodava um pouco o mau cheiro de clara de ovo, parecia xixi de cavalo!
Serviam aos visitantes umdoce típico da Turquia, que parece fruta cristalizada, e um chá em copos descartáveis, mas, feito em umas jarrinhas bojudas de louça, lindíssimas! Apesar da minha expectativa ter sido maior do que o resultado, a exposição foi boa e aprendemos coisas novas. 
Andamos assim: sempre à cata de eventos bons - preferencialmente de graça - e em um horário possível para chegarmos em casa e nem sacrificar a criança, aproveitando a temporada européia para conhecer mais sobre o mundo.

Lembrança de hoje: Uma exposição que fizemos na UPE em mil novecentos e bolinha, com os santos de Marlos. Foi tudo de bom!

Te manhã!


  

4 comentários:

  1. Ai, inveja boa da oportunidade de ouro que a Lu está tendo de aprender coisas maravilhosas aí!
    Se nós só tirássemos da vida as coisas boas que vemos, ouvimos e aprendemos o mundo seria maravilhoso, n teríamos tanta "jumentice" espalhada pela vida à fora. Q maravilha uma criança está presente num concerto de música ao invés de estar "descendo na boquinha da garrafa". Parabéns Anninha!

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  2. Pena que as boas oportunidades não são para todos... então a criança pobre e desfavorecida socialmente acaba tendo que sobreviver com o que tem e como pode. Mas, as vezes, é do gueto que surgem belas flores!

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  3. A única vez que fui ao Teatro Santa Isabel foi para ver uma apresentação, grátis, promovida pela Aliança Francesa, em 1994, comemorando o ano da França no Brasil, de um violonista egípcio radicado em Paris. Fui com meu amigo Marlos e valeu para conhecer o teatro, pois a música era muito estranha. Fui grátis, também, ver a apresentação de música antiga na Igreja de N. Sra. do Carmo do grupo francês Ars Antiqua, que tocavam instrumentos de corda medievais, muito bom, foi promoção da Aliança Francesa também. Quando aparecem coisas grátis por aqui eu também vou, pena que Antonio não tem paciência, a não ser que sejam mamulengos e palhaços, ai ele gosta mesmo e fica até o fim. Estou achando essas suas atividades parecidas com as viagens de Jorge Amado e Dona Zélia Amado, quando estavam exilados, é muito bom aproveitar para conhecer outras culturas e se for grátis é melhor ainda. Beijos e divirtam-se!

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  4. É, moças, estamos cuidando. Quando tiver concerto, exposição, teatro - de preferência de graça-, estamos dentro. Não dá para pagar muito caro, pois o nosso dinheirinho é contado!!! O ideal seria que em toda cidade, principamente onde tem faculdade e universidade, promovesse periodicamente essas palestras e apresentações, pois o ensino superior não é somente para formação de técnicos, mas sim para desenvolver o espírito crítico e reflexivo, dando oportunidade a comunidade - para além da acadêmica. Em Aveiro fica mais fácil pois tem conservatório e pós graduação em música e comunicação. Mas, nós temos aí, na terrinha e região um caminhão de coisa boa, falta só visão, articulação e vontade para fazer a coisa acontecer. Ilma, você é para lá de generosa comparando os meus "alfarrábios" (a cara de cãndido, essa palavra!) com a narrativa maravilhosa de Dona Zélia. Um monte de beijo

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