terça-feira, 3 de maio de 2011

Mãe

Domingo passado foi o dia da mãe em Portugal. Interessante como essas datas não batem com o calendário brasileiro. O dia do Pai foi em 14 de março e o da mãe uma semana antes do nosso segundo domingo de maio. Outra coisa curiosa é como se referem a esta data: aqui é dia DA MÃE e dia DO PAI. Nada no plural, isso é coisa do mundo multi-brasileiro.

Domingo fomos passear na cidade sob um céu nada amigável. Nestes últimos dias tem desabado aguaceiros como os do Recife, dos quais eu não tenho a mínima saudade. E olhe que Aveiro tem áreas que também alaga. Essas cidades-Veneza tem esses pequenos problemas. Luiza me comprou um presente, uma camiseta amarela com macacos estampados, ela mesma foi lá, pagou e trouxe o presente, orgulhosa. Nestes momentos, discutíamos a diferença dos termos, singular português e plural brasileiro. "Talvez seja porque mãe só tem uma por aqui, né mãe?", sentenciou a pequena. Concordei, mas me pus a pensar no caso. 

Naturalmente, o Brasil tem suas características multi, e  é justamente o que o faz único: Essa Babel tropical reinventa-se a cada dia. E esse dia DAS MÃES deve ter a suas raízes antropológicas. Lembrando do tempo que passei entre os índios (Fulni-Ô, em Águas Belas, e os Xucurus, em Pesqueira), aprendi que estes tem um modo todo especial de lidar com os filhos, não limitando-se aos registros nos livros de Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes. Como vivem em comunidade (apesar dessas populações já há muito tenham sido anexadas a sociedade nacional e até atravessadas por ela), as crianças ainda são patrimônio do grupo. Quando se tem um filho, a responsabilidade pela educação e o cuidado, não é somente da mãe e do pai, mas de todos os mais velhos que tem a incumbência de perpetuar as tradições já tão desgastadas. A escola também tem uma responsabilidade com a educação dos pequenos, hoje existe legislação especifica para a educação indígena, planejada e executada pelos próprios, e não uma educação para o índio, arquitetada nos gabinetes sombrios da capital. Os povos tradicionais são mais pacientes com suas crias, menos estressados com as suas experimentações do mundo. Lembra-me o modo leve que Nell toma conta dos filhos, sem muita neura de mãe enlouquecida com os germes, os vírus e as pestes pós modernas.

Essa coisa de ser plural chega atinge a nossas práticas sociais, não se restringe a um termo, um modo de falar. Quem, em sua trajetória pessoal, não tem aquela que lhe acolheu e lhe tratou como mãe? Depois que minha mãe se foi desse mundo, encontrei uma Mãe Honoris Causa. MhC Genésia é aquela que me apoia, me ouve, e me puxa as orelhas quando necessário, além de ter me acolhido na sua família. Por isso que para mim, domingo que vem é dia DAS MÃES,  com todo plural e toda gratidão a que tenho direito.

Saudade de hoje: Do Prof. Edson Hely, da UFPE,  bravo orientador dos meus primeiros passos na produção científica, e que me ensinou muito sobre os povos indígenas. 


Té manhã, fiquem com Deus!       

4 comentários:

  1. Se todos educassem assim seus pequeninos como os povos indígenas, não haveria tantos meninos perdidos por ai, sem limite, sem rédeas, sem respeitar seu próximo...Acho que o termo certo é dia das mães, já que existem mães de todo jeito, tem gente que tem até mais de uma! Eu tenho saudades infinitas da nossa, que espero reencontrar um dia, como ela sempre falava. Beijos e saudades de vocês.

    ResponderExcluir
  2. A cada ano que passa essa data vai tendo um significado mais forte... É como se no começo não dessemos a importancia merecida e com o passar dos anos percebessemos que não existia algo mais sagrado e puro do que aquele amor do qual hoje morremos de saudade!

    ResponderExcluir
  3. É verdade... hoje,eu e Lu olhávamos umas fotos e encontramos uma foto da nossa velha. Infelizmente, a gente só olha para trás e percebe que não foi presente o suficiente,não foi atencioso o suficiente,não foi tão amoroso quanto deveria, pois todo amor que demos é ainda menor do que a falta que ela nos faz.

    ResponderExcluir
  4. Eu fico muito comovida com a lembrança da minha mãe. Muitas vezes me pego falando dela como se aqui ainda estivesse!
    Eu tenho essa sensação , de ter faltado com amor e atenção por ela. Ela se foi em junho e eu só a ví em abril. qdo estive em Gus na ultima semana senta que tive o prazer de está com ela. Até no hospital não consegui vê-la pela ultima vez! uma despedida. Mas não deu. Não tive coragem de ve-la sem vida!
    Tenho muitas lembranças felizes com ela! Foi ela quem sempre me incentivou a ser o que sou hj.
    Hj a minha alegria na vida é meus tres filhos que amo demais!

    ResponderExcluir