domingo, 3 de julho de 2011

Educação em tempos de crise

No último dia 01.07 estivemos na Escola da Glória para o resultado final de Luiza. Como vocês já sabem, fiz aquela manobra de matriculá-la novamente no 2º ano, embora tivesse o direito legal de matricular no 3º ano. Penso que optar pela aprendizagem em detrimento do direito foi uma boa opção. Luiza progrediu muito nos últimos meses, tanto na escrita, quanto na matemática. Não é que a antiga escola seja ruim, é que o sistema educacional brasileiros é deficiente, e isso não é novidade nenhuma. É que aqui há um investimento maior em educação, mesmo em tempos de crise. E as dferenças são drásticas, a começar pela filosofia e organização da escola básica.

Apesar da possibilidade de oferta de ensino particular, a educação básica é majoritariamente pública. Ou seja, nas escolas públicas convivem filhos dos portugueses ricos, dos portugueses pobres. E dos imigrantes, ricos e pobres. Todos tem o mesmo ensino, e, as mesmas possibilidades de aprendizagem. O horário das aulas vai das 9h às 17h45min, numa jornada ampliada, que favorece ao desenvolvimento de várias atividades além do estudo da matemática, língua portuguesa e estudo do meio. Os miúdos fazem visitas técnicas em vários pontos da cidade, recebem visitas especializadas. Fazem atividades de ginástica, ingles, ciências experimental, música e artes e palco. Outro dia, Luiza chegou em casa encantada com uma aula-passeio sobre azulejos. E eu, também.  E a informática? está integrada em todas as disciplinas, pois a ideia é que os meninos usem os dispositivos móveis (laptops) interligados à internet para atividades colaborativas, com o uso do Magalhães, o laptop escolar português. O de Luiza chegou essa semana.  

Esses fatores são vantagens em relação a educação brasileira que está muito focada em preparação para exames. Seguindo as diretrizes da União Européia, a educação deve ser uma oportunidade para o desenvolvimento de competências. As salas de aula são compostas por 20, 26 alunos. As mesas sao conjugadas, e os meninos trabalham geralmente em duplas. A mesa da professora fica atrás dos alunos e não na frente, como nas salas de aula tradicionais. Um quadro de giz, um aparelho de som, um computador fixo e muitos livros na estantes. Um aquecedor ajuda a manter uma temperatura adequada no inverno. Na parede próxima à porta, um cabideiro enorme onde eles costumam esquecer os casacos mais pesados.  No outro lado, um armário onde cada aluno tem a sua gaveta com o material: livros, cadernos, uma lata com lápis de cor, lápis de escrever, hidrocor. Nas outras paredes, muitos desenhos coloridos feitos pelas crianças ao longo do período letivo.

Os meninos chamam a professora pelo nome. Nem tia, nem professora. A professora de Luiza é Puri, diminutivo carinhoso de Maria da Purificação. Ela, uma senhorinha de 57 anos, já com tempo de serviço para solicitar a reforma (aposentadoria), elegante e animada, recebe o carinho dos meninos, que disputam aos empurrões o privilégio de carregar-lhe os livros e a bolsa. Tão diferente dos nossos professores esfalfados que quando chegam às vésperas da aposentoria não suportam mais nem ver os alunos, e às vezes precisam ser readaptados, doentes  e desesperançados.

Nem tudo são flores. Em tempos de crise, as constantes modificações nos planos de carreira dos professores assombra os profissionais que estão temerosos em relação ao futuro. Na reunião de final de ano, os pais entram na sala de aula e ocupam os lugares dos filhos. A professora vai de mesa em mesa, mostrar os resultados e fazer as últimas recomendações. Perguntei a Puri se continuaria no próximo ano letivo. Ela esclareceu-nos que dependeria das reformas do governo, pois, não poderia arriscar os direitos de sua aposentadoria... Mas, provavelmente, ficará até o final do 3º ano desse grupo. Isso gerou uma discussão com os demais pais que estavam aguardando a vez do seu atendimento. A crise já atropelou o ensino técnico, que cortou os benefícios dos alunos, que recebiam uma ajuda de custo para o transporte e alimentação. Vai cortar os professores contratados. Cortou a bolsa de 3.000 doutores no primeiro dia de exercício do novo governo. E muita coisa ainda vem por ai.

Apesar dessas previsões tão negativas, tem sido uma excelente oportunidade para nós frenquentar escolas portuguesas. Como somos estudantes a tempo integral aproveitamos a nossa disponibilidade para aprender o máximo possível. Se Deus permitir, Luiza continuará na EB1 Glória, e eu, na Universidade de Aveiro, em busca do conhecimento que nos fez atravessar o mar.

Saudades de hoje: de todas as escolas de Educação Básica que trabalhei, e de minhas amigas professoras, as quais admiro mais a cada dia.

Té manhã, fiquem com Deus.


    

3 comentários:

  1. Pois é. Mas o bom mesmo é saber que fizemos parte da vida de tanta gente, bem lá no comecinho da vida. Boas lembranças não tem preço!

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  2. Wow, Amorah, só queria que o bocadinho de qualidade que temos aqui pegasse aí nessa terra que "em se plantando tudo dá"! O problemas são as ervas daninhas, que se alimentam da pouca educação do nosso povo. Tenho uma admiração enorme pelos professores da educação básica.
    Beijos e saudades

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  3. Quando eu era criança queria ser professora. Quando fui professora, vi que não tinha vocação. Admiro muito os bons mestres, e alguns bons exemplos que conheço são as professoras Ilza e Anninha. Parabéns pelo trabalho de vocês. Beijos e saudades.

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