sábado, 15 de outubro de 2011

Nomes e alcunhas


Andei bastante ocupada nesta última semana. Nas atividades do Doutoramento, estou no meio da construção de um artigo sobre Currículo, curiosamente, tema que não me foi permitido lecionar em 2000 por não ter formação em Pedagogia. Ironias do destino. Tivemos umas novidades na escola de Luiza, quando foi necessário falar com Puri, a professora, para que ela interferisse na resolução de um conflito entre minha pequena e outras coleguinhas na aula de ginástica. Ao final, foi resolvido, a acusada pediu desculpa à ofendida, e tudo voltou às boas. Além disso, estou me recuperando de uma doencinha chata, que se fosse ao médico no Brasil, diagnosticaria em um olhar: virose! Segundo a minha vizinha que trabalha no quiosque o parque vendendo tripa e bolacha americana, esse tempo ataca todas essas pequenas doenças que não são graves, mas que maltratam muito. Já deveria estar frio, mas, os termómetros ainda não entenderam que já é outono. As ruas estão repletas de folhas e as árvores estão cada dia mais louras. Apesar de me beneficiar com o solzinho fora de hora, tenho  vergonha de dizer que estou gostando, pois, os campos secam e incendeiam-se, as colheitas murcham, e isso definitivamente completa o quadro de caos de um país em crise. Já me resigno ao frio, se isso for melhor para todos. Se é que minha resignação de algo sirva contra as intempéries da natureza.

Era para falar na crise económica portuguesa, mas, não quero fazer coro ao que se fala nos quatro cantos do país, com ecos no mundo. Até porque preciso aprender um pouco mais, nem que seja para sentir o reflexo das medidas anunciadas pelo "Seu" Ministro no total registrado pelo olho verde do caixa do supermercado ou nas operações com o câmbio flutuante, onde tenho a minha lição cotidiana de economia. Depois, falo do meu pasmo dessa estratégia de enfrentamento à crise, onde quem paga a conta é o trabalhador. Em vez disso, vou falar em nomes e alcunhas. Estranho? Nem tanto.

O primeiro impacto que Luiza teve do português de cá foi logo no aeroporto do Porto, quando o agente da imigração perguntou-lhe: "como te chamas?" A pequena, exausta das quase 12 horas de aeroporto (o voo Recife-Lisboa são 7 horas) respondeu com um "hein?" Já havia avisado a Tony que quando perguntam-lhe o nome, diz-se "como te chamas". Me lembra uns colegas da quinta série que diziam: "Eu não me chamo, quem me chama é você!" Palhaçada de menino encrequeiro. Quem pergunta "Qual  o seu nome?" é em brasileiro. Segundo o sujeito que me vende os tinteiros (cartuchos) da impressora, somente após o acordo ortográfico é que brasileiro virou português. Acho graça.

Uma tarefa de todos os dias é buscar Luiza na escola. Conforme já disse em outro post, os pais ficam no passeio (calçada) esperando pelos meninos. Uma supervisora controla a saída das crianças, que são entregues aos pais ou encarregados da educação previamente inscritos na reunião no início do ano letivo. Quando toca o sino, os pequenos saem em disparada, parace um rebanho de bois pequeninos e coloridos. Com os casacos na mão, disparam sem respeitar obstáculo. Às vezes caem, levantam e tornam a correr. Confesso que quando saia das aulas de Rui Vieira, a vontade era de fazer o mesmo. Mas, já estou quase nos "enta", isso não ficaria bem. Para chamar atenção dos meninos na correira, os pais acenam e chamam-nos pelo nome: Matilde, Catarina, Joana, Rui, Nuno, Gonçalo, André. Mesmo o chinês do globalizado 3º ano da Escola da Glória, chama-se Ângelo. Diferente, só a indiana Ayaty e o pequeno Iwng, um chinezinho que ainda está no primeiro ano. Dentre os amigos de Luiza (Bruno, Alex, André, Cátia, Maria Adriana, Tiago, Ana Maria, Luisa, Carmo, Rita, Gabriel, Maria Miguel) nomes comuns, muito conhecidos nossos. Nenhuma Mirelly Rogacianny. Nenhum Rodneyson Jefferson. Nenhum Cristiano Ronaldo sequer! Os nomes dos meninos portugueses seguem a tradição e não se habilitariam à catalogação como verbete no livro Nomes Próprios Pouco Comuns, de Mário Souto Maior. 

Nome é uma coisa muito séria, pois o indivíduo vai carregá-lo ao longo da vida. Isso quando não ganha uma alcunha, para nós, brasileiros, um apelido. Apelido em Portugal é o sobrenome, e eu só vim entender isso depois de errar o preenchimento de um cadastro eletrônico. Felizmente, o mico foi menor, pois o anonimato virtual protegeu-me dessa vergonha. Durante a semana, no horário da tarde, a SIC veicula um programa de entrevistas voltados ao público feminino. Na ultima sexta feira, a simpática apresentadora Conceição Lino entrevistava pessoas que tinham alcunhas interessantes. Apareceu um José Pernas, um Francisco Sem Pescoço, um Manuel Martelinho. Muito engraçadas e cheias de personalidade, as alcunhas também podem causar grandes dissabores, principalmente quando o portador da alcunha não aceita o título de bom humor. Isso é o que move a Pegadinha do Mussão, um quadro de programa de rádio veículado em Garanhuns, que consome a paciência da vítima com telefonemas sucessivos evocando a tão odiada alcunha. Já saiu até tiro por conta da brincadeira. Mas, uma coisa é certa: alcunhar é uma arte e, das mais difíceis. Dos mais hábeis alcunhadores, conheço dois: Sandro Carrapicho (que já foi Sandro Boi de Barro) e o Menino Dimas. Com este último estudei na licenciatura em Geografia da UPE, e, o danado era mestre em colocar nomes, principalmente nos professores. Coisas inofensivas como "Todo Branco" ou "Dona Miúda". Mas, todos apropriadíssimos. É, às vezes mais vale uma boa alcunha do que um nome mal colocado. Lula que o diga!

Sabiam que eu já tive um aluno chamado John Lennon? E do colega Bruce Wayne, eu não conseguirei jamais esquecer.

Té manhã, fiquem com Deus.

       

5 comentários:

  1. Interessante isso, tive uma experiência com estes apelidos esta semana: Estando na minha sala em Caetés, entra um homem procurando por uma mulher que estava internada. Perguntei-lhe o nome ele disse : "preta". Olhei prá ele e ri, dizendo que precisava do nome da senhora para informar em que enfermaria ela estaria, ele disse que n sabia o nome e só a conhecia por aquele nome mesmo. Perguntei se ele sabia o que ela tinha para ter ideia da enfermaria da interna. Soube que a mesma parira e,portanto só podia estar na 3 ou 4. Indiquei-lhe as duas enfermarias e ele achou a procurada.
    Isso acontece mto nas nossas cidades pequenas onde as pessoas ou são conhecidas pelo apelido, ou pelo nome do pai ou mãe.Como n sou de lá é impossível conhecer as pretas, tonho de Joca, zé de joana e por aí vai... Realmente mto interessante seu post.

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  2. PS.: O nome da mulher era Maria da Conceição!Parecido né?

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  3. Terminei curriculo e tô em avaliação no mestrado... Adorei o post! bjs e saudades!

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  4. A pessoa que coloca mais apelidos nas pessoas é sem dúvida Pablo Henrique, que é o maior "troll" de todos os tempos! Tem apelidos que combinam, outros não tem nada a ver. Lembro que a irmã Quitéria, da igreja de mamãe, era na verdade Olívia Laura; a esposa de Seu Jurandir aqui da rua, é conhecida por D. Lourdes, mas no documento o nome dela é Cecília. Eu fico feliz com o "Tiimo" que deram pra mim. Beijos e saudades.

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  5. Tem alcunha que não tem nada a ver. E tem outrosd que são a cara da pessoa.
    Beijos à todos!

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