segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Digam-lhe que fui ali: Lisboa

Passamos os últimos meses no esquema casa-escola-casa. Enrolei Luiza com a resposta padrão o quanto pude, quando ela me questionava a ausência completa de passeios. "Quando o seu pai chegar, iremos" foi um santo remédio. Com isso, dediquei-me mais  às minhas infindas leituras e rabiscos eletrônicos no EndNote. Quem passou por isso,  me diz que isso é normal: os primeiros passos de uma tese é pior do que enterro de Ojuobá: neste, o homem que é os olhos de Xangô nos terreiros de candomblé é conduzido aocampo santo no passo solene de dois passos para frente e um passo para trás. Penso que o começo da tese é justamente o contrário: um passo para frente e dois passos para trás. Às vezes creio que leio em círculos numa floresta densa de PDFs. Por conta disso, aliado a ausência de recursos (maneira fina de dizer conforme minha mãe, que está mais liso que os pratos da música!), fui deixando o passeio para quando Tony chegasse. E assim foi. Uma semana após ele desembarcar do outro lado do Atlântico, juntamos umas coisas em uma mala e pulamos em um comboio para Lisboa. O plano era voltar a Lisboa, cidade que adoramos, visitar Sintra e Fátima. Ainda pensei em esticar até Évora, mas, ficaria cansativo para Luiza, que no terceiro dia de viagem já começa a perguntar quando iremos retornar à casa. Évora fica para a próxima vez que formos a sul.

Área de alimentação da R. Augusta
Saímos de casa às 8hs sob 6 graus. O orvalho da manhã dá a impressão que estamos com as calças molhadas de tão frias. Luiza parecia um feijão de cachecol e chapéu. Dessa vez, tomamos o comboio intercidades, que é mais barato. Já conheci o Alfa Pendular, um trem mais chique do que esse outro mais acessível. Chega do mesmo jeito e a diferença entre um e outro são apenas mais algumas paragens. Chegamos a Lisboa à hora do almoço. Já havia prevenido os meus companheiros que iriamos almoçar em algum restaurante da Rua Augusta, no Rossio. Uma das ruas que mais gosto de andar nessa cidade, que para nós é estas áreas históricas às margens do Tejo. Nos acomodamos sob um sombreiro no centro da avenida, que forma uma grande praça de alimentação. Uns fogareiros faziam o lugar mais quente que os agradáveis 16 graus. Tony pediu dourados e Luiza escolheu costeleta grelhada. Dois pratos dá para nós três porque eu divido com Luiza. Cometemos o pequeno engano de não perguntar o que acompanhava o bendito dourado e vocês precisavam ver a cara de Tony quando um prato repleto de feijões verdes (parecem com as nossas vagens) e salada de acompanhamento. Tive que fazer uma reengenharia dos pratos: dividi o arroz da costeleta para os dois, e fiquei com as verduras. Tudo isso,  sob a mangação de Luiza,que gabava-se de ter escolhido o prato perfeito. Os dois pratos, com duas colas (Coca-cola. Aqui se diz só o sobrenome do refrigerante!) e dois pães (daqueles da casca dura e o miolo bem molinho) custou 26 euros. Razoável. O garçom simpático nos ensinou a chegar ao castelo de S. Jorge.

O bonde. Fomos no 28, no sentido contrário.
Andava até a quarta travessa da rua Augusta, atravessava o passeio e apanha o Carreira 28. Esses  bondinhos lindos circulam elegantemente pela Lisboa antiga, mas custam os olhos da cara: 2,80 a passagem. Como eu tinha um desejo de buchuda de andar nesses bondes, subimos e pagamos para subir umas ladeirinhas. Ao pé do Miradouro de Santa  Luiza, o condutor (abusadíssimo!) avisou-nos para descer. Esse miradouro é uma paragem muito simpática, de onde se avista o Rio Tejo e parte da cidade.

Vista do Miradouro de Sta. Luiza. Ao fundo, Rio Tejo.

Seguimos à pé, orientados pela sinalização turística perfeita da área, rumo ao Castelo de São Jorge. Da sacada do nosso quarto de pensão na Praça da Figueira, vemos as torres do Castelo bem no alto. Compramos um bilhete econômico de família, e entramos nos jardins do castelo. Há na murada canhões apontando para o Rio e lunetas para apreciar a cidade. Luiza pulou logo no pedestalde uma delas, querendo fazer uso das lentes de aproximação. Percebemos que para o tal negócio funcionar é preciso inserir 0,50 ou 1 Euro na ranhura que abre a lente. Ela ficou muito feliz em usar a luneta pública.


Muralhas do Castelo de S. Jorge
O Castelo é belíssimo. Nos fartamos de subir escadas para alcançar as Torres e nos presentear com as vistas maravilhosas da cidade. Uma delas é a famosa Torre do Tombo, que guarda uma imensa documentaçãohistórica de Portugal e suas antigas colônias. Muito das pesquisas sobre a historia do Brasil tem que ser feita nesses documentos. Me lembrei muito da Profa. Giseuda e dos meus queridos companheiros da Especialização em História da UPE. Quando começamos a andar, Luiza começou a me atentar por uma casa de banho, pois estava apertada. No pátio interno no Castelo há toda uma infra-estrutura de acolhimento, com restaurante, museu arqueológico e snacks. E nada dos banheiros. Com muito custo, conseguimos enncontrá-los num canto do Jardim Romântico. Achei estranho que um bando deturistas de todos os lugares do mundo estivessem postados à frente da entrada da casa de banho,que ficava no subssolo (aqui diz-se cave). Eles estavam vendo uns pavões que estavam empoleirados no alto da escadaria. Eram muitos pavões, acho que uns 7. Tivemos que descer as escadas bem sob a mira do bumbum dos pavões, com a ameaça dos bichos fazerem cocó nas nossas cabeças. Além dos pavões, o Castelo de São Jorge abriga também muitos gatos, e eles são bem bonzinhos e gordinhos, deixam-nos fazer carinho e tudo.

Muralhas do Castelo de S. Jorge, Lisboa


Terminada a visita ao Castelo descemos a pé pois na descida, todo santo ajuda. Aproveitamos e visitamos o outro lado do Miradouro de Santa Luiza, e curtimos um grupo de músicos africanos que se apresentavam na rua, visitamos a Sé de Lisboa e a Igreja de Sta Ma.Madalena. Já estava escurecendo quando pulamos em um leve (Veículo Leve sobre Trilhos, é um trem que anda no meio da rua) e fomos à Belém em busca dos famosos pastéis.

O famoso Pastel de Belém é um pastel de nata comum. Aliás, o pastel é como uma pequena tortinha de massa folhada, do tamanho de um bolinho de padaria, recheado com um creme feito de nata e polvilhado de canela. Simples, mas delicioso. Quando cá estivemos em maio, não deu coragem de enfrentar a multidão. O Pastel de Belém é como o Rei das Coxinhas: não tem dia nem hora para esvaziar. E foi o único lugar que encontramos cidadãos portugueses em quantidade considerável. Ao chegar, entramos até lá no finalzinho (o casarão azul e branco é enorme) e nenhuma mesinha disponível. Ficamos ao pé da parede esperando que uma alma decidisse ir embora. Pedimos três pastéis, um café cheio e uma meia de leite. Luiza preferiu um guaraná antárctica (tem em quase todo estabelecimento). Quando o garçom passou de volta, pedimos mais uma meia de leite para mim (é café com o maravilhoso leite não adulterado. Uma delícia!), mais um café e mais dois pastéis: um para Luiza e outro para Tony. Para pedir a conta, pedimos mais um pastel para Tony. Quase que não saíamos de lá. A diferença do pastel de natal de qaulquer lugar e o de Belém é que a a massa folhada da base é mais estaladíssa e serve-se quentinho: não dá tempo de esfriar. Não deu para publicar as fotos pois a Torradeira entrou em greve e se negou a cooperar. Muito temperamental, essa máquina!

Voltamos à Praça da Figueira num  bonde. E no outro dia fomos à Sintra. E essa história fica depois.

Até amanhã, fiquem com Deus.
 

2 comentários:

  1. Anna, quero ver seus comentários de Sintra, achei muito linda, muitos castelos. Lembro que tinha uma subida até o Castelo mais alto que podíamos fazer de ônibus, mas resolvemos subir a pé, para sentir mais o clima. Cansativo, mas show de bola.
    E com relação ao Pastel de Bélem, não sei se vc sabe,mas o da fábrica que vc foi são os únicos que podem receber esse nome, os outros só podem se chamar pastel de nata. É patrimônio da 1ª fábrica, pena que não é respeitado.
    Lembro que quando fui, pedimos 5 cada um, e também estava cheio, sem nenhuma mesa livre, atravessamos a rua e comemos em uma parque que tem em frente, sentado na grama e vendo desfile de escolas, pois era festa de alguma coisa.
    Bom passeio para vcs e Feliz Ano Novo, que vc consiga avançar nesse terreno sombrio da tese. kkkkkkkk

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  2. Oi Anna, feliz ano anovo pra você também, querida! Boas vibrações!

    PS: Muito massa o sotaque! kk

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