quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Digam-lhe que fui ali: Fátima

Na etapa final do nosso passeio de final de ano, fomos à Fátima. Deixamos a peregrinação para o final, pois já é o caminho de casa. Fátima localiza-se à 147 km de Lisboa, no sentido norte. Desde que saímos de Aveiro na segunda, dia 19, não choveu e o céu manteve sempre azul, e o frio era mediano. Já aguentamos bem os 12 graus, só começamos a reclamar quando a temperatura apresenta apenas um dígito. Um detalhe engraçado do hemisfério norte é que quanto mais o sol brilha e o céu apresenta-se de um azul maravilhoso, a tempertatura é mais baixa. Nublado ou sob chuva, é mais quente. Estivemos em 2005 em Fátima com os meus colegas de mestrado e de trabalho, na agradável companhia do Prof. Carlos Guilherme, Carlos Guedes e Genésia. Estavam também Ana Cristina, Tereza e Adelson, colegas de trabalho da UNEAL. Fomos todos juntos agradecer a Deus e a Santa por havermos concluído o bendito mestrado. Enfrentamos tantos problemas legais neste percurso de formação, que ao término acreditava que não voltaria mais aos bancos do Strictu Sensu. Mas, eu sempre dou um jeito e volto atrás. Aproveitei e voltei à Fátima com Tony e Ana Luiza.  

Pequeno almoço do Rossio
Depois do check out em Lisboa, a menina da pensão, uma luso-africana muito bonita, nos explicou como chegar, que eu já não lembrava. Vai de metro até a estação Jardim Zoológico e apanha o auto-carro na Estação contígua de Sete Rios. Um aspecto interessante de Portugal é a integração entre os meios de transportes: deu-se um jeito de ficar tudo juntinho. Lembra o planeamento da "intregação" do metrô-ônibus urbano no Recife, na Estação do Barro. Em Lisboa, foi-se um pouco mais além de distribui-se nessas estações integradas não só para as cidades mais próximas, daqui dá para encontrar um transporte para vários pontos do continente. A gente chega lá... Apesar de não gostar de utilizar os serviços de alimetação de "meio de rua", meu marido, gradativamente tem deixado de ser bicho do mato e tomamos o pequeno almoço num dos bares no calçadão do Rossio.  Um café da manhã tipicamente Português: pão com chouriço para Luiza, bolinho de bacalhau para nós. Café preto para Tony e meia de leite para mim. Luiza tomou um sumo de maçã em caixinha que eu tinha na mala (lembrem-se: bolsa de mulher aqqui é mala), mas, ao provar o bolinho de bacalhau, abandonou o pão com chouriço. Acabei comendo-o. Tudo muito bom.

Chegamos à Fátima por volta do meio dia. Uma inversão térmica nos pegou na entrada da cidade. O que era céu azul, ficou gris de neblina fininha. Na pequena (mas funcional) rodoviária, um cheiro de eucalipto nos seguiu pela cidade. Impossível não lembrar de Garanhuns. Na noite anterior, não havia conseguido abrir o Google maps para localizar o hotel, de modo que estava apenas com o endereço e com uma indicação: fica próximo do museu. Informação pela metade é pior que informação nenhuma. Fátima tem pelo menos três museus. Depois de andar um bocado, e ninguém saber informar, tomamos um táxi. Por conta da reforma na via de acesso, fizemos uma volta enorme, mas, o gentil taxista nos deixou bem na frente do Hotel Rosa Mística. Fiz a reserva no começo de Novembro pelo booking.com, pois a maioria dos hotéis que procurei, estavam encerrados para férias neste período. É um costume português, dos tempos das vacas gordas. O povo fecha o estabelecimento, assumindo os custos fixos. Gradativamente, vão aprendendo com a crise que quem abre as portas e arrisca um hóspede ou um comensal, ganha mais do que quem fica encerrado e a reclamar.

Luiza caçoando da foto do muro
Um senhorzinho de uns 80 anos nos atendeu. Estava somente ele e a esposa, não tinha mais ninguém no hotel. Como chegamos antes das 14hs, a senhorinha ainda estava arranjando os quartos que haviam sido ocupados na vespera. Deixamos nossas malas e fomos andar na cidade.  Para chegar no outro lado da cidade, onde andamos sem encontrar o hotel, tinhamos que atravessar o Santuário. Pois é, o Santuário divide a localidade em duas partes, que eu fiquei chamando de "nosso lado" e "outro lado". No primeiro acesso do nosso lado, há um pedaço do Muro de Berlim numa redoma de vidro. Fiz um estardalhaço, e mandei Luiza ir para junto da plaquinha para eu fazer uma foto dela com a relíquia. Claro que ela foi caçoando de mim, dizendo: "Lá vou eu, tirar foto com um pedaço do muro. Pelo menos em Coimbra era um muro inteiro!" Engraçado, que a data da queda do muro é 11.09. Dia interessante esse, além de ser o aniversário de Jullyana Viana. Passamos os olhos no Santuário, e fomos em busca de comida no Outro Lado, pois os Ferreira são implacáveis quando estão com fome. Entre as mil e uma sem mentira nenhuma!) lojinhas de souvenirs e hoteis, há também inúmeras opções de alimentação. Um jovem nos abordou e ofereceu o cardápio: um menu variado com pratos a 5 euros. O nome do negócio era estranho - Snack Bar Zeus - mas, os preços eram atrativos, as figuras bonitas e o menino, muito gentil. Fomos. Entramos em uma galeria que parecia encerrada, e no primeiro andar, alguns peregrinos faziam suas refeições. Comida santa, viu? Foi o melhor lugar que comemos em Portugal até agora! Primeiro um engana-barriga com pães, azeitonas, manteiga e creme de alho. Pedimos um bife Zeus e Costeleta grelhada. Veio acompanhado com arroz, salada e batata frita. Cada porção de batata dava para duas pessoas. Ô povo exagerado na batata! Ao final, Tony ficou zoando comigo porque na saída eu acenei para os proprietários e exclamei: "primeira!", numa nordestinidade agradecida.  Ainda hoje ele me abusa com isso.

Azinheira sagrada, sob ela os pastorinhos se abrigavam na primeira aparição.

Oração dos peregrinos
Milagres da Torradeira
Fomos visitar o Santuário. O mais inpressionante de Fátima é a atmosfera. É um clima de paz, um cheiro de árvores desconhecidas. E o povo que agradece, que pede, que reza. A capelinha da aparição não pára, há sempre alguém lá. A grande catedral domina uma das pontas da área destinada as celebrações. Do outro lado, há um complexo de capelas e uma enorme catedral. Nesse complexo, tudo cheira a rosas. A mãe de Jesus soube bem escolher o sítio para se mostrar. Nos bosques que margeiam a grande praça há uns paineis que relatam a história das aparições. Parei na frente de uma foto dos pastorinhos e não pude reprimir um pensamento horrível, quase sacrílego: "Por que Ela apareceu para vocês e não para mim?" Uma brisa leve e perfumada soprou e eu vi a resposta. Nossa cegueira não permite que enxerguemos as respostas, tão simples.

Tony passou a visita inteira falando da mãe. Planeja, no próximo verão, trazer D. Nilza para conhecer a Casa de Nossa Senhora. À noite, atravessamos o Santuário para irmos ao outro lado, a neblina espessa - talvez o manto de Nossa Senhora - escondia o contorno da capelinha. Fátima fora de época é Garanhuns. No outro dia, fomos às compras de pequenas lembranças para as pessoas que nos acompanharam durante toda a visita.

No outro dia, ao pequeno almoço no hotel, conversamos um pouco sobre a crise com a senhoria, uma espanhola vigorosa, na casa dos 70.   Voltamos para casa por volta das 11hs na manhã, com Luiza cochilando no meu colo, durante o percurso nas estradas perfeitas, com os pequenos gatos de brinquedo apertados à mão. Já não somos visitantes, sentimos que Aveiro é nesse pedaço do mundo, o nosso lugar.

Até a próxima viagem.
Até amanhã, fiquem com Deus.

3 comentários:

  1. Linda viagem, Anninha! E pelos seus olhos tudo fica ainda mais bonito. Será que você vai se acostumar aqui novamente? Beijos e saudades.

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  2. Wow, Ilma... Estou morrendo de saudades do nosso canto! Quero trabalhar para viajar sempre, mas, morar mesmo, tem que ser perto de vocês. Beijos!

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  3. Nossa, tenho trabalhado tanto,além da faculdade faço estágio,que preciso muito ler seu blog, para assim poder também viajar um pouco e descansar. E concordo com a Ilma Cristina quando fala que pelos seus olhos tudo fica ainda mais bonito...Bjs..

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