quarta-feira, 13 de junho de 2012

Comidinhas 4

Na nossa última semana da primeira etapa da temporada portuguesa, o verão aproxima-se e o tempo parece que decidiu-se pelo sol. No verão, Portugal é um lugar maravilhoso, pena que dure pouco. O problema daqui, para nós tropicais, não é nem a intensidade do frio, até porque esta é a porção mais quentinha desse pedaço de mundo. O problema é que demora muito para esquentar novamente. A partir de outubro somente os ingleses-couro-de-sapo conseguem andar por aí de manguinhas.

Contudo, a primavera-verão é linda! Lindas áreas verdes com extensos relvados bem cuidados são ótimas opções para uma pausa para um gelado. Os pássaros do parque nos acorda aos primeiros clarões da manhã, 6h e pouquinho já é dia! Além disso é bom tempo para as frutas. Nesta época, conseguimos sair da monotonia do pera-maçã-laranja. Bananas, só raramente, pois a variante equatoriana que vende mais por aqui, apesar de linda, é absolutamente sem gosto. Abundantes melancias não nos deixa morrer de saudades a preços módicos. Já as mangas, goiabas e mamões (cá chamam-se papaias), só se for para fazer remédio: são caríssimos. Os melões tem gênero: existem melões e meloas, a diferença entre eles não consegui ainda identificar, assim como o que diferencia abacaxis de ananás, ambos são desenxavidos. Também, concorrer com os abacaxis da Serra das Russas (Pernambuco) é covardia. Compensando, come-se morangos que enjoa. Luiza prefere a fofura dos pêssegos e suas primas, as mandarinas, também são gostosas. Eu prefiro as cerejas: a esta época estão carnudas, sumarentas e docinhas. No começo da temporada, há um mês e meio atrás, estavam muito caras, 4 euros por um quilo de uma frutinha safada com cara de acerola. Esperamos um pouquinho, e já conseguimos comprar o quilo a 2,70 num supermercado largamente frequentado por imigrantes, estudantes, trabalhadores de baixa remuneração e donas de casa desesperadas.  Hoje mais cedo, passava por uma rua por trás do conservatório, percebi que as árvores que margeiam os passeios estão todas com folhas de um castanho avermelhado. Olhando ao chão, percebi vários frutos pisados e amassados. Fiquei passada quando reconheci o frutinho: eram cerejas caídas de tão maduras dos galhos carregados. Não deixo de me  impressionar de como fazem falta uns meninos para dá conta disto. Além de ser um desperdício da fruta em si, é um desperdício de oportunidade de uma boa molecagem. Como os meninos vivem encalacrados em casas espaçosas e apartamentos cheios de objetos que o dinheiro pode comprar, desconhecem a aventura de subir numa árvore e comer a fruta no pé. Isso, não tem preço. Sei o que digo pois fiz muito nos meus tempos de criança. São prazeres simples e únicos que a pobreza nos permitiu no passado. Hoje em dia, é até perigoso, corre-se o risco de tomar um tiro por causa de uma manga.

Com a crise, vieram as promoções. Outro dia, em busca de alguma coisa diferente para o almoço, achei salmão por 5 euros, o quilo. Trouxe 3 postas lindas, que rendeu duas boas refeições. Depois de convencer Luiza que há uma grande diferença entre o salmão e o carapau, atraída pela cor rosada do peixe, ela comeu e gostou. Sobrou uma posta. E agora, o que fazer com tão pouco? Revirando o frigorífico em um domingão, encontrei um restinho de camarão, que sozinho não dava para nada. Assim, criamos a salada de salmarão!


É assim que se faz: Corte o salmão em tirinhas (para render, coisa de quem está habituado à estratégia do picadinho), tempere com sal e azeite, e coloque-o para dormir. Faça o mesmo com o camarão. Depois que os 'dorminhocos' estiverem mais chegados no tempero, doure uns pedacinhos de alho no azeite, junte o salmão e o camarão. Quando o camarão estiver mais corado, dê um tempo no lume. Num prato, arrume uma cama de alface, tomates, cenoura e repolho (era o que tinha em casa. Cá chama-se couve lombarda!) ralados, cebola e pimento vermelho picadinho pequeno, se não a criança não come. Deite nesta cama o salmão e o camarão. Coloque milho verde, azeitonas e cogumelos. Um pouquinho de sal, vinagre de sidra e azeite dão o toque final. A salada fica ótima! Dá um almoço gostoso e saudável, até parece chique, mas, no final das contas apenas usa a estratégia do 'arrumadinho'. Luiza quis uma porção de arroz e uma colher de purê, mas não fez a irritante pergunta: 'Cadê a carne?' Coisa que o matuto do pai dela faria com certeza. Eu, preferi a salada somente. Estou aprendendo a comer como o povo daqui: uma salada com um acompanhamento, que pode ser novilho, frango, peixe ou frutos do mar. Talvez seja por isso que eles (principalmente elas) sejam tão magros à despeito dos pastéis de nata, farturas (ui! é uma delícia! parece com a massa de churros, sendo que bem mais fina, povilhado de açúcar e canela. Deve comer quente, frio dá dor de barriga.) e ovos moles. 

Há também algumas semelhanças curiosas com receitas da nossa culinária: línguas de gato é tal qual tarecos. A diferença é somente o formato do biscoitinho e a canela, que é onipresente em todos os doces portugueses. Outro dia, a título de experimentação comprei um pacotinho de broas de mel da Serra da Estrela. Chique, não é? Pois é o primo lusitano no nosso velho e bom "entala gato" nordestino. A diferença é que tem um aroma de mel que passa mesmo lá por trás da Serra da Estrela, Um bolinho muito do aguado. Virou menu dos patos e peixes do laguinho do Parque Infante D. Pedro, numa tarde de domingo. Nestes últimos dias por estas paragens, estamos preciclando (pensando antes de comprar) com maior intensidade. Sempre que vou adquirir alguma coisa, tenho que pensar antes se consumimos em sete dias, tempo que nos falta para atravessar o mar.

Até amanhã,
fiquem com Deus!


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