sexta-feira, 20 de julho de 2012

Fig -Parte 2: O Circo e a Catedral

Maestro João Carlos Martins
 Na primeira sexta-feira do Festival, liguei o rádio pela manhã. Enquanto lia os e-mails e dava uma vista d’olhos na fofoqueira eletrônica, acompanhava o programa Nos Bastidores do Festival, pela FM Sete Colinas. Para Jonas Lira e Ana Jaira, a excelência na prestação da informação é uma rotina. Neste programa sabemos de tudo que ocorrerá em todos os pólos.   Foi através do rádio, mídia tradicionalíssima que pode contribuir beneficamente (ou não) com a construção de um comportamento mais apurado no consumo de bens culturais, que soube das novas sobre a Lona do Circo. Como já vos disse no post "O circo", gostamos muito de circo, pois é um espaço lúdico de diversão, leve e simples, como a infância. Neste ano o circo mudou de endereço: até o ano passado (que não estávamos por aqui), a lona era armada no Parque Euclides Dourado, junto do pavilhão da dança, da tenda do forró e tenda eletrônica, além dos espaços institucionais de exposição e entretenimento. Como era muita coisa e tudo junto, o Parque dos Eucaliptos, mesmo com seus 5 hectares de área urbana, ficou pequeno, e o circo mudou-se para o terreno que fica atrás do Hotel Tavares Correia. E a proposta também renovou-se, e o circo agora é o espaço da inclusão. A Fundarpe esmerou-se em oferecer um espaço mais amplo e inclusivo, com atendimento específico para portadores de necessidades especiais. Ofereceu espetáculos com acompanhamento em Libras (Língua brasileira de sinais) e linhas sonoras para invisuais. Aos idosos e portadores de especificidades mentais, foram reservados assentos especiais, com prioridade máxima no atendimento. Uma perfeição. Além disso, com o espaço exclusivo, foi possível oferecer duas sessões do mesmo espetáculo, a primeira às 14hs e a segunda às 16h30min, totalizando uma capacidade de 2.400 espectadores. Os bilhetes, distribuídos a partir das 12h foram (e são até domingo) concorridíssimos. Detalhe: tudo absolutamente de graça (ou de borla, como diriam em Portugal!).

Então às 14h, peguei Luiza e Ellen, a melhor amiga,  e fomos ao circo. Era a segunda oportunidade da Luiza, e a primeira da Ellen. São lindos os olhos de uma criança quando entram debaixo do pano! No FIG, sob a lona do circo, eu também era estreante. A iluminação difusa focava um picadeiro com cara de palco. Sob a luz azul, aguardamos o início do espetáculo na maravilhosa companhia de Edith Piaff. Aprendemos e nos divertimos com o ótimo espetáculo “Quatro”, da Companhia Brincantes, do Recife. Sob a direção de José Manuel e direção circense de Borica, acompanhamos quatro momentos da festa pernambucana: Carnaval, São João, Danças afrobrasileiras e Natal. Misturando números tradicionais circenses com dança e música, o espetáculo apresentou soluções cênicas inovadoras, como o maracatu nação em pernas de pau. Tudo lindo, um ambiente de sonho. Saímos do circo com os olhos cheios de Pernambuco. Um encanto, esse espetáculo.

Se no circo aprendemos que a colaboração e o sentido de equipe é que faz o espetáculo, ontem na Catedral Matriz de Santo Antonio, tivemos oportunidade de assistir um concerto repleto de lições. O Programa Virtuosi trás música clássica e de câmara para o Festival, sempre com casa cheia. Quem diz que não há publico para música erudita no Brasil é porque nunca viu a Matriz de Santo Antonio em dia de concerto. Difícil é chegar na hora do concerto e conseguir algum lugar para sentar-se.  E ontem, foi um dia especial: a Orquestra Jovem de Pernambuco foi regida pelo Maestro João Carlos Martins. Para falar a verdade, eu nem sabia que o Maestro da Superação viria a Garanhuns. Para minha sorte, Helly postou em sua página no Facebook o convite, e eu, logicamente arrastei Luiza para a Igreja. Tony foi ver o jogo do Sport, viria depois do certame, para nos buscar. Cada um com o seu clássico. Chegamos cedo para arranjar um bom lugar, e participamos da missa. O Padre Thiago falava sobre a humildade, a partir da leitura do Profeta Izaias, sermão adequado para nos lembrar da fragilidade da nossa existência. Terminada a missa, começou a chegar gente. E quem estava na missa, ficou. Formou-se um mar de gente para assistir o concerto com o maestro, conhecido no mundo inteiro como intérprete de Bach, e, por uma série de infortúnios desenvolveu uma doença chamada contratura de Dupuytren, que promove a morte dos músculos da mão, e consequentemente, a perda dos movimentos. Doença pior para um pianista, não há. Talvez a surdez, como Bethoven. Para não abandonar a música, o pianista tornou-se maestro e ainda arrisca uns batuques no teclado. O mundo conheceu João Carlos Martins pela magia de suas duas mãos, e o Brasil reconheceu o maestro pela sua força de vontade. Mais que um maestro, é um exemplo de que as limitações físicas existem e podem ser superadas. O concerto foi ótimo: a Catedral, cheirando a nova pela pintura restaurada, tem 700 lugares. Nesta noite, 1500 pessoas se espremeram nos corredores, no chão, até no passeio sob a chuva fininha, espiando pelas janelas ou pelo telão instalado na frente da igreja, interditando o meio da rua. As pessoas precisavam ver e ouvir a paixão ao vivo. Chorei quando o maestro sentou-se ao piano e tocou “Luiza”, para mim, obviamente, a obra prima do Maestro soberano Antonio Carlos Jobim. Não foi à toa que a minha Luiza reconheceu a sua canção nos primeiros acordes.

Coordenado pelo Maestro Rafael Garcia, um chileno radicado no Recife, há 8 anos o projeto Virtuosi tem dado uma contribuição ímpar na educação informal da população garanhuense e visitantes. A plateia é composta por pessoas de todas as idades e classes sociais. Não importa como está vestido ou os valores que supostamente tenha na conta bancária. Independente de religião ou da ausência dela, todos que chegam à Matriz e aboletam-se diante do Cristo Crucificado para ouvir a boa música são bem-vindos.  Ao som de violinos, piano e violoncelos, a Igreja cumpre fielmente o seu papel de casa de Deus. Tenho certeza que Jesus também aplaudiu.
Até amanhã, fiquem com Deus.       

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