sábado, 20 de outubro de 2012

Digam-lhe que fui ali: Viseu, parte 2

Praça da República. Mais na frente, o Hotel Avenida.
 Não dormi bem. Aliás, acho que não dormi. Geralmente é assim na primeira noite em um hotel. Como o quarto era muito escuro, inventei de deixar a luz da casa de banho ligada. A luz me incomodou, bem como a impressão de que Luiza iria cair a qualquer momento da sua cama de solteiro. Passei a noite a levantar, acender luz, apagar luz, arrumar criança. Depois, fiquei ouvindo o prédio estalar. Essas relíquias urbanas tem sons todos próprios, ecoam passos no assoalho de madeira, zumbe baixinho o elevador com porta de ferro, no modelo dos anos 1950.
 
Prédio "ferro de passar", na R. Luis Ferreira
Na manhã seguinte, fomos ao pequeno almoço. A pousada do Caju I em João Pessoa continua imbatível na qualidade do café da manhã. O desjejum oferecido pelo Hotel Avenida é o básico. Para mim, estava bom. Saímos por volta das 10hs, andar na cidade. Passamos nesta praceta do Rotary, coberta por begonias. Há um museu do outro lado, mas a esta hora, estava fechado. Descemos para o Centro Histórico, nas imediações do CTT, seguimos rua abaixo, olhando as lojas. Visitamos a Igreja N.Sa.do Carmo, que tem um museu de arte sacra ao lado. Na Igreja, deixei Luiza a ler as informações turísticas e entrei. Ouvi um barulho, me voltei e dei com a menina estendida no chão. Tropeçou numa estrutura de ferro que havia à porta da Igreja. Arrastei-a em lágrimas até a pia de água benta e lavei a perna esfolada (aqui, qualquer machucado, por menor que seja diz-se que "aleijou". Povo exagerado). Na frente da Igreja há uma praceta muito bonita, com muitos pombos, idosos alimentando os pombos. Tudo muito limpo, apesar das aves. Impecável.
Praceta do Rotary e suas lindas begonias!
 
 
Fomos à rua Direita para um passeio. Em toda cidade portuguesa há uma rua Direita. Esta, em Viseu, lembrou-me um dos becos que andamos em Coimbra, ou a Rua do Fogo, no Recife. Não é mera coincidência.  Há muitas lojas de noivas, roupas de festa e de lembrancinhas nesta área. Em Viseu há muitas sapatarias, casas de noiva e funerárias. O sujeito morre casado e bem calçado. Por volta das 12h30, Luiza começou a pedir almoço. Como não tivemos muita sorte no dia anterior, fui mais criteriosa na escolha. Acabamos no Restaurante CR, ao pé da Estátua do D. Diniz. Pedimos bifes de novilho na telha. Veio duas travessas em forma de telha, como aquelas que há muitas em Espinho, com salada, uma porção de arroz, batata frita e o bife. O meu estava tão mal passado, que pedi para levar mais um foguinho. Estava muito bom, pagamos 22 euros por tudo. O ruim do lugar era a música: aviões do forró, ninguém merece! Contudo, uns turistas alemães (acho que eram alemães!) se balançavam desajeitados com a música. Sempre há quem goste.

Igreja da Misericórdia. O Museu é na primeira porta da esquerda.
Fomos a Igreja da Misericórdia, para ver o Museu que fica ao lado. Engraçado isso em Viseu: sempre há uma Igreja + um museu. Parece Garanhuns com uma farmácia+um hotel (comparação infame!) Mas, o museu só abria às 14h30. No pátio comum às duas Igrejas (a Sé fica bem em frente), passadeiras vermelhas, carros invocados, senhoras em sedas e saltos altos, senhores em ternos escuros e caros. E uma porção de turistas, olhando. Casamento à vista. Quis ficar olhando, lembrando dos meus tempos de menina lá no Magano, quando íamos à Santa Terezinha só para olhar as noivas. Mas, Luiza saiu me puxando para o Funicular.

Funicular
O funicular é um bondinho moderno que transporta passageiros em percursos reduzidos, mas com uma senhora ladeira no meio do caminho. Luiza, que adora andar em qualquer que seja o meio de transporte, candidatou-se logo que viu a composição no dia anterior. Fomos. Fiquei procurando onde comprava os bilhetes até me deparar com o aviso de que a entrda era livre. Mesmo em tempos bicudos, sempre há algo grátis por aqui. Logicamente, paguei o mico de sentar na cadeira do condutor, e o rapaz do cabelo espetado me pedir para sair de lá. Passei o percurso a pensar que se cobrassem 0.50 já fazia um bom dinheiro. Mas, deixa quieto, é melhor não dá ideia. O funicular nos levou até as imediações do Fórum (centro de compras), com uma área de lazer para crianças muito simpática. Depois de um tempinho nos balanços (aqui diz-se "baloiços"), entramos para ver as lojas. Me passou uma impressão não muito bem sucedida, apesar de muito chique, muito desanimado.

Voltamos ao Museu, já após as 16hs. Fomos atendidas por uma jovem muito simpática, pagamos 1 euro (Luiza não paga) e visitamos as salas climatizadas, com uma coleção de objetos da Santa Casa da Misericórdia. Interessante. Na saída, vimos ainda uma noiva recebendo os cumprimentos dos convidados e observada pelos turistas de máquinas em punho. Engraçada, essa assistência informal. Em seguida, tinha que ir na rodoviária saber o horário dos autocarros de volta para Aveiro. Depois de muita reclamação, consegui convencer Luiza a ir caminhando. Na volta, passamos na gelateria Santi. E foi ai que paguei o mico gastronômico da viagem. Luiza pediu um corneto de chocolate e eu pedi um gelado com bananas e morangos, muito lindo. Meu amigo, quando veio, pense numa comédia. A primeira bocada que Luiza deu no corneto foi numa porção de chantilli, que ela odeia. Disse que tem gosto de banana. O meu sorvete veio numa taça descomunal. A taça não era só grande no conteúdo, mas alta! O pé da miserável da taça tinha uns 20 centímetros de altura. Fiquei morta de vergonha com aquilo tudo. Comi o que aguentei depois de tirar a camada de chantili do sorvete de Luiza. Mas, muito bonito e muito gostoso. Só não tinha para que ser tão chamativo. Voltamos ao Hotel, mais mortas do que vivas. Apóso banho (compramos o que esquecemos no Mini Preço), fiquei a ver TV e Luiza brincando de compras, circulando no quarto. Ás 21hs, ela abriu a janela do quarto e veio um cheiro de frango assado. No faro, encontramos o Restaurante Avenida, pouco abaixo do hotel. Comemos lá uma espetada, vendo jogos de futebol na Sport Tv.

Lulu e mais uma fonte em Vieu

No outro dia, sairíamos às 14h30. Deu tempo de ver o Museu Grão Vasco, vizinho da Sé de Viseu. Uma belíssima coleção de pinturas e de arte sacra. Tudo muito rico, ornados com o marfim de África, as tapeçarias do oriente, as pratas da Índia e o ourinho do Brasil. Esse povo já nadou no dinheiro, por isso o sofrimento destes tempos dificeis. Aproveitei a coleção para ensinar algarismos romanos a Luiza, pelo menos, até quanto eu sei. Ilma é quem sabe dos números maiores, eu nunca aprendi. Até 40, está bom. Passamos nas lojinhas de recordações para comprar cartões postais para a família. Almoçamos fastfood no Forum e voltamos a Aveiro no início da tarde.

Detalhe dos pisos táteis
Viseu é uma cidade encantadora. Para além da riqueza histórica, as ruas são show de inclusão com os passeios rebaixados, rampas, e pisos táteis. Os semáforos mostram o tempo para travessia do pedestre (aqui chama-se peão) e emitem sinais sonoros. As informações turísticas sempre estão em três idiomas e em braile. Aprende-se muito e na prática acerca do turismo inclusivo numa cidade como esta.

Durante o percurso, Luiza queixava-se de dor de cabeça e uma "moleza nos braços". Achei que era preguiça, mas, a coitada estava com varicela. Apesar de fraca por conta da vacina, a nossa conhecida catapora maltrata um bocado. Coitada, chegou em casa rebocada.

Até a próxima viagem.
Até amanhã, fiquem com Deus.
 

Um comentário:

  1. Você me fez recordar o Funiculari em Capri, só que por lá, paga-se 1 Euro. Irei optar pelo funicular Português pelo precinho. Ah! estão a matar os novilhos por aí? a continuar, em pouco tempo não haverá rebanho(brincadeira).

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