sábado, 8 de dezembro de 2012

Digam-lhe que fui ali: Tomar - Parte II

Espantosamente, dormi bem numa cama de hotel. Geralmente, fico zanzando a noite inteira. Talvez a chuva a bater de leve nas janelas da sacada florida ou o zumbir leve o aquecedor em 25 graus me fez adormecer e só despertar para um outro dia cinza. Na verdade, acho mesmo que a companhia de Tony é que me faz dormir bem: é confortável dividir as responsabilidades. Digamos que é uma presença “relaxante”. Não estava mais iludida com a cor do céu que iriamos encontrar. Só pedia que a chuva desse uma trégua, pois o domingo pela manhã seria dedicado à visita à jóia da família em Tomar: O Convento de Cristo. Se o dito cujo fosse como o Castelo de São Jorge, em Lisboa, ou o Castelo dos Mouros, em Sintra, iriamos ver ruínas. Luiza torcia que o Convento de Cristo fosse como o Castelo da Pena e seus lindos ambientes, com móveis de época, tudo lindo, limpo e chique. Avisei-a que, provavelmente, eram somente os salões. Antes do pequeno almoço, tomei a providência de arranjar logo nossa bagagem, pois, o comboio de volta para Entroncamento sairia às 15h11. E em Portugal não há “menozinho”: o comboio está marcado para 15h11, nem chegue às 15h12 porque vai perder mesmo. Recolhi as meias estendidas estrategicamente pelo quarto em pontos que o ar quente do aquecedor ajudasse a secar. Todas estavam secas e prontas para usar! Mesmo com a umidade mais elevada em Tomar, as roupas secam de um dia para o outro, sem ficar com cheiro de cachorro.

O pequeno almoço foi aquilo que já vos disse em outros posts acerca de outros hotéis em outras cidades: fraco e repetitivo. Contudo, é mais adequado do que hospedagem sem pequeno almoço. Na recepção (pelo acordo ortográfico, nesta palavra não se coloca mais o “p” no português luso. E no Brasil, o ‘p’ permanece. Que acordo em desacordo!), uma jovem muito maquiada (em Portugal diz-se “maquilhada”) no atendeu com um sorriso. A chuva não dava trégua, e decidimos ir até o Largo do Pelourinho para ver se arranjávamos condução para o Convento, que situa-se no alto da colina, entre lindas árvores verdes, vermelhas e amarelas. Mas, num domingo pela manhã, somente os fieis mais fieis se aventuravam pela chuva com suas botas de plástico e suas capas de chuva. Sob aquele temporal, nem Robert Langdon se aventuraria em busca por templários. Mas, vir a Tomar e não visitar o Convento? Impossível. Fundamentados na teoria de Mano do Caetano, que diz: “Quando é que vou ter oportunidade de voltar aqui?”, voltamos ao Hotel e pedimos a rececionista que nos chamasse um taxi. Rapidinho, um condutor muito solicito nos conduziu ladeira acima. É perto para descer, maspara subir... ainda mais na chuva?!  Deixou-nos ao pé da muralha, nos entregou um cartãozinho para, caso precisássemos, ligaríamos.
O Convento de Cristo e o Castelo dos Templários é uma construção majestosa. Já na entrada, a muralha de pedras nos instiga a questionar como esses homens conseguiram transportar todas essas pedras ladeira acima? Serviço dificil para a atualidade, imaginem para os idos de 1160? No complexo, há construções de diversas épocas, o que nos faz  perceber que o castelo-convento foi sendo ampliado ao longo dos séculos. O “puxadinho” mais contemporaneo é de 1525, correspondente ao Claustro dos Corvos.

No pátio externo, escadarias nos conduz a entrada dominada pela catedral, cujo frontispício é um prenúncio da arquitetura característica deste lugar: muitos detalhes e figuras se revelam em cada ângulo. São muitos claustros, cada um com uma característica de sua época. A divisão que mais gostei foi o refeitório e a cozinha. No refeitório, várias mesas grandes com bancos abrigavam inúmeros comensais. No lado oposto, havia uns armários de madeira pintados de verde, e o acesso para a cozinha.  Lá ainda há as lajes com as trempes para fazer o fogo, o forno à lenha é perfeito. Do lado, as pias com um sistema de água corrente, captada das chuvas. Há também bancadas de pedra com bancos, e ganchos no teto baixo. A imaginação corre solta por aqui. Numa área livre e afastada, há um conjunto de casas de banho. A particularidade dessas áreas é a altura das portas: não medem mais que 1,65m! Eu consegui passar  normalmente pelas portinhas, mas, um individuo que tenha uma estatura um bocadinho mais elevada, tem que se curvar muito! Na área externa, um visual belíssimo de floresta temperada se estende onde até inicia-se a cidade, localizada no vale. A chuva deu uma trégua para visitarmos o adro externo, como uma varanda, onde pudemos apreciar a maravilhosa arquitetura templária: cruzes, rosáceas, e uma incrível e maravilhosa janela manuelina.
 

Tony na descida do Convento
Descemos à pé, aproveitando que a chuva deu um tempo. A descida sinuosa tem um visual belíssimo, para apreciar, como diria o Rei do Baião “o cristão tem que andar a pé”. Fomos descendo, chapinhando nas folhas amarelas. Passamos no hotel para acertar nossas contas. Ainda ganhamos a cama extra como desconto, pagando 45 euros, e não os 60 euros contratados. O inesperado desconto me soou quase como um polido pedido de desculpas por levarmos tanta chuva durante nossa curta estadia. Se um dia voltar a Tomar, certamente voltaremos à Pousada Cavaleiros de Cristo. 

Almoçamos no Restaurante Beira Rio. Eu e Luiza dividimos um bife de novilho e Tony saboreou uma costeleta de vitela.Gostoso. A parvoíce gastronômica ficou por conta da sobremesa.  Com o nosso super-olhão pedimos duas fatias de tarte com profiteroles. Era boa, mas enjoaaaaaada! Luiza fez uma patuscada na fatia dela, comendo apenas a parte que era bolo. Eu comi as bolinhas rechadas com chantilli (os tais profiteroles),que na verdade, são abusadíssimos. Comi assim mesmo, pois aquilo tudo custou 5 euros. Não foi um bom investimento.

Na saída erramos o caminho para a estação dos comboios, fomos bater lá “não sei onde”, próximo ao cemitério. O problema é que o homenzinho do restaurante nos deu como ponto de referência uma rotunda. Mas aqui em todo lado há uma miserável de uma rotunda. Resultado: mais caminhada sob chuva, e que chuva! Mas, perguntando conseguimos chegar e ainda esperamos uns bons 40 minutos pelo comboio, enquanto Tony andava de   lá para cá, eu e Luiza brincávamos com um pombo que se aproximou para curtir a tarde fria.
Vista de Tomar

Valeu muito a visita!

Até a próxima viagem.

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