sábado, 6 de abril de 2013

Matematicando

Estamos a viver um abril furioso. Foi assim que aquele rapaz até bonitinho que apresenta o Jornal da tarde deu-nos boa tarde ontem às 13hs. E quando fomos ao lanchinho sagrado do final de tarde de todas as sextas, entendi muito bem porquê do "furioso". Os antigos dizem que isso cá sempre foi assim, o problema é que o tempo estava muito mau, e que toda gente adaptou-se a tudo que é ruim. Comprova a experiência o dito popular português: "Abril, águas mil", com aquele "l" engraçado que os lusos pronunciam no final das palavras. E eu fui pelo caminho pensando naquele filme do Walter Salles, "Abril Despedaçado". Um filme lindo, de fotografia perfeita e atuação impecável do bonitinho e talentoso Rodrigo Santoro. Ultimamente, ao final de duas sessões de mesa-cadeira-computador, ando assim: uma coisa lembra outra que não tem nada a ver e os meus pensamentos andam mesmo furiosamente despedaçados. Deve ser sintoma de algum mal que não quero saber. Quem sabe com mais umas confusões, eu não me aproxime mais um pouquinho de José Luis Peixoto?  Melhor deixar isso para Matheus Rocha, e seu infindável talento de construir metáforas. Eu já passei da idade de escrever por enigmas.
 
Nunca fui muito talentosa com as matemáticas. Números sempre me deixaram embaraçada. Ao fazer o mais simples dos cálculos, sinto uma tentação irresistível de contar nos dedos. Confesso que às vezes meto as mãos nos bolsos e conto secretamente. Habilidade matemática não tem nada a ver com escolarização, haja vista os meninos de Terezinha Carraher e seus relatos no clássico educacional brasileiro "Na vida dez, na escola zero". Minha mãe fez até o segundo ano primário numa escola rural e fazia "contas de cabeça", e quando eu tinha problemas com a matemática da escola, ela dizia: "essa menina não dá nem para contar bananas na feira" ou: "Não sei pra quê estudr tanto, e não saber fazer nem uma conta de cabeça". E quando ela me mandava estudar, argumentando que "filha de pobre tem que estudar para arranjar um bom emprego, porque marido rico não se arranja", eu contra argumentava lembrando-lhe da história do "pra quê estudar tanto...". Ela refutafa o meu contra-argumento com um faltal: "estudando, já está assim, imagine se não estudar. Passe!" Não há argumentos contra a lógica materna. A verdade é que eu me perdia naquelas contas com as palmas de bananas nas mãos: "3 e 3, 6. 3, 9. 3, 12." A matemática me aterrorizou até o 8º ano, quando estudei com Josevalda Cavalcanti, a professora de matemática mais paciente do mundo. Contudo, o sentimento daquele ano era apenas uma paixão passageira, e a lua de mel com Fórmula de Báscara acabou-se no segundo ano do secundário, quando eu quase me estrepo e o querido professor de Física sentenciou: "Você nunca vai passar num concurso público. Seu lugar é num balcão de comércio." Felizmente, ele estava errado, pois as "contas de padaria" se faz mesmo é no balcão de comércio. Além disso, a vida apresenta alternativas e cada um encontra o seu melhor caminho.
 
Contei essa história a Luiza, depois que ela se deseperou porque não acertava fazer as divisões por dois algarismos. Como a vida corre em ciclos, não me livrei da matemática completamente. Na última etapa de estudante em Portugal, a pequena anda às voltas com as matemática. A herança genética é implacável. E eu fico numa situação dificil, pois não consigo ajudar muito. Ela faz as contas, tira a prova e depois faz o cálculo na calculadora. Quando fez as quatro contas que a professora apontou como TPC (tarefa para casa. Apesar dos guris ficarem na escola os dois horários, ainda há TPC), atirou o telemóvel sobre a cama e chorou, dizendo que a calculadora só dava outro resultado. No momento seguinte, reconheceu que não acertava por alguma artimanha dos destino. Esperei ela acalmar-se e contei a minha história. Não é um bom exemplo para uma mãe, mas, eu não ia mentir diante do desespero infantil que me cortava o coração, e arrematei: "estude isso aí para passar na prova. Na vida, você usa a calculadora, o computador, o escambau." E fui ajudá-la com mais três contas. A primeira, ela fez, eu fiz e a "calculadora deu outro resultado". Eu fui ensinar, e no final das contas, ela que me ensinava, porque eu me enrolava com os "vai um". Minha dislexia numérica aflorou e eu dizia "321", enquanto o número era "231". Ela ria-se dos meus enganos e da minha confusão. Apesar de tudo, conseguimos acertar 2 das 3 operações e ela foi dormir mais tranquila.
 
No outro dia, recomendei que informasse a situação à professora. A Puri não vacilou: "Fizeste três contas e acertastes duas? Vais ao quadro e aponta-as. Ensinas aos teus colegas."  Quando fui buscá-la para o almoço, ela disse-me exultante, que havia acertado 2 das 3 contas. Fiquei feliz. Ela vai acabar dando a volta a isso tudo. Afinal, o mundo tem múltiplos caminhos e coisa e tal. Se não fosse assim, quem sofre de fobia numérica, tem dificuldade até para memorizar número de telemóvel, ou de fazer uma estimativa para antecipar se o dinheirinho vai dar para pagar as compras no supermercado (quem foi o santo que inventou os pagamentos por cartão de débito?) não superaria as resistências do meio. E eu sou prova viva de que o nosso potencial biótico (e criativo) é sempre maior. Dá-se um jeito, mesmo quando teve que estudar Estatística. Mas, Deus é bom e inventaram o SPSS.
 
Vou hoje mesmo acender uma vela para esses anômimos que com suas criações maravilhosas me ajudam a conviver com minhas fraquezas. É por isso que eu amo a tecnologia!
 
Até amanhã, fiquem com Deus. 
 
       

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