domingo, 2 de março de 2014

Bichos soltos

Quando calha do carnaval ser em Março, tenho a impressão que o mês de Fevereiro é interminável. Não sei se ocorre com vocês, mas, o mês de 31 dias parece ter muito mais dias que apenas mais um. Artimanhas do calendário. Depois de três carnavais no hemisfério norte, estamos curtindo a folia em casa. É que as contas de final e início de ano inviabilizaram os projetos de Momo. Preferi atender às recomendações do departamento financeiro e ficar em casa, aproveitando o tempo para colocar as coisas em dia. Felizmente, a temperatura tem dois dígitos e a cotação é paritária de um real por um real mesmo, apesar de nada estar barato por aqui. O Brasil é o pais mais inflacionado do mundo. E a nova escola, o novo carro, a reforma da casa (que segue a passos lentos de quem é assalariado) e as peripécias do cartão de crédito não nos permite margem de manobra para passeios em alta temporada. O carnaval será mesmo assim: em casa, na piscina do clube, no Festival do Jazz. Aliás, esse é um evento garanhuense que eu não conheço. Chegou, enfim, a oportunidade e eu estou feliz por isso.

A semana passada não escrevi porque a internet estava muito ruim e eu me viciei em escrever  direto no editor de texto do blogger. Além disso, estava corrigindo o referencial teórico da tese que, pelo menos com muita esperança, parece-me que foi concluído. Nestes dias, me dedicarei a andar com isso, que já não aguento mais essa obrigação. Quando as coisas passam da hora, acabam perdendo a graça e, a repetição é a maior tortura. Nem  fui ao casamento da filha da vizinha, pois estava num dia particularmente inspirado para ler os sete artigos e fechar as brechas que restavam no relato. Pronto, e foi por ficar no HBC total (já expliquei o que é a sigla em outro post. Significa "Horas bunda/cadeira", ou seja, a quantidade de horas que temos que ficar a estudar, pregados na cadeira. Quem estuda para concurso ou faz pós graduação sabe bem na prática a que me refiro) que comecei a refletir sobre os bichos de estimação e os bichos que o povo cria em casa. Sábado quando voltávamos da feira, Juju fazia um escarcéu na entrada da garagem. Quando puxei o portão, havia um gatinho pequenino, acuado pelo cão. Como o portão ficara entreaberto, o bichinho entrou lá em casa procurando abrigo. Já ia pegar o animalzinho e levar para casa, mas Tony foi categórico: "nem entre ai com esse bicho". Ele odeia gatos. À contragosto coloquei o bichano na rua. No domingo, estava eu cá na mesa, curtindo a minha HBC, enquanto Lulu ia e vinha com mais quatro amigas. Numa dessas saídas, uma delas (ou Dora a Aventureira, pois ninguém nunca assume o mal feito) deixou o portão aberto. Juju fugiu e voltou, fazendo um escândalo, enquanto as meninas gritavam desesperadas lá fora. Fui ver o que era. Havia uma vaca na área da frente da casa. O bicho assustado não conseguia encontrar o portão por onde havia entrado. Abrimos os dois portões até que o garrote arranjou a saída. Mais tarde, já a noite, Juju faz mais um escândalo lá fora. Cansada de ouvir a latideira sem fim, fui ver o que era: havia um sapo na área de serviço. Com uma vassoura, empurrei o bicho para fora. 

É muito bicho nessa periferia. Toda rua de pobre é bem assim: o número de cachorros é proporcional a número de crianças que correm brincando nas ruas. Os cães acabam definindo seus territórios e só os reconhecemos como cães de família se estão mais bem tratados ou com coleira. Atendem por nomes curiosos como Traíra, Fofa, Patroa. Quem não se lembra de personagens célebres como a cachorra Baleia, de Vidas Secas, ou a  Cachorra Oferecida, de Tocaia Grande?

Há todo tipo de bicho por essas ruas. Duas semanas atrás estávamos às voltas com um bicho não identificado a zurrar nas redondezas. Esperta, Mari nos explicou que era um jumentinho rejeitado pela mãe. O bicho passou tardes inteiras a reclamar da falta de atenção materna e depois calou-se. Há inúmeros muares soltou nas redondezas, alguns apenas para pastar os matos das ruas sem pavimento, outros abandonados pelos donos no meio da rua. Às vezes passam os funcionários do centro de zoonoses, que fica a 500 metros da nossa casa, recolhendo os bichos. O problema maior são as escolhas dos caros vizinhos, que, por morar na periferia e ter uma área consideravelmente espaçosa, acreditar que podem ter uma mini fazenda no quintal. Há um vizinho por aqui perto, talvez o dos fundos à direita da nossa casa que cria uma infinidade de animais. Nunca os vi, mas ouço um galo novo, muito desafinado, uma galinha choca e um bode novinho muito chorão. Esse último encheu nossa paciência, passou umas três noites chorando, só parava quando cansava e enfim, dormia. O lamento era tão doloroso, que parecia uma criança faminta. Ainda pensei em chamar a polícia, mas, o que iria dizer? 

"- Polícia militar de Pernambuco. Em que posso ajudar?
- Alô, olhe moço, é que o meu vizinho cria um bode e o bicho está me perturbando, pois, não pára de chorar.
- Ah, minha senhora, tenha santa paciência e vá arranjar uma lavagem de roupas. Procure o que fazer e saiba que trote é crime."

O  jeito é aguentar até o bicho se aquietar e acostumar com o novo habitat. Nada como o tempo para ajeitar as coisas. Até o casal de gaviões que haviam espantado os pássaros das cercanias só esperaram os filhotes pegarem forças nas  asas, fecharam o ninho e partiram. Deixaram conosco apenas os passarinhos que cantam nos muros logo ao amanhecer.

Bom carnaval,
Fiquem com Deus.

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