domingo, 23 de março de 2014

A Copa do Mundo e as tags para a vida

Pois, já começo com desculpas. Semana passada, fiquei doente na sexta-feira. Não sei o que danado comi, mas, tive uma reação alérgica, fiquei me coçando. Então, tomei uma dose de nada de anti-histamínico. Isso me pôs de molho o sábado inteiro, prostrada com um cansaço terrível. Com isso, o domingo foi uma tentativa de colocar as coisas da casa no lugar e os compromissos das quatro turmas que leciono. Resultado: não deu tempo para nada.

Pronto. Então, nesses dias tenho pensado acerca do futebol. É que Tony gosta muito de futebol, tanto que em pleno domingo, antes das nove horas, saiu para encontrar os amigos para discutir os jogos de ontem. Nem para a missa se é tão pontual. E a conversa correrá solta até às 11 horas, quando ele lembrará que tem que providenciar (leia-se "comprar pronto e trazer para casa") alguma coisa para o almoço. Outro dia, Luiza me perguntava porquê é que os homens vivem na rua. Respondi-lhe simplesmente, que quando saem de casa, os homens passeiam e as mulheres fazem coisas. Na minha visão e a partir da minha prática, só saio de casa se houver algo para fazer. Nunca para jogar conversa fora. Sim, mas, o futebol. Esse ano é copa do mundo no Brasil, e muito já tem se falado a respeito. Principalmente, mal do Brasil. Isso já era esperado, pois em termos de organização, somos o povo mais estabanado do mundo. Talvez seja um aspecto negativo do multiculturalismo. Onde há jeitinho, tudo de última hora e outros traços culturais marcantes, organização, responsabilidade e foco é coisa de outros mundo. Mas, como sempre digo, cultura não é karma, e podemos aprender a ser melhores, corrigindo uma coisinha a cada dia. Mudas tudo do dia pra noite é mesmo impossível. 

Me apressei em Portugal e voltei antes do prazo que eu teria direito no afastamento ao trabalho por vários motivos pessoais, mas, um deles era que eu queria ver de perto essa tal Copa do Mundo que acompanho pela TV desde os nove anos. A minha primeira Copa do Mundo foi a Espanha' 82. Impressiona-me ainda hoje a magia que tem esse esporte coletivo para mobilizar as pessoas. Lembro-me bem que um dia, Ilda chegou do serviço com uma camisetinha com o mascote da copa. Trocávamos cupons fiscais de supermercado por álbuns e figurinhas, e fazíamos um grude nalguma cozinha de uma mãe compreensiva (geralmente, era a minha), para ser utilizado coletivamente na colagem das figuras. Assim, eu vivia às voltas com uma figura do Valdir Peres para trocar, pois o que mais se repetia era o cromo do goleiro da seleção brasileira de futebol. Quem conseguia montar o meio-campo e o ataque da seleção de Telê Santana era o rei. Figurinhas muito difíceis de encontrar. Mas, era muito animado. Um tempo de vasculhar as revistas Placar dos meninos para conhecer mais sobre os times. Felizmente, na minha casa o acesso ao futebol era mais democrático, que nas casas das vizinhas. Mamãe sempre gostou de acompanhar um joguinho de bola, e não encrencava com a gente, por sermos meninas futiboleiras. Conhecer e apreciar, vá lá. Mas, jogar bola na rua, nem pensar. Menos mau. Eu sempre dava um jeitinho e ia jogar lá na outra rua, às margens dos Galegos. Pior era uma família, que a mãe inventava tudo que era coisa para a única menina da família fazer na hora do jogo, só para não deixá-la assistir. Hoje em dia há menos preconceito, e Luiza já jogava futebol na Escola da Glória e voltou com essa cultura para o XV de Novembro. Como a escola é de cultura norteamericana, e futebol nos Estados Unidos é coisa de menina, quem sabe daqui há uns dias teremos uma equipe? 

O que a Copa do Mundo de Futebol faz é colocar uns marcadores na vida da gente. Mesmo que você não saiba a escalação da Seleção de 1982, com certeza, vai se lembrar daquele time fantástico que nunca ganhou nada.  Sem dúvida, o evento mobiliza a sociedade, independente de onde ele ocorra. As famílias se reúnem em casa à frente da TV para acompanhar os jogos. Alegram-se na vitória, apoiam-se nas derrotas. Todo brasileiro é um técnico, e tem sempre uma opinião ou uma solução mágica para resolver a falta de dedicação, de vontade, de talento. Toda copa tem um mascarado ou um herói. E a história da nossa vida é costurada à futebol. Em 1994, a final da copa dos Estados Unidos caiu no dia 16 de Julho, aniversário de Mariana. Ela estava completando dois ou três aninhos. A mãe da criança inventou de fazer o aniversário da menina no dia do jogo! Pensou-se assim: o jogo termina e cantamos os parabéns. O pré-jogo foi para arrumar a decoração, a mesa, os doces. E vamos assistir o jogo. No intervalo, Izabel arrumou a menina. E jogo foi para a prorrogação. E a pirralha toda arrumada, para lá e para cá. E ninguém lhe dava atenção. Depois, vieram os penaltis, a situação extrema do futebol. Enquanto decidiam a escalação para as penalidades máximas, alguém disse: "se o Brasil perder, não há mais festa." E foi uma briga, uma confusão, a mãe da menina, com a menina no colo a reclamar do futebol. Quando recomeçou, esquecemos a questão, os olhos grudados na TV, e a mãe da menina, lacrimosa, parou de reclamar a ingratidão familiar para ver  Roberto Baggio chutar a bola sobre a trave. Brasil Tetra campeão. E a festa da menina foi um sucesso.

Anos se passaram e num dia de trabalho, Ilma atuava como meirinho num julgamento na Comarca do Paulista. O crime havia sido cometido no dia 16 de julho de 1994. O suspeito alegava que estava "batendo uma laje" com  os amigos. Minha irmã, fez as contas e alertou ao Promotor: "Esse álibi é meio estranho. Neste dia, era a final da Copa do Mundo dos Estados Unidos. Ninguém perderia a final para bater uma laje". O nobre tribuno arregalou os olhões de pasmo, e perguntou-lhe: "Como a senhora sabe?" Ela contou-lhe o caso aniversário de Mariana, enquanto os colegas vasculhavam na internet para conferir a informação. Na tréplica, o promotor desfez o discurso do acusado, que foi condenado. 

Mesmo que o jogo seja no Japão, colocamos os relógios para despertarem no horário, nem que seja às três da manhã e que passemos o jogo dormitando e o resto do dia ressacados com o plantão futebolístico. Em 2002, cujo horário não fazia o menor sentido, comentávamos o jogo pelo telefone. Nas primeiras rodadas, eu estava sozinha, pois Tony havia viajado para ajudar o Wellington, que era candidato a Deputado Estadual no Amapá. Um certo jogo, Mahria me ligou para comentar e Tony, que havia chegado no dia anterior, atende. Ela desligou o telefone ligeiro e comentou com Cândido: "Tem um homem na casa de Anninha!" O cunhado ligou novamente e Tony atendeu. Conversaram, deram risadas e comentaram o jogo. Por não saber que Tony havia retornado, minha irmã julgou que o homem que atendeu era "o urso". 

Esse ano, situações cotidianas decorrerão e serão evidenciadas pelo ano da Copa. Apesar da importância do evento, não sinto mais o mesmo ânimo de 1982 ou 1994. Talvez porque estamos vendo de perto como os processos vêm sendo mal conduzidos. Se o evento foi uma boa oportunidade para modernizar e melhorar as condições das cidades sede, não vemos o mesmo ocorrer aqui. Para se ter uma ideia, o Governador de Pernambuco decretou feriado nos dias de jogos no Recife, para não ter problema com o trânsito. Assim, as vias serão liberadas, e mascara-se o problema do caos cotidiano de quem tem que atravessar a cidade. E que não chova, porque se chover, alaga tudo e o caos se multiplica. Só vai de barco. Pelo jeitinho, estamos perdendo uma excelente oportunidade de termos um espaço melhor para viver. Vamos ver no que tudo isso irá resultar.

Até amanhã,
fiquem com Deus. 

Um comentário:

  1. Ah, a Copa do Mundo! claro que já tivemos dias melhores e que Sarriá , por vc citado, foi (ou é) um caos para nossas memórias, com aqueles 3 gols do charmosíssimo Paolo Rossi, como os dois de Zidane, e o atabacamento de Ronaldo (hoje gordo). Do gol de Branco na Copa dos USA, daquela celebre livrada do Romário, e claro a isolada de Baggio. Tenho certeza que até hoje ele se lembra com um "porca putana" deste ocorrido, mas eu disse que ele ia errar...Agora, quanto ao cara na sua casa Anninha eu n pensei que fosse o urso, achei que poderia ter ligado para a casa errada... mas que foi estranho, isso lá foi... imagina a minha cara quando Tony atendeu? Mas o futebol... hoje n é mais como antes...eu mesma n sei nomear a turma de Felipão hoje e n estou levando muita fá, espero q esteja errada, e que sejamos Hexa em casa. Gostando estou mesmo desses "feriados", aliás , já disse esse ano para os brasileiros n existiu, pois teve o carnaval, agora vem a Semana Santa, depois a Copa, depois preparação para as famigeradas eleições, depois eleição e ressaca delas e depois então é Natal, e acabou o ano... ou seja poderíamos pular para 2015, mas isso já é outro assunto. Bela crônica como sempre as faz. Bjinhos! Ciao!

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