domingo, 13 de abril de 2014

Speak slowly, please!

Então, já é domingo novamente. E hoje tem mesmo cara de manhã de domingo. Um silêncio de monastério predomina na casa. Um solzinho morno aquece as janelas, os pássaros pequenos cantam  empoleirados nos fios da cerca elétrica do vizinho, encarapitada sobre o muro à guisa de segurança.  Tony saiu de madrugadinha para o Recife para uma prova e depois, um jogo do rubro-negro. Embalada no silêncio, Luiza dormiu até o fim e agora assiste episódios eternamente repetidos do Chaves na TV. É mesmo domingo, dia falsamente preguiçoso e absolutamente necessário.

Em meio a protestos e especulações, daqui a mais uns dias começa a Copa do Mundo. O Brasil sedia aos trancos e barrancos o mundial de futebol e, apesar das estruturais transformações não terem acontecido, a exemplo de outros países que aproveitaram o evento para melhorar as suas condições infraestruturais, os empresários se preparam para faturar com o cliente externo e interno. Esperam que as hordas de turistas estrangeiros abram seus bolsos repletos de moeda valorizada e impulsionem os negócios. Faturar é a palavra de ordem.  Apesar do apelo ao aquecimento dos negócios, da massificação da imprensa, ainda falta muito para o brasileiro deixar de ser "dono de loja" e tornar-se empresário. Já me deparei com algumas situações complicadas, geradas pela falta de profissionalismo dos empreendedores. Acreditem, já tem mais de uma semana que fiz uma reserva num hotel para o mês de junho, estou querendo modificar a permanência para mais dias, e simplesmente não consigo, porque o hotel não responde meus e-mails! Para ter reduzido o risco de clonagem do cartão, fiz a reserva pelo booking.com, como já o fiz inúmeras vezes quando estava fora do Brasil. Contudo, parece que aqui não funciona lá muito bem. Vou ter que ligar, pois por meio eletrônico não vou conseguir resolver, e ainda corro o risco de ficar no meio do mundo, com a família e sem hospedagem. É um amadorismo mesmo lamentável.

Outro aspecto problemático é a linguagem. O Brasil é extremamente despreparado para receber o turista externo. Se em Aveiro havia domingos em que mal ouvíamos o povo falar português, e até as atendentes de caixas dos supermercados conversavam animadamente em inglês e espanhol, aqui a  dificuldade do segundo idioma será uma barreira, que apesar de não ser intransponível, dificultará o entendimento entre gringos e brazucas. São célebres os micos que os viajantes brasileiros pagam quando aventuram-se pelo mundo. Tony gosta de contar o caso de Bibiu das Louças, empresário caruaruense, que em épocas de prosperidade, visitou Nova Iorque com distinta esposa. Nos primeiros dias, ficava ouvindo os  nativos e fluentes solicitarem nos bares "two beers". E o matuto ficava a pensar: "quem será esse Tobias que o povo chama tanto?". E no fast food mais famoso do mundo, o matuto apontava as ilustrações nos cartazes do atendimento e gritava: "dois, desse, grande!" Como se ao aumentar o tom de voz e falar caricatamente pausado promovesse a redução das diferenças entre os idiomas. Na última sexta feira, recebi a visita do Clodoaldo Ferreira, lá na Faculdade. Como sempre, o primo trás otimismo e boas risadas, com suas histórias espirituosas. O primo contou-me que fez uma viagem de navio. Os cruzeiros turísticos na costa brasileira estão cada vez mais sendo explorados, e é uma excelente opção para conhecer o Brasil, com todo luxo. Segundo Kátia, quando entramos no navio, esquecemos que fomos pobres um dia, apesar de ter pago o pacote da viagem durante o ano inteiro. São dias de glamour e opulência. Pois, o primo, que ainda tinha o fígado estragado, lamentava a doença como nunca, pois segundo ele próprio "era comida e bebida à vontade". Ana, a esposa, aprendeu logo a sua única frase em inglês: "Red label on the rocks, please." E se derramava o melhor wisky, que a prima a entornava com sua competência sertaneja. Enquanto Clodoaldo se esforçava para explicar ao garçom coreano que queria um copo de leite. Segundo ele mesmo, até o verso "I like coffe, you like tea" que tinha no livro didático do Colégio XV, mas o milk não saiu nem a pau. Depois de muito explicar o confuso garçom entendeu, e toda vez que o primo chegava no bar, recebia com toda agilidade o seu copo de leite. Contudo, mesmo com preparação, às vezes, o turista se embaralha. Como o casal amigo do primo, que sairam de São Bento do Una para a Argentina. A esposa, passou meses a ler um pequeno dicionário de espanhol, e chegou em terras portenhas certa de que iria arrasar no espanhol. No primeiro café da manhã, o esposo provocou: "pede agora um ovo estrelado". E quem foi que disse que a mulher lembrou-se? Quando o garçom chegou, o sujeito cacarejou, dançou galinha (batendo asas fictícias com os braços dobrados) e nada. O garçom só dizia sério: "No entiendo."  Um sujeito que estava à mesa ao lado, perguntou-lhe de que parte de Pernambuco ele era, apresentando-se como um famoso advogado deste estado, e ofereceu-se para ajudar no pedido. O marido disse: "eu quero um ovo estrelado. Com se diz ovo?" O advogado respondeu, pacientemente e com ar de riso: "é huevo, meu camarada!"

As tentativas inglórias de verter o português capenga para o inglês resultam em anedotas grotescas. Um sujeito inventou de traduzir os cardápios dos restaurantes e os demais, compraram a ideia via Google Tradutor. Daí para a avacalhação completa foi um pulinho. Mytsi partilhou a  ótima matéria que apresenta as pérolas dos menus brasileiros vertidos para o inglês rupestre. Eu, jamais pediria o "shit juice". O imbecil, cuja competência em português é sofrível, acentuou a palavra incorretamente, e de "coco" para "cocô", a diferença vai além do paladar. É certo que gosto não se discute, mas ai, também já é demais. Vamos brincar de estudar um bocadinho, e lembrar que os chineses já diziam
que o momento da crise pode ser uma boa oportunidade. De modo geral, as nossas dificuldades com o segundo idioma são notórias, e até mesmo com o idioma materno. Mas, não custa aprender uma coisinha a cada dia. Mesmo que não se chegue a ser um expoente da língua inglesa, como minha querida amiga e professora Adriana Correia, mas que tenha conhecimentos básicos para não passar vergonha ou morrer de fome.

A propósito, sobre Adriana, uma definição: É uma danada. Tem encarado uma parada dura para obter uma certificação internacional para o ensino da língua inglesa, junto a Cambridge University. O exame CELTA não é para qualquer um. Além disso, é uma empreendedora de sucesso. Hoje, após 10 anos o Speak! é uma marca, que em breve será reconhecida para além de Pernambuco. E mesmo assim, Adriana continua com a mesma simplicidade e simpatia que conheci há 15 ou 20 anos atrás. Em minhas palavras: não mudou uma grama (do mato, mesmo, que é mais leve que um grama, do quilograma!). E, por isso, tem minha admiração.

Adriana Correia, professora da AESGA e Gestora do Speak!
Até amanhã, fiquem com Deus.
PS: para quem quiser conferir a matéria mencionada o link é http://www.buzzfeed.com/clarissapassos/traducoes-fabulosas-de-cardapios
Muito legal!

3 comentários:

  1. Vivendo em terras canadenses, percebo como nós brasileiros fomos pouco preparados para atur em outro idioma... Excelente texto!!!

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  2. Há pouco, constatei mais uma vez como estamos despreparados para nos vender ao mundo. O inglês tornou-se corriqueiro mundo afora a ponto de 96% da população pós 70 da Coreia do Sul falar inglês, e outros tantos por países a fora que tive oportunidade de visitar. Falar Inglês, Francês, Italiano e Espanhol não é bicho de 7 cabeças na Europa. Eles se prepararam para vender o peixe. A França recebe 87 milhões de turistas e, somente Paris 27 milhões; a despeito do orgulho idiomático Francês mas eles entendem o Inglês, só não dão o braço a torcer. Agora imagine se as versões fossem em Francês a gracinha que ficaria, pois são "avis rara" as criaturas que entendem algo do idioma de Pascal, Alexandre Dumas, Balzac. Estamos anos-luz a deriva do mundo do conhecimento e, enquanto estivermos com um pouco de dinheiro para viajar por outras plagas, talvez não sejamos tomados por ignorantes, excêntricos, quem sabe..

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  3. Tenho dito isso faz muitas eras. Quando decidi estudar italiano , uma amiga perguntou : "Prá que tu estudas italiano, uma língua morta?" Disse-lhe que inglês era obrigação , pelo menos arranhar , e italiano era por paixão... mesmo assim acho q ela n entendeu, e como ela muitos n entendem, só quando se sentem no aperto é que vem à cabeça : "Deveria ter estudado inglês!", o caso é que já é mto tarde, só desejo que n esbarre com um "Shit juice", e pior, tenha que beber! kkk. Brava Anninha!

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