domingo, 8 de junho de 2014

Álbum

Hoje, acordei quase tarde. Nada como antigamente, quando dormia até uma hora da tarde e só levantava com mamãe trovejando apocalipticamente sobre a preguiça. Coisas da juventude. A manhã nos apanhou na cama e o nosso amigo passarinho já encerrava seu expediente, empuleirado na falsa cerca elétrica do vizinho de trás. Domingo é sinônimo de pegar leve e desacelerar. Um café, um noticiário com menos notícias ruins, um cão arranhando a porta. Uma criança assistindo desenhos. Nem por muito dinheiro tenho aceitado rifar meus domingos. Bastam-me os compromissos assumidos que comprometem os sábados. Certos extras é ração para o leão do imposto de renda. Chega uma hora na nossa vida profissional que precisamos começar a selecionar as atividades. A esta altura da vida, já sei que não vou enriquecer às custas do meu trabalho. Então, quando alguém me propõe um extra, raciocino matematicamente e emocionalmente para aceitar ou não a proposta. No primeiro caso, faço a conta para analisar se não vou trabalhar de graça, pois, frequentemente o IR tem me comido o serviço por fora, daí o que se ganha vai para o fisco. Uma pela outra, tento me consolar e me convencer que trabalhei por caridade. Talvez fique anotado lá na página 33 do livro do céu. Em segunda instância, penso emocionalmente para perceber se vale a pena deixar as pessoas e as coisas que gosto para ganhar mais algum dinheiro. Quinta-feira, uma amiga de Tony convidou-me para uma palestra, relativamente bem remunerada, numa cidade próxima a Garanhuns. Declinei do convite pois era o mesmo horário do VI Fórum Infantil do Meio Ambiente, do Colégio XV de Novembro, e Luiza ia cantar uma versão brasileira de "Heal the world". Como mãe, o compromisso com minha pequena era mais importante, de modo que fica para a próxima oportunidade. Não se perde o que não se tem, e, se perde a oportunidade de participar ativamente da história dos nossos filhos, mais importante que algum extra.

Então, hoje pela manhã, tivemos um compromisso com nossas coisas. Ontem, encerramos mais uma turma de Especialização. Desta vez, trabalhei Metodologia do Ensino Superior, disciplina que adoro, com duas turmas: Gestão Pública e Gestão da Comunicação e Eventos. Tive oportunidade de reencontrar grandes companheiros de jornada, como Vando Pontes, bem como trabalhar com pessoas que sempre via na IES, mas que, durante a graduação, não tive oportunidade de conviver, como Sônia, Fernanda e Fábio. Recebemos também estudantes egressos da FAVIP (Caruaru), jornalistas e publicitários, cheios de muitas boas ideias. Foi muito divertido e construtivo, e sempre fico com a impressão de que trapaciei, aprendendo mais que ensinando. Pois, quando terminou a sessão, no final da tarde, desci caminhando para esperar o ônibus da Cohab II. Aproveitei em entrei nas Lojas Americanas, para comprar um álbum de fotografias, que há muito tempo se fazia necessário. Outro dia, fui arrumar uma prateleira que temos no móvel da sala e os pequenos álbuns de fotografias estavam se transformando em pó. Ao longo de 10 anos juntamos muitas fotografias, e, como tudo na vida, é preciso cuidar para conservar.

Sou favorável a tecnologia, disso penso que ninguém duvida. Mas, da mesma forma que na educação, o velho e bom Paulo Freire ensinava que não se deve  "repelir o velho por ser velho, nem aceitar o novo por ser novo; mas aceitá-los na medida em que velho e novo são válidos." Meu gosto amador por fotografias vem do tempo do filme de 36 poses. Numa viagem, o fotógrafo previdente possuía, pelo menos, dois filmes de 36 poses. Com a tecnologia, o mundo digital aposentou os rolos de filme, e qualquer um - qualquer um mesmo - possui uma máquina fotográfica, um tablet  ou um telemóvel que assuma a função de registrar em imagens fragmentos das nossas vidas. Temos até o luxo de excluir (ou deletar!) as fotografias que não foram muito generosas com a nossa melhor forma. Até porque, somente Patrícia Almeida, Valber van der Linden e Fernando Henrique - dentre os de sua qualificação - fazem fotos tão boas, que acredito que pouquíssimas vão para as "perdas". Mas, isso é coisa de profissional, e nossas fotos são mesmo documentos de família.

Em razão da deteorização dos álbuns de fotografias que comprei nas lojas de 1,00, chegou a oportunidade de trocá-los. Organizamos o primeiro, desde a gravidez até Luiza já bebê, com uns cinco meses. Compõe nosso documento afetivo fotos impressas no papel (há jovens que não sabe o que é isso), com, pelo menos, 10 anos de idade. É divertido reencontrar Mariana, Larissa, Matheus e Victor ainda crianças. Antonio bem novinho. Minhas irmãs e cunhadas com vários tipos de cabelo. Numa foto, Lu perguntou-me quem a segurava no colo. Não reconheceu Rita com um cabelo imenso e liso, quase uma rapunzel. Fotos de Luiza em inúmeras ocasiões no colo do papai (eu tirava as fotos!) aprendendo a andar, brincando, bagunçando, no banho, no sono. Fotos de Lulu com mamãe, que não se lembra da vovó materna, e me pede para contar histórias, olhando as fotos com carinho. E as lembranças de viagens, de aniversários, de festas na escola e dos nossos bichos? Não tem preço constatar que há 10 anos éramos magros, e se hoje estamos gordos, ficamos felizes por estarmos vivos. O tempo passa, tudo muda, mas sempre tempos os álbuns para folhear, dar risadas com as poses caricatas e situações inusitadas, matar as saudades dos que já encerraram seu expediente neste plano.

Tenho um milhão de fotos digitais para imprimir. Da nossa vida europeia, nos nossos retornos temporários e da volta definitiva. Temos fotos de praia, de cidade, de inúmeros shoppings com ornamentação de natal. Após imprimir, vou separar por tema e fazer grandes livros de estampas. E quem sabe, daqui a 100 anos, todo esse acervo faça parte de um museu, como aquela coleção de iconográfica pernambucana do século XIX que visitei na FUNDAJ. Na oportunidade, olhava a cara e as poses dos retratados e ia inventando histórias, remendando as fotografias e costurando vidas fictícias para gente desconhecida que deixou pistas do nosso passado. 

Mesmo num mundo digital, a foto analógica, de papel trás um prazer insuperável, similar ao cheiro de livro novo, ou a sensação táctil de abrir uma encomenda recém chegada pelos Correios de livros usados, adquiridos por uma pechincha em um site virtual. O novo e o velho se encontrando em sensações indescritíveis.

Até amanhã, fiquem com Deus.

PS: segue a foto da minha cantorinha com sua professora de linda voz.


4 comentários:

  1. "Não se perde o que não se tem, e, se perde a oportunidade de participar ativamente da história dos nossos filhos, mais importante que algum extra."

    Acho muito legal e reconfortante ler coisas assim. Por experiência própria, digo que não há coisa mais gratificante do que ver seus pais na plateia enquanto você apresenta um trabalho, canta uma música do dia das mães ou coisa do tipo.
    Também sou apaixonada por fotografias mas estou pecando muito porque faz tempo que não paro para organizar tudo e escolher algumas para serem reveladas. Nesse meio tempo acabei perdendo várias com a morte súbita do meu notebook. -tristezas.. -
    Gostaria muito de poder ver essas fotos! hahahaha viajo muito lembrando dessa infância que me faz uma falta danada. Seus posts, como sempre, são uma delícia de ler. Beijos, tia. Se cuida! :D

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    1. Que boa surpresa te-la aqui, Larissa! As fotos de Luiza bebê têm vocês crianças. Tu, bem magrinha e sorridente. Matheus e Pedro, uma graça! Adorei ter aberto esses baús, e em breve, quando as coisas tiverem mais organizadas, convocarei todos para revisarem os álbuns comigo. Beijos!

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  2. Também gosto muito de fotos, Anninha. Se eu pudesse vivia tirando foto e fotografando tudo ao redor. Beijos.

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    1. É bom, né? depois vou marcar um chá para olharmos as fotos, todos juntos. Beijos!

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