domingo, 15 de junho de 2014

Leituras e reflexões: Como fazíamos sem...

Estava olhando o sumário do diga as novas e percebi que há tempos não escrevo esta seção. Passa a impressão que passei muitos dias sem leitura. Mas, não é verdade. Talvez tenha inconscientemente me assustado com a pergunta que me fizeram outro dias pela cidade. Alguém me questionou se o diga as novas é um blog de literatura. Com um sorriso, neguei a pergunta quase afirmativa. "É um blog de tudo", respondi-lhe. "Escrevo só o que vejo, o que penso e o que sinto, quase sem reservas".  E o sujeito insistiu na classificação, com mofa: "Então é um diário!" Para fim de conversa, saquei e atirei: "Não. E rótulos não me agradam." E ele se calou. Touché!

Então, nesse meio tempo, li muita coisa. Apesar do tempo restrito, ocupado pelas atividades acadêmicas-pedagógicas-administrativas, tenho que ler nem que seja uma folhinha por dia. É quase como remédio, e na verdade, bem terapêutico. Outro dia, no começo de uma aula da Pós Graduação, perguntei aos meus alunos o que eles desejavam para os próximos finais de semana, já que estavam terminando a parte presencial do curso. Marconds, um jovem servidor público, decretou: "Quero ter a liberdade de ler o que eu desejar, professora. Tô cansado de que me mandem ler isso ou aquilo." Pois, apesar de ainda ter muitas obrigações literárias, sempre dou um jeitinho de encaixar o que eu quero, o que me emprestam ou me presenteiam no meu "tempo livre". Faz-se, desta forma, um cotidiano melhor, mesmo correndo o risco de ficar até uma da manhã a ler, somente para terminar aquele capítulo quando o livro é muito bom.

Em Novembro passado, Izabel e Mariana presentearam Luiza com este livro. Trata-se de uma obra para o público infanto-juvenil. E, mesmo fora da faixa etária, peguei o livro emprestado, da mesma forma que Luiza já calça os meus sapatos. Como dona do livro, ela leu primeiro. E a cada descoberta, partilhava: "sabe como surgiram os garfos?" ou "sabia que antigamente não existia vaso sanitário?". Fui me interessando. Como todo livro para esse público, há muitas figuras, boas ilustrações que desperta o interesse do jovem leitor. A letra é bem grandinha, de forma que lê-se o texto com grande facilidade. Aliás, neste aspecto é bem adequado para mim, que ando a usar uma lente multifocal, e, como ainda não me acostumei a olhar através desses vidros novos, frequentemente tiro os óculos que me deixam ser menos antipática, ao possibilitar-me enxergar rostos no movimento da rua, mas que embaraçam as letrinhas. Letra grande em livro é bom para ultrajovem, mas também para quem já anda na segunda metade da vida. 

Pois bem, o livro é ótimo. Divertido e instrutivo, trás versões bem humoradas das invenções humanas que povoam o nosso dia-a-dia com tanta naturalidade, que nem nos damos conta, a não ser quando falta. Organizado em seis partes, aborda a alimentação, comunicação, habitação, roupas e acessórios, saúde e higiene e sociedade. O que pode ser classificado como "cultura inútil", saber da origem dos talheres pode ser bem divertido. Divertiu-me muito o capítulo sobre saúde e higiene, principalmente quando se discutia a origem do banho. Saber que até o Século XIX, os europeus fugiam dos banhos como medida de higiene é impressionante. Bom era o Rei Luis XIV, que preferia utilizar um pedaço de algodão embebido em vinho branco para lavar as mãos e o rosto, e, isso somente a cada dois dias! para disfarçar a nhaca, porque o ser humano fede e muito, os perfumes ficaram cada vez mais fortes, impulsionando a indústria da perfumaria. Apesar dessa ojeriza aos banhos, há registro de 1.330 a.C. de mulheres gregas se banhando sob chuveiros. E o chuveiro moderno foi criado por um médico francês em 1872, como forma de melhorar a higiene dos presos. 

As histórias abordam diversos aspectos da vida cotidiana. E a partir da leitura, refleti. Dentre muitas outras invenções maravilhosas, não sei como passei tanto tempo sem máquina de lavar roupas. Logicamente, eu deixei de lavar roupas há muitos anos. Nos últimos 20 anos, tive lavadeira ou empregada doméstica que fazia esse serviço. E vamos combinar: serviço desumano, principalmente nesse período chuvoso, úmido e com sol ocasional que faz todo junho-julho em Garanhuns. Depois que fui para a Europa e aprendi que jeans é mais fácil de secar que moleton, e que a secagem da roupa não relaciona-se a temperatura, mas a umidade do ar, comprovando que era mais fácil secar roupas nos 5 graus de Aveiro que nos 17 graus de Garanhuns, que elevo uma prece para o inventor da máquina de lavar, toda vez que vou colocar a roupa da semana.  E ontem de madrugada, quando fui despertada pelas minhas dores mensais, tomei um analgésico (e mais uma oração a quem inventou esse remedinho que vende em qualquer farmácia e alivia os sintomas da dismenorreia) e fui ver TV para convocar o sono. Zapeando pelos canais, encontrei um documentário sobre a criação do Google. Assisti com grande interesse (e sem cochilar!) até o final, impressionada com a capacidade daqueles jovens de criar alguma coisa tão essencial na nossa vida 3.0. Não importa o que precisa, pergunta ao Google. De uma forma ou de outra, sempre aparecerão pistas para encontrar o que quer sem perder muito tempo, e sem custos. Lembro-me do tempo em que chegávamos à biblioteca e pedíamos um livro sobre tal assunto. A bibliotecária ia à prateleira da Barça (a enciclopédia. Tenho alunos que nunca viram uma "ao vivo"), catava o volume do verbete correspondente ao pedido, e jogava na nossa frente, fazendo subir uma nuvem de ácaros. Carregávamos o grande livro às mesas e copiávamos. Quando o dedo cansava de escrever, passávamos a copiar parágrafos alternados. E aquele Frankstein, com apelido de pesquisa, era entregue em folhas de papel pautado nunca lidos, e retornavam com notas. Antes da geração ctrl c + crtl v era assim que trapaceávamos nos exercícios escolares. Cada geração com sua degeneração. 

Pois, o livro da Bárbara Soalheiro é muito divertido. Um excelente depurador de cabeça cheia de teoria e repleta de problemas sem solução aparente. Gestão de Escola, independente do nível, é bem assim: resolvemos um problema, surgem cem. Daí que para manter a sanidade mental, uns jogam golfe, outros (e outras) detonam o cartão de crédito em roupas e sapatos. Eu, leio. Preferencialmente, de tudo o que quero, sem nenhum critério. É o meu espaço de manobra. Um pouco de autonomia não faz mal a ninguém.

Até amanhã, fiquem com Deus.

     

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