domingo, 1 de junho de 2014

Das coisas que o povo acredita

Olá, todos!

Mais uma vez, começo o post com a ladainha de desculpas. Algumas pessoas já haviam me perguntado se eu não iria mais escrever. Logicamente, utilizo a justificativa corrente no funcionalismo público: o problema é a Copa. E o pior que é mesmo. Eu sabia, desde meados de 2013 que teria três turmas da pós graduação da AESGA no primeiro semestre de 2014. Então, por conta da Copa e seus múltiplos recessos, os calendários ficaram apertados e as minhas semanas se transformaram num segunda-a-sábado, horário integral em tempo constante. A última turma, coitados, tiveram que me aturar durante dois finais de semana seguidos. E eu, como havia me comprometido, passei a emendar semana com semana. No último domingo, saímos de Garanhuns pelas 8 da manhã. Tony planejou resgatar os ingressos de três jogos que conseguiu se inscrever com concorrência pior que Vestibular. O ponto de entrega era no Shopping Center Recife, de modo que eu e Luiza nos aboletamos no carro e fomos junto. No local, a mais perfeita ordem: atendimento trilingüe, ar condicionado, ornamentação, chão acarpetado como campo de futebol. Nem parecia um estacionamento. Foi tudo fácil, não havia filas e então, a tarde ficou livre para nós. No final do dia, eles vieram embora e eu fiquei, pois tinha um compromisso às 8 da manhã no Conselho Estadual de Educação. Dormi na casa do João, filho da Rosa, minha companheira de trabalho e logo cedinho enfrentamos a maratona de reuniões para resolver documentações de cursos da nossa IES. No domingo anterior, tirei o dia inteiro para imprimir a tese. Comecei o serviço na quinta-feira, pois, com a greve da polícia  militar, todas as IES fecharam. Mas, o tinteiro da impressora não deu para o cheiro: são 389 impressões. Na sexta-feira, Tony descobriu que o tinteiro da impressora dele que fica no escritório de advocacia é 50% mais barato que a de casa. Troca de máquina, trabalha mais uma hora e a tinta acaba-se novamente. Só retomei no domingo, depois que Tony fez Marcelo Tonelada abrir a loja para comprar mais tinta em pleno domingo. Passei o dia inteiro virando folhas para imprimir frente e verso, conforme determinam as normas da Universidade de Aveiro. Trabalhoso! Depois, levamos a copiadora para reproduzir cinco cópias. Estas, precisam sem enviadas pelo Correio para serem entregues aos avaliadores. Em mais uns dias, marcarão as provas públicas. Então, arrumarei meus troços e parto novamente para o lado de lá. Mas, no meio do caminho tem as férias de verão da Europa e a Copa. Há tempo ainda para se aperrear.

Com tudo isso acontecendo, não deu para traçar essas linhas. As últimas semanas foram conturbadas em Pernambuco. Para falar a verdade, o Brasil convulsiona em movimentos sociais organizados ou não. Independente das intenções, haverão muitas manifestações contra a Copa e à favor de um bando de coisas necessárias. Embora acredite que, com o sistema de segurança que estar planejado, penso que o evento em si não será afetado. Nos dias de jogos em Recife, será feriado. A lindinha Danielle Rego questionava ainda ontem durante o almoço: "e os outros dias?" O povo de fora ainda estará em terras pernambucanas para provar do caos recifense, provavelmente. Mas, para as seleções, isso não será problema. Ou vocês acham que a delegação dos Estado Unidos ficará presa em um engarrafamento na Abdias de Carvalho? Isso é para nós, pobres mortais.  Aliás, ser sede do "grande satã" é um risco a mais, pois quem é polícia do mundo é sempre um alvo preferencial para o terrorismo. Contudo, a segurança deles é toda FBI e CIA. Não vai sobrar nem papel de figurante para a gloriosa polícia militar de Pernambuco imaginar que faz parte de um seriado de CSI. 

A falar em polícia, a gloriosa utilizou-se muito bem do calendário para realizar uma greve. Foi um movimento relâmpago, muito bem organizado, que pôs a população de cabelo em pé. Na segunda feira, o nosso efetivo policial do curso de Engenharia Civil (nós temos mais policiais em sala de aula do que em muito município do agreste) já nos avisou que estavam "em estado de greve". Na quarta, a situação acirrou-se na regiao metropolitana do Recife. Amanhecemos com o Bom Dia Pernambuco a noticiar os saques que ocorreram na noite anterior em Abreu e Lima. Esse fato que tomou conta das manchetes dos jornais nacional e internacionalmente, encheu a imaginação do povo de tragédia, e para a disseminação dos boatos de arrastão (grupos de meliantes atacando e assaltando as pessoas, saqueando empresas e vandalizando propriedades) foi um pulinho. Estava calmamente no meu serviço matinal, quando a calmaria foi interrompida com a notícia que estava acontecendo um arrastão na Rua Duque de Caxias, segundo centro comercial de Garanhuns. Como era notícia de Facebook, achei tudo meio suspeito. Tentei ligar para Tony, mas os telefones celulares, por coincidência, simplesmente pararam de funcionar.  Por precaução e por susto, o comércio baixou as portas. Daí começaram a chegar as notícias, cada vez mais fantasiosas, conforme comentei no Facebook:

1) O arrastão vinha da Duque de Caxias e em menos de 10 minutos já estava na UPE.
2) Invadiram o Diocesano para roubar o quadro de S. José da Mota Valença.
3) Acabaram com as Americanas e a Eletroshoping
4) Até o sinal de telefonia da TIM os engalerados conseguiram interromper.
5) Apedrejaram a AESGA
6) Queimaram um Ônibus da São Cristóvão na Avenida Caruaru
Tudo isso em menos de meia hora.

Segundo Cândido, tratava-se de uma operação de contrainteligência da própria polícia para disseminar o pânico e influir na rapidez das negociações. Deve ter sido mesmo. Sei que os fatos comentados e descritos por testemunhas oculares não passaram de boatos. As ocorrências que foram registradas foi apenas dois arrombamentos de veículos. Por precaução, e para não prejudicar o aluno que não viria à escola num clima de insegurança, fechamos a IES. No outro dia, quando comentávamos o ocorrido, Suzana exclamou: "Pois, professora, ontem eu vi um mentirosa na minha frente. O sujeito garantiu que os bandidos atacaram a Casa das Balas e ele mesmo foi vítima da violência." É muita imaginação. Uns mentem tanto que acabam acreditando e vivenciando a história. Outros, acreditam em tudo que leem na internet. Uma situação digna de um filme de Orson Wells. Mas, Pernambuco tem histórico de credulidade exacerbada. Quem nunca ouviu falar da história do estouro da barragem de Tapacurá, no Recife, na década de 1970?  Parece folclore pernambucano, mas o boato causou pânico e a coisa foi séria na cidade. Acho que é dessa mesma época o costume dos palmeirinenses (moradores de Palmeirina, interior de Pernambuco) deixar um membro da família de vigília nas noites chuvosas, com medo do profetizado estouro da barragem de Inhumas, que fatalmente acabaria com a cidade, estando alguém de tocaia ou não. Um povo que acredita numa perna assassina é dono de uma imaginação fabulosa. Por isso, a indústria do boato é tão fértil em nossas terras. Aqui, ganha-se ou perde-se eleição a partir das coisas que o povo diz. O pensamento crítico exige uma verificação dos fatos antes de atribuir a estes o status de verdade. Nós, enquanto povo, adoramos uma conversinha, que muitas vezes pode se tornar verdades absolutas na mente crédula desse povo essencialmente bom.

Por fim, a greve foi resolvida, e os profissionais da segurança tiveram seus pleitos atendidos. E depois disso, ninguém me diga que a polícia é desnecessária. Foi só uma pequena paralisação para que o povo mostrasse a sua pior face, dessa vez, infelizmente, de verdade, conforme acompanhamos nos noticiários da televisão. Felizmente, as mães estavam de plantão e deram um freio de arrumação nos malandras. Acompanhei uma reportagem de uma mãe que levou o filho para a delegacia para que ele devolvesse um produto saqueado de uma loja, em Abreu e Lima. A partir desse caso, muita gente se arrependeu e devolveu o que havia levado indevidamente. A mãe, em lágrimas, dizia na TV: "sou pobre mas sou honesta, e filho meu não é ladrão." A honradez faz parte do caráter do bom pernambucano. E gente ruim há em toda parte.

Depois que passa, tudo vira anedota:


O Bode Gaiato se apropriou da imagem do "Boy do arrastão" (no lugar do chinelo, havia uma CPU saqueada de um magazine da região metropolitana do Recife) e fez essa tirinha divertida.

No final, sempre damos boas risadas.

E quem desejar conhecer sobre a Perna Cabeluda, deve aceder ao site Jornália do Ed, no link http://www.jornaliadoed.com.br/2011/07/nordeste-surreal-lenda-da-perna.html#.U4sCh_ldXKM

Até amanhã, fiquem com Deus!

2 comentários:

  1. Ana, obrigado por citar o Jornália. Por culpa da Copa (kkkkk) tenho tido pouco tempo para atualizá-lo. Uma dica: troque a impressora de cartucho por uma de bulk (aquelas com garrafinhas de tinta acopladas). Um sonho! Desde que comprei – há dois anos, mais ou menos) só comprei tinta uma vez. Não sei por aí, mas aqui em Recife, cada garrafinha custa em torno de 15 reais. A impressora, já com o bulk, custa em torno de 400 reais. Um investimento baixo e necessário para quem vive a imprimir textos e provas.
    Sobre a impressor: http://pe.bomnegocio.com/regiao-de-petrolina-e-garanhuns/computadores-e-acessorios/instalacao-de-bulk-ink-em-impressoras-hp-novo-27566871

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  2. Obrigada três vezes, Ed: pela leitura, pela correção e pela dica!
    Beijos!

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