domingo, 3 de agosto de 2014

Bicão

Então, terminaram as festas e as férias, para quem tirou férias. Consegui apenas um pequeno recesso de uma semaninha, que nos ajudou bastante. Em compensação, quando voltamos, nesta segunda-feira, tiramos expedientes gigantes de 8h às 22h, pois era preciso terminar de planejar e oferecer a sessão de formação de professores da AESGA 2014.2. De quebra, arranjei uma turma extra de Administração Hospitalar, o que me fez ficar de cá para lá, como o Cuquedo. Para encerrar a semana, comecei um módulo de Metodologia do Ensino Superior na Pós Graduação de Direito Penal. Desta forma, estive assoberbadíssima esta semana. Felizmente, ainda deu para ir a uma festa de aniversário de crianças da família e filar o almoço da irmã no domingo, cujo cardápio era "Galinha white com feijão green". Criatividades de Ilda. Arrematando com um cocada morena recheada, saborosa. Culpa de Ilma. A conversa boa e as boas novas sobre a saúde de Ilza, nos ajudou a levantar o astral. 

Semana passada fiz um comentário sobre gente que faz a questão de ser arroz de festa. É um termo antigo, aplicado para classificar aquelas pessoas que vão a todas as festas. Há muitos anos atrás, uma colega de escola utilizou o termo "bolacha regalia" para nomear a pessoa que tem o mesmo tipo de comportamento. Essas criaturas conseguem entrar em todas as festas, participar de todos os eventos, aparecer em todas as fotos. São pessoas que julgam ter muitos amigos, mas na realidade, são solitárias e precisam sempre ter a companhia de alguém para afirmar-se socialmente. É o famoso bicão.

Há gente que tem uma coragem de bicho em chegar numa festa onde não foi convidado. No mínimo, foi convidado pelo amigo do amigo, de modo que nunca consta na lista de convidados. Esse clandestino tem a alma aventureira e vai se aproximando, se achegando, se insinuando. A criatura é tão constante, frequenta de almoço de família, aniversário de criança, batizado de boneca e outras comemorações sem significado que chegamos a pensar que aquela alma faz parte da família. É a pessoa levada por um e que deve ser aturada por todos. Com o passar do tempo, a criatura acaba sendo aceita, aproveitando-se da flexibilidade da boa educação. Chega ao ponto de sentirmos falta do bicão quando não o vemos na foto com o sorriso padrão e o copo na mão. É sempre uma criatura plástica que sabe de tudo e conversa (superficialmente) sobre tudo. De robótica à futebol, tudo é assunto para emitir opinião (sempre endossando a ideia dominante, lógico) e se enturmar. Quem sabe não rola mais uma festinha na casa do amigo do amigo do amigo? 

No FIG, o bicão arranja um jeito de circular pelos camarotes. Aliás, ele circula por necessidade uma vez que conseguir a senha é diferente de arranjar um lugar para ficar. Mas, daí aparece um conhecido e a figura se gruda no sujeito com a suavidade de uma epífita. Em poucos minutos, o Bicão já está abancado na primeira fila de algum camarote, enquanto o  dono do espaço se põe em pontas de pés para conseguir ver alguma coisa do que se apresenta. 

Na juventude, os meninos costumam ter uma fase de bicão. Tony conta que Carlinhos, quando jovem era o maior bicão de festa de casamento já conhecidos em Garanhuns. Eles iam a todos os casamentos que se realizavam no Mosteiro de São Bento. Cheirosos e arrumados, chegavam quando a cerimônia já estava em andamento. Depois, acompanhavam os convidados para os salões de recepção. Com a maior cara de pau do mundo, entravam na fila, buscando saber os nomes dos noivos, cumprimentavam-nos, desejavam felicidades e brindavam come espumante. Depois, enchiam a cara de bolo. Faziam uma hora e iam embora, ensaiar com a banda do Diocesano. Os garçons já os conheciam, e caprichavam no pratinho. Tanto que o amigo Carlinhos hoje não consegue nem ver o bolo de noiva. 

Os jovens são realmente terríveis. Tony, Giovani, Almir e Marcos Marcelo criaram, no início da década de 1990, o clube do Amauri. Na verdade, uma alusão a um sujeito chamado Mauri que entrava em todas as festas da cidade. Morreu recentemente, mas deixou o mudinho como herdeiro. David tem uma história ótima de aventuras de um "penetra". Há uns anos atrás, a seleção brasileira veio jogar um amistoso no Recife. Na época, os jogos para grandes públicos aconteciam no Arruda. David foi com um grupo de amigos, com ingressos da geral. No meio da muvuca para entrada, dispersou-se o grupo e David desapareceu. O que aconteceu foi o seguinte: os seguranças confundiram David com Ademarzinho, filho de um dos poderosos dirigentes do futebol pernambucano. Levaram-no para a tribuna de honra, deram-lhe uma camisa oficial da seleção e o cunhado ficou muito bem instalado, na área VIP. No intervalo, alguém disse que o pai do verdadeiro Ademarzinho estava chegando e o David saiu de fininho. Na saída, não deixou de levar uma garrafa daqueles wiskys caros que só o penetra tem o prazer de degustar, livre de custos.

É muita coragem. Eu, sou muito boba, não tenho vocação para impostora. Além de ficar deslocada, tenho um medo ancestral de ser desmascaradas perante os convivas. É preciso ter alma de cururu para entrar onde não foi convidado. Portanto, fiquem certos que o dia em que eu for a sua festa é porque você me convidou. Além disso, gosto muito de você, pois essa coisa de gastar meu sorriso em eventos sociais por obrigação não é comigo.
A vida é curta para se perder tempo com ninharias criadas pela sociedade.

Até amanhã, fiquem com Deus.

Um comentário:

  1. É bem isso. Ninguém jamais vai me encontrar num evento que ne me cabe ou para o qual n fui convidada. N tenho essa cara de pau, tbém!

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